Em 6 de Abril de 1877, era inaugurada a joalharia e ourivesaria “Leitão & Irmão”, no, então, Largo do Loreto ou Largo das Duas Egrejas - hoje Largo do Chiado, em Lisboa.
Na sua edição de 7 de Abril de 1877, o jornal “Diario de Noticias”, relatava:
«O Largo das Duas Igrejas vae tornar-se um centro dos mais luxuosos de commercio. Aos esplendores da Casa Havaneza, vasto e hospitaleiro estabelecimento, (…) vem agora disputar primazias a ourivesaria dos Srs Leitão & Irmão, do Porto, ante a qual hontem parava embasbacada e cobiçosa a multidão, deslumbrada pela magnificiencia d’aquelle estabelecimento. O seu aspecto é deslumbrante. (…) um jogo de riquíssimos espelhos reflete e reproduz ao infinito a variada colecção de baixellas e joias qua adornam as vidraças, de dia à luz do sol, de noite à claridade do gaz derramado de dois vistosos candelabros e de muitas serpentinas”.
1879
A casa “Leitão & Irmão” tem origem no ano de 1822, quando José Pinto Leitão (1798-1866) se submeteu, com êxito, ao exame de ourives do ouro, na “Confraria de Santo Elói”, da cidade do Porto, dando continuação ao negócio de seu sogro, José Teixeira da Trindade, a quem D. Pedro, Duque de Bragança, teria prometido o título de ourives da Casa Real como recompensa por um empréstimo concedido à causa liberal.
José Pinto Leitão abria então, na Rua das Flores, a primeira loja-oficina. Esta Rua tinha sido aberta a partir de 1521, no final do reinado de D. Manuel I, típico arruamento dos ourives do ouro, herdeiro das antigas corporações e mestres. Passou a ser uma das principais ruas da cidade, escolhida por nobres e abastados que aí construíram luxuosos palacetes, sendo considerada a zona mais rica da cidade. Albergava imensos ourives e comerciantes de ouro e joias, além de cirurgiões, sapateiros, serralheiros e ferreiros, entre outros ofícios.
José Pinto Leitão registava o punção (marca pessoal de fabrico) “JPL”. Quanto à loja-oficina …
«…O typo do estabelecimento d’aquella época era a loja-officina, em que o oficial trabalhava à vista do freguez, junto do “caixão”, o balcão de venda ao lado. O artigo typico produzido era o “coração”, a arrecada, o cordão, as peças que no norte se levavam à festa, à missa cantada, ao arraial…» trabalhava-se o ouro vindo do Brasil. José Pinto Leitão era já um promissor joalheiro, mas é o casamento com Maria Delfina, filha de José Teixeira da Trindade, distinto comerciante do Norte, que lança a família Leitão nesta aventura.
José Pinto Leitão e sua mulher Maria Delfina
José Pinto Leitão
Em 1862 sucederam-lhe os filhos: Narcizo Thomaz Pinto Leitão e Olindo Jose Trindade Pinto Leitão, que constituiram a firma “Leitão & Irmão”.
Em 1872 a “Leitão & Irmão” recebe o título de “Ourives da Casa Imperial do Brasil” das mãos do imperador Pedro II, «sem nunca (ninguém da casa) ter ido ao Brasil», e cinco anos depois muda-se para o Largo do Loreto (actual Largo do Chiado), em Lisboa, o centro cosmopolita do reino. Nesse mesmo ano, sucederam-lhe os filhos: Narcizo Tomás Pinto Leitão e Olindo José Trindade Pinto Leitão, que formam a firma “Leitão & Irmão”. Em 1887, a “Leitão & Irmão“ com estabelecimento de Ourivesaria na rua das Flores da Cidade do Porto, alega que «tendo fornecido a Vossa Majestade diversos objectos do seu estabelecimento pretendem por isso que Vossa Majestade haja por bem de lhe conceder a graça de serem considerados fornecedores da Sua Real Casa, a fim de poderem assim usar em sua factura». Este pedido foi despachado favoravelmente a 21 de Setembro, sendo passado alvará de ourives honorários da Casa Real, a 19 de Outubro do mesmo ano. Por esta altura são nomeados “Joalheiros da Coroa”, reconhecimento dado pelo rei D. Luís ,I como forma de agradecer a produção da peça que Portugal deu ao Vaticano por ocasião do jubileu do papa Leão XIII. «O cálice do jubileu, com uma patena, está exposto no Tesouro do Vaticano, dizendo que é um presente do rei D. Luís. Seremos das raras empresas do mundo com obra exposta no Museu do Vaticano desde 1877.» E há peças da “Leitão & Irmão” espalhadas por vários museus, incluindo a águia em ouro oferecida em 1976 pelo Estado português ao então presidente dos EUA Jimmy Carter no âmbito das comemorações do Bicentenário dos EUA.
