O arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962) nasceu em Lisboa em 24 de Dezembro de 1878. Em 1891, ingressa no curso preparatório da “Escola de Belas-Artes de Lisboa”, entrado depois para o curso de Arquitectura Civil, que é concluído em 1900. Durante este período, recebeu ensinamentos da escola francesa, por parte do Mestre Monteiro, o que o leva depois a partir para Paris, como pensionista do Estado no estrangeiro, para frequentar a “École des Beaux-Arts” e o “Atelier Pascal Amblart”. Regressa a Lisboa, leccionando um curso livre de arquitectura.
Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962)
Norte Júnior no seu atelier e décadas mais tarde na sua casa de Sintra
Em 1904 a sua primeira grande obra: “Casa Malhoa”, na, então Avenida Antonio Jose d’Avellar (actual Avenida 5 de Outubro), em Lisboa. Esta obra marca a inauguração da sua notável participação na arquitectura das “Avenidas Novas” ganhando o seu primeiro “Prémio Valmor de Arquitectura” no ano seguinte em 1905 ano em que se casa com Mariana Godinho,fixando residência em Sintra e trabalhando no seu atelier em Lisboa.
“Casa Malhoa”, na Avenida Antonio Jose d’Avellar (actual Avenida 5 de Outubro)
A intervenção de Manuel Joaquim Norte Júnior na zona das "Avenidas Novas", em Lisboa, e, por extensão, nos novos espaços qualificados da cidade, constitui uma amostra significativa da sua obra. A sua anáilise permite verificar o percurso estilístico e as incidências ao nível da tipologia dos edifícios, ao longo das décadas em que o seu trabalho exprimiu uma autêntica "euforia" criadora expressa nas décadas de 1900, 1910 e 1920, principalmente nas duas últimas.
O "Prémio Valmor de Arquitectura", atribuído a partir de 1902 pela Câmara Municipal de Lisboa, com o intuito de estimular a qualidade da ornamentação do edificado. Manuel Joaquim Norte Júnior, viria a ser o recordista deste prémio, tendo sido premiado pelos seguintes projectos: "Casa Malhoa" do pintor José Malhoa na Avenida António Maria d’Avellar (actual Avenida 5 de Outubro) em 1905; “Vila Souza” de José Carreira de Souza na Alameda das Linhas de Torres em 1912; casa de José Marques na Avenida Fontes Pereira de Melo em 1914; edifício para Domingos da Silva, visconde de Salreu, na Avenida da Liberdade em 1915; edifício de José Souza Braz (futura “Pensão Tivoli”) na Avenida da Liberdade em 1927. Ganharia mais duas “Menções Honrosas” do “Prémio Valmor de Arquitectura” : casa de José Cândido Rodrigues na Avenida da República em 1908; casa de Nuno Pereira de Oliveira na Praça Duque de Saldanha, em 1912. Recebendo também uma medalha de Ouro no Rio de Janeiro.
Prémios Valmor e Menções Honrosas concedidos ao arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior
“Vila Souza” de José Carreira de Souza na Alameda das Linhas de Torres em 1912, e casa de José Maria Moreira Marques na Avenida Fontes Pereira de Melo em 1914
Edifício de Domingos Joaquim da Silva, 1º Visconde de Salreu, na Avenida da Liberdade em 1915, e edifício de José Souza Braz (futura “Pensão Tivoli”) na Avenida da Liberdade em 1927
Casa de José Cândido Rodrigues na Avenida Ressano Garcia em 1908, e casa de Nuno Pereira de Oliveira na Praça Duque de Saldanha em 1912
Na revista “A Architectura Portugueza” de 1913
Outras obras de relevo, na cidade de Lisboa com o risco do arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior: casas de D. Amélia Augusta Pereira Leite e de Mário de Artagão ambas na Avenida da República, edifício da “Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca” em Marvila em 1917, edifício da Pastelaria “Versailles” mandado construir por João Antunes Lopes em 1919 e a própria “Versailles” na Avenida da República em 1922, “Escola de Arte Aplicada de Lisboa” (actual “Escola Artística António Arroio”) em 1919, “A Voz do Operário” na Rua Voz do Operário em 1923, “Royal Cine” em 1929, fachadas do Café “Nicola” e de “A Brasileira” no Chiado.
Casas de D. Amélia Augusta Pereira Leite de Mário de Artagão na actual Avenida da República
Localização destas casas na actual Avenida da República esquina com a actual Avenida de Berna
Na revista “ Construcção Moderna”
Edifício da “Soc. Com. Abel Pereira da Fonseca” em Marvila e “A Voz do Operário” na Rua Voz do Operário
“Companhia Geral do Crédito Predial Português” na Rua Augusta e “Escola Industrial de António Arroio”
Fachadas dos cafés “A Brasileira” no Chiado e do Café “Nicola” no Rossio
Depois de sofrer a influência da capital Lisboa e dos seus modelos de edificação, também a sua obra se estenderia a fora de Lisboa como a Sintra donde se destacam o “Casino de Sintra” de 1924 e o “Cine-Teatro Carlos Manuel” de 1948, a Cascais donde se destaca o “Palacete Seixas” junto à baía de Cascais, “Grande Hotel” no Monte Estoril e moradias em São João do Estoril, onde surgiram tipologias específicas ligadas ao veraneio praticado por uma alta burguesia, quase na sua totalidade radicada em Lisboa.
