Sob a iniciativa do actor Guilherme da Silveira constituiu-se uma sociedade para a edificação de um teatro, na antiga rua do Tesouro Velho hoje Rua António Maria Cardoso, em terrenos pertencentes à Casa de Bragança com a qual foi elaborado um contracto de cedência. O actor juntou-se com os capitalistas Visconde de São Luiz de Braga regressado do Brasil e que ficaria como empresário deste Teatro, Celestino da Silva empresário brasileiro, Alfredo Miranda, Alfredo Waddington e António Ramos Miranda negociante do Rio de Janeiro, familiar de Ramalho Ortigão. O teatro chamar-se-ia "Theatro D. Amelia".
O "Theatro D. Amelia", projectado pelo arquitecto francês Louis-Ernest Reynaud, levou menos de um ano a ser construído e foi inaugurado dia 22 de Maio de 1894, data do 8º aniversário do casamento do rei D. Carlos com a Rainha D. Amélia tendo «a empreza, por tal motivo, resolver transferir a inauguração para esse dia, em primeira recita d'assignatura e com recita de gala».
Primeira gravura (retirada da anterior) do "Theatro D. Amelia" publicada a 22 de Maio de 1894
Anos mais tarde …
A companhia Gargano estrearia com a opereta cómica de 3 actos e 4 quadros “Filha do Tambor Mór” de Offenbach. «A assignatura para as quinze primeiras recitas inauguraes excedeu toda a expectativa. A enchente de hoje será collossal. O espectaculo começa às 8 horas e meia da noite». in: jornal “Diario Illustrado”
Anúncio à peça Filha do Tambor Mór no "António Maria"
Cartaz em 1904 Curiosidade de 1897
A entrada deste Teatro com iluminação a gás, era feita por uma escadaria de meia laranja. A asa direita dava ingresso à plateia e a esquerda sobre o Jardim de Inverno. O tamanho da sala de espectáculos era semelhante ao do “Teatro Nacional de São Carlos”. Contava com balcão, camarotes de 1ª ordem, 2º balcão, camarotes de 2ª ordem e galerias, contando também com um camarote real encimado pelas armas reais.
O foyer quase todo em branco e dourado, tinha as paredes cobertas por espelhos e painéis pintados pelos cenógrafos Claudio Rossi e Manini e decoração estilo Luís XV.
Em 1894, o "Theatro D. Amelia" é equipado com o «Cinematographo»: a Photographia Animada. Passa a funcionar no espaço do “Jardim de Inverno”, ao que apelidam de “Wonderful”.
1894
Em 1898 torna-se residência da "Companhia Teatral Rosas & Brasão" e no ano seguinte é apresentada a comédia “Lagartixa” pela actriz Ângela Pinto.
Na primeira década passaram por este Teatro as seguintes companhias: opera lírica de Turpini; companhia italiana Gargano; opereta portuguesa de Cyriaco Cardoso; opereta italiana Rafael Tomba; companhia portuguesa Taveira; Dora lambertini; sociedade artística portuguesa de Lucinda Simões; companhia de variedades de Edna y Voed; companhia de opereta italiana de Bonazzo e Milzi; companhia portuguesa do Valle e Lucinda do Carmo; companhia dramática francesa de Burguet et Antoine entre outras.
E os seguintes artistas: Maria Guerrero, Sarah Bernhardt, Jane Hading, Clara Della Guardia, Georgette Leblanc, os Coquelin, Anna Judic, Le Bargy, Leconte, Tina di Lorenzo, Antoine Kubelik, Loie Fuller, etc.
