Restos de Colecção: Feitoria Inglesa

26 de novembro de 2012

Feitoria Inglesa

A "Feitoria Inglesa" ("Factory House", em inglês) é um imponente edifício neo-clássico, que abriga a associação de empresas britânicas de vinho do Porto. Está situada na antiga zona comercial da cidade do Porto, onde, no passado, os comerciantes de vinho do Porto tinham os seus negócios. O termo "Feitoria”, usado no seu sentido original, refere-se a uma associação ou estabelecimento de comerciantes ou empresários (conhecidos como "feitores”) que exercem a sua atividade num país estrangeiro. As feitorias eram essencialmente missões ou entrepostos comerciais, e muitas vezes eram utilizadas também pelos seus membros como clubes ou locais lúdicos. Os portugueses estabeleceram feitorias em África Ocidental no século 15 e, posteriormente, na Índia, Malaca, Antuérpia e noutros lugares. No século XVII, os ingleses construíram feitorias na Índia e os holandeses no Extremo Oriente. Foram várias as feitorias inglesas estabelecidas pela Europa. No início do século XVIII havia cinco feitorias inglesas em Portugal.

            

                         

A casa da feitoria começou a ser construída em 1785, na Rua do Infante D. Henrique, na cidade do Porto, ficando concluída em 1790. O projecto é atribuído ao cônsul John Whitehead e inspira-se no estilo neopalladiano inglês. A Rua Infante D. Henrique foi aberta nos finais do século XV por D. João I, e depois de concluída a "Feitoria Inglesa" passou a ser conhecida pela «Rua Nova dos Ingleses». Também aqui, ligados aos interesses do comércio internacional, se situavam os consulados dos Estados Unidos, da Argentina, da Costa Rica, da Holanda, da Venezuela e da Suécia.

                                                                                "Rua Nova dos Inglezes"

        

John Whitehead (1756-1822) nasceu em Ashton-Under-Lynne, no Lancashire, em 1726. Foi um homem de muitos interesses e talentos: arquitecto amador, engenheiro, cientista (astrónomo, matemático e investigador), bibliófilo (possuidor de uma vasta biblioteca) e cônsul da nação britânica. Residiu no Porto entre 1756 e 1802.

Na qualidade de cônsul desenvolveu uma relação de proximidade com João de Almada e Melo e exerceu uma grande influência na actuação da Junta das Obras Públicas e na introdução da arquitectura neopalladiana em Portugal, assim abrindo caminho ao neoclassicismo, que se assumiu como uma corrente contrária e alternativa ao tardobarroco ainda persistente no Porto, no final de Setecentos.

Entre 1765 e 1780 acompanhou e executou obras integradas no programa almadino de renovação arquitectónica e urbana do Porto. Foi um dos principais responsáveis pela escolha de John Carr para o projecto do "Hospital de Santo António". Teve um papel decisivo na edificação do primeiro e único cemitério protestante do Porto (1787-1788). Ficou ligado às obras na Praça da Ribeira, da Capela de Nossa Senhora do Ó e da Praça de S. Domingos.

                                  Dia em que o Rei D. Manuel II foi almoçar à Feitoria, em 8 de Novembro de 1908

                                      

Relatos da época atribuem-lhe fama de excêntrico e até mesmo de bruxo, por possuir um laboratório e um observatório privados, providos de microscópios solares, onde terá ensaiado um pára-raios por si inventado e realizado experiências nas áreas da câmara escura e da electricidade. De qualquer modo, foi uma figura muito apreciada pelos seus compatriotas e respeitado entre os portugueses. Sabe-se que em 1785 vivia na Rua de São Francisco.

John Whitehead morreu no Porto a 16 de Dezembro de 1802. A Feitoria Inglesa determinou que seria sepultado no centro do cemitério protestante da cidade, onde se ergueria um monumento em sua homenagem, o qual foi executado cerca de 20 anos depois.

A mais antiga feitoria inglesa no Norte de país, datada do século XVI, localizava-se em Viana do Castelo. O primeiro regulamento da "Factory House of Oporto" surgiu em 1727.

