Restos de Colecção

7 de novembro de 2019

Hotel do Reno e Hotel Príncipe

O "Hotel do Reno" localizado na Avenida Duque d'Ávila, em Lisboa, e propriedade duma sociedade alemã, foi inaugurado em 28 de Outubro de 1959 e com a categoria de 2ª classe. Esta unidade hoteleira foi inicialmente destinada a servir uma clientela especial de grupos turísticos, que nessa época começavam a ser o fulcro do nosso turismo.

Moradias que seriam demolidas para dar lugar aos Hotéis do Reno e Príncipe, em foto do dos anos 30 do século XX


"Hotel do Reno", com o seu vizinho "Hotel Príncipe" em construção


Entrada do "Hotel do Reno"


«O Hotel do Reno alia ao conforto e á elegancia das suas instalações aquela gentileza de acolhimento a que os Alemães dão o nome intraduzível de "gemmutlichkein" » in: jornal "Diario de Lisbôa".

Um ano mais tarde a sociedade do "Hotel do Reno", cede a concessão de exploração a Guilherme Fernandes dos Santos, de reconhecida competência no sector. Em 1970, já era o proprietário do Hotel e nesse mesmo ano procede à sua renovação total, sob orientação do reputado decorador José Espinho, e com móveis fornecidos pelos "Móveis Olaio".



Com um parque privativo para 30 automóveis, toda a área de recepção e telefones e zona de estar, é aumentada, ao mesmo tempo que é criado um Bar. A sala de restaurante é reformada e todas as zonas públicas, quartos e corredores são alcatifados e as suas amplas varandas de quartos todas mobiladas. Este «novo» "Hotel do Reno" viria a ser inaugurado em 19 de Novembro de 1970, sendo-lhe atribuída a classificação de 1ª classe, pela Direcção-Geral do Turismo.


Etiqueta de bagagem


Depois de adquirido pelo grupo "Sana Hotels", o antigo "Hotel do Reno" foi demolido e no seu lugar seria construído, o actual "Sana Reno Hotel", classificado com 3 estrelas e com 92 quartos.

Actual "Sana Reno Hotel"

     



O seu vizinho "Hotel Príncipe", seria inaugurado 2 anos mais tarde, em 10 de Agosto de 1961, propriedade da "Sociedade de Turismo Jofraluma, Lda.", constituída pelos sócios Manuel Lopez (director), José Gonzalez Carrera (gerente), Vitor Vilan (gerente), Luís Dias (administrador) e Francisco Correia (administrador). Esta Sociedade tinha tomado a exploração do "Palácio Hotel" de Vila do Conde, no ano anterior.




Segundo o jornal "Diario de Lisbôa" ... «A moderna unidade, que ocupa um edifício de 7 andares, dispõe de 52 amplos quartos, todos com casa de banho privativa, havendo em cada piso uma suite.
Os serviços de recepção e bar estão instalados no rés-do-chão. As salas de jantar e de estar, a cozinha e as copas encontram-se no primeiro andar; e pelos restantes pisos distribuem-se os quartos e as acomodações do pessoal.»


Etiqueta de bagagem


Última renovação do "Hotel Príncipe Lisboa" ocorreu em 2013, oferecendo, actualmente, 56 quartos distribuídos por 8 andares e com a classificação de 3 estrelas.

Actual "Hotel Príncipe Lisboa"






3 de novembro de 2019

Discoteca do Carmo

A "Discoteca do Carmo", abriu as suas portas, pela primeira vez, em 28 de Fevereiro de 1957 na Rua do Carmo, em Lisboa, tendo como proprietária a firma "Discoteca do Carmo, Lda." de Manuel Simões (1917-2008), homem da indústria e comércio discográficos.


"Discoteca do Carmo" (dentro da elipse) na Rua do Carmo. À esquerda desta, na foto, a "Discoteca Universal" inaugurada em 2 de Dezembro de 1957


Na véspera da inauguração o jornal "Diario de Lisbôa" noticiava:
«A partir de amanhã, está á disposição do publico um novo estabelecimento dos mais completos no género, onde poderão escutar-se em três bandas de som, alta fidelidade e adquirir também, os mais variados e formidáveis êxitos agora chegados á nossa capital para esta inauguração.»

28 de Fevereiro de 1957


No dia seguinte à inauguração ...
«Centenas de pessoas de todas as categorias sociais, umas para darem o seu abraço de amizade, outras fazendo as suas compras de forma a demonstrarem a sua simpatia para com esta nova casa confirmavam, por assim dizer, toda a expectativa prevista pela gerência da Discoteca do Carmo, Lda, no dia da sua abertura»

Antes da "Discoteca do Carmo", a "Sapataria do Chiado" (dentro da elipse)


Natural de Pedrógão Grande, e ainda menor de idade Manuel Simões, torna-se empresário em 1934, ficando a sua firma em nome de seu pai. Em 1947 toma contacto com a indústria discográfica em Espanha, onde encontrou discos de 78 rpm de Hermínia Silva e Irene Isidro, entre outros artistas, nunca comercializados em Portugal. Viria a ser um dos primeiros editores discográficos portugueses, tendo gravado nomes históricos como Berta Cardoso, Alfredo Marceneiro, Argentina Santos, Anita Guerreiro, Tristão da Silva, Tony de Matos, Artur Ribeiro, Maria de Lourdes Resende, Margarida Amaral, Francisco José, Mariana Silva, Maria José da Guia e Manuel Fernandes, entre outros.

