O "Hotel Eborense" remonta a 1882, altura em que Aurelio Jose Lopes instalou no "Solar de Monfalim", localizado no Largo da Misericordia, 1, em Évora um hotel de seu nome "Eborense". Tornar-se-ia numa das mais antigas unidades hoteleiras desta cidade. Nesse ano existiam outras sete e que publico de seguida a lista disponibilizada no "Anuario del comercio, de la industria, de la magistratura y de la administración" de 1882.
1882
O "Solar de Monfalin" tem origem numa antiga residência senhorial, construída em meados do século XVI e que pertenceu a um fidalgo da casa real, D. Gonçalo de Sousa, que mais tarde passou para a família dos Cogominhos, que tinham paço na actual freguesia de Torre dos Coelheiros, a cerca de 12 quilómetros da cidade. Com o extinção desta família, foram os Monfalins, seus descendentes, que ficaram na posse do solar. Habitaram-no até à segunda metade do século XIX, altura em que, por dificuldades financeiras, decidiram vendê-lo, tendo sido transformado em hospedaria/hotel pelo seu primeiro proprietário Aurelio Jose Lopes.
Em 1896, já como "Hotel Eborense" pertencia ao comerciante local Jose Augusto Annes. Apresentava-se «como o melhor da província do Alentejo, com estabelecimento de banhos, sala de visitas e bons aposentos para famílias». E realmente era! ...
Foi este que no início do século XX viria a instalar, na rua contígua ao Largo da Misericórdia, num barracão anexo ao seu hotel o primeiro animatografo de Évora, o "Salão Central Eborense" inaugurado em 23 de Setembro de 1916, e cuja história pode ser consultada neste blog no seguinte link: "Salão Central Eborense".
"Salão Central Eborense" em 1933
"Salão Central Eborense", em 1945
O "Solar de Monfalim" foi depois adquirido por um negociante, de nome Luis Gonzalez, que o herdou, entre muitos outros bens, do casamento estéril de sua tia, uma espanhola refugiada da Guerra Civil, com o abastado proprietário eborense António Paquete, praticamente dono de quase toda a Rua de Valdevinos. Mas a sua exploração turística manteve-se sempre concessionada a outros. (*)
1915
E no ano de 1915, publicidade a um concorrente .,. "Hotel Chiado" fundado por Antonia Tomásia Correia e que em 1909 tinha passado para a propriedade de Manoel Duarte d’Almeida.
Mas num pequeno comentário a este hotel no livro "A Wayfarer in Portugal" de Marden, Philip Sanford, (1874-1963) de 1927 ...
Por exemplo, os portais do Hotel Eborense. Se essa modesta estalagem estivesse à altura da sua antiga escadaria de entrada, que conduz através de uma arcada exterior e por entre um caramanchão de verdura, seria quase o melhor hotel do mundo. Mas não está; e embora fosse injusto chamar ao Eborense o "Pior do Mundo", deixa tanto a desejar que não se pode elogiar muitas coisas para além deste imponente vestíbulo. Revelou-se limpa - o requisito essencial numa terra onde nem todos os quartos são imaculados - mas no que toca à comida, estava longe do ideal. Espera-se alguma rusticidade nas terras altas portuguesas, onde os turistas são poucos, mas um proprietário com imaginação e verdadeiro conhecimento do mundo poderia facilmente transformar os encantos do Eborense numa atracção irresistível para os viajantes do seu tempo, e Évora seria mais procurada do que é. Quase que gostaria de tentar eu próprio.» (tradução do texto original).
Em 1929, já o "Hotel Eborense" era gerido de João Guerra, que promoveu a profundas obras de remodelação, vindo de encontro ao comentário anterior .... A propósito o "Album Alentejano" de 1931 num pequeno apontamento acerca desta unidade hoteleira referia:
De facto, o Hotel Eborense sofreu uma grande transformacao. Tomou a gerência dêsse hotel um homem muito conhecido por todos os individuos que viajam no Alentejo. É João Guerra, o antigo arrendatário dos restaurantes das estações e carruagens dos rápidos para o Algarve; é o conhecido hoteleiro da Praia da Rocha e das Caldas de Monchique.
A casa de jantar foi ampliada; os quartos mobilados com um certo luxo e muito conforto, e, no que diz respeito a cosinha, devemos informar que é esmeradissima, motivo porque tem, permanentemente, um servico de restaurante muito concorrido.
Sim, Evora, presentemente, já pode receber os forasteiros mais exigentes porque ja tem dois bons hoteis, e um é, sem receio de contestação o afirmamos, o Hotel Eborense, dirigido, como fica dito, por um homem prático, o sr. João Guerra, que, não sendo alentejano, está, com o seu esforco, prestando um grande serviço à capital do Alentejo.
O Album Alentejano não se esquecera de mencionar todos os valores que, não sendo nascidos no Alentejo, ao Alentejo prestam serviços.
E o sr. João Guerra, gerente do Eborense, esta nêsses casos.»
Em 1939, o "Hotel Eborense" já aparecia referido como Pensão-Restaurante "O Eborense", no Guia de "Hoteis e Pensões de Portugal" de 1939 ... «esplêndida casa de jantar com linda vista. Ótimos quartos. Serviço permanente de restaurante. - Gerência de João Guerra.»
Pequen-Almoço: 2$50
Almoço: 10$00
Jantar: 12$00
Diária: entre 22$00 e 30$00
Nesse mesmo ano e no mesmo Guia apareciam mencionados os seguintes equipamento hoteleiros em Évora:
- Pensão-Restaurante "Carolina", na Rua Serpa Pinto, 74. Propriedade de António dos Santos Manços.
- "Casa de Hópedes Jacinto", na Rua da República, 46. Propriedade de Jacinto dos Reis Tecelão.
- "Estalagem 1º de Maio".
Em 1949 o "S.N.I. - Secretariado Nacional de informação", criado em 1933, promoveu o "Primeiro Concurso da Cozinha Regional". «Nele se inscreveram bastantes concorrentes, de diversos pontos do país, com as suas ementas "à portuguesa", nas quais os melhores petiscos da região profusamente representados.» E a Pensão-Restaurante "O Eborense" concorreu em representação de Évora, conforme recorte seguinte.
Em 1956 a Pensão "O Eborense" já tinha uma filial na cidade a "Pensão Alentejo".
30 de Maio de 1956
Com o passar dos tempos o velho solar entrou em decadência e degradação, até que, em meados da década de 90 do século XX, a empresária do ramo de hotelaria e restauração Ana Ramalho Serrabulho decidiu tomar conta dele e recuperá-lo, devolvendo-lhe o encanto e a graciosidade perdidas, tendo sido reclassificado como albergaria. (*)
Actualmente funciona o "Hotel Solar de Monfalim", classificado com 2 estrelas.
«Passa-se do rés-do-chão ao primeiro andar subindo uma dupla escadaria de granito ladeada por muitos vasos com plantas de médio porte. A maioria dos quartos possui janelas de sacada que dão para um pátio interior. Todos possuem ar condicionado, casa de banho privativa, televisão, telefone directo, mini-bar, wifi e cofre.» (*)
(*) - blog "Viver Évora"
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Delcampe.net, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Minicipal da Câmara Municipal de Évora
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