No interior desta "Feitoria Inglesa" são de salientar a formosa escadaria, com a respectiva clarabóia, a sala de baile e a monumental cozinha. Situada no último andar, esta cozinha ainda conserva todo o equipamento original e a baixela primitiva. A Feitoria Inglesa dispõe, ainda, de uma vasta biblioteca e um espólio notável, com mobiliário Chippendale, porcelanas e faianças de qualidade.

                 

          

          

Pode relacionar-se este edifício com outros edifícios da cidade que sofreram a mesma influência, nomeadamente o edifício do Hospital de Santo António e o Edifício onde está instalado o Museu Nacional de Soares dos Reis
 
Outros símbolos da presença britânica na cidade do Porto são o "Oporto Cricket and Lawn Tennis Club", fundado em 1855, e a "Oporto British School" que, fundada em 1894, é a mais antiga escola de estilo britânico no continente europeu.

                                        Publicação de 1983                                               Publicação por ocasião do Bicentenário

          

                 Distribuição dos convidados na mesa                    Foto dos participantes no jantar do Bicentenário da Feitoria

          

Na foto anterior, (entre parêntesis ano de associado):

Sentados da esquerda para a direita: Paul Symington (1983), Peter Cobb (1980), Ian Sinclair (1975), Alastair Robertson (1969), Robin Reid (1962), Michael Symington (1955), Dominic Symington (1992), Ian Symington (1958), James Symington (1964), Gordon Guimaraens (1975), António J. Filipe (Membro Honorário), Peter Symington (1975), Nick Heath (1984)

De pé da esquerda para a direita: Henry Shotton (Membro Executivo), Euan Mackay (2008), Johnny Symington (1989), Jim Reader (1988), Johnny Graham (1986), Natasha Bridge (2010), Adrian Bridge (1997), Rupert Symington (1994), Joe Alvares Ribeiro (2009), Charles Symington (1998), William Graham (Representante da delegação estrangeira), David Guimaraens (1997).

Atualmente, os negócios não se realizam na Feitoria, sendo o edifício usado pelas casas de vinho do Porto e membros da "Feitoria Inglesa" sobretudo como um lugar para receber os seus convidados. Com o seu ambiente masculino, a tradição cumpre-se ao almoço todas as quartas-feiras. Trata-se de um "buffet" mais ou menos informal antecedido por um Porto Branco, acompanhado por um vinho do Douro e seguido de Vinhos do Porto, Tawnies e Vintages. O Porto Tawny limpa o palato e as atenções concentram-se no Porto Vintage, que é sempre servido "mascarado" (rótulo oculto), da esquerda para a direita. Segue-se a discussão tentando os presentes identificar a casa produtora e o seu ano Vintage. Os jantares são bem mais formais.

                                                                            Fotos actuais da "Feitoria Inglesa"

        

        

        

fotos in: Bocas Foleiras - Picareta, Do Porto e Não Só, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, The Courtauld Institut of Art

4 comentários:

Anónimo disse...

Mais um "post" fabuloso num blog que descobri há poucos dias. São iniciativas assimque merecem ser acarinhadas e encorajadas. Força! Manter o projecto impõe-se! :-)

José Leite disse...

Caro «papaleguas»

Grato pelas suas palavras

Cumprimentos

José Leite

Unknown disse...

Boa noite,
Estou a fazer um trabalho sobre a arquitectura da Feitoria Inglesa mas precisava de mais fotografias interiores. Nomeadamente, de uma escadaria que existe e de uma clarabóia.
Será que não tem mais fotos e que me poderia fornecer?
Agradecia imenso porque não encontro quase nenhuma bibliografia sobre a Feitoria.
Cumprimentos,
Catarina.

José Leite disse...

Bom dia

As fotos foram retiradas, como indicado no final do artigo, no Courtauld Institut of Art no seguinte link directo para este tema:

http://www.artandarchitecture.org.uk/search/results.html?qs=feitoria+inglesa

Pelo que lá vi não existem essas fotos que pretende, mas de qualquer modo vá lá dar uma "vista de olhos"

Os meus cumprimentos

José Leite