O “Bristol Club”, propriedade de Mário Freitas Ribeiro, foi inaugurado em 11 de Março de 1918, na esquina da Rua Jardim do Regedor com a Rua Eugénio dos Santos, em Lisboa. O projecto de arquitectura foi da responsabilidade do arquitecto Raúl Martins. As principais pinturas artísticas do pintor Gabriel Constante e o mobiliário foi fornecido pela firma “Cunha & Cunha” de Lisboa.
“Bristol Club” em Março de 1918
Na semana da inauguração, no seu suplemento humorístico “Século Cómico”, podia-se ler o seguinte texto:
"Há quem se queixe da decadencia da nossa literatura, mas sem o menor motivo. Agora mesmo se nos depara um trecho de estilo quasi sublime, a proposito da abertura d'uma casa de batota ali para as bandas de Santo Antão.
A proposito da sala do 1º andar:
«A luz faz realçar a beleza do colorido e a homogeneidade de todo, impregnado o tom meridional alegre, vivo, exuberante de colorido e vida.»
E os criados?
«As fardas do grande pessoal do Bristol, em azul e encarnado, azul côr do céu luzitano e encarnado côr do sol no poente com as suas manchas douradas dos botões, fardamentos que fazem sobresair o branco irrepreensível dos peitilhos e das gravatas ...»
O 2º andar é que é o diabo:
«... salão de 150 metros, destinado aos que vão tentar a sorte ou por ela deixar-se atentar. É de ouro e branco, de marmores e grandes espelhos, de plafonds artisticos e cheio de luz, como que dizendo ao visitante «esperança e desilusão» mas é uma bela sala de club».
Vêem? literatura temos nós em barda; o que nos falta é juizo."
O jornal “A Capital” no dia da inauguração escrevia:
«O Bristol não será apenas um grande club pelo luxo estridulo das suas installações, em que se dispenderam muito mais de duzentos contos de reis até hoje; tambem pela sua frequencia selecta, pela cathegoria das pessoas que n'ele se inscrevem, creará uma roda chic, de supremo bom tom, que não terá rival em Lisboa, pelo espirito, pela fortuna e pela intelligencia.»
Excerto da notícia da inauguração no jornal “A Capital”
5 de Julho de 1919
Publicidade na revista “Teatro” em 1925
Em 1925 e 1926, o “Bristol Club”, que tinha aberto oito anos antes, foi inteiramente remodelado com dispendioso investimento do seu proprietário Mário Freitas Ribeiro, na arquitectura, decoração e iluminação interiores. Seria ainda Raul Martins que se ocuparia da ampliação do Bristol, adaptando o seu espaço interior para a instalação do “restaurante-concerto”, pois segundo o proprietário do clube, as instalações que possuía já não comportavam a sua numerosa clientela. Em Janeiro de 1926, as obras prosseguiram, sob a direcção do arquitecto Carlos Ramos (1897-1969) que propunha uma solução radical de alteração da fachada, modernizando-a, que não teve seguimento. Em Abril desse ano, iniciaram-se obras radicais no interior segundo a proposta de Carlos Ramos: demoliram-se paredes, transformou-se a estrutura, com pavimentos de cimento armado, aumentou-se o pé direito dos pisos principais e fez-se nova escadaria revestida de mármore.
O clube passou a ocupar o primeiro e o segundo andar do prédio, este último como sala de bilhar. Foram desenhados anúncios luminosos para a fachada, com lettering de Ramos. Carlos Ramos desenhou a porta de entrada giratória, de madeira e metal, a nova caixa de escada com paredes de mármore, corrimões em tubos metálicos, os cinzeiros de parede, as duas portas que pontuavam a escada e davam acesso a espaços reservados, conjugando a madeira e os metais.
No artigo seguinte da revista “Contemporânea” de 1926 é elucidativo do reconhecimento da qualidade da renovação do “Bristol Club”.
A decoração foi enriquecida com obras dos seguintes artistas: Almada Negreiros (1893-1970), Eduardo Viana (1881-1967), António Soares (1894-1978), Jorge Barradas (1894-1971), Lino António (1898-1974), F. Smith (1881-1961), Ruy Vaz (1891-1955), Guilherme Filipe (1899-1971), juntamente com os escultores Canto da Maia (1890-1981) e Leopoldo de Almeida (1898-1975).
“Nú” de José de Almada Negreiros, para o “Bristol Club” em 1926
Quadros de Lino António de 1925, para o “Bristol Club”
O “Bristol Club” renovado, reabriria a 10 de Dezembro de 1926. O “Bristol” era um clube nocturno, para jazz-band, charleston, prostituição cara, jogo, muito fumo e cocaína, situava-se, como os seus congéneres, “Palace Club” e o “Majestic Club”, numa estreita rua de traseiras, ocupando um espaço que passava totalmente despercebido a quem não soubesse da sua existência.
A par com a “Brasileira do Chiado”, que em 1925 cobriu as suas paredes de pinturas compradas aos artistas modernistas, o “Bristol Club” tornou-se, no dizer de José Augusto França, no museu de arte moderna que a capital não tinha. Parte destes quadros são hoje pertença do “Centro de Arte Moderna” da “Fundação Calouste Gulbenkian” e do “Museu do Chiado”.
1927
«O Bristol Club, um dos mais afamados da capital, emprestando a Lisboa a nota elegante de uma cidade civilizada, com o seu dancing, festejou este ano o Carnaval com a graça e o brilhantismo que era de prever. »
O seu empresário publicitava o “Bristol” renovado nas capas da revista “ABC”, que pagava, convidando para as desenhar, o pintor Jorge Barradas, utilizando também a revista “Contemporânea”, sucessora do “Orpheu”, e dirigida por José Pacheco,
Capas da revista “ABC” , em 1927 alusivas ao “Bristol Club” desenhadas por Jorge Barradas
O “Bristol Club” viria a encerrar em 1928. As instalações deste Club viriam, a ser ocupadas pela "Boite Casanova" e mais tarde pela sede do “Sport Lisboa e Benfica”.
1 de Março de 1935
Para saber mais sobre a história dos Clubs nocturnos de Lisboa consultar o artigo neste blog: Clubs Nocturnos de Lisboa
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital, Malomil, Alamanaque Silva
5 comentários:
Porque motivo o Bristol Club fechou menos de dois anos após ser remodelado?
Caro Fco. Patrício
Li algures que, foi fechado por questões de jogo ilegal, que era praticado, na altura, pela maioria dos Clubs.
Os meus cumprimentos
José Leite
Engraçado, mais uma obra do meu Bisavô Gabriel Constante, que eu desconhecia!
Obrigado.
O 1º Bristol Club foi projectado pelo meu avô, Raul Martins (1892/1934)
Curiosamente o "Magestic Club" foi remodelado pelo meu bisavô David Enes Pereira em 1918. cf Nuno Ludovoce in "Lisboa 1918..."
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