Restos de Colecção: Bombeiros Voluntários do Porto

18 de maio de 2016

Bombeiros Voluntários do Porto

Em 1870, Alexandre Theodoro Glama, acompanhado pelo seu cunhado Abílio Augusto Monteiroencabeçou a criação de um corpo de bombeiros voluntários no Porto, aos quais se juntaram em 1872, Hugo E. Kopke e Walter C. Kendall, conforme notícia da constituição do “Corpo de Bombeiros Voluntários” :

«Tendo nós abaixo assignados resolvido empregar todos os esforços para que se organise nesta cidade um corpo de bombeiros á similhança dos da Alemanha, declaramos aos cavalheiros que se dignarem inscrever que, logo que haja numero suficiente de voluntarios, serão convocados para uma reunião, em que se hão-de discutir os estatutos já em elaboração, para depois serem enviados aos poderes publicos, pedindo-lhes a sua aprovação e a competente licença para a definitiva organisação do corpo. Porto, 10 de Dezembro de 1872.»

Primeiro Quartel da “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto”, no Pateo do Paraizo

Co-fundador Alexandre Glama

  

Foram entretanto colocadas listas para inscrição de voluntários e a 25 de Agosto de 1875 nasceria a “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto”. Um dia depois constituía-se oficialmente a colectividade, em sessão realizada no Teatro “Príncipe Real” tendo como primeiro presidente o Visconde de Ribeira Brava, primeiro secretário Guilherme Gomes Fernandes, e como auxiliares da direcção diversos comerciamtes, industriais e capitalistas.

Foi Guilherme Gomes Fernandes (1849-1902), um dos fundadores, que possuidor de grande fortuna custeou a que seria a primeira organização portuguesa de bombeiros voluntários, a “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto”.

Comandante Guilherme Gomes Fernandes (1849-1902)

Recordo que foi sob o comando de Guilherme Fernandes  que o "Corpo de Salvação Pública" (antecessor do actual "Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto") que em 18 de Agosto de 1900, os bombeiros portugueses obtiveram o 1º lugar no "Concurso Internacional de Bombeiros" que decorreu em Paris. Mais uma vez este Comandante viria a custear a deslocação portuguesa, ante a recusa da Câmara Municipal do Porto em fazê-lo. Sobre a história deste evento consultar neste blog o seguinte link: “Bombeiros Portugueses na Exposição Universal de Paris de 1900”. A partir de 18 de Agosto de 1923 este passaria a ser o “Dia do Bombeiro”. A partir de 1987 e de 2009, respectivamente, passou a denominar-se “Dia Nacional do Bombeiro” e “Dia do Bombeiro Português”.

Foto de grupo no quartel da “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto”

O corpo de bombeiros foi inicialmente instalado no Pátio do Paraíso, na Rua do Bonjardim, (nas imediações do actual quartel). O palacete compreendia o espaço imobiliário ocupado actualmente desde o Teatro Rivoli”, “Caixa Geral de Depósitose o “Café Garça Real” até à “Associação de Jornalistas”. Em 8 (ou 26) de Novembro de 1875, após organização do serviço de socorro, os BVP teriam a sua primeira saída para um Incêndio na Rua do Triunfo.

Gabinete do Comandante

 

                                        Camarata                                                                                Dormitório

 

                                      Salão de jogos                                                                       Salão Nobre

 

Passado ano e meio da sua fundação, em 9 de Abril de 1877, a Assembleia Geral reúne extraordinariamente para dar conhecimento de que, por alvará de 6 de Janeiro de 1877, El-Rei D. Luís I agraciara a Associação com o titulo de “Real”, passando a designar-se desde então como “Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto” , em reconhecimento dos grandes serviços prestados. Em 1900, comemorando o seu 25º aniversário, o corpo de bombeiros recebe de D. Carlos I, então Comandante Honorário, uma magnífica aguarela enaltecendo os feitos heróicos a instituição. Sua majestade a rainha D.ª Amélia, madrinha da mesma Associação, oferece aos Voluntários a sua primeira bandeira, por ela desenhada e bordada a fios de ouro e que ainda hoje se encontra no quartel dos “Bombeiros Voluntários do Porto”.

