Restos de Colecção: fevereiro 2021

24 de fevereiro de 2021

Teatro Bernardim Ribeiro

O "Teatro Bernardim Ribeiro", foi inaugurado em 22 de Julho de 1922, na Av. Miguel Bombarda na vila de Estremoz. A sua construção foi iniciada em 1916, depois da tomada de consciência por parte de um grupo de notáveis estremocenses da necessidade de construir uma sala de espectáculos com as devidas condições. A sua inauguração contou com a representação da peça "Marinela" (adaptação dos Irmãos Quintero da peça de Pérez Galdós) pela "Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro".




"Teatro Bernardim Ribeiro" na Avenida Miguel Bombarda, à direita na foto

Uns anos antes e em 1901 ...


1901

 


"Rocio do Marquez de Pombal"  de Estremoz em 1891 


Outro espectáculo desta vez de animatógrafo o mesmo local



1927

Seguindo a tipologia de teatros de inspiração italiana, o projecto foi da autoria de Ernesto da Maia e as pinturas decorativas foram da responsabilidade do pintor Benvindo Ceia. Em frente aos camarotes, alternam pinturas a óleo, onde figuram grandes nomes da dramaturgia nacional de finais do séc. XIX e inícios do séc. XX. Em 1991 sofreu obras profundas de remodelação e restauro e em 2003, após um incêndio situado na área do palco, teve a recuperação integral daquela zona.

Com a sua construção a ter início em 1 de Maio de 1916 (as dificuldades financeiras que as diversas subscrições públicas não conseguiram colmatar apenas viriam a permitir a sua conclusão no ano de 1922),  teve como principais responsáveis:

  • Projecto: Ernesto da Maia
  • Carpinteiro e Estuques decorativos: António Martins Esteves
  • Pintores artísticos: Benvindo Ceia (pinturas do tecto); Martins Esteves e Manuel Silva Rato (pinturas dos camarotes e outras)
Em 1991, o "Teatro Bernardim Ribeiro" seria alvo duma grande intervenção, incluindo a demolição parcial do Salão de Festas/Jardim de Inverno e substituição por um corpo de planta rectangular com funções polivalentes; criação de instalações sanitárias; remodelação da rede de electricidade; recuperação de coberturas, limpeza e restauro de pinturas, tratamento da estrutura de madeira do proscénio, recuperação de cadeiras; remodelação da área de ligação entre a sala de espectáculos e o novo espaço polivalente, incluindo bar, lavabos, segundo foyer, tratamento de rebocos exteriores e pintura geral.

Os autores do projecto desta intervenção foram os arquitectos Duarte Nuno Simões e Nuno Simões, cabendo a execução à empresa "Projectoplano".






«O "Teatro Bernardim Ribeiro", propriedade do Município de Estremoz, representa um instrumento de grande importância na prossecução das políticas de desenvolvimento cultural definidas pelo executivo da autarquia, constituindo um espaço privilegiado de promoção e difusão de actividades culturais, artísticas e recreativas.


                                                     1947                                                                           1948



                                                     1956                                                                            1958



                                                      
1961                                                                           1963      

Este Teatro está vocacionado como espaço nobre de serviço público, no qual se visa promover e divulgar actividades no âmbito da cultura e das artes. Nomeadamente, pretende-se incentivar, através da dinamização do Teatro, o cinema experimental e/ou de qualidade, o teatro, de origem nacional ou estrangeira, as manifestações teatrais ou para-teatrais de raiz popular e tradicional, a música erudita e/ou tradicional, a dança e o bailado, a ópera, leituras ou recitais poéticos, conferências, debates e colóquios sobre temas científicos ou artísticos e exposições.»

Nos finais dos anos 80 do século XX

1974

Classificado com Imóvel de Interesse Municipal desde 1997, o "Teatro Bernardim Ribeiro" é uma dos ex-libris da cidade de Estremoz é a principal sala de espectáculos do concelho.

Nota: texto baseado no publicado no site "Estremoz tem mais encanto" da Câmara Municipal de Estremoz.

fotos in: Delcampe.net      Cartazes: retirados do catálogo da exposição organizada pela Câmara Municipal de Estremoz de 15 a 29 de Julho de 2014

21 de fevereiro de 2021

"Antiga Ervanária" no Largo da Anunciada

A "Antiga Ervanária" localizada no Largo da Anunciada, em Lisboa, e actualmente propriedade da firma "Alfredo Augusto Tavares, Sucessores, Lda.", foi fundada, em 1793 no antigo Passeio Público (actual Avenida da Liberdade) com a designação de "Botica do Passeio Publico".



Deve-se a instalação da casa a um ascendente de Augusto Tavares que veio a falecer em 1880, legando a sua propriedade à viúva D. Joaquina dos Santos Pereira, a qual exerceu a administração até 1924, ano em que morreu com a «veneranda idade» de setenta e cinco anos. Já nesta época colaborava com esta senhora, sendo um cooperador valioso, seu filho Alfredo Augusto Tavares, que lhe sucedeu.

