Para melhor se entender a génese da “Água Castello”, vou transcrever um texto da revista “Serões” de Julho de 1908:
«A excellencia das aguas de Moura, tão afamadas não só no paiz como mui especialmente na visinha Hespanha, tem sido um propulsor importantissimo para o desenvolvimento da villa, devido ao grande numero de aquistas que alli convergem em época propria.
É junto ao baluarte do Castello, que são exploradas tres grandes nascentes que abastecem as fontes de Santa Comba e das Tres Bicas, para uso dos habitantes.
A agua fornecida para uso nos banhos, provém de duas outras nascentes, tambem com a sua origem no Castello, a uma altitude de 180 metros, sendo a nascente d'agua mineral, a mais importante, que brota a pequena distancia do convento junto aos muros da villa e da torre de menagem.
A reputação benefica d'estas aguas provém do meiado do seculo passado, em que se começou a reparar no rarissimo numero de doenças digestivas e calculosas das vias urinarias nos habitantes da villa, e , bem assim, nas melhoras produzidas, e mesmo curas, que experimentavam pessoas vindas de outros pontos, atacadas d'aquellas doenças, sendo uma d'essas o Duque de Palmella, que em 1850, a seu rogo, obteve que pela primeira vez fossem estas aguas analysadas.»
Fonte das Três Bicas e Estabelecimento Termal Tomada de água e engarrafamento
Fonte das Três Bicas e Câmara Municipal de Moura Fonte Santa Comba
«Actualmente uma empreza explora as qualidades beneficas d'estas aguas, em um amplo e bem montado estabelecimento publico de banhos, e devido ás suas qualidades therapeuticas, inumeras curas se teem produzido, sendo bastantes d'ellas consideradas maravilhosas.
Alli concorrem grande quantidade de banhistas em busca de lenitivo, alojando-se ou no Hotel da Empreza das Aguas, ou em grande numero de casas que se alugam para esse fim, imprimindo então á villa um aspecto alegre e festivo, espalhando-se pelos arredores, que são de uma beleza notavel,(...).
Moura é servida por um ramal de caminho de ferro pertencente as linhas do Sul e Sueste, que partindo de Beja a trinta e oito kilometros, toca em Serpa, para ter o seu terminus na propria villa, junto á estação da circunvallação.»
Primeiros rótulos
Primeiras iniciativas publicitárias
1900
1905
1910
1911
Esta água mineral natural gaseificada “Água Castello” foi lançada em 1899 pela empresa “Águas de Moura”, pertencente à firma “Assis & Cª.,Lda.”. Foi nesse ano que foi feito o arrendamento a esta firma, ficando obrigada à construção de um balneário e de um hotel. Esse estabelecimento termal entrou em funcionamento em 1901, e em 1903 foi a inaugurado o do “Grande Hotel” de Moura.
“Grande Hotel” de Moura, na Praça Gago Coutinho
1946
A “Água Castello”, foi pioneira no sector das águas minerais gaseificadas, tendo-se destacado pela qualidade e inovação ao ser a primeira, em 1910, a adoptar cápsulas coroa, - vulgo “carica” – e a ser engarrafada industrialmente e dispondo de laboratório privado destinado ao controlo de qualidade. Permaneceu, deste modo, uma marca de referência ao longo dos mais de 100 anos da sua comercialização nacional e internacional, tendo sido premiada em várias exposições nacionais e internacionais e , até à implantação da República em 5 de Outubro de 1910, foi a água consumida na mesa da Casa Real.
Pavilhão de captação da nascente de Pizões Complexo industrial em Pizões
A oficina de engarrafamento pertencia a “Assis & Cª - Empresa de Águas de Moura Lda”, que em 1906 iniciou também a exploração da nascente de água de Pizões, a 3 km da vila de Moura. Em 1937 a unidade foi transferida do interior das muralhas para onde é engarrafada atualmente, em Pizões. Neste mesmo ano, a marca lança a sua primeira publicidade televisiva, protagonizada pelo actor António Silva.
Fotogramas a partir de um filme publicitário de 1937 protagonizado por António Silva
Diálogo inicial entre o cliente (António Silva) e o empregado da esplanada:
Cliente: Não! Não! Eu pedi Água Castello!
Empregado: Mas é a mesma coisa …
Cliente: É a mesma coisa qual carapuça!!! Eu pedi Água Castello e é Água Castello que eu quero!! Que intrujice!?
Cliente falando para a câmara:
Vossas excelências desculpem! Estas discussões são sempre desagradáveis.
Se há coisa que me irrite, é quererem-me impingir gato por lebre!
Então em tratando-se de Água Castello, eu perco a cabeça por completo!!
Em 1949, instala a primeira linha automática existente em Portugal para engarrafamento de água mineral na sua fábrica em Pizões.
A “Assis & Cª - Empresa de Águas de Moura Lda”, chegou a encomendar uma peça musical dedicada a Sallúquia, da autoria de Alfredo Keil, intitulada “Sallúquia - A Bella Moura”.
Capa da partitura
Adquirida pelo grupo “Nestlé”, em 1981, a “Sociedade das Águas de Pisões Moura” voltaram a ser vendidas, em 2007, a um grupo de investidores criado pelas sociedades “Libarache SL” e “Moka Iinvestements SARL”. Por consequência, é criada a empresa “Mineraqua Portugal”.
Em 12 de Julho de 2011, foi inaugurado um núcleo museológico, criado pela empresa “Água Castello”, nas suas instalações de Pizões, que testemunha mais de um século de ligação da empresa ao concelho de Moura.
fotos in: Hemeroteca Digital, Avenida da Salúquia, Garfadas On Line, Delcampe.net, Água Castello
7 comentários:
São interessantíssimos estes RESTOS DE COLECÇÃO !
Há quase vinte anos, fiquei, em pleno Inverno, no Hotel.
Quando da sua inauguração, deve ter feito furor no Alentejo !
Com elevados pés direito e sem aquecimento central, senti algum desconforto.
Mas, mantém o charme dos bons velhos tempos!
Nos anos 50/60, do seculo passado, agua engarrafada, que me lembre, eram só "Castelo" e "Vidago/Pedras". Hoje, no supermercado, encontramos "montes" de marcas e tamanhos.
Caro(a) Anónimo(a)
Está a esquecer da "Água de Luso" comercializada, engarrafada, desde 1894, da "Água do Vimeiro", cuja actividade comercial destas águas teve início em 1945, da "Água de Carvalhelhos", da Água de Castelo de Vide", etc ...
Os meus cumprimentos
José Leite
Pois é. Estive neste hotel há dois anos atrás e gostei (Hotel de Moura).
Fui ver a obra do Alqueva.
Mas em Moura, não associei a localidade à Agua Castello.
Foi preciso este seu apontamento para me mostrar aquilo que sempre "soube".
Bem haja.
Abraço,
Pedro Ferreira
Caro Pedro Ferreira
Muito grato pelo seu comentário
Abraço
José Leite
Cheguei aos setenta anos sem saber que a Água Castelo era alentejana!
Graças ao José Leite posso dizer que soube tarde mas ainda a tempo !
Bem haja !
A Água Castello foi também a primeira bebida comercial portuguesa a usar a chamada tampa de coroa, ou seja, a carica.
Curiosidade: Tenho em casa uma garrafa de Água Castello, possivelmente dos anos 50 ou 60, ainda por abrir e tal qual como se tivesse acabado de saír da fábrica!
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