Exercícios no Pateo do Paraizo, em fotos de 1880

Auto-Maca «Sizaire-Brunswick» de 30 hp

Em 1925, o velho Pátio do Paraíso deixou de albergar os BVP, tendo sido vendido pela proprietária, Condessa de Fijó, à Câmara Municipal do Porto. Desde essa data até 1947, os “Bombeiros Voluntários do Porto” ficariam instalados num velho e inestético edifício apelidado de “barracão”. As antigas instalações deram lugar à construção da actual Rua Rodrigues Sampaio, onde se encontra o presente quartel.

 

Foram os “Bombeiros Voluntários do Porto” inovadores em muitas ocasiões. A eles se devem a substituição das viaturas de tracção humana por “Hipomóveis”. Seria deles o primeiro veículo escada “Magirus”, a primeira auto-bomba, a primeira moto-bomba e o primeiro auto pronto-socorro (um “Daimler” de tipo Sport). Em 1879, quatro anos após a sua fundação, a “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto” apresentou o primeiro carro de socorro puxado a cavalos existente em Portugal e uma ambulância. Em 1919, a primeira viatura automóvel (auto maca) para serviço de bombeiros existente na cidade do Porto pertencia aos “Bombeiros Voluntários do Porto”.

 

 

A primeira referência a uma secção de “Socorro a Náufragos” dos BVP data de 1888, localizada na Foz. De referir que já em 07 de Março de 1894, “Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto” já  tinha sido convidada a aceitar a orientação e organização de uma secção pelo “Instituto de Socorros a Náufragos”, no entanto, só em 1981 inaugurariam actual “Secção de Socorro a Náufragos”, no Lordelo do Ouro.

                                             1961                                                                                        1964

 1964 Ofício

 

Actualmente o corpo de bombeiros dos "Bombeiros Voluntários do Porto", com as suas instalações na Rua Rodrigues Sampaio, conta com 68 bombeiros, 13 veículos, 1 embarcação e respectivos mergulhadores.

Actuais instalações e viaturas

 

 

 

fotos in: Delcampe.net, Arquivo Municipal do Porto, Bombeiros Voluntários do Porto

4 comentários:

Unknown disse...

Caro José Leite,

Em 1877, D.Carlos ainda não era rei.

Terá sido D.Luis a conceder a graça de Real à Associação?

Cumprimentos,
Pedro Ferreira

José Leite disse...

Caro Pedro Ferreira.

Ui !!! Enganei-me.

Acontece aos ... piores :)

Já rectifiquei

Obrigado e um abraço

José Leite

Unknown disse...

Merece todo o mérito pelo trabalho só de referir que já estão dados desatualizados relativos ao NR de elementos viaturas e etc

Raúl Ribeiro disse...

Boa tarde, no vosso blogue "Restos de colecção" E relativamente ao post datado de 18 de Maio de 2016, inicia assim:
"... Em 1870, Alexandre Theodoro Glama, acompanhado pelo seu CUNHADO Abílio Augusto Monteiro...."
Como vejo esta inverdade escrita em vosso bolgue bem como em muitos outros sítios na net, quero por isso alertar da incorrecção. Alexandre Theodoro Glama era SOGRO de Abílio Augusto Monteiro.
A prova está quer no assento de nascimento de Sofia Elvira Camarinha França (4.abr.1853), que veio a casar com Augusto, e ai se lê que era filha de Alexandre Theodoro Glama e D. Rita Emília Camarinha França. Bem como no assento de casamento de Sofia com Augusto ((12.jun.1875).
Este documentos podem ser consultados em tombo.pt e relativos à Paróquia de Pedroso, Vila Nova de Gaia.
Deixo aqui os links dois eventos para que possam confirmar.
Nascimento de Sofia:
PT-ADPRT-PRQ-PVNG13-001-0016 - - -foto número 237.
Casamento de Sofia com Augusto:
PT-ADPRT-PRQ-PVNG13-002-0030 - - -foto número 131.
Algo mais disponham.