O “Salão Ideal”, foi inaugurado em 1904, sendo o seu promotor João Freire Correia, fotógrafo de renome, em sociedade com D. Nuno de Almada, tendo adquirirdo um recinto abandonado na Rua do Loreto, ao Largo Camões, em Lisboa, Nesse mesmo ano, deslocam-se a Paris - onde tinham sede a “Léon Gaumont” e a “Pathé Frères” - para adquirir as aparelhagens de projecção de que necessitavam, nascendo, assim, o “Salão Ideal”, a primeira sala concebida para cinema em Portugal.
“Salão Ideal” em fotos de 1932 e 1936
Este animatógrafo que começou por passar inicialmente fitas mudas, é adquirido em Março de 1908 por Júlio Costa e João Almeida, que procedem de imediato a obras de renovação, reabrindo em 18 de Abril do mesmo ano.
29 de Março de 1908 19 de Abril de 1908 26 de Abril de 1908
10 de Maio de 1908
10 de Maio de 1908
Em 1909, o “Salão Ideal” passa a exibir fitas faladas, animadas por detrás da écran por actores, os quantos fossem necessários, para interpretarem os diálogos e sons dos filmes. No elenco desses artistas estava o, então, bombeiro voluntário do corpo dos “Bombeiros Voluntários da Ajuda”, o actor António Silva, que mais tarde se tornou num ícone do cinema português. O novo animatógrafo falado causou tal espanto e curiosidade que o eléctrico que passava na rua se via obrigado a suspender a marcha devido à multidão que esperava para assistir às famosas fitas faladas.
1909
Júlio Costa era filho de um comerciante que depressa ficou conhecido por ter fundado a mais conhecida produtora e distribuidora do início do século XX, a “Empresa Cinematographica Ideal”. Em Novembro de 1925, os edifícios com os números 13 a 19 da Rua Loreto e 12 a 18 da Rua da Horta Sêca foram comprados, pela quantia de 230 contos, pela agora conhecida como “Casa da Imprensa”. A “Caixa de Previdência dos Profissionais da Imprensa” e o “Sindicato dos Profissionais da Imprensa” instalam-se na Rua do Loreto a 24 de Janeiro de 1926, e foi essa coabitação que deu origem ao nome de “Casa da Imprensa”. A Caixa de Previdência ocupa a Sobre Loja, com serviços administrativos e posto médico, e o Sindicato o primeiro andar, continuando o animatógrafo “Salão Ideal” a funcionar.
1910
Lista dos Casinos e Animatographos de Lisboa em Maio de 1908
Em Santarém, no Canto da Cruz, existia também um “Salão Ideal” em 1914. Aqui fica o folheto
gentilmente cedido por Carlos Caria
Interior do "Salão Ideal" na Rua do Loreto, com os lenços a marcar os lugares
O que era um barracão no início do século passaria, décadas mais tarde, a ser uma sala de cinema respeitada. De 1949 a 1956 o, já, “Cinema Ideal” passou por inúmeras alterações todas da autoria do arquitecto João Simões que para o efeito estudou vários cinemas estrangeiros, como o “Astra” de Milão e o “Waterloo” em Londres.
Plantas
O “Cinema Ideal” encerraria em 30 de Outubro de 1976 com o filme “Uma Pistola par Ringo” em exibição.
Ainda antes de 1974, seriam realizadas novas obras de remodelação no “Cinema Ideal”, que reabre em 31 de Julho de 1978 com a designação de “Cine Camões”. Nesta altura, o Dr. Manuel Félix Ribeiro, fundador da “Cinemateca Portuguesa“ escrevia: «não só o mais antigo cinema de Lisboa como o que, por mais longo período e ininterruptamente, tem continuado a trabalhar».
No inícios dos anos 90 do século XX o “Cine Camões”, depois de encerrado, conhece nova gestão e muda outra vez de nome, tornando-se o “Cine Paraíso” que pouco depois começa a exibir filmes pornográficos, até ao seu encerramento definitivo, durante a primeira década do século XXI.
O novo “Cinema Ideal”, viria a ser inaugurado em 28 Agosto de 2014, sob a gerência de Fernando Vidal, depois de por um profundo trabalho de renovação e recuperação, de arquitectura e de equipamento de projecção de imagem e som, que orçou em 500 mil euros. Foi um trabalho que deu origem a um novo cinema e a um novo espaço de animação cultural e urbana. Tudo isto, no âmbito de um projecto conjunto da “Midas Filmes” e da “Casa da Imprensa” com apoio da Câmara Municipal de Lisboa, com um projecto de recuperação do arquitecto José Neves, que lhe valeria uma menção honrosa por o júri ter considerado que contribuiu para a «história da exibição cinematográfica em Portugal». O empresário e produtor Pedro Borges, da “Midas Filmes”, afirmaria-se «contente, porque é uma coisa inesperada premiarem um cinema, mas devia haver uma política nacional, concertada, de reabertura de salas como esta pelo país».
A sessão de inauguração estreou o último filme de Joaquim Pinto, “E Agora? Lembra-me”. Este filme permaneceria em exibição juntamente com o filme "A Desaparecida", de John Ford, de 1956, em sessões intercaladas, a partir das 13h30. Mas em traços gerais o produtor explicou, que ali serão exibidos os filmes que habitualmente «não se vêem nos outros cinemas”. É para ser cinema português, cinema europeu, cinema chinês, cinema iraniano». Este espaço conta com uma livraria e uma DVDteca (onde se poderão ver vários filmes) uma cafetaria com refeições e ainda um espaço de convívio e animação, tudo no primeiro andar.
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Biblioteca Nacional Digital
5 comentários:
thank you
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Tenho quase a certeza que a encarnação "cinema paraiso" do atual "cinema ideal" encerrou não no fim dos anos 90 do sec xx, como é dito no texto, mas já bem dentro da segunda metada da primeira década dos anos 2000.
cumprimentos
fernando
Caro Fernando
Muito grato pela sua chamade de atenção. Tem razão
O "Cinema Paraíso" encerrou durante a primeira década do século XXI.
Os meus cumprimentos
José Leite
Caro José Leite
Mais uma vez parabéns pelo seu blogue! É um prazer vir aqui descobrir memórias de outrora e que constribuiram para a história portuguesa.
Só queria fazer um reparo: tenho quase a certeza de que a reencarnação do Ideal em Cine Camões, ocorreu bem antes de 1978. Aliás, no You Tube vi videos sobre o 25 de Abril e numa das cenas de rua, vi o letreiro do Cine Camões.
Obrigada e mais uma vez parabéns pelo teu trabalho!
Wavey
Cara Cristina
Talvez tenha razão, porque eu também não tinha a certeza e baseei-me no facto de só aparecer publicidade ao Cine Camões a partir de 1978.
Se não estou em erro a Cristina é proprietária do blog "Cinemas do Paraíso", uma referência no que toca a salas de cinemas antigas e não só, que sigo regularmente com muito prazer.
Vou rectificar e agradeço a sua ajuda assim como as suas amáveis palavras.
Os meus cumprimentos
José Leite
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