Restos de Colecção: Complexo Turístico “Muxito”

21 de abril de 2014

Complexo Turístico “Muxito”

O complexo turístico “Muxito”, no qual se incluíam o “Hotel do Muxito”, “Muxito Restaurante-Bar”, localizado em Vale de Gatos na freguesia da Amora no concelho do Seixal, distrito de Setúbal, foi inaugurado em 23 de Maio de 1957.

Era propriedade da firma “Lino & Zambarra, Lda.”, que «no adusto pinheiral e ermo sítio levantou aprazível estância de repouso, construindo casas de habitação, um restaurante, que no mais elegante meio da capital seria dos primeiros, e projectando para um futuro próximo, uma piscina!».
"Vale de Gatos foi outrora refúgio de malfeitores e depois depósito de gatos vadios. Hoje é sem dúvida, grito de progresso, bandeira de turismo do concelho do Seixal, orgulho da freguesia da Amora a que pertence e da qual dista cerca de 300 metros das suas primeiras casas.» in Tribuna do Povo

O complexo turístico apresentava uma traça inovadora, desenhada em função da comodidade, tranquilidade e bem-estar, no qual se incluíam  “Hotel Muxito” com 60 quartos, motel, apart-hotel, campos de ténis, parque infantil, parque de campismo, centro hípico, discoteca e a primeira piscina olímpica do país. Fazia ainda parte do projecto a construção de um grande centro comercial que teria sido o primeiro do país.

 

 

 

O Motel era constituído por 13 vivendas dispersas pelo bosque de muitos hectares que, para os turistas o explorarem eram facultadas motorizadas. Tinha também um lago artificial muito grande que permitia aos seus frequentadores andarem em barcos a remo.

A piscina olímpica era circundada por apartamentos, bar, e outros espaços de apoio o que revela bem a grandiosidade do projecto  : ainda hoje é raro encontrar projectos turísticos apoiados por piscinas de 50 metros. Esta possuía uma prancha de saltos com 10 metros de altura.

 

 

 

Em 1973, em consequência da morte do seu fundador, a firma “Lino & Zambarra, Lda.” faliu. O complexo turístico "Muxito" foi a leilão e a adquirido por uma empresa hoteleira, liderada pela jugoslava Gordana Bayloni, mas que «tinha por detrás dela,evidentemente, altos senhores do nosso país e organizações anónimas.». Foram realizadas obras a fim de tornar este complexo numa estância de turismo de luxo e requintado, mas por razões desconhecidas voltou à estagnação.

Em 7 de Março de 1975 o “Hotel do Muxito” viria a ser ocupado por partidos da extrema esquerda revolucionária (FSP-Frente Socialista Popular e LUAR) e por comissões de moradores, para ser colocado «ao serviço das classes exploradas» ... dando origem á "Comuna Che Guevara" …

   

Em 8 de Novembro de 1975 o jornal a "Tribuna do Povo" escrevia de novo:

«Muxito em foco: onde se prova que não basta ser revolucionário de boca (...). Ocupar realmente não basta ...
Para além da falta de limpeza e higiene, do desaparecimento do inventário de móveis após a ocupação, prática de sexo livre, desvios de dinheiros, inclusivé para pagamentos de despesas pessoais, hospedagens gratuitas a familiares e amigos de alguns, desvios para o ócio e sexo de grupos  estrangeiros ali chegados inicialmente com outro sentido.
Nem tudo por certo foi negativo nesta triste experiência, fica entretanto bem evidente o oportunismo hoje de tantos como estes, que sabem mandar para a frente nomes bem sonantes como  Che Guevara, para encobrir a sua própria miséria.».

O complexo do “Muxito”, seria utilizado até 1977 como infantário, encontrando-se abandonado  desde então, apesar de ter sido tentado o aluguer das casas a sete famílias em 2002, pela empresa dos herdeiros de Gordana Bayloni, a "Lare-i-rá", detentora da sociedade hoteleira.

 

Bibliografia: Jornal “Comércio do Seixal e Sesimbra”

fotos in: Homem.Sem.Blogue, Delcampe.net, Ephemera, Citizen Grave

9 comentários:

João Celorico disse...

E, no dia 5 de Outubro de 1961, num dia que amanheceu com muita chuva, depois duma grande trovoada durante a noite, aí estive eu tomando banho na piscina, para "curar" uma constipação que já durava há tempos.
O certo é que o tempo levantou um pouco e não esteve desagradável durante a tarde. Isto tudo, aquando dum almoço de confraternização no Restaurante e com olhares desconfiados dos estranhos que julgavam ser alguma reunião republicana para as comemorações do dia que era feriado mas só para alguns, não para o operariado!

Posteriormente, até 1974, sei que nestas instalações, a Lisnave reservava apartamentos para os superintendentes de armadores estrangeiros que aqui se deslocavam devido às reparações de navios. Era aprazível e não era longe do Estaleiro.

Cumprimentos,

João Celorico

José Leite disse...

Caro João Celorico

Grato pelo seu comentário e informação adicional.

Os meus cumprimentos

José Leite

Vespinha disse...

E foi recentemente utilizado como cenário para o primeiro filme de ficção científica português , RPG.

Unknown disse...

Bom dia Caro José Leite,

O trabalho de pesquisa que efetua com o seu blogue é notável,

Obrigado por partilhar

Luís Cláudio Mota

José Leite disse...

Caro Luís Mota

Muito grato pela amabilidade e gentileza do seu comentário

Cumprimentos

José Leite

J@n31r0 disse...

Excelente trabalho! Há muito tempo que procurava informação, fotos antigas acerca do Muxito. Adorei.

Unknown disse...

17/01/2019 estive no local tirei algumas fotos e fiz um vídeo, gostaria muito de saber quem são os responsáveis atual, pois não encontrei ninguém no local, tenho interesse em negociar a propriedade. Meu contato é +351939950773

JORGE ROSADO disse...

Boa tarde! Excelente trabalho! Com apenas doze anos, trabalhei nesta estância, corria o ano de 1966. Lembro-me de assistir ao mundial numa televisão panorâmica e nesse mesmo ano, dali ver ao longe, o fogo na Serra de Sintra, de onde eu sou natural. Foram tempos de acartar malas e fazer subir e descer o elevador… ganhei o suficiente para comprar uma máquina de escrever. Foram umas férias grandes a trabalhar juntamente com os meus pais, que também ali estavam empregados. Tenho bastantes recordações dessa época e de muitas pessoas que lá trabalhavam. Lembro-me perfeitamente do diretor, o senhor Toscano, com o seu carro negro e com uns sapatos que chiavam e que todos sabiam por onde andava no hotel, devido ao ruído que fazia ao caminhar. Cheguei a estar de serviço no lago, alugando os barcos… tantas coisas de que me lembro. E no tempo de descanso, ia com o meu pai à Cruz de Pau, jogar nos cavalos e comer um bitoque, sim, porque já naquela época se comia por lá uns bons bifes com batatas. E as gorjetas, quando vinha a Lisboa, ia às casas de câmbio e trocava pelo nosso dinheiro, e continuava a juntar mais algum dinheirito para a tal dita màquina de escrever. Histórias e mais estórias...

Hernâni Marques Baptista disse...

Lembro-me de ter uns 15, 16 anos (1976, 1977), já com aquilo praticamente abandonado e ir com uns colegas para lá para a brincadeira de bicicleta. Mais tarde entre aos 20 e 25 anos era o meu local de eleição para praticar o atletismo, havia estradas bem pavimentadas e trilhos pelo pinhal que eram muito frequentados para a prática do desporto.