Restos de Colecção: julho 2015

30 de julho de 2015

Concurso da Gente de Teatro

Pela primeira vez em Portugal, e por iniciativa do jornal "Diário de Lisboa", e a exemplo do que já acontecia noutras cidades mundiais como Paris e Rio de janeiro, teve lugar entre 22 e 29 de Janeiro de 1928 a "Semana dos Artistas".

Fotos da “Semana dos Artistas”, com os artista em venda na “A Pompadour” e numa sapataria

 

Este evento, ao qual aderiram dezenas de estabelecimentos comerciais da baixa lisboeta, teve como finalidade a angariação de fundos para o "Cofre de Beneficência do Grémio dos Artistas Teatrais", e no qual os e as artistas de teatro encarnaram o papel de “Caixeiros Comerciais”. Acerca da “Semana dos Artistas”, consultar o seguinte link, neste blog: Semana dos Aristas em 1928”.

Reportagem no “Diario de Lisbôa” em 28 de Janeiro de 1928

Inserida nesta iniciativa teve lugar, em 20 de Janeiro de 1928. no “Jardim de Inverno” do Teatro São Luiz”, o “Concurso da Gente de Teatro”.

Exposição dos prémios no “Jardim de Inverno”

 

Extracção dos números premiados na sala de espectáculos do “Teatro São Luiz

 

 

O 1º prémio do “Concurso da Gente de Teatro” foi um automóvel “Chevrolet” - oferecido pelo “Palace Stand” sito na Rua Eugénio dos Santos - ganho por Raúl Ferreira Galinha, possuidor da senha nº 9238, cujo número se pode avistar na ardósia junto das tômbolas, na 1ª foto do conjunto anterior. 

“Chevrolet” e respectivo vencedor Raúl Ferreira Galinha

 

Já agora, o “Palace Stand”, na Rua Eugénio dos Santos e respectiva publicidade, já ao modelo de 1929

 

Fotos in: Arquivo Municipal de LisboaArquivo Nacional da Torre do Tombo, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

27 de julho de 2015

Restaurante “Tágide”

O restaurante-boîte “Tágide”, abriu as suas portas, pela primeira vez, a 8 de Dezembro de 1950,  no Largo da Biblioteca, em Lisboa, tendo como um dos proprietários, Campos Ferreira e a actriz franceza Mireille Robert. O primeiro era sócio da firma representante de vinhos, “A. Serra Campos Ferreira, Lda.”, situada na Rua António Maria Cardoso, ao Chiado. Campos Ferreira viria a ser responsável pela contratação de grandes artistas internacionais que actuaram na famosa boîte “Tágide”.

Restaurante-boîte “Tágide”

 

Campos Ferreira

 

«Entrámos-e ficámos encantados com o ambiente parisiense da sala, belamente decorada por essa artista de gosto e de inspiração que é Estrela Faria. Como fundo ao nome escolhido, uma evocação camoneana. Espalhadas pelas mesas, senhoras conhecidas, homens de sociedade.
A orquestra de Jocge Brandão-que por momentos se calara - volta a deliciar-nos com outra peça: David Teller, num solo de violino; Ferrão, o melhor baterista português; o contrabaixo Viana; o vocalista Jimmy.
No meio da sala, surge-nos a encantadora Mireille Robert. Ninguém, como uma artista, e sobretudo francesa, para dirigir uma tal organização. E o caso é novo em Portugal. Mireille a uma pergunta nossa, diz-nos, com um sorriso gentilissimo:
-Dei o nome de «Tagide» a esta «boite» em homenagem ao Tejo e a Lisboa. Inspirei-me nos formosos versos de Camões ...
E, pronunciando «patrióticamente mal» português, declamou :

« ... E vós, Tágides minhas, pois criado
tendes em mim um novo engenho ardente ... »

