O "Café Madrid" abriu a s suas portas, pela primeira vez, no ano de 1879 na Rua do Outeiro, 2 a 16 junto à Praça do Loreto ao Chiado, em Lisboa. Foi seu primeiro proprietário José Pinheiro Louza.
"Café Madrid" do nº 2 ao nº16
Em 4 de Janeiro de 1880 o "Diario Illustrado" noticiava:
«Está sendo muito frequentado o café Madrid, estabelecido na Praça do Loreto.O seu proprietario o sr. José Pinheiro Louza conseguiu com bastante trabalho e dispendio elevar aquelle estabelecimento ao grau de prosperidade em que já está o seu outro café denominado Trindade.No café Madrid ha agora um excellente serviço, ceias magnificas porque para isso ha ali um cosinheiro dos mais sabedores na sua arte, e creados bem educados, que é uma das condições essenciais para attrair frequencia.Se continuar assim ha de fazer fortuna, porque o local é excellente.»
Na mesma Rua do Outeiro, nº 1, 1º andar, já se tinha estabelecido, em Julho de 1817, uma nova casa de pasto, com anúncio no jornal "Gazeta de Lisboa". Não foi feliz este estabelecimento. Passados menos de quatro meses, anunciava-se o trespasse do estabelecimento, no mesmo jornal de 3 de Novembro de 1817.
Na "Gazeta de Lisboa" de 17 de Julho de 1817
Na "Gazeta de Lisboa" de 4 de Novembro de 1817
E, por curiosidade este nº 4-1ª andar, em 25 de Novembro de 1877 era inaugurado o "Restaurante Sousa" ...
Voltando ao "Café Madrid", não quis começar (se seguisse à risca a cronologia histórica) com um acontecimento negativo, também relatado pelo mesmo jornal "Diario Illustrado", ocorrido no ano anterior, em 19 de Dezembro de 1879:
«Na noite de ante-hontem para hontem houve uma grave desordem no café Madrid. Aos toques de apites appareceram muitos policias, algumas patrulhas de infantaria e cavallaria da guarda municipal.Dizem que forma prezos dois individuos.»
O "Café Madrid" estava estrategicamente localizado, perto de três dos mais importantes teatros de Lisboa: o "Real Theatro de S. Carlos" (a Rua do Outeiro dava directamente com o Largo de S. Carlos); o "Theatro do Gymnasio"; e o "Theatro da Trindade". Pelo que «Este café está sempre aberto até às 2 horas da noite porque muitos frequentadores de S. Carlos, da Trindade e Gymnasio concorrem ali depois dos espectaculos, tornando bastante animado o estabelecimento até essa hora.»
Foto de má qualidade mas que dá para ver ao fundo o "Café Madrid" com as suas tabuletas
E em 23 de Dezembro de 1883, continuam no mesmo jornal "Diario Illustrado" ...
«E, aos que forem aos theatros, aos bailes da Trindade, a toda a parte enfim onde é costume ir n'este tempo, recommendamos particularmente que passem pela rua do Outeiro, que entrem no café de Madrid e que joguem uma partida de bilhar em quanto se lhes prepara a ceia mais deliciosa d'este mundo ... e do outro.
Uma ultima recommendação. Se por qualquer motivo, que não vem para aqui, não quizerdes ser visto ou que dsejardes saborear mais tranquillamente a excellente ceia, entrae pela portinha pequena e lá encontrareis uns confortaveis gabinetes onde sereis servidos como n'um conto de fadas, a sós com o objecto d'elles.»
Este café aparecia como uma hipotética «troca de galhardetes», com a capital espanhola Madrid, já que, em 4 de Novembro de 1875, tinha sido inaugurado naquela cidade o "Café Lisboa", sito na Calle Mayor, sendo seu proprietário Santiago Menéndez. Manteve-se a funcionar, sempre com o mesmo nome, até ao final dos anos 50 do século XX, altura em que encerrou definitivamente.
Interior do "Café Lisboa" em Madrid
Exterior do "Café Lisboa" em Madrid aquando da "Guerra Civil Espanhola" (1936-1939)
Em 1890 o "Café Madrid" já tinha outro proprietário: Antonio Crespo. Entre 1904 e 1907 encerra para reforma do espaço, ao que, o jornal "Vanguarda" noticia a sua reabertura em 5 de Janeiro de 1907:
«Reabre hoje as suas portas ao publico, depois de uma reforma completa, este antigo e bem acreditado café-restaurante, um dos melhor frequentados de Lisboa, installado na rua Paiva d'Andrada, 4 a 16.
O novo estabelecimento agora ampliado, comporta um grandioso salão-restaurante, uma magnifica sala de jantar para 30 pessoas, sete explendidos gabinetes reservados e um salão com seis bilhares. Os tres corpos do café são todos decorados em estilo arte-nova, tendo sido os trabalhos dirigidos pelo já notavel constructor sr. Jose Rodrigues Prieto, que nos dá mais uma affirmação brilhante do seu talento.
O salão do restaurante comporta 20 mezas pequenas com tampos de marmore e 80 cadeiras. Nas paredes ostentam-se magnificos espelhos emmoldurados a "pitchpine", madeira de que tambem se compõem os lambris, balcões do bufete, mobiliario, etc.
