Restos de Colecção: Hotel Francfort

6 de janeiro de 2019

Hotel Francfort

O “Hotel Francfort”, propriedade de António José da Silva e de sua esposa Joaquina Pereira da Silva, sócios na firma “A. J .da Silva & Cª.”. foi inaugurado na Rua Rua Nova do Almada, em Lisboa, em 1867.

Em 11 de Julho de 1875, o “Hotel Francfort” conforme o anúncio seguinte muda para o Palácio do Conde de Casal Ribeiro, na travessa de Santa Justa, ocupando neste início apenas os andares do edifício, acima das lojas.

“Hotel Francfort” no edifício à direita na foto

11 de Julho de 1875

E em Dezembro de 1896 …

1897

“Hotel Francfort” no edifício na primeira esquina à direita na foto de finais dos anos 90 do século XIX

Poucos anos depois António José da Silva, abre oFrancfort Hotel no gaveto da Praça D. Pedro IV (Rossio) com a Rua da Betesga, em Lisboa, e igualmente propriedade da firma “A. J .da Silva & Cª.”. A história ilustrada desta hotel pode ser consultada neste blog no seguinte link: “Francfort Hotel”.

“Francfort Hotel” com publicidade aos outros hotéis do Grupo “Hotéis Aexandre d’Almeida” novo proprietário desde 1917

1898

O “Hotel Francfort”,  veio ocupar um edifício (Palácio do Conde de Casal Ribeiro), onde tinha estado instalado no piso térreo, desde 1860, o Club Portuguez”, já alvo de um artigo específico neste blog. Ainda lá instalado nas lojas deste prédio do «avô do jonatíssimo Antonio da Cunha Sotto-Mayor» na esquina com a Rua dos Sapateiros, estava o famoso Café “Marrare das sete portas”, ou também apelidado de “Marrare do Arco do Bandeira”, aberto pelo napolitano António Marrare em 1804, e que já possuía outros três: “Marrare” no Cais do Sodré; Marrare do S. Carlos; e no Chiado o famoso “Marrare” do Polimento. Neste prédio, ainda propriedade de José António Gomes Ribeiro. Por morte deste o Café passou para a posse de Manoel Antonio Peres, o Manoel Hespanhol. A sua clientela era formada por actores, políticos e amadores tauromáquicos.

«Jogava-se bilhar entre artistas, avultavam as apostas, e tomavam o seu café, antes do teatro, o Epifâneo e o Tasso. À noite ceiava-se a valer, e o Domingos, o gerente da casa, abria crédito aos janotas que lho pediam e que nunca mais pagavam.»

Café “Marrare das sete portas”

Em 1906, já os dois hotéis -  “Hotel Francfort” e “Francfort Hotel” -  tinham cada um o seu proprietário (ambos irmãos), ficando o “Francfort Hotel” do Rossio na posse de Arthur da Silva, e o “Hotel Francfort” da Rua de Santa Justa na posse de João Narciso da Silva.

Quanto a estes hotéis, e não só … o livro "A Extremadura Portugueza" de Alberto Pimentel, publicado em 1908 relatava:
«Os hoteis da cidade central ou são frequentados por provincianos, como o Francfort e o Francfort Hotel, ou por alguns dos poucos estrangeiros de distincção que poisam em lisboa, como o Grande Hotel Internacional e o de Inglaterra.
As hospedarias, antigas estalagens, n'uma graduação inferior aos hoteis, abundam como tortulhos n'um lameiro ... de quartos e camas.
Ultimamente, tem-se adoptado a pension, que nem é o hotel ruidoso nem hospedaria classica, sendo a mais conhecida de provincianos abastados e commodistas a que está installada no predio de esquina para a calçada e rua da Gloria.»