Manuel Simões (1917-2008)


23 de Dezembro de 1959


«Manuel Simões era representante em Portugal da espanhola "Fábrica de Discos Ibéria", sediada em San Sebastian. Na loja da Rua 1º de Dezembro, nº 45, 3º, em Lisboa, vendia discos de repertório português editados pela marca espanhola. Em 1952, o comerciante negociou com o empresário espanhol Juan Inurrieta, proprietário da "Fábrica de Discos Ibéria", a criação de uma fábrica subsidiária em Portugal. Durante esse ano, foram projectados dois edifícios, um provisório com licença para dois anos, e um definitivo, cujo projecto incluía igualmente um estúdio de gravação, em Vila Franca de Xira. Dos dois projectos, apenas o primeiro foi construído e o período de funcionamento previsto prolongou-se do inicio da década de 50 até aos anos 70, altura em que a fabrica terá suspendido a actividade. Entre Maio e Dezembro de 1952, os arquitectos Jorge Ribeiro Ferreira Chaves e Álvaro Peterson trabalharam no projecto final, cumprindo as exigências dos sócios Manuel Simões e Juan Inurrieta. As plantas projectadas revelam um projecto inicial de grande envergadura que, no entanto, nunca chegou a ser concretizado.» Leonor Losa in "Machinas Fallantes" - (2013)
                                                        14 de Dezembro de 1957                                                         14 de Fevereiro de 1958


Seria Manuel Simões, com a editora discográfica "Estoril", contando com a direcção artística e musical do maestro Belo Marques (1898-1987), quem, ele próprio, prensaria o primeiro disco de microgravação fabricado em Portugal, o LP Estoril 5001. Retomaria a edição de discos na década de 1980, com a série "Lisboa - Cidade do Fado", que publicou 16 CD's.






A "Discoteca do Carmo", foi um caso de sucesso, sendo conhecida pelo seu stock de discos importados.

Seis anos antes do encerramento definitivo da "Discoteca do Carmo", Manuel Simões abre, em 1992, na Rua do Ouro, a "Discoteca Amália", onde anteriormente tinha estado instalada uma loja de fotografia, que por sua vez tinha substituído a conhecida "Charcutaria Suiça".


Manuel Simões acalentou o sonho de um Museu dedicado a Maria Teresa de Noronha, que não concretizou, mas estabeleceu em Dezembro de 2001 uma Fundação com o seu nome - "Fundação Manuel Simões" -  à qual deu objectivos precisos, entre eles a divulgação do fado nas suas diferentes vertentes, não esquecendo os valores da solidariedade social, e o apoio aos novos valores. Com a sua morte em 27 de Agosto de 2008, a sua Fundação e por sua expressa vontade, passou a ser presidida  pela sua sobrinha, Rosa Amélia Piegudo.


"Discoteca do Carmo" (dentro da elipse) e a Rua do Carmo, em finais dos anos 60 início dos anos 70 dos século XX


"Discoteca do Carmo" encerraria, definitivamente, em 1998, devido a danos causados pelas obras de extensão do metro até ao Cais do Sodré na estrutura do edifício. Depois de reconstruído o edifício foi colocada defronte deste uma pequena camioneta, tipo antiga, da marca inglesa "Fleur de Lys Automobile Manufacturing" (1983-1994), a "Lisboa Cidade do Fado", propriedade da "Fundação Manuel Simões", para venda de discos de fado exclusivamente.

Pequena camioneta "Fleur de Lys Automobile Manufacturing" da "Lisboa Cidade do Fado"



Quanto a este veículo, e à sua actividade comercial, o jornal "Negócios" em 20 de Agosto de 2013, transcrevia uma entrevista com o seu funcionário, António Cardoso:
«Vivemos momentos de angústia e aflição porque não sabíamos sequer se estava a arder o nosso estabelecimento. Mas não chegou a ser atingido. A loja anterior foi a última a ter danos - vidros partidos - e para cima então ardeu quase tudo", recorda.
António Cardoso conta que apenas no dia seguinte ao incêndio foi permitido pelas autoridades chegar à Discoteca do Carmo, que voltou a abrir ao público apenas uma semana depois.
No entanto, a loja acabou por ter de fechar dez anos depois do fogo, devido a danos causados pelas obras de extensão do metro até ao Cais do Sodré na estrutura do edifício.
A venda de discos passou a ser feita pela conhecida carrinha verde, de onde todos os dias se ouve o fado escolhido por António Cardoso.
Ligado à música desde os 16 anos, recorda o tempo em que a Baixa era "um centro comercial a céu aberto" onde as "pessoas com dinheiro" iam de propósito fazer compras.
"O negócio era melhor nessa altura", afirma, até porque havia "mais compradores de música do que há hoje".
Hoje com 61 anos, a luta de António Cardoso na sua Carrinha de Fados é a Internet: "O disco físico cada vez está a vender menos", salienta.»

