Ramiro Leão, nascido em 1857 na aldeia de Degracias, no concelho de Gavião, veio jovem para a cidade de Lisboa e com seu irmão António Leão abrem, em 1888, a sua primeira loja na Rua Nova do Almada, em Lisboa, com a designação de “Ramiro Leão & Comandita”. Com o evoluir do negócio mudam a sua loja para a Rua Garrett esquina com a Rua Paiva d’Andrada.
Edifício do “Ramiro Leão & C.ª” na Rua Garrett
4 de Janeiro de 1889
19 de Março de 1891
A transferência da loja para o edifício no Chiado, que teve lugar em 1891, processou-se por duas fases, e as primeiras instalações não iam para além de uma loja e 1.º andar, mas depressa a sociedade ocuparia todo o prédio, após a desocupação de dois pisos por parte do “Hotel Borges”, cujo edifício estava localizado mesmo em frente, no lado oposto da Rua Garrett, e dos demais inquilinos das lojas aí existentes.
"Ramiro Leão & Commandita” ainda nos números 83 e 85 da Rua Garrett, à direita na foto de 1891
31 de Julho de 1891 27 de Setembro de 1891
15 de Outubro de 1891
Notícia no jornal “Diario Illustrado” em 12 de Março de 1893
Por altura do Carnaval de 1905 e na recepção ao Presidente francês Èmile Loubet no mesmo ano
Prolongamento das instalações (escritórios) para a Rua Paiva de Andrada
1903 1905
26 de Agosto de 1904
Em 1888, foi apresentado um primeiro desenho de vitrina para a fachada do edifício da firma “Ramiro Leão & C.ª” no Largo do Chiado, e que, em 1891, se alargava o número de vitrinas a duas, sendo ambas construídas nesta altura. Na parede que envolvia a escada interior, foram executadas pinturas murais da autoria do pintor João Vaz (1859-1931), figurando o “Palácio de Queluz”, a “Boca do Inferno”, a “Torre de Belém”, o “Mosteiro dos Jerónimos” e a “Basílica da Estrela” e um vitral ao estilo «Art Noveau» figurando motivos vegetalistas e animais. Este edifício seria equipado com um elevador no mesmo estilo e com pinturas a óleo no tecto realizadas por alunos da “Escola Afonso Domingues” com base em cartões de João Vaz.
Montra em 1933 por ocasião de um concurso de montras
A abertura e expansão desta casa, no Chiado, trouxe fama e riqueza aos seus proprietários, tendo Ramiro Leão, além de fundador da “Fabrica a Vapor de Collarinhos, Camisas e Punhos” , chegado a director da “Associação Comercial de Lojistas de Lisboa”, fundada em 1910. De referir que Ramiro Leão, «franquista» (apoiante de João Franco), teve alguns cargos políticos, como vogal da Comissão Administrativa da CML em 1907, e vereador na primeira Câmara de 1908 nomeada, por João Franco.
Postal de 3 de Outubro de 1913
25 de Março de 1913
Em 24 de Abril de 1927, o edifício dos Armazens “Ramiro Leão & C.ª” sofre um incêndio que vitimou parcialmente o imóvel, após o qual foi realizado um projecto de recuperação pelo Arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1876-192), que também trabalhou noutras obras nesta zona de Lisboa, como na remodelação dos “Café Chave de Ouro” no Rossio, Café “Nicola”, igualmente no Rossio e o Café “A Brasileira” no Chiado.
Incêndio no edifício “Ramiro Leão & C.ª” em 24 de Abril de 1927
A intervenção do Arquitecto Manuel Joaquim Norte Junior no edifíco do "Ramiro Leão & C.ª" consistiu essencialmente na construção de uma mansarda em substituição do sótão que tinha ardido, para além de alterações nas comunicações verticais e nas fachadas, obras que foram realizadas nos anos de 1927 e 1928. Numa altura em que estas decorriam, foi proposta a construção do torreão de gaveto, ainda durante o ano de 1927. Este torreão foi concebido totalmente em cimento armado, sendo a parte superior montada directamente sobre o cunhal, por intermédio de duas vigas em cruz do mesmo material e sendo a parte inferior dependurada da parte superior por meio dos pilares de cunhal do torreão.
O edifício "Ramiro Leão & C.ª" já com o torreão
1942
À direita na foto e no Natal de 1959
Os Armazéns "Ramiro Leão & C.ª". durante décadas, foram uma das casas comerciais mais cosmopolitas de Lisboa. Com a degradação do edifício veio o seu encerramento.
Entrada do "Ramiro Leão" em 1994
Este edifício situado na área de protecção da Igreja dos Mártires, e no ano 2000 propriedade da família Eiró, viria a ser adquirido pela multinacional italiana “United Colous of Benetton”, que ali instalaria uma megastore de roupa. O arquitecto Jorge Matos Alves foi o convidado para recuperar e adaptar o edifício.
Em consequência desta profunda reforma e recuperação do edifício, as telas, da autoria do pintor João Vaz - um nome importante do meio artístico do início do séc. XX e um dos fundadores do “Grupo do Leão” - foram recuperadas por um atelier de restauro e o seu destino final foi o “Museu do Chiado”, não tendo regressado às paredes do edifício Ramiro Leão. O elevador estilo arte nova - um dos primeiros num espaço público em Lisboa - e um vitral foram também retirados para restauro mas regressaram ao edifício. Os tectos foram mantidos e recuperados no local. Em 17 de Dezembro de 2001 seria inaugurada a loja desta multinacional italiana no edifício Ramiro Leão.
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (estúdio Mário Novais), Delcampe.net, Hemeroteca Digital
2 comentários:
Era o sr. Ernesto quem carregava nos botões do ascensor para os clientes subirem e descerem.
Não sabia o nome do ascensorista mas lembro-me lindamente da sua cara sempre sorridente!
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