Em 1924, um dos seus filhos, Alfredo Augusto Tavares, alterou o nome comercial de "Botica do Passeio Publico" para "Antiga Ervanária", nome por que ainda é conhecida nacional e internacionalmente.

Excertos dum artigo do jornal "A Capital" 

«Foi no extinto Passeio Público, onde hoje se ergue a Avenida da Liberdade, qua a Antiga Ervanária, teve a sua primeira sede, sendo fundada no ano de 1793. Deve-se a instalação da casa a um ascendente de Augusto Tavares que veio a falecer em 1880, legando a sua propriedade a sua viuva D. Joaquina dos Santos Pereira, a qual exerceu a administração até 1924, ano em que morreu com a veneranda idade de setenta e cinco anos.

Já nessa época colaborava com esta senhora, sendo um cooperador valioso, seu filho Alfredo Augusto Tavares, que lhe sucedeu. Se até aí a Antiga Ervanária havia granjeado a melhor reputação, com a gerência de Alfredo Augusto Tavares tomou um incremento notável, tornando-se conhecida em todo o país como a melhor casa especializada no comércio de plantas medicinais.

Morto Alfredo Augusto Tavares em 1938, passou o estabelecimento à posse da sua filha D. Laura Tavares Rodrigues e de seu genro Abel Artur Rodrigues, dedicadamente auxiliado por sua esposa, há anos que vem demonstrando as suas excepcionais qualidade de iniciativa ao serviço da mais sólida autoridade técnica. Dispondo  de um grande armazém na Avenida 24 de Julho, a Antiga Ervanária daí fornece vários países estrangeiros, especialmente os Estados Unidos da América, Inglaterra, Brasil, etc. »


1942




«Graças ao seu espírito empreendedor, a Antiga Ervanária é hoje a primeira casa portuguesa do ramo, possuindo não só larga clientela no mercado nacional como ainda nos mais distantes mercados externos. Dispondo de um grande armazém na 24 de Julho, a Antiga Ervanária daí fornece vários países estrangeiros.» in: 1945

Carta anterior e este anúncio publicitário foram gentilmente cedidos por Carlos Caria

Em 1990, esta sociedade passou a ser gerida por Américo Paixão e Maria Celeste Santos, principais fornecedores de plantas medicinais da "Antiga Ervanária" há várias décadas, «os quais têm levado a cabo inúmeras iniciativas, garantindo produtos seguros e sãos e a resposta às necessidades do consumidor: instalações modernizadas; novos moldes no âmbito do comércio a grosso e a retalho, conhecimentos aprofundados sobre a colheita e seleção das espécies botânicas; importação, exportação, armazenamento e distribuição por ervanárias, centros dietéticos, farmácias e supermercados; implementação do sistema HACCP, baseado no Codex Alimentarius e nos Códigos de Boas Práticas de Fabrico e Higiene.


Em 1994


Esta casa com 223 anos de existência (!), «além do emprego das plantas medicinais sob a forma de infusões, decocções e cozimentos, simples e em fórmulas, estas também são comercializadas sob formas farmacêuticas mais elaboradas: comprimidos, cápsulas, soluções orais, extratos, cremes, entre outros, fabricados em laboratórios creditados. »


"Antiga Ervanária" actualmente

Já em 1945 ... «Tudo nesta remota emprêsa recorda o passado, sem que o presente desmereça do esfôrço e norma empreendedora de sempre.»

fotos in: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste GulbenkianHemeroteca Digital de Lisboa 

17 de fevereiro de 2021

Papelaria Araújo & Sobrinho

A papelaria "Araújo & Sobrinho", é considerada a papelaria mais antiga do Mundo, ainda em actividade, e foi fundada, em 1829, como "Armazém de Papel do Murinho de S. Domingos". por António Ribeiro de Faria - capitalista e sócio-fundador da "Associação Comercial do Porto" - no recém-remodelado Largo de S. Domingos, 50 mesmo no início da Rua das Flores, na cidade do Porto.



Planta do "Murinho de São Domingos": Letra A - Quintal e casa da loja do papel 


Anúncio ao "Armazem de papel" na gazeta "Correio do Porto"

Para melhor se entender os primeiros cem anos desta Papelaria, transcrevo um texto publicado no "Livro de Ouro do Comércio e Indústria do Porto", organizado por Carlos Bastos ed. 1943.

«O negócio de papelaria especializada foi iniciado no Pôrto por António Ribeiro de Faria que, em 1829, fundou o primeiro armazém dêste género na casa da esquina do largo de S. Domingos, com a designação de "Armazém de Papel do Murinho de S. Domingos".
Iniciou-se o estabelecimento sob a gerência do primo do fundador, Manuel Francisco de Aráujo, jovem de 18 anos de raras qualidades de trabalho a quem Ribeiro de Faria muito prezava, pois ao fim de um ano lhe trespassou a casa, deixando-a á sua inteira responsabilidade

                                                  
Manuel Francisco de Araújo em 1856

(...) Em 1866, como seu sobrinho Domingos Gonçalves de Araújo houvesse demonstrado excelentes aptidões e zelosa cooperação nos serviços da acas, Manuel Francisco de Araújo quis recompensar-lhe os méritos e formou com êle sociedade sob a razão social de "Manuel Francisco de Araújo e Sobrinho".
Como o fundador adoecesse gravemente e não lhe fôsse permitido dar ao negócio toda a tenção que requeria, em 16 de Setembro de do ano acima referido, abandonou a sociedade, fazendo-se substituir por seu filho Manuel Francisco de Araújo Júnior que, com Domingos Gonçalves Araújo passou a adoptar a designação de "Araújo & Sobrinho".»