Cartaz da 1ª quinzena de Novembro de 1899
"Theatros" em Lisboa ano de 1900
Representação da peça "Chá das Cinco" no "Theatro D. Amelia" em 1909
Em 1909 estreia-se a peça “Os Postiços” de Eduardo Schwalbach. Acerca deste autor Alvaro Lima no "Jornal dos Teatros", em 1917 escrevia:
«Seja, porém, como for, o que é facto é que Eduardo Schwalbach é, incontestavelmente, entre nós, o primeiro homem de teatro. O seu nome no cartaz é o melhor réclame que se faz à peça da sua autoria e nunca o público ou o crítico sofre uma desilusão. E não sofre porque tem, de antemão, a certeza de que a peça que vai ver tem, pelo menos, os seguintes requisitos: uma ideia que presidiu à sua confecção e que, em geral, sai da vulgaridade, como sucede no "Dia de Juízo", uma técnica impecável como a dos "Postiços", a graça genuinamente portuguesa da "Bisbilhoteira", uma sentimentalidade capaz de todos nós a sentirmos, como a do seu "Poema d’Amor", e finalmente o espírito educativo que preside a todas as suas obras»
Artigo na “Ilustração Portuguesa” de "Os Postiços" com fotos de Eduardo Schwalbach e do Visconde de S. Luiz
Em 1911 na sequência da revolução do 5 de Outubro de 1910, o "Theatro D. Amelia" muda de designação para "Theatro Republica". Não foi o único pois o Teatro Nacional D. Maria II também mudaria a sua designação para "Teatro Nacional Almeida Garrett". O Jardim de Inverno do "Teatro da República" passa a animatógrafo com a designação "The Wonderful".
Exterior do "Theatro Republica" em 1911 Programa para a época 1910-1911
Sucesso popular no Theatro Republica com a revista De Capote e Lenço (1913)
«Em 13 de Setembro de 1914, grande incêndio no Teatro Republica, tendo comparecido 25 voluntários e 3 viaturas. Utilizaram-se 560 metros de mangueira e fizeram-se vários curativos no local do sinistro». Era nestes termos noticiada pelos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, a trágica notícia do incêndio que consumiu totalmente o interior do Teatro.
O combate ao incêndio pelos Bombeiros Voluntários Lisbonenses com a presença do actor Chaby Pinheiro
«Lisboa perdeu, com o Teatro Republica, a sua melhor, e mais moderna, mais chic casa de espectáculos, a que estavam ligadas as mais fundas recordações de horas inolvidáveis. Pelo Teatro Republica, agora um montão de escombros que a muita inteligência e o grande tacto administrativo do seu director convertera n'um verdadeiro capitólio de arte, passaram não só os maiores actores como as sumidades teatrais europeias. Ali trabalharam os Rosas, Brasão,Damasceno, e Lucilia, ali se apresentaram ao publico português a Duse, Zaconi, Noveli, Emmanuel, Tina di Lorenzo, a Vitaliani, Guiltry, Sara Bernhardt.» in: Illustração Portugueza
O Teatro Republica na manhã seguinte ao incêndio
Dois anos depois, em 1916 a sociedade exploradora do Teatro com o Visconde S. Luiz de Braga, Celestino da Silva e António Ramos consegue a reabertura do "Teatro Republica" após a sua reconstrução com projecto do arquitecto Tertuliano Lacerda Marques. A peça de estreia foi “Poema de Amor” de Eduardo Schwalbach, na presença do então Presidente da República, Dr. Bernardino Machado. Teve igualmente lugar a conferência “Ultimato Futurista” por Almada Negreiros.
“Teatro República” após a sua reconstrução
Sala de espectáculos em 1971
Planta e preçário de 1953
Companhia do Teatro Republica "Braga & Cª." em 1916
Desta companhia a destacar as primeiras figuras: Lucinda Simões, Ângela Pinto, Emília de Oliveira, Chaby Pinheiro, Augusto Rosa e Eduardo Brazão. Este último possuiu a sua própria sala de teatro (foto seguinte)
Teatro Eduardo Brazão
No ano seguinte em 1917, e depois de receber aulas de teatro por Augusto Rosa, estrear-se-ia no teatro a futura grande actriz Amélia Rey Colaço na peça "Marinela" de Benito Pérez Galdós. Para fazer a personagem, uma rude vagabunda, aprendeu, durante meses, a andar descalça e a usar farrapos, no interior do jardim do seu palacete. O êxito foi retumbante.
