Restos de Colecção: Funeral da Rainha D. Amélia

16 de fevereiro de 2017

Funeral da Rainha D. Amélia

No dia 25 de Outubro de 1951, D. Amélia de Orleães e Bragança, - ex- Rainha D. Amélia e de seu nome completo Maria Amélia Luísa Helena de Bourbon-Orleães - faleceu em sua residência em Le Chesnay, Versailles, França  aos oitenta e seis anos, devido a um fatal ataque de uremia. O corpo de D. Amélia foi então trasladado para Portugal pelo Aviso de 1ª classe “Bartolomeu Dias”, para Lisboa para junto do marido e dos filhos, no “Panteão Real da Dinastia de Bragança”, na “Igreja de São Vicente de Fora”. Foi  cumprido o seu último desejo à hora de sua morte.

Algumas das últimas palavras de D. Amélia terão sido: «Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal» e depois «Levem-me para Portugal, adormeço em França mas é em Portugal que quero dormir para sempre». O funeral teve honras de Estado e foi visto por grande parte do povo de Lisboa.

Início do cortejo fúnebre na Praça do Comércio

Cortejo fúnebre descendo a Rua Voz do Operário

 

Após a implantação República em Portugal, em 5 de Outubro de 1910, a Rainha D. Amélia seguiu o caminho do exílio com o resto da família real portuguesa, embarcando no iate real “Amelia” na Ericeira rumo a Londres. Depois do casamento de D. Manuel II, com Augusta Vitória de Hohenzollern-Sigmaringen, a rainha passou a residir em Château de Bellevue, perto de Versalhes, em França. Em 1932, o D. Manuel II morreu inesperadamente em Twickenham, no mesmo subúrbio londrino onde sua mãe havia nascido.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo do Doutor Oliveira Salazar ofereceu-lhe asilo político em Portugal, mas D. Amélia permaneceu em França, com imunidade diplomática portuguesa. Após o fim da guerra, regressou a Portugal, em 8 de Junho de 1945 numa emocionante jornada, visitando o Dispensário de Alcântara” fundado por si em 1893 iniciando deste modo a luta anti-tuberculosa promovida por si, o “Panteão Real da Dinastia de Bragança” na “Igreja de São Vicente de Fora”, o Santuário de Fátima e todos os lugares que lhe estavam ligados, com exceção de Vila Viçosa, apesar da grande afeição que sentia por esta vila alentejana.

Visita de D. Amélia a um infantário junto do “Dispensário de Alcântara”, em 1945

Visita ao “Panteão Real da Dinastia de Bragança” na “Igreja de São Vicente de Fora”, em 19 de Maio de 1945

 

O funeral de D. Amélia, no dia 29 de Novembro de 1951, teve início na “Estação do Sul e Sueste” terminando o cortejo fúnebre na Igreja de São Vicente de Fora, onde os seus restos mortais foram depositados no “Panteão Real da Dinastia de Bragança”, junto de seu marido, Rei D. Carlos I, e seus filhos Rei D. Manuel II e Infante D. Luís Filipe.

Urna a bordo do “Bartolomeu Dias” e respectivo desembarque, na “Estação do Sul e Sueste”

 

A propósito deste acontecimento a "Revista Municipal" escreveu:

«O Sr. Presidente da Câmara, Tenente-Coronel Álvaro Salvação Barreto declarou associar-se, também, aos sentimentos expressos pelos diversos vereadores, com o  que está certo de interpretar o sentir da vereação e da população de Lisboa que nunca deu ao atentado de 1 de Fevereiro de 1908 foros de acontecimento nacional, dignificante, sob qualquer aspecto porque esse acto pudesse ser visto - e isto mais uma vez o povo da capital acaba de confirmar. De facto, o regicídio, no qual a Senhora D. Amélia colhera a palma do martírio que a acompanhou até á morte, não se harmoniza com a tradicional maneira de sentir a Nação. Conforme acentuaram os vereadores que se lhe referiram, nunca a rainha deixou de ser portuguesa e de se lembrar, com carinho, da terra onde sofreu a maior das dores humanas, onde foi crucificada.»

E o jornal “Diario de Lisbôa”

«Ao dealbar do dia, quando a cidade amanheceu com milhares de bandeiras a meia adriça, deu-se o encontro, nas águas do cabo da Roca, entre o aviso "Bartolomeu Dias" que trazia a urna da última rainha de Portugal, e os contratorpedeiros "Lima e "Dão", enviados para lhe dar escolta até ao Tejo. Foi este o primeiro episódio oficial depois da entrada do "Bartolomeu Dias" em águas portuguesas.»