30 de outubro de 2019

Taverna Imperial

O bar e restaurante "Taverna "Imperial" foi inaugurada na Praça dos Restauradores, em Lisboa, em 31 de Dezembro de 1931, pela mão do barman Ângelo Pereira. Este estabelecimento com r/c e cave estava instalado no edifício contíguo ao Cine-Teatro "Éden".

"Taverna Imperial" no canto inferior esquerdo da foto, entre 1934 e 1935, com o novo "Eden" Teatro em construção


"Taverna Imperial" à esquerda na foto (dentro da elipse desenhada) em finais dos anos 40


"Taverna Imperial" à esquerda neste primeiro projecto do arquitecto Cassiano Branco para o "Eden-Teatro", em 1931


De referir que, a "Taverna Imperial" aproveitou a decoração exterior deixada pelo anterior inquilino , o "Palace Stand" da firma "Mantero & Mendonça, Lda", importadora para a região de Lisboa dos automóveis americanos "Chevrolet", e que ali esteve instalada entre 1920 e 1928, ano em que passaria para a Rua Eugénio dos Santos. Por sua vez esta firma tinha construído este stand ocupando o antigo espaço de duas lojas: a bilheteira da "Praça de Touros do Campo Pequeno" e uma loja de calista, pedicure, manicure, etc.



"Palace Stand" à direita na foto (dentro da elipse desenhada)


No dia seguinte à sua inauguração o jornal "Diario de Lisbôa" noticiava:
«Foi agora Lisboa dotada com um novo melhoramento, de cujo valor facilmente se aperceberá quem visitar, á entrada da Praça dos Restauradores, do lado esquerdo quando se vai do Rossio, a magnifica instalação do elegante Bar "Taverna Imperial".
No Bar, no rez-do-chaõ, onde os apreciadores poderão encontrar, por preços inferiores aos dos outros estabelecimentos, as mais variadas bebidas, servidas agora por um magnífico "barman" português, que tem provado admiravelmente e, dentro de alguns dias, por um esplendido "barman" francês que não pôde chegar a tempo para a inauguração.
Apresenta a "Taverna", entre outras, a interessante novidade dum potente aparelho para a circulação do ar, que o renova constantemente.
A cave - onde, como é natural, os preços são mais elevados - é a realização dum sonho. Julga a gente que está completamente afastado do mundo - num mundo muito melhor - sentado em bons "maples", numa atmosfera e com uma luz agradabilíssimas, podendo não só tomar toda a qualidade de bebidas, mas almoçar, jantar ou cear, par o que a "Taverna" possui uma bela e higienica cosinha e todos os elementos necessarios.
A inauguração de "Taverna Imperial" constituiu, por isso, não só um sucesso mundano, mas um verdadeiro acontecimento citadino.»

Primeiro anúncio publicitário à "Taverna Imperial" no jornal "Diario de Lisbôa", em 3 de Janeiro de 1931


Dois anúncios publicitários de 1933







Ângelo Pereira, proprietário deste estabelecimento e barman de profissão, abriria em 14 de Novembro de 1929 o "York Bar", na Rua Serpa Pinto, ao Chiado, e em 5 de Março de 1937, abriria o luxuoso restaurante, bar e dancing "Negresco", na Rua Jardim do Regedor.

25 de Dezembro de 1935


16 de Abril de 1943


Nota: Acerca do "Negresco", consulte a sua história ilustrada neste blog no seguinte link: Restaurante "Negresco"

Por ocasião da abertura da "Feira Popular de Lisboa", na Palhavã, em 10 de Junho de 1943, a "Taverna Imperial" constrói um pequeno bar a que chamou de "Taverna Imparcial" sendo a sua decoração exterior inspirada na original dos Restauradores.



O "Taverna Imperial" uns anos mais tarde transformar-se-ia, também, em bar de alterne mantendo-se assim por muitos anos, até à sua transformação em restaurante com esplanada, exclusivamente. Consegui saber muito pouco, para não dizer nada, do seu percurso nas últimas décadas. A última firma proprietária foi a "Genesis Flavour - Actividades Hoteleiras, Lda."

1943


1948


1977


Antes do seu encerramento definitivo em 2017






Em 2017, a "Taverna Imperial" fechou definitivamente, conjuntamente com o famoso bar "Pirata", o café "Young Liberty", a loja de lãs "Imperial" e a "Residencial dos Restauradores", para dar lugar a um prédio de apartamentos para turistas chamado "The Boulevard".

E em Agosto de 2018 ...


fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital de Lisboa