Amélia Rey Colaço Acróstico Artístico de 1918
Em princípios de 1974, Amélia Rey Colaço regressa ao S. Luiz, de onde partira. O ciclo fecha-se. Pouco depois dá-se o 25 de Abril e percebendo que a vão encarar como um símbolo do Estado Novo, suspende a "Companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro" e sai de cena.
Com a morte do Visconde de São Luiz de Braga em 1918, o "Teatro da Republica" muda de nome definitivamente para "Teatro São Luiz".
Em 1928 o Teatro São Luiz é adaptado a cinema com decoração de Leitão de Barros, passando a designar-se "Cine-Teatro São Luiz". A 7 de Abril de 1928 é inaugurado com a estreia do filme mudo de Fritz Lang “Metropolis”, acompanhado por uma orquestra de 15 elementos dirigida pelo maestro Pedro Blanc, que escreveu a partitura. Em 1929 o Jardim de Inverno serve de estúdio de cinema para o filme mudo “Ver e Amar” de Chianca de Garcia.
Diário de Lisboa 7 de Abril de 1928
No ano de 1930 estreia-se o cinema sonoro com o filme “Prémio de Beleza” de Augusto Genina, com argumento de René Clair, tendo como protagonista Louise Brooks. Estreia em 17 de Junho de 1931 o primeiro filme sonoro («fonofilme») português: A “Severa” de Leitão de Barros. Este filme foi um enorme sucesso de bilheteira e esteve 6 meses em cena. Seguem-se as estreias de “A Canção de Lisboa” de Cotinelli Telmo em 1933, e em 1938 “A Canção da Terra” de Jorge Brum do canto. Em 1943 seria exibido nesta sala o filme "Costa do Castelo" de Arthur Duarte.
Diário de Lisboa 17 de Junho de 1931
Entrada
Primeiro filme sonoro português "A Severa" de 1931 Folheto de 1932
Noite da estreia do filme “ A Canção
de Lisboa”, a 7 de Novembro de 1933
1934
Bilheteira do “Teatro São Luiz”
Em 1971 torna-se teatro municipal com a designação "Teatro Municipal São Luiz". O espectáculo de estreia foi A Salvação do Mundo, uma peça de José Régio em três actos, com a actriz Eunice Muñoz.
Programa de "A Salvação do Mundo"
É lançado em 1998 o concurso público internacional, para as obras de requalificação e conservação do "Teatro Municipal São Luiz", sob o programa do arquitecto Francisco Silva Dias e projectos de arquitectura da Divisão de Obras do Departamento de Património Cultural da CML. Na sequência é adjudicada no ano seguinte, a empreitada “Teatro Municipal São Luiz - Obras de Reabilitação e Conservação” que recebe o apoio da União Europeia. No ano seguinte e no âmbito da 2ª fase da empreitada é lançado, a 29 de Junho, o concurso público Internacional para a obra de reabilitação e beneficiação da Sala Mário Viegas, Jardim de Inverno e Cafetaria com o projecto do arquitecto José Romano.
Em 2002 o "Teatro Municipal São Luiz" é cedido para a apresentação do music hall Amália, de Filipe La Féria. Novembro – Reabertura de todo o equipamento constituído por: Teatro São Luiz, Jardim de Inverno, Sala Mário Viegas e Café dos Teatros.
Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Biblioteca Nacional Digital, Instituto dos Museus e da Conservação, Opsis, Ephemera, São Luiz
2 comentários:
Felicito o autor deste interessante blogue. Encontrei aqui reunidas autênticas preciosidades. Aqui cheguei por mero acaso, mas certamente aqui virei mais vezes e já não por acaso, antes deliberadamente.
Parabéns, caro amigo.
António Viriato_02Julho2012
Caro António Viriato
Muito agardecido pelas suas amáveis palavras.
Mais e muitas preciosidades ainda serão publicadas futuramente.
Cumprimentos
José Leite
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