Restos de Colecção: Hotel Eborense

19 de outubro de 2025

Hotel Eborense

O "Hotel Eborense" remonta a 1882, altura em que Aurelio Jose Lopes instalou no "Solar de Monfalim", localizado no Largo da Misericordia, 1, em Évora um hotel de seu nome "Eborense".  Tornar-se-ia numa das mais antigas unidades hoteleiras desta cidade. Nesse ano existiam outras sete e que publico de seguida a lista disponibilizada no "Anuario del comercio, de la industria, de la magistratura y de la administración" de 1882.


1882

O "Solar de Monfalin" tem origem numa antiga residência senhorial, construída  em meados do século XVI e que pertenceu a um fidalgo da casa real, D. Gonçalo de Sousa, que mais tarde passou para a família dos Cogominhos, que tinham paço na actual freguesia de Torre dos Coelheiros, a cerca de 12 quilómetros da cidade. Com o extinção desta família, foram os Monfalins, seus descendentes, que ficaram na posse do solar. Habitaram-no até à segunda metade do século XIX, altura em que, por dificuldades financeiras, decidiram vendê-lo, tendo sido transformado em hospedaria/hotel pelo seu primeiro proprietário Aurelio Jose Lopes.

Em 1896, já como "Hotel Eborense" pertencia ao comerciante local Jose Augusto Annes. Apresentava-se «como o melhor da província do Alentejo, com estabelecimento de banhos, sala de visitas e bons aposentos para famílias». E realmente era! ...

Foi este que no início do século XX viria a instalar, na rua contígua ao Largo da Misericórdia, num barracão anexo ao seu hotel o primeiro animatografo de Évora, o "Salão Central Eborense" inaugurado em 23 de Setembro de 1916, e cuja história pode ser consultada neste blog no seguinte link: "Salão Central Eborense".

"Salão Central Eborense" em 1933

"Salão Central Eborense", em 1945


1887


1888


30 de Julho de 1896


Outra actividade comercial de Jose Augusto Annes em anuncio de 29 de Outubro de 1896

O "Solar de Monfalim" foi depois adquirido por um negociante, de nome Luis Gonzalez, que o herdou, entre muitos outros bens, do casamento estéril de sua tia, uma espanhola refugiada da Guerra Civil, com o abastado proprietário eborense António Paquete, praticamente dono de quase toda a Rua de Valdevinos. Mas a sua exploração turística manteve-se sempre concessionada a outros. (*)

1915

E no ano de 1915, publicidade a um concorrente .,. "Hotel Chiado" fundado por Antonia Tomásia Correia e que em 1909 tinha passado para a propriedade de Manoel Duarte d’Almeida.


1915

Mas num pequeno comentário a este hotel no livro "A Wayfarer in Portugal" de Marden, Philip Sanford, (1874-1963) de 1927 ...

«Acabámos por ser largados na única pequena estalagem local, que se autodenomina, de forma clássica, o Eborense. (...)
Por exemplo, os portais do Hotel Eborense. Se essa modesta estalagem estivesse à altura da sua antiga escadaria de entrada, que conduz através de uma arcada exterior e por entre um caramanchão de verdura, seria quase o melhor hotel do mundo. Mas não está; e embora fosse injusto chamar ao Eborense o "Pior do Mundo", deixa tanto a desejar que não se pode elogiar muitas coisas para além deste imponente vestíbulo. Revelou-se limpa - o requisito essencial numa terra onde nem todos os quartos são imaculados - mas no que toca à comida, estava longe do ideal. Espera-se alguma rusticidade nas terras altas portuguesas, onde os turistas são poucos, mas um proprietário com imaginação e verdadeiro conhecimento do mundo poderia facilmente transformar os encantos do Eborense numa atracção irresistível para os viajantes do seu tempo, e Évora seria mais procurada do que é. Quase que gostaria de tentar eu próprio.»
(tradução do texto original).

