Restos de Colecção: 2024

29 de dezembro de 2024

Farmácia Almeida, ex -"Botica do Padre Ignacio"

A "Farmácia Almeida", que esteve localizada na Rua da Madalena, 134-136, em Lisboa, teve origem na "Botica do Padre Ignacio" que iniciou a sua actividade no Largo dos Caldas, nº 90 - muito perto dos nos 134-136 da Rua da Magdalena - no início do século XIX.

"Pharmacia Almeida" na Rua da Magdalena, 134 e 136

A "Botica do Padre Ignacio" foi criada pelo Padre Inácio da Conceição Martins, um boticário e clérigo português do século XIX, conhecido principalmente por sua atuação na área da farmácia. Começou a sua actividade no Largo dos Caldas, nº 90, como já referido, e cerca de 1860, já estava instalado na Calçada dos Caldas (mais tarde Rua da Magdalena) 134-136.

Este padre destacou-se pela criação de remédios à base de plantas medicinais e outras substâncias naturais. Ele combinava seu conhecimento religioso com práticas farmacêuticas, e criou uma série de fórmulas caseiras que ganharam popularidade pela eficácia e pelos benefícios que ofereciam à saúde. A mais famosa dessas fórmulas foi a dos "Caldos Peitorais do Padre Ignacio", um remédio utilizado para tratar problemas respiratórios, especialmente a tosse e a bronquite.


26 de Abril de 1827



Uma das tabuletas lembrava a vertente de perfumaria (se não a principal)

A botica, ou pharmacia, que ele fundou tornou-se um local de referência em Lisboa, atraindo uma grande clientela que buscava seus tratamentos naturais. A reputação de Padre Ignacio como boticário e seus remédios espalhou-se por toda a cidade e além, tornando-se um marco na medicina popular portuguesa da época. Além de seu trabalho na farmácia, o Padre Ignacio da Conceição Martins era um sacerdote católico que combinava sua vocação religiosa com o interesse por práticas de cura natural. Embora não existam muitos detalhes biográficos específicos disponíveis sobre ele, sua contribuição para a medicina natural em Portugal e a popularidade de seus remédios garantiram seu lugar na história da farmácia tradicional portuguesa.

Voltando aos "Caldos Peitorais do Padre Ignacio" que eram amplamente utilizados para tratar problemas respiratórios, como tosse e bronquite. Esta "farinha peitoral" era uma mistura de substâncias conhecidas por suas propriedades terapêuticas, incluindo ingredientes como alteia, alcaçuz e funcho. Essa fórmula se tornou muito popular devido à sua eficácia e ao boca-a-boca entre os clientes, que associavam os produtos da botica à sabedoria e à experiência do padre em tratar doenças com remédios naturais. Além da farinha peitoral, a botica do Padre Ignacio oferecia uma variedade de outros remédios, muitos dos quais eram preparados seguindo receitas tradicionais e conhecimentos da medicina natural. A botica era frequentada por pessoas de diversas classes sociais, atraídas pela reputação do padre e pela qualidade dos produtos que ele oferecia.


29 de Abril de 1865


22 de Março de 1878

Por morte do Padre Ignacio, sucedeu-lhe na botica, em 1855 Domingos Caetano de Figueiredo, a que se lhe seguiu, em 1880, Amaro Joaquim Figueiredo. A este se seguiu Antonio Simões Terceiro em 1883, e em 1885 já era Francisco Manuel Pereira d'Almeida, proprietário da, já, "Pharmacia Almeida". Por morte deste último, sucedeu-lhe, em 1907, seu filho Raul Pereira d'Almeida em 1907, também farmacêutico e que a manteve na família até 1926.


1885

1888

Do livro "Praça de Lisboa", organizado por Carlos Bastos em 1945, retirei o seguinte texto (com alguns erros cronológicos no mesmo ...) :

«Perderam-se, infelizmente, os elementos que documentavam a fundação desta antiquíssima casa, mas diz-nos a tradição oral, de autorizada idoneidade, que a sua actividade data já de alguns séculos, possívelmente desde 1669, sendo, portanto, a mais remota farmácia do país. 
A exemplo de outros estabelecimentos similares é natural que fôsse fundada por qualquer ordem eclesiástica, explorando directamente ou sob a responsabilidade de um membro da congregação. Como presuntivo fundador ou um dos seus primeiros proprietários, chegou até nós o nome de certo Padre Inácio, que lhe deu fama e a tornou conhecida e popular em tôda a Lisboa, pela designação de «Botica do Padre Inácio», perdurando título durante longos anos graças a haver aquêle eclesiástico inventado uma farinha peitoral de extraordinário resultado medicinal, ainda hoje vendida com pleno êxito não só em Lisboa como nas mais distantes terras da província.