(...) Peguntamos a Mireille o que se vai passar naquela «boite», instalada no mesmo prédio que o restaurante do famoso Horcher. E ficámos cabendo que ali encontrarão os portugueses e os estrangeiros elegantes de Lisboa, em reuniões nocturnas seleccionadas, um ambiente bem francês, semelhante ao das «boltes» categorizadas de Paris, onde se juntam o artistas e a gente de bom gosto, para passar alguns momentos agradáveis; e que, por aquela casa, unica no seu género no nosso País, constituíndo, portanto, um aprecavel melhoramento turístico, desfilarão notáveis artistas internacionais que farão apreciar as velhas canções francesas ...» in: "Diario de Lisbôa"

Primeira referência publicitária ao “Tágide”, em 30 de Dezembro de 1950

Boîte “Tágide”

 

A “Tágide” nos anos 50 e 60 do século XX,  era a melhor e mais bem frequentada boîte de Lisboa, onde atuavam os melhores artistas nacionais e estrangeiros. Inaugurada com o conjunto liderado pelo maestro Jorge Brandão (falecido em 21 de Outubro de 2010 na África do Sul). Este conjunto, durante anos teve oportunidade de acompanhar artistas da maior craveira internacional, tais como Charles Aznavour, Gilbert Bécaud, Mireille Robert, Georges Ulmer, Jaqueline François, Paul Peri, Ana Maria Gonzalez e muitos outros, a par também dos portugueses Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, Rui de Mascarenhas, Maria de Lurdes Resende, etc.

Charles Aznavour actuou na boîte “Tágide” entre 16 e 24 de Maio de 1953

Publicidade em 17 de Maio de 1953 e fotografia com dedicatória a Campos Ferreira

    

5 de Março de 1955

«(…) criações e intervenções imaginativas, conjuntamente com ensaios de dançamento e apoio e aplauso a espectáculos de variedades em que intervieram destacados cantores e ilusionistas, malabaristas e fadistas, aldrabilhas e outros artistas.»

O restaurante-boîte “Tágide”, pertencia ao mesmos donos do restaurante-boîte “Palm Beach Club”, inaugurado em 21 de Junho de 1941, pelo seu primeiro proprietário o austríaco Fred Wulff, na Praia da Conceição, em Cascais, a fim de quebrar a hegemonia do Casino Estoril na vida nocturna.

Entrada para o “Palm Beach”

5 de Novembro de 1960 

Tágide.7 (5-11-1960).1

De regresso ao “Tágide” … Depois de ser tomada a decisão, em 1970,  de converter o restaurante-boîte “Tágide”, exclusivamente em restaurante de luxo, todo o espaço foi alvo de uma profunda transformação, em 1973, passando a funcionar apenas como restaurante, cuja qualidade foi distinguida com vários prémios, nomeadamente uma “Estrela Michellin” que tendo sido o primeiro restaurante de Lisboa a ser galardoado a ostentou entre 1981 e 1992. Na época, a decoração do restaurante esteve a cargo do decorador Duarte Pinto Coelho, que aliou o requinte da decoração a obras de arte de valor incontornável: painéis de azulejo do século XVIII, fontes de pedra do século XVII e belíssimos lustres do século XVIII, que ainda hoje lá permanecem.

Quando da reabertura do restaurante “Tágide”, em 1974, - já no renomeado Largo da Academia das Belas Artes - a firma proprietária tinha vários sócios, sendo um deles o banqueiro Jorge de Brito - fundador em 1972 do BIP  - Banco Intercontinental Português - que, durante toda a vida do “Tágide” enquanto restaurante, foi sempre sócio. Jorge de Brito fez questão de chamar os melhores profissionais, quer na área da restauração (o antigo gerente Álvaro Silva esteve ligado a outros projectos igualmente de prestígio como o “Terraço” do Hotel Tivoli, o restaurante “Aviz” e o “Pabe”), quer ao nível da decoração (como o decorador de renome internacional, já atrás mencionado, Duarte Pinto Coelho).

