O café-restaurante "Monte Carlo", propriedade da firma "A Cafeeira Lda." - originária na "Casa Chineza" fundada em 1866 -, foi inaugurado em 1955 na Av. Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. O pedido para as obras de remodelação do espaço para o "Monte Carlo" tinha sido submetido à CML em Março de 1953. Veio substituir a "Pastelaria Fradique" aberta em 1947.
Antes do "Monte Carlo" a "Pastelaria Fradique", e o espaço do futuro café-restaurante "Monumental"
24 de Dezembro de 1955
Contudo o alvará nº7/1956 do "Monte Carlo" só seria emitido em 7 de Janeiro de 1956: «Licença para exercer o comércio de venda de vinhos e seus derivados, engarrafados, por medida e a copo, no seu estabelecimento de café, restaurante e cervejaria, sito na Avenida Fontes Pereira de Melo, nºs 41-C e 41-D em Lisboa.».
Com uma área total de 767 m2, estava dividido em zonas distintas: o r/c destinava-se a pastelaria, que servia cafés e bolos variados para serem «tomados rapidamente e em pé»; a casa de chá (restaurante) que servia o famoso «Bife à Monte Carlo», o café, o snack-bar (espaço ocupado por bilhares até 1979), a barbearia e a tabacaria; a cave estava reservada aos serviços e armazéns.
O "Monte Carlo" fazia parte de um núcleo importante dos cafés da Avenida Fontes Pereira de Melo, junto ao Saldanha: "Monte Carlo" no 49-C, o "Monumental", mesmo ao lado no 51-B, "A Paulistana" (propriedade do dono de "A Brazileira"), do outro lado da Avenida no 52-A. De referir que, o "Monte Carlo" tinha uma belíssima (e das melhores) tabacaria, onde se vendia, antes de 25 de Abril de 1974, a revista "Playboy", discretamente ... a par de outras similares, apesar de proibidas. "A Paulistana" tinha sido inaugurada em 2 de Junho de 1930, no edifício nº 52 no outro lado da avenida, por Adriano Teles, dono de "A Brazileira" do Chiado.
"A Paulistana" no edifício na esquina da Avenida Fontes Pereira de Melo com a Rua Engº Vieira da Silva
29 de Novembro de 1956
«O Monte Carlo, ali onde agora é a Zara, no lado direito da Fontes Pereira de Melo, de quem começa a descer do Saldanha para o Marquês, era a catedral dos cafés de Lisboa. O resto era paisagem, até o Monumental mesmo ao lado. Ia lá toda a gente, cabiam lá todos: escritores e jornalistas, actores e cantores, gente do regime e da oposição, excêntricos e malucos, trabalhadores e calaceteiros, donjuans e maricagem, solitários e tribos em peso, e os clientes anónimos, quotidianos, sem história.
À entrada, à direita, era a fornecidíssima tabacaria, responsável por metade da minha educação na banda desenhada e graças à qual tomei pela primeira vez contacto com as grandes revistas estrangeiras, e com a L'Automobile (por causa da Fórmula 1) e o Times Literary Supplement (por causa dos livros). O porteiro fardado (sim, tinha porteiro) dava-nos entrada. Ao lado esquerdo, havia o balcão dos bolos, da pastelaria e da bica em pé, e logo a seguir o restaurante com as grades, que foi o primeiro em Lisboa (em Portugal?) a servir comida indiana. Atracção principal: o Bife à Monte Carlo, vinham pessoas de fora para o comer ("prato, molho, fatia grossa de pão de forma tostada, o bife, uma fatia de fiambre e um ovo estrelado a rematar. (...)
30 de Dezembro de 1957
2 de Fevereiro de 1958
A casa era funda, as mesas iam até quase perder de vista, desembocando na grande sala do bilhar, xadrez, damas e cavalos (ainda alguém joga disto?), e no barbeiro, onde aos domingos se juntavam grupos para ouvir os relatos de futebol. (...)
A catedral dos cafés de Lisboa passou à história e a cidade, cada vez mais desmemoriada, já se esqueceu do que perdeu. Sempre que passo pelo sítio, parece que tenho um torno a apertar-me o coração. Como diria o Totò, porca miseria!.» in: "Entrefitas e Entretelas" de Pedro Bandeira Freire (1939-2008).
Proprietária do "Monte Carlo" em calendário de 1987
Em 1943 «Nenhum lar da Russia, por mais modesto que seja, deixa de ter sempre á mão o Wodka»
Depois de encerrado definitivamente o "Monte Carlo", a "Zara Portugal - Confecções, Lda." adquire o espaço e dá entrada na CML, em 6 de Outubro de 1992, do projecto de alterações para o licenciamento das obras de remodelação. A licença de utilização comercial seria atribuída em 18 de Março de 1994.
Quanto à "Caféeira, S.A." viria a incorporar a "Unicer-Cafés S.A." e a "Rui Rodrigues Neto, Lda.", ambas de Leça do Balio, resultando na sua fusão em 2005.
Actualmente è a "NewCoffee - Indústria Torrefatora de Cafés, S.A." : «Especialista no desenvolvimento e comercialização de lotes de café de elevada qualidade, consolidou a sua posição através de uma estratégia de aquisição de marcas: Sanzala em dezembro de 2007, Caffècel em junho de 2008, direitos de comercialização exclusiva da marca Lavazza para o canal HoReCa em novembro de 2008, Bogani e A Caféeira em outubro de 2009 e Novo Dia em abril de 2016.» in: site "NewCoffee"