24 de Dezembro de 1891


17 de Dezembro de 1898


24 de Dezembro de 1909

Em época mais próxima, a um parente ainda do Padre Inácio, foi a casa tomada de trespasse por Francisco Manuel Pereira d'Almeida que lhe deu o nome de Farmácia Almeida e a administrou até 1926, ano em que passou à posse da firma Nunes & Infante, constituída entre Manuel Nunes e Anselmo dos Santos Infante. Cêrca de um ano após, o sócio Infante cedeu a sua cota ao sócio Nunes e, de comum acôrdo, desligou-se da sociedade, ficando ela, no entanto, sempre com a mesma razão social. Manuel Nunes, actual e único proprietário da firma, é um profissional competente e muito estimado, tendo uma longa experiência do métier, pois nêle trabalha desde os doze anos de idade.


Manuel Nunes

Oriundo de Dardovaz, concelho de Tondela e distrito de Viseu, foi da sua terra natal para S. João do Campo empregar-se como marçano num estabelecimento da especialidade, aí permanecendo três anos aproximadamente. Passou depois a praticante de uma outra farmácia, em Coimbra, tendo então ocasião de revelar os excelentes predicados de que era dotado. Tal aproveitamento consentiu-lhe transferir-se para Lisboa em condições vantajosas, ingressando então na casa de que é agora proprietário.
Sob a sua orientação a Farmácia Almeida desenvolveu-se com progressivo incremento, continuando brilhantemente as honrosas tradições multiseculares que a elevaram no conceito e preferência de vasta clientela disseminada em todo o continente. Para isso muito contribuíu a lúcida propaganda dos seus artigos e reputados preparados e a criação de novos e não menos úteis produtos.
A par da preciosa «Farinha Peitoral do Padre Inácio » cuja fórmula do inventor subsiste, no arquivo da casa como bem de inestimável valor que debalde os falsificadores tentam imitar, a Farmácia Almeida lançou o acreditado «Pó de Varizes a que, através de imensos casos dificeis, tem demonstrado excepcional efeito.
As perfumarias preparadas nesta farmácia ganharam igualmente uma posição privilegiada no nosso mercado. A «Tintura Almeida» para tingir cabelo, barba ou bigode, é superior a quantas se tem inventado até hoje.
O «Pó de Arroz Glicerina » bem como o «Creme de Arroz Glicerina», são também dois excelentes produtos para a toillete das senhoras, na higiene e beleza do rosto.»

           

                               1 de Outubro de 1910                                                 25 de Dezembro de 1910

Não consegui saber mais nada, apenas que (visualmente) as instalações estão encerradas, já sem nenhum "rasto" da passagem da "Farmácia Almeida" por ali ...

Via "Google Maps" em Maio de 2023

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de LisboaBiblioteca Nacional Digital

18 de dezembro de 2024

"Central Hotel" em Matosinhos

O "Central Hotel", teve a sua origem no "Hotel de Matosinhos" que tinha começado a funcionar em 1904, na Rua Brito Capelo, 19 na, ainda, vila de Matosinhos, no distrito do Porto, por iniciativa de José Alves de Brito e Francisco Xavier Gouveia, que eram proprietários do "Cafe Central" que se situava no prédio contíguo. O primitivo "Hotel de Mathosinhos" já em 1876 funcionava, sendo propriedade de Jose Henrique Gonçalves. A partir de 1888 já era propriedade do espanhol Francisco Ariz, que viria a ser proprietario do "Hotel Leixões" e "Restaurante Ariz" em Leça da Palmeira, Leixões..



Primitivo "Central Hotel" e "Café Central" à esquerda na foto

«Na mesma praça arborisada em que está a estatua de Passos Manoel acha-se o Hotel de Mathosinhos, do snr. José Henrique Gonçalves, onde os quartos se alugam por 1:000 reis por dia, serviço todo incluido.
No hotel ha restaurante com servico por lista.» in: "As Parias de Portugal - Guia do Banhista e do Viajante",  
de Ramalho Ortigão (1876).


