O "Grande Bazar Suisso" de "C. Barella & Irmão", abriu pela primeira vez na Rua do Chiado (Rua Garrett) em 1866, e era uma das lojas de espelhos, molduras e bijuterias das mais elegantes e mais ricas de Lisboa. Pertencia aos irmãos Celestino e Albino Barella, dois irmãos suíços que já viviam há muitos anos em Lisboa, muito simpáticos, muito trabalhadores e muito empreendedores.
"Grande Bazar Suisso" à direita (na foto) da "Pastelaria Marques"
Celestino Barella tinha iniciado a sua actividade comercial, em Janeiro de 1866 numa pequena e modestíssima lojinha - "Officina de Dourador e Deposito d'Estampas de Celestino Barella" - na rua Nova do Almada, 39-41, e mais tarde, em 1868 já no nos 4 e 6 da Rua Nova do Carmo, chegou com seu irmão Albino Barella, à força de trabalho e de perseverança, à luxuosa loja do Chiado, que faria boa figura ao pé das mais elegantes e bem fornecidos de qualquer grande cidade da Europa.
Os principais produtos e serviços comercializados pelo "Grande Bazar Suisso" eram os seguintes: Molduras, gravuras, fotografias, desenhos, oleografias, imagens religiosas, fornecimento para douradores e belas artes, vidros polidos para montras, aço em vidro para espelhos, álbuns, passepartouts, estereoscópios, visitas, galerias e baguetes para tapeçaria.
Quanto ao percurso dos dois irmãos Celestino e Albino Barella, o jornal "Diário Illustrado", em 19 de Novembro de 1889, referia-se-lhes do seguinte modo:
Foram sempre homens energicos, incansaveis no seu trabalho de douradores. A sorte favoreceu-os por muito tempo, e mais tarde iamos encontral-os na rua Nova do Carmo, onde ainda hoje existe a succursal do grande "Bazar Suisso" que foi pasto das chammas, e que abriu havera uns oito annos.
Foi esta a segunda vez que aquella familia soffreu com o incendio. Da primeira vez foi quando residiam na sobreloja, onde hoje mora o sr. Alfredo Keil, d'um predio que foi devorado por um fogo, e mais tarde reconstruido. Dois filhos de Celestino Barella falleceram em resultado de susto d'esse fogo.
0 sr. Albino Barella é solteiro e tem pouco mais de quarenta annos. Fazemos votos porque estes dois homens sympathicos e trabalhadores vençam a fatalidade que os prostrou enfermos, e que em breve os vejamos restituidos á sua actividade moral, por agora tão bruscamente interrompida.»
Celestino Barella ainda manteve, até ao final do século XIX, uma papelaria nas suas primitivas instalações da Rua Nova do Carmo, nos 4 e 6.
Como foi referido anteriormente, em 14 de Novembro de 1889 deu-se uma explosão no "Grande Bazar Suisso", cujo excerto da reportagem do "Diário Illustrado" do dia seguinte, transcrevo:
Aproximava se o anoitecer, e tinham-se accendido os candieiros do estabelecimento, faltando o da montra, onde ha dias os operarios da nova companhia tinham mettido encanamento. Quando o moço ia com a vela para accender o bico do candieiro deu-se uma medonha explosão de gaz extravasado. A violencia foi tal que as vidraças dos predios e estabelecimentos que mais proximos lhe ficavam de frente foram feitas em pedaços.
O fogo, arruinando todo o Bazar Suisso, do qual nada se salvou, passou rapido, como dissemos, ao 1.° andar. Estava ahi estabelecido o Turf-Club, que ha pouco se mudára da sua antiga casa fronteira á rua de S. Francisco.
O 2.° andar era habitado pelos proprietarios do Bazar Suisso, os srs Barellas, e as aguas furtadas tambem lhes pertenciam. O prejuizo em todos esses andares foi quasi completo, porque os salvados sao insignificantes.
Quando se deu a explosão achavam-se no estabelecimento os proprietarios, irmãos Barellas, o caixeiro Alexandre Leuzinger, Mannel Lourenco y Martinez, dourador da casa, a sr.ª D. Rosa Barella, e o moço de nome Lourenço. O dourador Martinez foi arremessado ao outro lado da rua, indo cair sobre o passeio, ficando gravemente ferido. O sr. Albino Barella ficou muito queimado e ferido na cabeça, e uma fractura na bacia. O sr. Celestino Barella, irmão d'aquelle, ficou muito contuso. A sr.a D. Rosa Barella ficou ferida no braço direito. O moço Lourenço ficou ferido na cabeça, rosto e mãos. O dourador foi conduzido ao hospital; não é grave o seu estado. O sr. Albino Barella também para ali foi conduzido e acha-se no quarto n.° 1, particular, de 1ª classe. O seu estado é gravissimo, cremos mesmo que desesperado. O sr. Celestino recebeu curativo na pharmacia Durão, que forneceu medicamentos a todos os feridos e onde se achavam prestando soccorros os srs. drs. Salvador, Brito, Azevedo, Joyce, Stromp, Rivotti e Fragoso Tavares. N'essa pharmacia foi tambem curada a sr.a D. Rosa Barella e o moço Lourenço.»
Contudo, 3 dias depois a 17 de Novembro o mesmo jornal noticiava:
No commissariado da 2.ª divsão levanta-se um auto de investigação sobre as causas do sinistro.»
Do palácio onde havia vivido o Marquês de Nisa, e que então pertencia a D. Francisco de Almeida, - que tinha albergado o "Grande Hotel de João da Matta" entre 1871e 1873 - restaram apenas as paredes exteriores, tendo desabado a abóbada existente entre a sobreloja e o primeiro andar. Aí, os irmãos Barella perderam sua magnifica casa onde tudo começou, mas também a sua habitação, no 2º piso, como aliás, tinham perdido, alguns anos antes, o espaço onde habitavam, na rua do Crucifixo, num outro incêndio que matou dois elementos da família. Com danos, mas recuperáveis, ficou a sede do jornal "O Dia", paredes meias com o palácio. Casos também da luvaria de Adolfo Malbomisson, os armazéns de modas de "Carvalho e Cª ", "Arsénio e C.ª ", a chapelaria de Augusto Ribeiro e o estabelecimento de máquinas e relógios de Carlos Silva, entre outros.
O "Grande Bazar Suisso", dos irmãos Barella, reabriria em 25 de abril de 1891 e manteve a sua atividade mais 20 anos, tendo encerrado, em definitivo, por altura da implantação da República, em 5 de Outubro de 1910. Entretanto, Celestino Barella tinha falecido em Novembro de 1894.
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