Para encerramento das comemorações das “Bodas de Diamante” do jornal lisboeta “Diário de Notícias”, fundado em 29 de Dezembro de 1864, foi inaugurado o seu novo edifício na Avenida da Liberdade, em Lisboa, a 24 de Abril de 1940. Projectado pelo arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, foi inaugurado com a presença do Presidente da República o general Óscar Carmona, do director do “Diário de Notícias” Dr. Augusto de Castro, do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, General França Borges, e outras individualidades.
Frente para a Avenida da Liberdade
Frente para a Rua Rodrigues Sampaio
O primeiro número do jornal "Diario de Noticias", foi publicado em 29 de Dezembro de 1864 que viria a tornar-se num dos principais jornais de referência em Portugal, que este ano comemorou os seus 150 anos. O seu preço de capa era de dez réis. Foi fundado por Eduardo Coelho e Tomaz Quintino Antunes que nas primeiras três décadas de vida do "Diário de Notícias" foram marcadas pela direcção do primeiro, jornalista e escritor, que seguiu uma estratégia de implementação e consolidação do jornal, praticando um jornalismo moderno, informativo e independente, tendo introduzido dois novos géneros jornalísticos: o editorial e a grande reportagem.
Eduardo Coelho e Tomaz Quintino Antunes fundadores do “Diario de Noticias”
Primeira página do primeiro exemplar do “Diario de Noticias” em 29 de Dezembro de 1864
Os primeiros anúncios na última página
O seu primeiro edifício situava-se na Rua dos Calafates, futura Rua do Diário de Notícias no Bairro Alto
Redacção do “Diário de Notícias” no mesmo edifício
Desde o primeiro número, o “Diário de Notícias” apresentou-se como jornal exclusivamente informativo, para transmitir «com a possível verdade todos os acontecimentos, deixando ao leitor, quaisquer que sejam os seus princípios e opiniões, o comentá-los ao seu sabor». Constituiu inovação numa época de Imprensa partidária. O seu fundador, Eduardo Coelho, ao caracterizar, nestes termos, o perfil do “Diário de Notícias”, esclareceu: «Será uma compilação cuidadosa de todas as notícias do dia, de todos os Países, de todas as especialidades, um noticiário universal.» . Além disto, lançou em Portugal a reportagem na sua acepção actual e incluía, nas suas colunas, os telegramas das agências internacionais.
Ao mesmo tempo, o “Diário de Notícias” introduziu a publicidade, o pequeno anúncio, a fim de satisfazer as necessidades quotidianas do leitor. Enquanto outros jornais da altura custavam 30, 40 e até 60 réis, o “Diário de Notícias” custava 10 réis. Os anúncios tornaram-se acessíveis a largos extractos da população, devido ao preço - 20 réis a linha -, pois a maior parte dos outros periódicos cobrava 100 réis a linha. Coube, ainda, ao “Diário de Notícias”, a reformulação da venda do jornal nas ruas através de ardinas (uma nova classe profissional), pondo termo ao monopólio dos «cegos papelistas» da “Irmandade de São Jorge de Arroios”.
Ardinas
Em 1894 Eduardo Coelho seria substituído por Alfredo Cunha que procurou também, impulsionar o "Diario de Noticias" captando novos colaboradores de qualidade como os escritores Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz e Pinheiro Chagas.
Notícia na revista “Occidente”, em 30 de Maio de 1903
Máquina rotativa “Augsburg”
O "Diário de Notícias", é vendido pela família do fundador, Eduardo Coelho, à "Companhia Industrial de Portugal e Colónias", passando a constituir uma sociedade anónima denominada "Emprêsa Nacional de Publicidade SARL”, tendo assumido a sua direcção, em 20 de Abril de 1939, o advogado, jornalista e ex-político monárquico Dr. Augusto de Castro, que já tinha exercido, anteriormente, o cargo de director deste jornal entre 1 de Junho de 1919 a 23 de Junho de 1924.
Dr. Augusto de Castro
Entretanto, e em 1936, o arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, recebe a encomenda do projecto do novo edifício a situar-se na Avenida da Liberade, extendendo as suas traseiras até à Rua Rodrigues Sampaio com frentes para ambas. Neste projecto Pardal Monteiro iria ter a colaboração do arquitecto Raúl Rodrigues Lima (1909-1980) - arquitecto dos cinemas “Monumental”, “Cinearte” e do “Teatro Micaelense”. Seria o primeiro edifício construído de raiz destinado a um jornal em Portugal, incluindo zona industrial e escritórios, com todas as actividades desenvolvidas por um jornal, desde a preparação, e gestão do jornal até à sua impressão e distribuição.
Arquitecto Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957)
«Do ponto de vista técnico o edifício do Diário de Notícias, foi para a sua época o mais desenvolvido:
O problema da forma como foi posto ao arquiteto assim o implicava, um edifício englobando em si duas atividades completamente diferenciadas. Por um lado a zona fabril de produção do jornal, ruidosa, implicando grandes cargas nos pavimentos, introduzidas não só pelo peso das rotativas, mas também pelos camiões que descarregam as bobines de papel para alimentação das mesmas, rotativas que pesavam toneladas, por outro uma zona de trabalho e receção de publico que se pretende sossegada e silenciosa.
Também esta zona fabril, integrada num edifício urbano, produz ruído aéreo das máquinas elevado e vibrações que muito facilmente se propagam através da estrutura do edifício chegando a todos os locais.