1909

Aquando da Revolução de 5 de Outubro de 1910, o repórter espanhol Emilio Glerts, do jornal de Sevilha “El Liberal” escreveu, ao concluir um artigo datado de 10 de Outubro de 1910, o seguinte aparte acerca da praga de ratos no “Hotel Francfort” :

«Y para terminar esta carta me voy á permitir molestar á los lectores El Liberal con unas breves líneas, ajenas por completo á todo interés, pero que, para mim lo tiene en alto grado, y pido perdón por hacerles perder unos segundos, si su atencion me dedican, con este mi pequeño desahogo. Voy á describir en una cuartilla el cuarto de las ratas, y justo as el dedicársela, pues desde el cuarto do las ratas escribo.
Es el Hotel Francfort, donde me alojo - conste que no voy á hacerle el reclamo, - un establecimiento da moderno confort, bien situado, da precio relativamente económico para su esmerado servicio, qua reúne, en suma, todas las condicionas apetecibles; pero por uno de eses eternos contrastes de la vida, ésta se hace en él casi imposible. Pesa sobre el hotel una plaga de ratas tal, que día ha habido de cobrarse en varias batidas 156 de estos simpáticos roedores. Una friolera! El cuarto qua me está destinado es por el que tienen la salida de sus inmundas covachuelas, y a pesar de que el perro de un mi amigo y paisano está haciendo prodigios, no se consigue desterrarlas; pero ya el dueño del hotel, desesperado, ofrece pagar los fox terrier á na sé cuantos millones de reis, y es posible que cuándo surja una nueva revolución en Portugal (que tarde mucho), no haya en todo Lisboa más ratas qua los da La Gran Via, represantado en el antiguo teatro tío Dona Marí, hoy llamado teatro de la República.»

E nem a propósito um poema «hoteleiro» publicado em 15 de Março de 1908 …

Frente e verso de postal publicitário do início do século XX

 

Em 1914, o proprietário do "Hotel Francfort", João Narciso da Silva, decide ampliar para 150 quartos e renovar o seu Hotel. Para isso enceta negociações com o proprietário do Café "Marrarre das Sete Portas". «Depois de varias conferencias conseguiu o Exmo. Sr. Silva chegar a um acôrdo com o proprietario do café, adquirindo, por uma verba importante a posse daquêle antiquissimo estabelecimento.». Estas instalações seriam transformadas no novo salão-restaurante e cozinha do Hotel.

Quanto às características do luxuoso Café “Marrare das Sete Portas”, elas são descritas no artigo publicado na revista “A Arquitectura Portugueza” de Dezembro de 1914, e que disponibilizo de seguida, assim como todo o processo de renovação do “Hotel Francfort”.

A sua ampliação e renovação ficou a cargo do arquitecto Frederico de Carvalho, e a execução dos trabalhos de construção civil a cargo de seu pai, o construtor civil Luiz Caetano Pereira de Carvalho. As pinturas ficaram a cargo  do mestre J. Gonçalves Junior e os estuques entregues a Constantino Barge.

 

 

“Hotel Francfort” após a sua renovação de 1914 à direita na foto, e anúncio de 1933

 

 

1914

Depois de obras de renovação, o proprietário João Narciso da Silva, inaugura o «novo» “Hotel Francfort”, classificado de  2ª classe, em 19 de Janeiro de 1915.

«Os jornaes diarios já se referiram ao acontecimento e teceram grandes ecomios ao sr. João Narciso da Silva, proprietario do hotel, pelo seu arrojo e iniciativa, que honra e dá brilho á cidade.» in “Illustração Portugueza”

Salão de jantar do “Hotel Francfort”  em 1915 «que é o mais vasto no genero»

Com o falecimento de João Narciso da Silva, a propriedade passaria para de “Viúva de João Narciso da Silva”.

 

Etiquetas de bagagem

 

                                             1957                                                                                    Calendário

  

“Hotel Francfort” em finais dos anos 70 do século XX

 

De referir que na cidade do Porto, no final da Avenida dos Aliados, na esquina das ruas de Elias Garcia (de D. Pedro, no tempo da monarquia) e do Laranjal, existiu um hotel com o mesmo nome, o “Hotel de Francfort”. Com efeito, por volta de 1851, Luiz Domingos da Silva Araujo, capitalista, comprou o terreno à Câmara Municipal do Porto e nele mandou construir um edifício onde, pouco depois, se instalou o “Hotel de Francfort”, que, nos finais do século XIX, começos do se­guinte, era o mais importante hotel do Por­to. Para conseguir esta categoria, muito con­tribuiu a sua privilegiada situação: ficava muito próximo da estação cen­tral do caminho de ferro do Porto, a “Estação de S. Bento” onde o primeiro comboio chegou a 7 de Novembro de 1896. Terá encerrado no final da segunda década do século XX.

“Hotel de Francfort” na cidade do Porto

fotos in: Hemeroteca Municipal de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Municipal de Lisboa, Cadernos da Libânia, Ordem dos Arquitectos

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