Manuel Francisco de Araújo Júnior, era homem das artes e membro de uma renovada burguesia, culta e exigente, atrai ao seu estabelecimento os maiores artistas da cidade em busca dos materiais de que necessitavam. Em sua casa, por cima da papelaria, realizavam-se regularmente saraus musicais e outras tertúlias. Manteve e fez prosperar a "Araújo & Sobrinho" durante o regicídio (1908) e consequente implementação da Republica (1910), a desastrosa participação portuguesa na 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a grande instabilidade política da I República e os primeiros anos do Estado Novo. Morreu na papelaria, na sua secretária, aos 68 anos.


Interior da Papelaria "Araújo & Sobrinho"


Reforma do estabelecimento em 1904

«Em 1902, pela retirada deste último, que faleceu em 1918, ficou a propriedade pertencendo exclusivamente a Araújo Júnior, girando sob a firma "Araújo & Sobrinho, Sucessor".
Ultimamente reorganizou-se a sociedade, entrando como sócios os filhos de Araújo Júnior que com êle trabalharam no estabelecimento: Alfredo de Faria Cardoso de Araújo (falecido em 1922), Jaime de Faria Cardoso de Araújo, Fernando da Faria Cardoso de Araújo (falecido em 1924) e Henrique da Faria Cardoso de Araújo. A firma passou a ser a actual: "Araújo & Sobrinho, Sucessores".
Manuel Francisco de Araújo Júnior veio a falecer e 5 de Novembro de 1932.



Publicidade em 1913


Os actuais proprietários, Jaime e Henrique Faria Cardoso de Araújo, continuam mantendo tradições nobilíssimas desta casa já centenária (a única do seu ramo que no País atingiu um século de existência), registando-se os progressos que nela introduziram para enriquecimento não só do negócio de papel como das indústria subsidiárias: oficinas de tipografia, trabalhos em relêvo, pautação, encadernação, carpintaria de mobiliário de escritório e material de pintura. A êle se deve em grande parte, a criação de uma excelente filial na Rua dos Clérigos, 8.


Sucursal da "Araújo & Sobrinho, Sucrs.", na Rua dos Clérigos

"Araújo & Sobrinho, Sucrs.", representantes das afamadas máquinas de escrever Hermes e das excelentes canetas Eversharp, introduziu há 25 anos em Portugal os livros de escrituração comercial em fôlhas soltas Hippocampus que são hoje adoptados por tôdas as firmas importantes.» in: "Livro de Ouro do Comércio e Indústria do Porto".


1934


1954

A vigência do Estado Novo, a II Guerra Mundial, a Guerra do Ultramar e a revolução do 25 abril de 1974, encontram na "Araujo & Sobrinho, Sucessores" as 3ª e 4ª gerações de Araújos. Jaime e Henrique Araújo (3ª geração) e os seus sobrinhos Nuno Araújo e Fernando d'Araújo Jorge (4ª geração), acompanhados pouco depois por três dos filhos deste ultimo, Paulo (1970) Manuel e Fernando (1975), estes últimos já da 5ª geração. Fernando d'Araújo Jorge trabalhou na "Araújo & Sobrinho" desde a adolescência até ao fim da vida, durante quase 70 anos, sendo assim o “Araújo” que mais anos dedicou à centenária papelaria.

Largo de S. Domingos, em 1948


1954

Atualmente, a responsabilidade do legado da papelaria "Araújo & Sobrinho" às próximas gerações, cabe a Miguel Araújo, da 5ª geração da família, com a colaboração de uma cunhada Maria José Fontes e de uma prima, Joana Araújo Jorge, já da sexta geração. 


Miguel Araújo







2011

Miguel Araújo relançou a marca "Araújo & Sobrinho", assumindo grandes mudanças quer na gestão do edifício, que sempre foi a sua sede e agora é também o "Hotel A&S 1829" e o "Restaurante Galeria do Largo", quer na diversificação dos produtos que propõe na loja: à papelaria de alta qualidade e artigos de design e belas artes juntou prestigiadas marcas nacionais e internacionais de objetos de uso pessoal para a fiel clientela portuense e o crescente numero de turistas encantados com a autenticidade da centenária loja. Quem espreitar a montra ficará também surpreendido: à primeira vista, tem, de facto, instrumentos de pintura e de papelaria. Porque ainda é uma verdadeira papelaria, a "Araújo e Sobrinho", e é também o átrio deste hotel de charme e quatro estrelas que a mesma família abriu – em colaboração com os "Hotéis Lux", sediados em Fátima, em meados de 2015.