“Sporting Club de Cascaes” foi fundado em 15 de Outubro de 1879, por iniciativa do então Príncipe Carlos, futuro Rei D. Carlos I. Tratava-se de uma sociedade desportiva e recreativa, com acesso por quotas pagas anualmente, e cujo alvará foi concedido a 18 de Março de 1880.
Rei D. Carlos I no “Sporting Club de Cascaes”
Em 31 de Dezembro de 1904, a Assembleia Geral do clube aprovou por unanimidade a sua conversão em Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, pelo que foi constituída em 1905 a “Companhia do Sporting Club de Cascaes” . Em Junho de 1910, passaria a designar-se por “Real Sporting Club de Cascaes”, até à instauração da República em Outubro do mesmo ano, a qual retirou a distinção conferida pelo Rei D. Manuel II.
A instalação do “Sporting Club de Cascaes” nos terrenos da antiga Parada da Cidadela determinou a designação porque passou a ser conhecido: “Club da Parada”. O centro da vida social e desportiva das elites centrava-se no “Sporting Club de Cascaes”, "capital do reino de Cascais".
«O Sporting Club de Cascais foi o berço onde o «pai» do ténis português, Guilherme Pinto Basto, ensinou este desporto a dar os primeiros passos. Popularmente conhecido pela denominação de «Club da Parada», o Sporting cascalense atraiu o interesse de muita gente para o Lawn-Tennis, surgindo como pioneiro na organização de campeonatos, juntamente com o Real Velo Clube do Porto». in. Tenis de Portugal
Imagens do “Sporting Club de Cascaes” em Outubro de 1904
Torneio de «lawn tennis» em Outubro de 1903
Rei D. Carlos I em ambas as imagens. Na primeira a jogar e na segunda na entrega dos prémios
Resultados do torneio de «lawn tennis», que se realizou na primeira quinzena de Outubro de 1903, a que as imagens anteriores se referem:
Men's doubles: George Dagge e Edlermann
Mixed doubles: D. Jesus Salema e Eduardo Ferreira Pinto Basto Junior
Singles: R. Shore que venceu a Taça de Sua Majestade a Rainha (D. Maria Pia)
14 de Outubro de 1903 15 de Outubro de 1903
A propósito desta competição a revista “Occidente” escrevia:
«Pelo que temos ouvido dizer a muitas pessoas competentes os campeonatos d'este anno foram dos melhores que se teem realisado em Portugal, devendo-se esse brilhante resultado á dedicação do sr. Guilherme Ferreira Pinto Basto, que entre nós é um verdadeiro enthusiasta por este genero de sport.
N'esse mesmo dia os jogadores de Cascaes ofereceram um jantar em honra dos jogadores pertencentes aos Clubs convidados e aos vencedores, no grande hotel do Mont'Estoril, terminando assim esta brilhante festa, que foi uma das mais enthusiastas que se tem realisado no Sporting-Club.»
“Grand Hotel”
Na foto anterior, o “Grand Hotel” do Mont’Estoril, que veio ocupar o terreno do demolido “Grand Hotel Estrade”. Ao lado do “Grand Hotel”, o “Grand Hotel d’Italie” .Ao fundo as praias do Tamariz e de S. João do Estoril. Para rever estes hotéis, consultar artigo intitulado: “Hotéis já Desaparecidos no Monte Estoril”.
Nas palavras de Pedro Falcão, «A Parada, onde se juntava a nobreza, estava para Cascais como o anel de brasão está para quem o trás no dedo». Também Ramalho Ortigão, em 1888-10, anotaria a seu propósito que «o Sporting Club (...) deu ao lugar um arzinho de civilização, que não deixa de surpreender um pouco numa praia nacional. Vários jogos de jardim foram corretamente estabelecidos e são assiduamente frequentados», denunciando a relevância do clube para a história do desporto em Portugal, nomeadamente no que concerne à divulgação do ténis e do futebol.
