O famoso “Poço da Morte” existiu em várias feiras do país, desde pelo menos 1938 quando apareceu um grupo de italianos que montou um na “Feira de S. Mateus” em Viseu. Uns apresentavam espectáculos com bicicleta outros com moto e automóvel.
Em Lisboa ficou famoso, inicialmente, o que se instalou na primeira “Feira Popular de Lisboa”, inaugurada em 10 de Junho de 1943, na Palhavã, e que para se assistir tinha de se pagar quinze tostões. Seguiu-se-lhe o “Poço da Morte” de Joselito e sua família e que se instalou na segunda “Feira Popular de Lisboa”, inaugurada em 24 de Junho de 1961, em Entre-Campos.
“Poço da Morte” na “Feira da Luz”, em Lisboa
Basicamente estes espectáculos eram apresentados, ou por numa esfera fechada em madeira às quadrículas (neste caso “Globo da Morte”), ou numa semi-esfera, igualmente em madeira, onde o condutor ora pedalando, ora acelerando numa moto ou pequeno automóvel se “colava” às paredes por efeito da aceleração e da força centrífuga por ela gerada. Nesta última versão os espectadores subiam umas escadas e apreciavam “arrojo, acrobacia, audácia” no cimo da semi-esfera.
“Globo da Morte” aqui nos EUA (modelo que também existiu em Portugal) nos anos 20 do século XX
Foi nesta última versão que Joselito e sua família actuaram muitos anos na “Feira Popular de Lisboa” de Entre-Campos, ora com uma moto “Honda” de 125 cm3 ora com um pequeno automóvel “tipo” F1. As motos eram tinham as curvas de escape cortadas, para fazer mais barulho. O carro era uma carroçaria tipo F1, com um motor DKW de três cilindros, o único que podia trabalhar na horizontal, porque usa um carburador de "borboleta" sem cuba, directamente após a bomba de gasolina. Um pormenor: Esta família, nos anos 60 do século XX, vivia numa roulotte/casa no “Parque Municipal de Campismo de Monsanto”, junto à qual estava sempre estacionado o seu enorme carro americano “Plymouth” preto.
Irmãs Lolitas e Joselito na “Feira Popluar de Lisboa”
“Torre da Morte”, na Feira do Alvito em Junho de 1950
O último “Poço da Morte” em Portugal encerrou em Maio de 2011, em Aveiro e era propriedade de Henrique Amaral, que actuou nele até aos 81 anos, altura em que numa dessas actuações teve um acidente e foi “obrigado” pelos filhos a parar de vez.
“Poço da Morte” em Aveiro e propriedade de Henrique Amaral
Henrique Amaral na sua moto
fotos de Adriano Miranda in “Público”
Henrique Amaral em entrevista ao jornal “Público” em 26 de Setembro de 2011 contou:
«Tinha oito anos quando o vi pela primeira vez. Foi em Viseu, na Feira de S. Mateus, onde tinha ido com o meu pai. Nós éramos de Mangualde e o meu pai vendia nas feiras. Ia a todas da região, com as suas camisas, camisolas e bonés, tanto que lhe chamavam o "Zé dos Bonés". Naquele ano, pedi-lhe para o acompanhar a Viseu e foi aí que vi o poço da morte que dois artistas italianos tinham trazido para Portugal. Chamava-se Muro da Morte. Nem sei explicar o que senti. Foi como se ficasse noutro mundo, numa era diferente. A partir daí, sonhava todas as noites que era um artista do poço da morte. Nunca tinha visto nada igual. Ficou-me dentro do coração, entrou-me no cérebro, tudo. (…)
“Poço da Morte” na Feira de S. Mateus em 1938, a que Henrique Amaral se refere
Tinha oito anos quando viu o primeiro e 18 quando se fez à estrada correndo (num poço da morte e pelas feiras do país). Quando sonha, só sonha com isso. (…)
De Aveiro, fomos a Barcelos, depois para as Festas do Espírito Santo, em Coimbra, e para a Feira Popular, em Lisboa. Havia lá outro poço da morte, de mota, no qual trabalhavam dois rapazes e uma rapariga. Eu continuava na bicicleta, e foi por causa dela que tive uma chatice com o patrão. (…)
Este poço, que agora está desmantelado numa serração, é o único que tive de meu. Foi construído em S. João da Madeira, há 41 anos, e estreei-o em Santa Maria da Feira.»
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Jornal “Público” (Adriano Miranda)
3 comentários:
Mas já não se faz o poço da morte em Portugal, é isso?
Vi vária vezes na feira popular do Campo Grande o Poço da Morte e era um espetáculo e tanto, hoje fazendo parte das minhas recordações de infância, recordações essas que são revividas em muitas das suas matérias. Obrigado
Paulo Rodrigues
Caro João Nobre
Realmente, o espectáculo do "poço da Morte" acabou.
Cumprimentos
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