“Casino de Sintra” e o “Cine-Teatro Carlos Manuel” ambos em Sintra
“Grande Hotel” no Monte Estoril
“Palácio Seixas” de Henrique Maufroy de Seixas em Cascais
Também fora e de Lisboa, Manuel Joaquim Norte Júnior foi também responsável pela construção do “Pavilhão de Caça” , para o Rei D. Carlos I, junto ao, então “Grand Hotel” (desde 1917, “Palace Hotel do Bussaco”) no Bussaco, do “Palace-Hotel” da Curia, do “Palácio Fialho” do industrial conserveiro João Júdice Fialho em 1925 e do “Palácio Belmarço” do comerciante Manuel Jesus Belmarço em 1912 e em ambos em Faro, da “Sociedade Amor da Patria” na cidade da Horta nos Açores, Hospital de Salreu.
“Pavilhão de Caça” no Bussaco “Palace Hotel” da Curia
“Palácio Fialho” do industrial conserveiro João Júdice Fialho e do “Palácio Belmarço” ambos em Faro
Manuel Joaquim Norte Júnior, considerado o maior arquitecto do início do século XX em Portugal, faleceria na sua residência em 1962 com 84 anos de idade. Com a destruição do atelier do Manuel Joaquim Norte Júnior, localizado desde os anos 10 do século XX, na Praça Ilha do Faial, em Lisboa,nos anos 70 do século XX, perdeu-se um conjunto documental deveras valioso.
Casa e atelier de Manuel Joaquim Norte Júnior em Lisboa
Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital, Cidadania Lx, O Traço do Arquitecto na Paisagem Sintrense, Delcampe.net
11 comentários:
Tenho feito alguns trabalhos fotográficos sobre os Prémios Valmor até 1943. Fotografei em 2008 e em 2103. Se estiver interessado em ver, consulte no meu Blogue a etiqueta Valmor ou todas aquelas etiquetas que começam por PV...
Casa Malhoa - Valmor, PV5Outubro
http://opactoportugues.blogspot.pt/search?q=casa+malhoa
e por adiante todos os PV e Menções Honrosas até 1943, menos um de 1943 que me falta, embora já tenha fotos dele !
Caro Ricardo Santos
Grato pela sua amabilidade.
Cumprimentos
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Prédios líndíssimos!
Luxos apenas acessíveis a uma élite muito restrita,
porém, dá gosto admirar...
Hoje tenho «La Grand Place» no meu blogue.
Ótima semana.
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Uma boa semana também para si.
Cumprimentos
Belíssimos estes edifícios Prémio Valmor! Muito lindos. Sempre os apreciei desde garotinha lá por Lisboa, a minha cidade.
Boa tarde,
Uma outra das obras do Arq.º Norte Júnior é o prédio n.º 177 da Rua da Palma. Porém não tenho uma fotografia dos anos 50, 60, 70 ou mesmo 80.
Apesar de milhares de oportunidades, nunca me ocorreu fotografar o prédio enquanto podia. Agora não resulta pois o prédio está desfigurado, pelas lojas decrépitas em baixo e pelos muitos aparelhos de ar cndicionado fachada acima. Se alguém que me lê tiver uma foto antiga deste prédio, ficaria muito grato em a ter.
Os meus cumprimentos e agradecimentos
Guilherme de Almeida
g.almeida50@gmail.com
Alguem sabe a quem pertence atualmente o Palacete na Alameda das Linhas de Torres/ Villa Sousa que se encontra em ruínas no Lumiar?
Boa tarde,
Gostei muito do blog.
Estou a estudar o Antigo Cinema da Portela de Sintra e não encontro os desenhos técnicos que o Arquitecto Norte Júnior fez
Nem os donos nem o arquivo municipal detêm desses documentos. Alguém me consegue ajudar?
E-mail: anaraquelcaetano@gmail.com
Bom dia Ana
Já tentou contactar a Ordem dos Arquitectos?
bem haja pelas interessantíssimas fotos e informações partilhadas acerca deste genial e tão menosprezado arquitecto que tanto enriqueceu o perfil da cidade de Lisboa e arredores.
Contudo, parece haver um lapso quando é dado Sintra como o seu lugar de nascimento. Todas as informações que pude consultar dão Lisboa como local de nascimento (uma fonte é mais precisa referindo mesmo a freguesia de Santa Engrácia), a não ser que haja alguma nova investigação revelando novos dados que me tenha escapado.
Grato pela correcção. Não nasceu em Sintra mas faleceu lá.
Os meus cumprimentos
José Leite
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