Outras actividades promovidas pelo “Sporting Club de Cascais”, em Outubro de 1904
Rei D. Carlos I assistindo ao jogo da malha
«Concurso de Automoveis»
Para além do Rei D. Carlos I e do Infante D. Afonso, pertenceram a este clube políticos de primeira linha (Fontes Pereira de Melo, Barros Gomes, Serpa Pimentel, Dias Ferreira, Ferreira do Amaral), membros do corpo diplomático creditado em Lisboa, militares prestigiados (Hermenegildo Capelo, Aires de Ornelas, Paiva Couceiro), escritores (Camilo Castelo Branco, Marcelino Mesquita), financeiros (Henry de Burnay, Jorge O'Neil, Manuel de Castro Guimarães), o eminente historiador lusófilo Edgar Prestage (genro da escritora Maria Amélia Vaz de Carvalho), o grande fotógrafo Joshua Benoliel, a elite local (Jaime Artur da Costa Pinto, José Passos Vela, Carlos Anjos, José Viana da Silva Carvalho).
A meio da década de 20 dos século XX, deu-se outro passo de gigante no desenvolvimento do ténis em Portugal, com a fundação, a 16 de Março de 1925, da “Federação Portuguesa de Lawn-Tennis”, o que permitiria a expansão da modalidade, bem assim como a concretização do sonho da participação de Portugal na maior competição por equipas do calendário masculino: a Taça Davis.
Torneio de tennis entre Portugal e Espanha disputado em 1 e 2 de Outubro de 1927, no “Sporting Club de Cascais”
Tenistas espanhóis Morales e Tejada, e tenistas portugueses José de Verda e António Casanovas
mas infelizmente, … a pior das notícias …
«A despeito da boa vontade, da elegancia dos nossos tennistas, que para Portugal não trouxeram ainda uma gloria ou pequeno triunfo que se visse o «lawn-tennis» português continua em desgraça.
A verdade é que as nossas équipes, constituidas por verdadeiros gentlemen, não estão ainda á altura.(...) Os nossos mais considerados homens da raquette jogam, porém, ha uma dezena de anos. Já era tempo. (…)
Portugueses: 54 pontos
Espanhois: 96 pontos
(…) Quasi o dobro. Que os nossos jogadores joguem, em vez de se limitarem a exibir-se.» in: Diário de Lisboa
De referir que até 1928, Portugal participou todos os anos na Taça Davis e em todas as ocasiões se quedou pela eliminatória inicial. Eem 1926, fomos a Londres perder com a equipa da África do Sul, por 4-1; no ano seguinte perdemos em Lisboa com a equipa alemã, por 5-0; e em 1928, novamente em Lisboa, fomos batidos pela Nova Zelândia, por 4-1.
Os maus resultados sucessivos desmotivaram dirigentes e jogadores, de tal forma que Portugal apenas voltou a participar na Taça Davis em 1948. Mais duradouros foram os Campeonatos Nacionais, que se começaram a realizar igualmente em 1925 e que desde então têm vindo a disputar-se ininterruptamente.
Em 14 de Junho de 1935, a “Companhia do Sporting Club de Cascais” foi dissolvida, regressando à designação de “Sporting Club de Cascais”, enquanto «sociedade desportiva de duração ilimitada que tem como fim principal promover toda a qualidade de exercícios desportivos, especialmente o jogo de Lawn-Tennis e ainda facilitar diversões aos associados dentro ou fora da sede do Club».
O “Sporting Club de Cascais” viria a extinguir-se em 1974. O edifício foi adaptado e a partir de 1978, passou a ser o “Museu do Mar de Cascais”, tendo a sua inauguração oficial, tido lugar só em 1992. A partir de 7 de Junho de 1992 passou a designar-se “Museu do Mar Rei D. Carlos” .
fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Arquivo Histórico Municipal de Cascais
1 comentário:
Na fotografia do carro descapotável reconheço ao volante o meu avô José Garcia Rugeroni. Dependendo da data da foto pode ser, ao lado dele, a minha avó Albertina da Silva Graça, filha do dono do jornal O Século.
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