O vapor "Lima" (1907-1969), foi o primeiro paquete da parceria "Transportes Marítimos do Estado" a ser vendido, tendo sido adquirido pela "Empresa Insulana de Navegação" (1871-1974) em 31 de Dezembro de 1922 para substituir o primeiro paquete "Funchal" (1884-1927) na carreira das Ilhas dos Açores e Madeira.
O nome primitivo deste paquete foi “Westerwald” e o seu primeiro proprietário foi a companhia alemã “Hamburg Amerika Linie” (Hapag), que o havia mandado construir, em 1907 no Reino Unido, nos estaleiros “Furness Whithy & Cº Ltd” em West Hartlepool. O “Westerwald” foi um dos navios germânicos que se refugiou no estuário do Tejo, quando rebentou o primeiro conflito generalizado, e foi um dos que as autoridades portuguesas apresaram em 1916. Este acto considerado belicista, levaria o Império Alemão a declarar guerra a Portugal.
Características:
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 3.900 t
Propulsão: 2 máquinas a vapor R. Westgarth , 3.200 Ihp
Veios de hélices: 2
Comprimento: 107,31 m
Boca (largura): 13,74 m
Velocidade máxima: 13 nós
Passageiros: 314, assim distribuídos:
1ª Classe - 99
2ª Classe - 45
3ª Classe - 111
Tripulantes: 59
Bar da 1ª classe Salão de música
Camarote da 1ª classe Sala de jantar
O paquete “Lima”, efectuava a viagem aos Açores partindo de Lisboa a 8 de cada mês, aportando ao Faial no dia 16. Durante os meses de Julho a Setembro fazia escala em Porto Santo, onde chegava a 10, na viagem de ida, e a 22 ou 23 na viagem de regresso. A viagem de regresso do Faial efectuava-se no mesmo dia, ou no dia seguinte, com chegada a Lisboa a 24 ou 25 desse mesmo mês.
Paquete “Lima” no porto do Funchal
Paquete “Lima” na proa do “Arnel” , também da EIN, no porto de Ponta Delgada nos Açores em 1957
A parceria “Mala Real Portuguesa” constituída em 24 de Junho de 1888, tinha passado a fazer exclusivamente viagens para o Brasil em 1898, com os paquetes gémeos “Rei de Portugal” (1889), “Moçambique” (1889) e “Malange” (1890). A linha do Brasil não deu os resultados esperados, e a “Mala Real Portuguesa” viria a ser liquidada em 1902, e vendidos os seus navios. A partir dessa altura, Portugal passou a não ter ligações marítimas regulares com o Brasil, que só viriam a ser retomadas em Agosto de 1920.
Paquete “Rei de Portugal” (1889-1902) e comum aos outros 3 navios gémeos num desenho de Luís Filipe Silva
desenho in: Navios e Navegadores
1865 1867
1900
“The Pacific Steam Navigation Company” em 1880 1907
Foi o paquete "Lima" dos “Transportes Marítimos do Estado” que inaugurou em Agosto de 1920, o restabelecimentos das carreiras a vapor de companhias portuguesas para o Brasil, até então asseguradas apenas por companhias estrangeiras. Ao "Lima" ficou destinada a carreira para Manaus no Estado do Amazonas, assim como o “S.Jorge” (1898). Para o Sul do Brasil ficaram destinados os paquetes “Trás-os-Montes” (1906) e “Porto” (1894).
Anúncio na “Folha de São Paulo” em 31 de Maio de 1922
De seguida publico excertos de notícias acerca das carreiras marítimas para o Brasil, publicadas na “Revista de Turismo”.
Agosto de 1920 Março de 1921
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capa gentilmente cedida por Marçal Trindade
“Lima” em manobras no porto de Manaus
“Lima” está atracado no cais de Manaus carregando piaçava
3 fotos anteriores gentilmente cedidas por Marçal Trindade
Nota: «Piaçava» é uma fibra retirada de uma palmeira amazónica e que é utilizada no fabrico de vassouras e afins.
O “Lima” foi o primeiro paquete dos “Transportes Marítimos do Estado” a ser vendido. O navio seria comprado pela “Empresa Insulana de Navegação”, por 1.600 contos, a 31 de Dezembro de 1922 e, em 1924, foi modernizado no estaleiro “Cantieri Navali Triestino” de Monfalcone, em Trieste, tendo a renovação custado 900 contos. Este estaleiro construiria o paquete “Carvalho Araújo”, e entregue à “Empresa Insulana de Navegação” no dia 17 de Dezembro de 1929, e destinado ás carreiras da Madeira e Açores.
“Cantiere Navale Triestino” anos 20 do século XX
O “Carvalho Araújo” foi o último paquete a ser entregue por este Estaleiro italiano com esta designação. No final de 1929 o “Cantieri Navale Triestino” fundiu-se com outro estaleiro naval italiano o “Stabilimento Tecnico Triestino” dando origem ao “Cantieri Riuniti dell' Adriatico” (CRDA). Este estaleiro viria a especializar-se na construção de submarinos.
O paquete "Lima" fez a sua última viagem num cruzeiro de despedida às Berlengas com funcionários e convidados da "Empresa Insulana da Navegação", em 9 de Julho de 1968. Foi desmantelado no cais de Xabregas em 1969 depois de ter sido vendido ao sucateiro "Raposo & Vasques Vale , Lda.".
Em 1972 a “Empresa Insulana de Navegação” viria a dispor de outro navio com o nome “Lima”, mas desta vez não seria de passageiros mas sim e apenas de carga. Estaria ao serviço até 1988, já na posse do seu novo armador, a “CTM - Companhia de Transportes Marítimos”.
Cargueiro “Lima” (1972-1988)
Bibliografia: Para a elaboração deste artigo, também, foi consultado o livro: «Paquetes Portugueses», de Luís Miguel Correia, Edições Inapa, Lisboa 1992. de onde foram retiradas as fotos do interior do “Lima”.
Nota: Muito agradeço a gentileza do sr. Marçal Trindade na disponibilização das fotos do “Lima” no porto de Manaus.
fotos in: Ships Insulana, Hemeroteca Digital, EstaçãoCronographica, Blogue dos Navios e do Mar, Navios e Navegadores, Alernavios, Cais Regional
3 comentários:
O paquete LIMA foi um navio verdadeiramente épico. A sua última viagem não foi o cruzeiro às Berlengas, pois ainda voltou aos Açores em Outubro e Novembro de 1968 uma derradeira vez.
A carreira do Brasil dos TME foi um fiasco, como quase tudo o que se relacionou com o Estado metido a armador. Antes o navio esteve fretado à Companhia Nacional de Navegação a fazer a linha de África.
A data de entrega do CARVALHO ARAÚJO é 1930. Foi lançado ao Adriático em Dezembro de 1929.
Caro Luis Miguel Correia
Muito grato pelas informações adicionais
Os meus cumprimentos
José leite
Pires Barbosa
O paquete Lima só tinha uma máquina propulsora e um hélice
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