1888


8 de Agosto de 1900


27 de Março de 1909


O edifíco do "Central Hotel", apresentava uma arquitectura "Belle Époque", com influências e "Art Noveau". Ocupava dois corpos exteriormente iguais, unidos por uma pequena comunicação onde um pequeno quarteto musical, e não só, animava as noites de Verão. Viria a mudar de proprietário para a firma "Mello, Braga & Barbosa" a que se lhe seguiu Thomaz Alves, por volta de 1916 e que viria a proceder a profunda reforma exterior e interior nos dois edifícios contíguos, por volta de 1921, altura em que é apresentado o projecto do arquitecto  J. Pinto d'Oliveira, que reproduzo de seguida. Nesta altura no edifício do lado direito dos 2 geminados funcionava o "Café Central" e no outro, o primitivo Hotel.


Versão inicial



16 de Novembro de 1916


Rua Brito Capelo com a Rua Conde São Salvador e o "Central Hotel"

Em 1939, segundo o guia "Hoteis e Pensões de Portugal" referindo-se ao "Central Hotel"  indicava:

Classe:  3ª
Quartos:  42
Diárias:   25$00 a 40$00
Quarto:   10$00
Almoço:  12$00
Jantar:   15$00


Salão de jantar do "Central Hotel"

Foi neste hotel que, a 14 de Janeiro de 1927, o autor do atentado contra o Presidente da República Sidónio Pais (1872-1918) a 14 de Dezembro de 1918 na "Estação do Rossio" em Lisboa, José Júlio da Costa foi cercado e detido depois de ter andado foragido cerca de 6 anos. Foi preso de novo e acabou por falecer em 1946, no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda com o diagnóstico de esquizofrenia.

Entre o final do século XIX e a terceira década do século XX, funcionou como Casino com jogo e sem jogo ... fazendo companhia aos casinos da Foz do Douro, no Porto.


Fichas de jogo de 200 réis de 1898

Fichas de jogo de 1000 réis

29 de Março de 1914

O "Central Hotel", depois de vendido em 1945 ao industrial Edmundo Alves Ferreira, por 400.000$00 (quatrocentos contos), viria a ser demolido tendo sido construído um novo edifício destinado ao mesmo ramo de atividade. O novo "Hotel Porto Mar", foi inaugurado a 18 de Maio de 1945, pelo, então Ministro da Marinha, Américo Thomaz (1894-1987) e cujo projeto de construção esteve a cargo do gabinete de arquitetos "ARS- Arquitetos Reunidos" do qual eram proprietários os arquitetos Cunha Leão, Morais Soares e Fortunato Cabral. Viriam a ser responsáveis, também, pelo projecto do "Mercado de Matosinhos", em 1939 mas só inaugurado em 28 de Julho de 1952. As pinturas murais interiores do Hotel foram da autoria do Mestre Augusto Gomes.


"Hotel Porto Mar"



Edmundo Alves Ferreira (2º a contar da esquerda) e Américo Thomaz de fato claro


Almoço da inauguração do "Hotel Porto Novo"

Inicialmente, o "Café Central" (então, de Alberto Midões) pertencia ao "Central Hotel" que, quando o hotel foi comprado por Edmundo Alves Ferreira, o café foi transferido provisoriamente para o edifício ao lado. Quando o "Hotel Porto Mar" ficou pronto, o café voltou a funcionar novamente no edifício do novo hotel, passando a ser explorado pela sociedade "Siza, Ferreira & Amorim".



Interior do "Café Porto Mar"

Entretanto o "Posto de Turismo" de Matosinhos viria a abrir no edifício do "Mercado de Matosinhos",  inaugurado em 28 de Julho de 1952.


"Posto de Turismo" de Matosinhos em 1952

O "Hotel Porto Mar" ainda hoje funciona com a categoria de três estrelas, com nada mais que seis tipologias de quartos: Twin, Duplo, Triplo, Suite, Familiar e Individual. E com "Metro" de superfície à porta ...

As próximas fotos que contenham fotos antigas (aquando da inauguração deste "Hotel Porto Mar") emolduradas, amplie ao máximo para poder observar o melhor possível das mesmas.