O “Hotel Estoril-Sol”, localizado no Parque Palmela em Cascais, projectado pelo arquitecto Raúl Tojal, foi inaugurado em 15 de Janeiro de 1965. Conhecido como o "Hotel dos Americanos", e com os seus 21 andares e 404 quartos foi considerada e a maior unidade hoteleira do país. A construção deste hotel foi promovida pelo empresário José Teodoro dos Santos (mais conhecido pelo “Teodoro das Malas”), como contrapartida pela concessão do “Casino Estoril”.
Durante quatro anos e meio, uma média de 800 operários e técnicos portugueses trabalharam diariamente na construção do maior hotel português, de 21 andares em 1965. O seu custo ascendeu a 160.000 contos. Para se fazer ideia das suas dimensões o salão nobre do andar principal poderia receber até 2.000 pessoas em banquete ou conferências numa área aproximada de 1.200 m2 com uma varanda-terraço de 500m2.
Local onde viria a ser construído o hotel
Maqueta
A cerimónia inaugural foi presidida pelo Presidente da República Almirante Américo Thomaz, acompanhado por Teodoro dos Santos, administrador delegado da “Sociedade Estoril-Sol”, Dr. Manuel Teles e Jorge Teodoro dos Santos, administradores da mesma, e a alta sociedade de Cascais e do país.
Loja “Teodoro” propriedade de José Teodoro dos Santos, num anúncio de 1943
José Teodoro dos Santos
Teodoro dos Santos, proprietário de uma loja de malas na Baixa lisboeta, promoveu a construção de um hotel que acompanhava a tendência hoteleira da época. Como refere Ana Tostões, no “Inquérito à Arquitectura do Século XX” em Portugal:
«Respondendo ao consumo de modelos e às exigências comerciais, sucedem-se empreendimentos (Hotel Ritz, Praia da Rocha, Estoril-Sol, Templários) balizados entre um estilo internacional, o modelo tipo "mediterrâneo", o brutalismo inglês e uma aproximação ao vernáculo local em hotéis e nos novíssimos programas designados por aldeamentos turísticos, caracterizados geralmente por uma escala muito diferenciada das dos aglomerados locais».
Vista exterior em 1965
Os quartos possuíam todos antecâmara, dotados de dupla instalação sanitária e varandas sobre o mar. Estava equipado com quatro ascensores para os hóspedes, três monta-cargas para bagagens e serviço e quatro elevadores para serviço dos quartos distribuídos pelos 21 andares deste hotel.
Este hotel possuía garagem para 200 carros, estação de serviço, salão de beleza, cabeleireiro, bowling, sala de bridge, galeria de lojas, agência de viagens, restaurante panorâmico, etc…
Na sua piscina olímpica, só se disputaram os melhores lugares ao sol entre os clientes que preferiam maior conforto do que o proporcionado nas areias da envolvente do Tamariz. O dono do hotel respondeu ao interesse, emitindo "cartões perpétuos" aos primeiros clientes.
Piscina olímpica
O início da década de 1970 correspondeu ao período de maior projecção do hotel, que possuía amplos salões para congressos e festas. Ali teve lugar o copo-de-água do casamento da infanta espanhola Pilar de Bourbon. Até à revolução de Abril, a clientela era principalmente oriunda do mercado americano. Os comerciantes do centro de Cascais sentem muito a falta do Estoril-Sol. Quando o hotel enchia os “outros” também estavam cheios.
Em 1 de Julho de 1966 abria o “Bowling”
Bowling
Pelo “Hotel Estoril-Sol”, passaram inúmeras personalidades da vida social e política, sem esquecer os muitos artistas, alguns dos quais actuaram no “Casino Estoril”. Na infindável lista constam a princesa Grace Kelly, Jorge Amado, John Wayne, Fred Astaire, Elis Regina, Ray Charles, Gilbert Bécaud, Liza Minelli, Shirley Bassey, Diana Ross... Foram servidos com uma baixela da marca de luxo “Christofle”, composta por 27.477 peças, uma parte das quais foram oferecidas, mais tarde, pela administração da “Sociedade Estoril-Sol”, pouco antes da abertura do “Casino Lisboa”, como prenda natalícia. "Seria injusto festejar o futuro sem homenagear o passado", começava a carta que acompanhava a generosa oferta.
1965 1966
Etiqueta de bagagem e o indispensável «não incomodar»
Folheto promocional
O “Hotel Estoril-Sol” encerrou em Abril de 2003. A sua demolição foi iniciada em Janeiro de 2007
A “Ordem dos Arquitectos”, por ocasião da polémica em torno da anunciada demolição do “Hotel Estoril-Sol”, colocou os pontos nos "is" ao salientar que o velho edifício se tratava de "uma obra de autor e não de uma construção de pato-bravo". E o arquitecto Gonçalo Byrne, autor do projecto que substituiu o hotel, o “Estoril Sol Residence’” também reconheceu que o edifício "marcou" a sua época, embora lhe aponte o efeito barreira em relação ao “Parque Palmela”.
“Estoril Sol Residence”
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Hemeroteca Digital, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian