O “Jardim Cinema” teve origem na "Esplanada Monumental" inaugurada pelo Presidente da República General Óscar Carmona, na, Avenida Álvares Cabral, em Lisboa, em 7 de Maio de 1931. Esta sala de espectáculos, fazia parte do conjunto arquitectónico encomendado ao arquitecto Raúl Martins, pelo construtor civil tomarense Clemente Vicente, e que incluía a "Garagem Monumental", sala de projecção e uma "fonte monumental".
Avenida Pedro Alvares Cabral dois anos depois da sua abertura em 1930
Anúncio no “Diario de Lisbôa”, em 6 de Junho de 1931
Em 4 de Junho de 1932, reabriria com cinema sonoro e com a nova designação de “Esplanada Alvares Cabral”
E em 4 de Fevereiro de 1933 ...
Em 22 de Maio de 1933, depois de reformulada, a Esplanada passaria a designar-se por “Jardim-Cinema”, projectando o filme “Pernas ao Ar “, com uma nova sala coberta e com capacidade para 894 espectadores, tornando-se numa das maiores salas de cinema de Lisboa. No final da década de 30 do século XX a sua capacidade viria a ser reduzida para 705 lugares.
Capa de pequeno livro alusivo à inauguração do “Jardim Cinema”
Sala de espectáculos
Quanto à sua descrição arquitectónica transcrevo um breve texto do “SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico”:
«Desenvolvido em profundidade, o edifício do antigo Jardim-Cinema constitui-se como um volume paralelepipédico quase completamente fechado, com cobertura em terraço. Na fachada (NE), há a registar: no piso térreo, a porta de entrada, flanqueada por envidraçados (antigas bilheteiras, actual tabacaria); num 2º nível, um baixo-relevo decorativo art-déco em betão, acima do qual se destaca a presença do pano murário destinado à colocação de telas publicitárias, em suporte metálico enquadrado pelo friso da platibanda; faixas verticais de janela flanqueiam esta superfície. O interior é um espaço unitário, de triplo pé-direito, em que o salão de jogos ocupa o piso térreo; sobre este espaço central abrem-se 2 níveis de galerias, ligadas entre si por 6 grupos de escadas de lanço recto único.»
Programa
Programação de 24 a 31 de Maio de 1934 Bilhete
Bilhete gentilmente cedido por Carlos Caria
O “Jardim Cinema” encerraria a 12 de Outubro de 1977 com o filme “O Príncipe Libertino”, e mudava de designação para cinema “Monte Carlo”, abrindo a 4 de Maio de 1979 com o filme “Aquele Verão” . Viria a encerrar definitivamente a 15 de Outubro de 1985 com o filme “Colégio de Jovens” .
Viria a tornar-se no “Monumental Salão de Jogos”. Anos mais tarde, em 24 de Outubro de 1986, seria transformado na famosa discoteca “Loucuras” do radialista José Nuno Martins. Foi uma das discotecas e sala de espectáculos que dominou os anos 80, do século XX, de Lisboa com as suas "Quintas-Feiras Tranquilas", animadas pela "Orquestra da Felicidade do Brilho e da Glória", criada em 1986 pelo maestro Jaime Oliveira formada por músicos da banda da GNR.
Propaganda ao “Loucuras”
Pelo Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª série-B. n.º 42 de 19 Fevereiro 2002, o “IGESPAR” considerava este conjunto arquitectónico “Imóvel de Interesse Público”.
Depois desta encerrada, voltaria a salão de jogos que por sua vez encerraria definitivamente em 30 de Junho de 2006, transformando-se mais uma «loja chineza». Hoje este edifício, alberga uma produtora de programas televisivos e a empresa de leilões “Renascimento - Avaliações e Leilões, S.A.”.
“Monumental Salão de Jogos”
Imagem mais recente do conjunto
fotos in: Delcampe.net, Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa, IÉ-IÉ, O Vôo do Corvo
4 comentários:
Lembro-me desta sala com as cadeiras de palhinha, ainda do tempo do cinema ao ar livre. De casa do meu avô podia ver-se à noite o clarão do filme que então passava e, quando o vento estava de feição, até se ouviam os diálogos...
Cadeiras de pallhinha, de verga.
Daí a alcunha que ganhou ao longo dos anos, de "vergas", ou como mais recentemente se foi dizendo, sem se perceber a sua origem, o "vérgas".
Fui estudar para Lisboa, na Faculdade de Ciências na Rua da Escola Politécnica, em 1970. O cinema mais próximo era o "Palhinhas". Dois filmes seguidos por 8$00. Quantos filmes, geralmente de qualidade menor, vi no Palhinhas. Perdi a conta. Mais tarde transformado num fantástico salão de bilhares, posicionados em vários níveis, onde houvesse espaço. Também perdi a conta às horas que aí passei a jogar, normalmente bilhar livre. Hoje, perderam-se as salas de cinema e os salões de bilhar. Transformaram-se em "lojas chinesas", igrejas Maná ou Centros Comerciais todos com lojas idênticas.
Também, quem precisa de um grande ecrã ou de uma mesa de bilhar se pode ver o filme ou até fazer um jogo de bilhar virtual num ecrã de telemóvel, de preferência sózinho.
Saudades, coisas de velhos.
Bons tempos passados no cinema, mas sobretudo no salão de jogos. Épicos torneios de bilhar, matraquilhos e dominó com amigos.
Enviar um comentário