Além dos problemas dos ruídos e vibrações houve ainda que resolver de forma eficaz a ventilação dos espaços de trabalho interiores e dos cheiros a tinta naturalmente existentes numa gráfica.
Para resolver todos esses problemas, e todos os outros que naturalmente existem no projeto de um edifício, Pardal Monteiro, rodeou-se de uma equipa técnica altamente competente e considerada.» (1)
Balcão de atendimento com painel “Mapa-Múndi” de Almada Negreiros
Painel de Almada Negreiros “Mapa-Múndi”
Refeitório
Montras do edifício
Entrada dos funcionários e administração
Painel “QUEM NÃO SABE ARTE NÃO NA ESTIMA”, de Almada Negreiros na entrada
Sala de visitas Gabinete do diretor
Oficinas gráficas
Obras das fundações do edifício - a cargo da “Empresa de Sondagens e Fundações” do engº Ricardo Esquível Teixeira Duarte - tiveram início em 10 de Maio de 1937.
Trabalhos de fundações e publicidade à “Empresa de Sondagens e Fundações”
Este projecto viria a laurear o arquitecto Porfírio Pardal Monteiro com o “Prémio Valmor de Arquitectura” de 1940. Em 3 de Janeiro de 1986 viria a ser considerado “Imóvel de Interesse Público”.
Quanto ao interior do edifício sigamos uma pequena “visita guiada” utilizando a descrição do repórter do “Diario de Lisbôa” que acompanhou a inauguração:
«O sr. Presidente da República esteve primeiramente no vasto “hall” onde admirou a instalação dos vários serviços e a grande carta do mundo, obra de Almada Negreiros. Na sobre-loja, o sr. general Carmona visitou a biblioteca e a sala de recepções, passando depois para a tipografia, modernamente apetrechada, onde presenciou os trabalhos de composição de um suplemento dedicado á visita presidencial e que minutos depois estaria impressa.
Na sala da redacção, o respectivo chefe, nosso prezado colega Aprígio Mafra, apresentou ao Chefe do Estado todos os redactores e reporteres do "Diário de Notícias", após que o sr. general carmona, visitou, sucessivamente, a linda sala de recepção privativa do director e os gabinetes dos srs. dr. Augusto de Castro e coronel Pereira Coelho, bem como a secretaria.
Passando para o 2º andar o sr. Presidente da República esteve nas instalações dos "Sports", do "Notícias Agrícola" e do "Arquivo Nacional" e na secção de propaganda e províncias. Depois de percorrer no 3º andar, as instalações da administração, o sr. general Carmona subiu à grande esplanada, donde se disfruta um panorama magnífico sobre a cidade e o rio e onde foi servido um "Copo de Água"».
Publicações da "Empreza Nacional de Publicidade”, em 1939
Criado em 6 de Abril de 1919 Criado em 15 de Janeiro de 1922
Criado em 25 de Abril de 1925 Criado em 17 de Junho de 1928
Criado em 4 de Abril de 1933
Criado em 15 de Janeiro de 1932
Reportagem fotográfica no suplemento “O Diário de Notícias da sua Fundação às suas Bodas de Diamante”,1939-1940
Gravura da capa do suplemento por Stuart Carvalhais
Jornal “Diário de Notícias” alusivo á inauguração e General Carmona com Pardal Monteiro à sua direita e Dr. Augusto de Castro à sua esquerda, na abertura da cerimónia de inauguração
Ficha técnica da construção do edifício do “Diário de Notícias” :
Arquitecto: Porfírio Pardal Monteiro
Construtor civil: Felipe Rodrigues Vacas
Fundações: “Emprêsa de Sondagens e Fundações”, do engº Ricardo Esquível Teixeira Duarte
Estuques, decorações e pinturas interiores: Osório Luiz Soeiro
Pinturas exteriores: J. Freitas Garcia
Instalações Eléctricas: "Nogueira, Lda."
Principais empresas fornecedoras de materiais e serviços :
"Soc. Com. Philips Portuguesa" - Iluminação e instalações eléctricas
”Móveis Olaio” e “Jalco, Lda.” - Mobiliário e decorações
"Sociedade Zickermann, SARL" - Vários materiais de construção especialmente ferro e outros metais.
"A Portuguesa" de José Carvalho - Trabalhos de carpintaria e marcenaria
"Emprêsa de Pavimentos e Isolamentos, Lda." - Isolamentos de humidades, infiltrações, de caldeiras, tubos, condutores de vapor, câmaras frigoríficas, etc.
"Lusalite - Corporação Mercantil Portuguesa, Lda." - Chapas lisas e tubagens, em fibrocimento.
"Primaz, Lda." - Relógios eléctricos
"Sociedade Industrial Metalúrgica, Lda." - Trabalhos de serralharia em aço macio, latão e bronze
"Electro Reclamo, Lda." - Trabalhos de ornamentação luminosa com tubos "Néon"
”Carrier Continentale” (Paris) - Ventilação e aquecimento central
Postal do Primeiro Centenário do “Diário de Notícias”
(1) - Citação e algumas fotos retiradas do trabalho de investigação: “Para o projecto global-nove décadas de obra - Arte, Design e Técnica na Arquitectura” do atelier Pardal Monteiro Vol I - Doutoramento em Design de João Pardal Monteiro pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa, Dezembro de 2012.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital de Lisboa
2 comentários:
É sempre um prazer encontrar aqui o que se procura....e "pronto-a-comer".
cump.
Caro Júlio Amorim
E disponível 24 horas por dia ...
Cumprimentos
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