Em 2007, o “Tágide” - já sob a gerência de Suzana Barros de Brito, nora de Jorge de Brito - foi remodelado, mais uma vez, apostando numa decoração que aliou a tradição à modernidade, com apontamentos inusitados como os quadros de Maria João Brito e o candeeiro colorido de Tim Madeira. à frente da sua cozinha o Chef Luís Santos. Em 2014 teve lugar a sua última remodelação.

 

Entretanto em 16 de Março de 2012, foi inaugurado o novo espaço “Tágide Wine & Tapas Bar”, - ocupando um espaço do restaurante “Tágide” que era destinado a grupos – tendo sido projectado pela arquitecta Teresa Monteverde que se inspirou nos anos 50 do século XX para a sua concepção e decoração.

“Tágide Wine & Tapas Bar”

Interiores do “Tágide Wine & Tapas Bar”

 

Em 2014, passou a ser disponibilizada uma viatura de 3 rodas da marca “Piaggio” para que, de forma itinerante, possa oferecer sugestões para acompanhar um copo de Vinho do Porto: rebuçados de ovo, bombons de azeite ou um queijinho amanteigado. Mesmo não comendo nada, poderá beber um Porto tónico ou outros cocktails - tudo com Vinho do Porto, evidentemente.

fotos in: Delcampe.net, Garfadas on line, Restaurante Tagide, IÉ-IÉ

24 de julho de 2015

Campolide Cinema

Em 4 de Janeiro de 1925, é inaugurado o “Cine-Tortoise” , na Rua Leandro Braga no bairro de Campolide, em Lisboa. A gerência deste pequeno cinema de bairro, ficou a cargo de Manuel Pinto Lello sócio gerente da distribuidora e produtora “Tortoise-Filmes”, e como director técnico o artista plástico Ruy Teixeira Bastos.

 

   

Em 1927 o “Cinema Tortoise”  muda a sua designação para “Cinema Tenor Romão”, do qual o cantor de ópera, Romão Gonçalves era proprietário e empresário, e reabre em 19 de Outubro do mesmo ano. «Muito extravagante e muito popular, pelas suas exuberâncias de indumentária, pelas atitudes e pela preocupação, sem grandes resultados, de ser tomado como um emérito cantor de ópera». Um nome e uma imagem que ficaram ligados a várias fitas - a primeira referenciada, “Romão, Chauffeur e Mártir”, feita em frente do  “Ritz Club”, mas que só estreou em Lisboa ( no Salão Central) uma semana após o lançamento no Porto ( no Jardim Passos Manoel) em Fevereiro de 1920. O “Cinema Tenor Romão” teria uma existência efémera e encerraria a 26 de de Dezembro de 1927.

19 de Fevereiro de 1919


19 de Outubro de 1927

Esta sala de espectáculos, depois de ter passado para a propriedade de Aurélio Perime Benitez, que, reabriu em 15 de Fevereiro de 1928, tendo sido mudada, mais uma vez, a sua designação para “Campolide Cinema”.

15 de Fevereiro de 1928

Mais tarde, no final da década de 50 do século XX, é construído um novo edifício no lugar do antigo, passando a ter capacidade para 414 espectadores distribuídos pela plateia e o 1º balcão, com instalações mais modernas e confortáveis.

Nas vitrines exteriores, na foto anterior, publicidade aos filmes “Umberto D” , de Vittorio de Sica, de 1952 e “Frou-Frou” , de Augusto Genina, de 1955. Recordo que mesmo em cinemas de estreia (não o caso deste) os filmes chegavam a ser estreados em Portugal anos depois de terem sido estreados no seu país de origem.           

Fotos do interior do “Campolide Cinema”, com capacidade para 414 espectadores

Planta da sala do “Campolide Cinema”

Bilhete


gentilmente cedido por Carlos Caria

Este cinema encerrou em 1977, e anos mais tarde o edifício foi ocupado por uma empresa de artes gráficas. Segundo me informaram, o edifício viria a ser demolido, há poucos anos.

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian