Restos de Colecção: Central Tejo

2 de maio de 2014

Central Tejo

A “Central Tejo” , inicialmente denominada de “Estação Eléctrica Central Tejo”, foi uma central termoeléctrica, propriedade das “CRGE - Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade”, que abasteceu de electricidade, toda a cidade e região de Lisboa. Está situada em Belém, Lisboa, e o seu período de atividade produtiva está compreendido entre 1909 e 1972, se bem que a partir de 1951 tenha sido utilizada como central de reserva, produzindo apenas para completar a oferta de energia das centrais hídricas.

Recordo que a “CRGE - Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade”  foi constituída em 1891 e resultou da fusão entre a “Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás” (1848) e a “Companhia Gás de Lisboa” (1887), com a finalidade de produzir e distribuir gás e electricidade e obter contratos de exclusividade de fornecimento de energia à cidade de Lisboa.

                                              1942                                                                                       1946

    

A primitiva “Central Tejo”, popularmente conhecida como “Central da Junqueira”, cujos edifícios já não existem, foi construída em 1908, iniciou a laboração em 1909 e funcionou até 1921. Foi projetada pelo engenheiro Lucien Neu e a sua construção ficou a cargo da firma “Vieillard & Touzet” (Fernand Touzet)  a mesma firma que tinha sido responsável pelo projecto da “Garagem Auto-Palace na Rua Alexandre Herculano em Lisboa.

A construção da casa das máquinas foi projectada e supervisionada pela empresa belga "Sofina - Societé Financière e d'Entreprises Industrialles" com sede em Bruxelas.

No apogeu da sua capacidade, a primitiva “Central Tejo” dispunha de quinze pequenas caldeiras Belleville e cinco grupos geradores que forneciam a rede eléctrica da cidade de Lisboa. O edifício apresentava um tipo de arquitectura característica das pequenas centrais eléctricas dos finais do século XIX, as então denominadas “fábricas de electricidade”. A sua planta correspondia a uma nave longitudinal coberta a duas vertentes e três pavilhões contíguos transversalmente do lado ocidental; entre eles, duas esbeltas chaminés dobravam a altura do corpo da fábrica e “vigiavam” o espaço. Nas suas fachadas Norte - Sul podia-se apreciar a inscrição: “1909 - Cªs Reunidas Gás e Electricidade - Estação Eléctrica Central Tejo”.

Esta primitiva “Central Tejo” foi programada para laborar durante um período de seis anos entre 1909 e 1914, até as CRGE conseguirem os meios necessários para a construção de um central de maiores dimensões e capacidade. Contudo, devido a dificuldades de financiamento e à eclosão da primeira Guerra Mundial nesse último ano, levou a que esta fase primitiva da “Central Tejo” se prolongasse e continuasse operativa até 1921.

 

Em 1914, a 10 metros de distância da Central Tejo I, foram iniciadas as obras de novos edifícios que viriam a ser ampliados várias vezes. O projecto incluía diversos corpos da fábrica: sala para seis caldeiras, uma sala de máquinas com capacidade para dois turbo-alternadores alemães AEG de 8MW de potência; e um edifício de comando e subestação de menor dimensão. Pouco tempo depois do início das obras, estalou a Primeira Grande Guerra, provocando atrasos em prazos estabelecidos e problemas na recepção dos turbo-alternadores encomendados à Alemanha, que permaneceram retidos até ao fim do conflito. Só em 1921 o plano estaria concluído.

Mas em 1922, em função do aumento dos consumos, foi de novo indispensável efectuar novos e importantes trabalhos na Central para aumentar a sala das caldeiras de baixa pressão. O programa elaborado pelas CRGE consistia na ampliação de uma nave industrial que alojaria três novas caldeiras de baixa pressão e a aquisição de um novo grupo gerador. Mais uma vez, no fim dos trabalhos em 1928 e pelas mesmas razões, decidiu-se optar por nova ampliação. Assim, no final dos anos trinta do século XX, existiam onze caldeiras em funcionamento e cinco turbo-grupos alternadores. Dez caldeiras “Babcock & Wilcox” (tecnologia britânica) e uma da marca “Humboldt” (origem alemã). A sala de máquinas alojava cinco grupos geradores de várias potências e diversas marcas: “Escher & Wiss”, “AEG”, “Stal-Asea” e “Escher Wiss-Thompson”. Ao longo deste período de 15 anos, também foram construídos os canais e dois sifões nas novas docas do circuito de refrigeração, o qual conduzia a água desde o rio até ao interior da Central.

 

        

 

Com o aumento de potência dos dois novos grupos turbo-alternadores AEG montados em 1934, foi necessária a instalação de novas caldeiras, que funcionassem com vapor de alta pressão. A construção foi feita nos terrenos anteriormente ocupados pela primitiva “Central Tejo”, a qual foi demolida em 1938 para a construção deste novo edifício das caldeiras de alta pressão, o edifício mais imponente do conjunto. O seu interior albergava três grandes caldeiras de alta pressão da marca “Babcock & Wilcox”, as quais começaram a funcionar em 1941.

 

Com a destruição da primitiva “Central Tejo” e instalação do edifício das caldeiras de alta pressão, houve necessidade de espaço para as oficinas e arrecadações. As CRGE compraram então os terrenos contíguos localizados no lado nascente do seu complexo, onde laborava a antiga refinaria de açúcar “Senna Sugar Estates, Ltd.” propriedade da Companhia de Açúcar de Moçambique. Foi também necessário criar uma sala de auxiliares, para tratamento de águas, a qual foi instalada no interior do edifício das caldeiras de baixa pressão, desmantelando as duas primeiras caldeiras.

Entretanto em 1944 é inaugurada a “Fábrica de Gás da Matinha”. substituindo a entretanto demolida junto à Torre de Belém.

Em 1950 o edifício das caldeiras de alta pressão, foi ampliado para incluir mais uma caldeira, que entrou ao serviço no ano seguinte e constituíu a última ampliação da central.

Após o encerramento e nacionalização das companhias eléctricas, decidiu-se dar uma nova vida a esta antiga central termoeléctrica, reabrindo-a com fins culturais. Em 1986 constituiu-se a primeira equipa responsável pelo “Museu da Electricidade”, que em 1990, abriu as suas portas ao público.

Entre 2001 e 2005 o Museu sofreu uma reestruturação profunda, desde todo o património arquitectónico até ao conteúdo museográfico. Finalmente, em 2006 o museu reabriu as suas portas, da responsabilidade da “Fundação EDP”, mas agora com um novo tipo de museologia, muito mais pedagógica e dinâmica.



 

Bibliografia: Foi consultado o site da Fundação EDP, da qual foram transcritos e adaptados alguns parágrafos.

fotos in:  Arquivo Municipal de Lisboa, Academic, Fundação EDP

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