Às cerimónias do funeral desde o desembarque da urna - acompanhada desde Brest pelo Visconde d'Asseca e Júlio da Costa Pinto - na “Estação do Sul e Sueste, até à “Igreja de São Vicente de Fora”, estiveram presentes: Presidente da República, General Craveiro Lopes, Presidente do Conselho Doutor Oliveira Salazar, o Ministro da Marinha Contra-Almirante Américo Thomaz, Presidente da Câmara de Lisboa, tenente-coronel Salvação Barreto, Governador civil de Lisboa, Dr. Mário Madeira, o Arcebispo de Metilene D. Manuel Trindado Salgueiro, e o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira, entre outras inúmeras individualidades.

 

 

Quanto a figuras monárquicas, estiveram presentes a Infanta D. Filipa de Bragança, que representava a “Casa de Bragança”, os Condes de Paris, o Rei Carol da Roménia e Princesa Helena, a Princesa D. Teresa de Orleães e Bragança, da casa imperial do Brasil, os arquiduques da Áustria, e várias princesas e príncipes de Thurn e Taxis, aparentados com a “Casa de Bragança”.

O funeral de seu marido Rei D. Carlos I e de seu filho o Príncipe Real D. Luís Filipe, tinha-se realizado em 8 de Fevereiro de 1908.

Funeral do Rei D. Carlos I e de seu filho o Príncipe Real D. Luís Filipe, em 8 de Fevereiro de 1908

 

Primitivo “Panteão Nacional” na “Igreja de São Vicente de Fora” antes de 1932

        

Entretanto, entre 1932 a 1934 o Panteão recebeu obras de transformação e colocação de mausoléus, não estando essas obras concluídas quando em 2 de Agosto de 1932 foi transladado de Inglaterra para a “Igreja de São Vicente de Fora” o corpo de D. Manuel II, último Rei de Portugal, que só entrou no Panteão a 15 de Junho de 1933.

Funeral de D. Manuel II em 2 de Agosto de 1932

 

«Embora francesa de origem, tornou-se portuguesa pela afeição à sua Pátria adoptiva, que a ela se prendeu com todos os afectos. Era esta afeição que lhe aprimorava a alma e o coração. Ficou gravada em pedra, no seu túmulo, em letras gravadas a ouro:

AQUI DESCANSA EM DEUS
DONA AMÉLIA DE ORLEÃES E BRAGANÇA
RAINHA NO TRONO, NA CARIDADE E NA DOR.

«Legenda simples mas expressiva e altamente honrosa para a memória de tão ilustre, excelsa e venerada Rainha.» in: “Diario de Lisboa”

Mausoléu de D. Amélia de Orleães e Bragança

       Mausoléus do Rei D. Carlos I e do Infante D. Luís Filipe                            Mausoléu do Rei D. Manuel II

 

Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

9 comentários:

João Celorico disse...

Caro José Leite,

Tanto quanto me recordo, o corpo esteve exposto ao público após esse dia 29 de Novembro, que deve ter sido feriado dada a verdadeira multidão que a ele assistiu. Também quando, no tempo em que esteve exposto, o povo aguardava, tempo interminável em longa fila, o seu momento de entrar. Também lá estive e do que mais recordo, do seu corpo, é dos seus cabelos que se assemelhavam a fios de palha.
Ao tempo, foi um acontecimento!

Cumprimentos,

João Celorico

Graça Sampaio disse...

Excelente reportagem!

Os meus cumprimentos.

José Leite disse...

D. Graça Sampaio

Muito agradeço mais um amável comentário seu.

Os meus cumprimentos

José Leite disse...

Caro João Celorico

Grato pelas suas, sempre interessantes, informações adicionais.

Os meus cumprimentos
José Leite

João Celorico disse...

Caro José Leite,

Porque tinha a bailar na memória a ida da Rainha D. Amélia a Sintra, de comboio, com o consequente banho de multidão ao longo do trajecto, mormente no Algueirão onde eu vivia, fui verificar a veracidade do acontecimento e apurei que a visita a Portugal, terá decorrido de 17 de Maio e 30 de Junho de 1945.
Também, para os interessados nos pormenores dos funerais aqui fico https://www.youtube.com/watch?v=2E8ufbOR9Vs

Cumprimentos,

João Celorico

José Manuel P.L.Teixeira disse...

Simplesmente OBRIGADO!
José Teixeira.

Unknown disse...

Uma grandiosa Rainha a quem ainda hoje todos os portugueses muito devem.

Unknown disse...

Amélia, a Grande, para sempre rainha de Portugal.

Anónimo disse...

Uma mulher ímpar e que muito fez em benefício do povo português fosse na frente cultural, fosse na frente social com a criação e um sem-número de instituições que ainda hoje existem - hospitais, sanatórios, institutos de pesquisa científica -, tendo a maior parte delas mudando e nome após 1910, confirmando-se assim a eterna tendência para o "fazer de conta" do regime saído da Rotunda. Foi muito antes do tempo, um solitário Ministério da Saúde, mesmo contra a opinião dos políticos do seu tempo.

Nuno Castelo-Branco