Em 1929, já o "Hotel Eborense" era gerido de João Guerra, que promoveu a profundas obras de remodelação, vindo de encontro ao comentário anterior .... A propósito o "Album Alentejano" de 1931 num pequeno apontamento acerca desta unidade hoteleira referia:

«E o mais antigo hotel de Evora, é o Eborense. Durante muitos anos porém, êste hotel não correspondia as exigencias dos forasteiros. Para se poder aguentar necessitava de uma reforma radical de forma a que o hospede se sentisse bem, com comodidades, apreciando uma cosinha esmerada.
De facto, o Hotel Eborense sofreu uma grande transformacao. Tomou a gerência dêsse hotel um homem muito conhecido por todos os individuos que viajam no Alentejo. É João Guerra, o antigo arrendatário dos restaurantes das estações e carruagens dos rápidos para o Algarve; é o conhecido hoteleiro da Praia da Rocha e das Caldas de Monchique.
A casa de jantar foi ampliada; os quartos mobilados com um certo luxo e muito conforto, e, no que diz respeito a cosinha, devemos informar que é esmeradissima, motivo porque tem, permanentemente, um servico de restaurante muito concorrido.
Sim, Evora, presentemente, já pode receber os forasteiros mais exigentes porque ja tem dois bons hoteis, e um é, sem receio de contestação o afirmamos, o Hotel Eborense, dirigido, como fica dito, por um homem prático, o sr. João Guerra, que, não sendo alentejano, está, com o seu esforco, prestando um grande serviço à capital do Alentejo.
O Album Alentejano não se esquecera de mencionar todos os valores que, não sendo nascidos no Alentejo, ao Alentejo prestam serviços.
E o sr. João Guerra, gerente do Eborense, esta nêsses casos.»


15 de Junho de 1929




1931

Em 1939, o "Hotel Eborense" já aparecia referido como Pensão-Restaurante "O Eborense", no Guia de "Hoteis e Pensões de Portugal" de 1939 ... «esplêndida casa de jantar com linda vista. Ótimos quartos. Serviço permanente de restaurante. - Gerência de João Guerra.»

Quartos:  24
Pequen-Almoço:  2$50
Almoço:  10$00
Jantar:  12$00
Diária:  entre 22$00 e 30$00

Nesse mesmo ano e no mesmo Guia apareciam mencionados os seguintes equipamento hoteleiros em Évora:

- "Hotel Alentejano", instalado no antigo Palácio da Inquisição e com 39 quartos. «O mais confortável e higiénico de toda a província».
- Pensão-Restaurante "Carolina",
na Rua Serpa Pinto, 74. Propriedade de António dos Santos Manços.
- "Casa de Hópedes Jacinto", na Rua da República, 46. Propriedade de Jacinto dos Reis Tecelão.
- "Estalagem 1º de Maio".


1942

Em 1949 o "S.N.I. - Secretariado Nacional de informação", criado em 1933, promoveu o "Primeiro Concurso da Cozinha Regional". «Nele se inscreveram bastantes concorrentes, de diversos pontos do país, com as suas ementas "à portuguesa", nas quais os melhores petiscos da região profusamente representados.» E a Pensão-Restaurante "O Eborense" concorreu em representação de Évora, conforme recorte seguinte.

Em 1956 a Pensão "O Eborense" já tinha uma filial na cidade a "Pensão Alentejo".

30 de Maio de 1956




Fotos e etiqueta de bagagem dos anos 50 do séc. XX


No Guia Turístico "Fodor's Portugal" de 1982


No Guia Turístico "Cardogan Guides - Portugal" de 1990

Com o passar dos tempos o velho solar entrou em decadência e degradação, até que, em meados da década de 90 do século XX, a empresária do ramo de hotelaria e restauração Ana Ramalho Serrabulho decidiu tomar conta dele e recuperá-lo, devolvendo-lhe o encanto e a graciosidade perdidas, tendo sido reclassificado como albergaria. (*)

Actualmente funciona o "Hotel Solar de Monfalim", classificado com 2 estrelas.

«Passa-se do rés-do-chão ao primeiro andar subindo uma dupla escadaria de granito ladeada por muitos vasos com plantas de médio porte. A maioria dos quartos possui janelas de sacada que dão para um pátio interior. Todos possuem ar condicionado, casa de banho privativa, televisão, telefone directo, mini-bar, wifi e cofre.» (*)







(*) -  blog "Viver Évora"   

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Delcampe.net, Biblioteca Nacional DigitalArquivo Minicipal da Câmara Municipal de Évora

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