Restos de Colecção: Cine-Teatro “Aguia d’Ouro”

9 de dezembro de 2015

Cine-Teatro “Aguia d’Ouro”

O “Theatro Aguia d’Ouro” foi inaugurado em 17 de Junho de 1899, num edifício localizado na Praça da Batalha, na cidade do Porto. Neste mesmo edifício, existia o “Café Aguia d’Ouro” que tinha aberto as suas portas em Janeiro de 1839, funcionando não só como café como hospedaria, tendo por lá passado algumas figuras ilustres portuguesas como Camilo Castelo Branco e Antero de Quental. A partir de 25 de Março de 1904 instalou-se neste edifício o recém fundado “Club Fenianos Portuenses”, donde sairia em 1935.

1905

                                            15 de Junho de 1900                                      7 de Setembro de 1904

 

Em 1908, Sousa Bastos, no clássico "Diccionário do Theatro Português" escreveu sobre o “Theatro Aguia d’Ouro”, que além de teatro também funcionou como circo: «Tem 60 camarotes em duas ordens e duas frisas; 600 lugares de plateia e 350 de galeria”». Também funcionou como teatro de ópera, como o atesta designadamente uma placa alusiva à representação da “Tosca” em 4 de Março de 1911, podendo ser, igualmente, admirada outra placa, esta de homenagem à actriz Ângela Pinto, em 10 de Setembro de 1913.

                         Gravura do interior em 1901                                                         10 de Julho de 1904

 

                 10 de Setembro de 1908                              Enquadramento do “Aguia d’Ouro” na Praça da Batalha

 

Em 1908 esta velha casa, abre-se também ao cinema. A novidade era o "cronomegaphone", considerado «o mais moderno aperfeiçoamento do cinematógrafo falante», não sendo cinema sonoro, já que este só apareceu 20 anos mais tarde. Ainda em Agosto de 1907, chegara a estrear o "Cinematographo Lumiere” -  versão aperfeiçoada do “Cinetoscopio de Edison" - sendo o espectáculo dividido em três partes e visto com um só bilhete, os preços para a altura eram bastante económicos; cadeiras 100 réis e galerias a 50 réis Em 15 de Setembro de 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme "Jazz Singer" com Al Jolson.

                     Novembro de 1917                                                                   Cartão de entrada livre

       

Em 1926, a “Sociedade Nacional de Projecção, Lda.” (da família Neves & Pascaud, que mantinha o monopólio cinematográfico da cidade do Porto) proprietária do “Águia d’Ouro”, encomenda o projecto da nova fachada e remodelação dos seus interiores, e, em 7 de Fevereiro de 1931, apresentando a nova fachada em estilo “Art Déco” - a actual - e sustentando no seu pórtico o símbolo do seu nome, uma águia de ouro.

Projectos em 1928

 

 

Sala em 1929


Novo “Cinema-Teatro Águia d’Ouro”,  em 1935

Aguia d'Ouro.4.1

1934

Junho de 1934

“Aguia d’Ouro” com o primitivo “Cinema Batalha” e depois deste demolido para dar lugar ao novo “Cinema Batalha

 

Entre os anos 1964 e 1965

Em 31 de Dezembro de 1989, já com o café fechado e a ausência dos espectadores às salas de cinema, o “Águia d’Ouro”  viu-se forçado a encerrar as portas, tendo sido comprado pela empresa “Solverde - Sociedade de Investimentos Turísticos da Costa Verde, S.A.” com o objectivo de abrir um Bingo, tal como aconteceu ao “Olympia”, na Rua Passos Manuel. Tendo sido reprovado tal projecto por parte da Câmara. O espaço ficou ao abandono e com o passar do tempo tornou-se uma ruína em elevado estado de degradação. Em Agosto de 2006 a “Solverde” coloca o imóvel à venda por três milhões de euros, que seria comprado, em Janeiro de 2009, pelo grupo textil português “Endutex - Revestimentos Texteis, S.A.” sediado em Santo Tirso.

Bilhete

Programas

      

Pouco antes de fechar, em 2008

Do Cinema-Teatro “Águia DdOuro”, resta a esplendorosa fachada. Mas mais alguma coisa - e sobretudo, a memória urbana, desde logo, na parede, placas recuperadas assinalando espetáculos “memoráveis” para a época… Mas também um arquivo fotográfico que recorda a harmonia da sala à italiana, com as frisas e camarotes antes das primeiras obras e fotografias da fachada, marcante na beleza estilística e decorativa, mas num estado de conservação duvidoso: felizmente, nas obras de restauro e adaptação a hotel, houve o bom senso e bom gosto de recuperar o esplendor e rigor estilístico do edifício, hoje notável no ponto de vista arquitetónico.

Demolição do interior do Cinema-Teatro “Águia d’Ouro”, em 2009

 
Três últimas fotos da autoria de Carlos Romão via “Cidade Deprimente

Actualmente, o edifício alberga, desde 2011, o “Moov Hotel Porto Centro” - anteriormente “B&B Hotel” - com 120 quartos  cujo projecto de remodelação e adaptação a hotel e restauro exterior do edifício foi da responsabilidade dos arquitectos Nelson de Almeida e Rosário Rodrigues, da firma “FAA Arquitectos” , continuando propriedade do grupo textil português “Endutex - Revestimentos Texteis, S.A.”

“Moov Hotel Porto Centro”

fotos in: Arquivo Municipal do Porto, Delcampe.net, Cinemas do Porto, Biblioteca Nacional Digital, Moov Hotel Porto Centro

2 comentários:

João Menéres disse...

Felicitações e simultaneamente agradecimento por ter colocado esta postagem tão pormenorizada.

José Leite disse...

Caro João Menéres

Eu é que agradeço as suas amáveis palavras

Cumprimentos