Os lambris são aureolados de lindos azulejos allemães, em relevo. Quatro explendidos lustres e vistosas placas, muito originaes, desenhos de Prieto, executados em Barcelona. Illuminam a luz electrica, o vasto salão, cujo pavimento é revestido de mosaico. No tecto admiram-se lindos "panneaux" (arte nova tambem), devidos ao pincel do distincto pintor-decorador Domingos Costa.
Dos trabalhos de polimento de armação e do mobiliario foi encarregado o considerado artista sr. Arnaldo Correia Graça.»
14 de Maio de 1890, com o intervalo dos nos. das portas errados. Deveria estar impresso 2- ...-16
Depois de um período de encerramento, ao mudar de proprietários, o "Café Madrid" reabre, em 13 de Maio de 1909, com novos proprietários, a firma "François Porcio & C.ª ", e «novo e excellente pessoal», além de uma «reforma em todos os serviços».
Mas ... viria a encerrar menos de um ano depois, e reabriria com novo proprietário e «completamente reformado» em 5 de Março de 1910. A propósito uma pequena nota no jornal "Portugal":
«Reabriu este velho estabelecimento com novo proprietario e completamente reformado.
Sucursal do Restaurant Roma na Rua d'Assumpção 106, onde recebe comensaes».
5 de Março de 1910
Já agora uma referência publicitária ao "Café Madrid", da cidade do Porto, que nada tinha a ver com o de Lisboa.
1904
Em 1913 já a firma "Garage Central" de Eduardo de Fontes, e representante para Portugal da marca de automóveis "George Roy", ocupava as portas 14 e 16 (extremo norte), que tinham pertencido ao "Café Madrid".
Depois de desaparecido este
"Café Madrid" da Rua Paiva de Andrada, abriria outro
"Café Madrid", nos anos trinta do século XX, desta vez na Rua 1º de Dezembro, no edifício do "
Hotel Americano". Veio veio substituir o
"Grande Café d'Italia" (ex-
Brasserie Principe)
que ali tinha estado instalado desde 1922.
"Hotel Americano" e "Brasserie Principe"
"Grande Café d'Italia"
23 de Setembro de 1939
No artigo publicado na revista "O Século Ilustrado", nº 90 de 23 de Setembro de 1939, por altura da instalação de um novo balcão frigorífico neste estabelecimento, exaltava as suas qualidades.:
«Lisboa, que é hoje uma das capitais da Europa que conta maior numero de cafés, pode e deve envaidecer-se de ter, no «Café Madrid», um dos mais modernos, mais confortáveis e, sob todos os . pontos de vista, um dos mais convidativos.
O «Café Madrid», instalado desafogadamente, com uma arquitectura de linhas sóbrias e imponentes, na rua 1° de Dezembro, nº 67, é hoje, e sem exagero, aquele que apresenta maior e mais escolhida frequêncía, reunindo-se ali os nossos mais conhecidos artistas, escritores, actores, industriais e comerciantes.
Isto se explica, por um lado, pelas condições de confôrto que a inteligente gerência proporciona à sua numerosa clientela, e, por outro, pela modicidade dos seus preços, pois, enquanto nos outros «cafés» se vende a chávena de café a oitenta centavos, no «café Madrid» custa apenas setenta centavos, e o mesmo sucede com a cerveja ao copo, que ali é tirada como em nenhuma outra parte, e que é vendida sómente a 1$50.
Desde a sua fundação até agora o «Café Madrid, cujo pessoal é tão numeroso quanto habilitado e correcto, tem seguído sempre uma marcha de forte desenvolvimento, e, tornando-se digno da preferência que o público lhe dá, de época para época, vem apresentando consideráveís melhoramentos, Queremos destacar, muito especialmente, a instalação frígorífíca do «Café Madrid», há dias inaugurada, cuja originalidade e vantagem são das mais completas, o que torna essa casa a melhor do Pais. Essa instalação frigorifica foi primorosamente executada pela firma especializada, R. Oyarzun, Lda., da rua da Misericordia, 57 - 59. De maravilhosa concepção técníca, o balcão-frígoríríco, marca Oyarzun do «Café Madrid» é dos mais completos da Europa, obedecendo a sua confecção aos mais modernos processos da técnica do frio. Além das díversas camares e vitrine, com diferentes temperaturas, possui ainda êsse novo balcão um serviço de refrígeração ínstantânea de cerveja, água e soda, por processo inteiramente novo introduzido em Portugal, pela firma R. Oyarzun, Lda., que não se poupa a esforços para apresentar as últimas novidades do ramo de Refrigeração Electro-Automatica a que com tanto êxito se vem dedicando. O exterior do balcão apresenta-se impecável em moderna pintura a celu1ose, com diversas aplicações em aço espelhado, honrando sobremaneira a indústria nacional e a firma construtora.
1 de Setembro de 1939
12 de Julho de 1941
Quanto ao espaço, outrora ocupado pelo "Café Madrid", na Rua Paiva Andrada, fica aqui foto de 1970.
Rua Paiva d'Andrada em 1970
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