Projecto da fachada da loja “Leitão & Irmão” na Praça de D. Pedro (actual Praça da Liberdade) no Porto, em 1877
No jornal “O Illustrado da Tarde” de 28 de Agosto de 1880 No jornal “Pontos nos ii” de 29 de Janeiro de 1891
1908
Pavilhão de Portugal e Anexo das “Bellas Artes”na “Exposição Nacional do Rio de Janeiro”, em 1908
Na vasta lista de obras produzidas pelas oficinas encontramos peças memoráveis que marcaram a prataria e a joalharia nacionais, como a famosa “Baixella Barahona”, encomendada pelo Dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso, advogado e benemérito de Évora, e assinada em 1900 por Columbano Bordalo Pinheiro.
Conjunto de “Baixella Barahona” e as duas “Serpentinas”
Notícia no jornal “A Paródia” em 9 de Maio de 1900
No livro "Notas d'Arte” de António de Lemos e editado em 1906, a propósito deste conjunto baixela e duas serpentinas (actualmente designados por candelabros) podia-se ler:
«A casa Leitão & Irmão, innegavelmente os primeiros joalheiros e ourives portuguezes, levaram a cabo a execução da obra mais monumental e mais artistica no seu genero, que se tem feito em Portugal ha cem annos para cá. E estou bem certo que será preciso passar um incalculavel numero de annos para que se faça uma outra assim.»
“Leitão & Irmão” no Largo do Chiado em Lisboa
Suas oficinas na Rua das Gáveas
Factura em 1919
Ainda a destacar: o cálice oferecido por D. Luís ao Papa Leão XIII e com que este celebrou a missa do seu jubileu, em 1888, que hoje pertence ao Vaticano; o faqueiro Belle Époque desenhado em parceria com René Lalique, que ainda hoje se produz; ou a coroa de Nossa Senhora de Fátima feita em ouro e pedras preciosas, onde durante meses 12 artesãos moldaram a joia que seria oferecida ao Santuário de Fátima em agradecimento pelo facto de Portugal ter sido poupado à II Guerra Mundial. Nesta obra, considerada o maior ex-líbris da “Leitão & Irmão”, aloja-se a bala que atingiu João Paulo II a 13 de Maio de 1981 e que foi oferecida a Fátima pelo Papa. Por último, relembre-se que a centenária casa joalheira foi também pioneira em matéria de direitos dos trabalhadores, tendo criado, em 1903, uma caixa de previdência para a salvaguarda de toda e qualquer despesa de saúde dos seus trabalhadores.
1973
Em 1979, a firma de instrumentos musicais, “Custódio Cardoso & Cª., Lda.” instala-se na loja centenária da “Leitão & Irmão”, no Largo do Chiado, mantendo o interior e exterior da mesma.. Esta por sua vez, restrutura-se a partir da sua origem industrial e manterá as oficinas no Bairro Alto, até hoje. Nesta loja viria instalar-se a “Vista Alegre”, que já ocupava outra ao lado, desde os anos 40 do século XX. Como o inquilino anterior, esta firma aproveitou o mobiliário deixado, pela anterior (que por sua vez tinha aproveitado o legado da “Joalharia Leitão & Irmão”).
Aqui ficam umas fotos para se ter uma ideia do rico mobiliário e madeiras que decorava a “Custódio Cardoso Pereira & Companhia, S.A.”, herdado da sua antecessora.
Em 2005, a “Leitão & Irmão”, sob a gerência do seu sócio Jorge Van Zeller Leitão, inaugura a sua nova loja, e de novo no Largo do Chiado.
Loja no Largo do Chiado e o sócio-gerente Jorge Leitão
Loja do Bairro Alto na Travessa da Espera
Loja no “Hotel Ritz” Loja nas Arcadas do Parque do Estoril
Publicidade institucional e na revista “The Portugal News” em 8 de Maio de 2010
Aspectos das suas oficinas no Bairro Alto
fotos in: Hemeroteca Municipal de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa, Lojas com História, Leitão & Irmão
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