Restos de Colecção: Lawrence’s Hotel

17 de outubro de 2017

Lawrence’s Hotel

O “Lawrence’s” Hotel, na Vila de Sintra, é a unidade hoteleira mais antiga da Península Ibérica e 2ª mais antiga do Mundo, ainda em actividade, tendo sido fundado pela família inglesa Lawrence Oram, no ano de 1764.

Fotos do “Lawrence’s Hotel”, efectuadas em 1862 pelo seu proprietário Luiz Lawrence Oram

1862 Lawrence Hotel.1 1862 Lawrence Hotel.2

12 de Agosto de 1894

“Lawrence’s” Hotel em 1908 e a escritora Lady Jackson à porta do mesmo

  

Terá sido no “Lawrence's” que Lord Byron terá escrito o livro "Childe Harold's Pilgrimage", onde Sintra é descrita como «Eden glorioso». Este hotel hospedou William Beckford, e por ali passaram várias figuras da literatura portuguesa como Eça de Queiroz, tendo sido um dos cenário dos Maias, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Bulhão Pato.

Preçário dos melhores hotéis de Sintra, em 1907

Em 1850 o “Lawrence’s” passa a ser dirigido por Jane Lawrence Oram, mãe de Luís Lawrence Oram e imortalizada por Eça de Queiroz em "Os Maias": «É na casa da "velha Lawrence" que Carlos da Maia julgava encontrar Maria Eduarda, por quem nutre uma paixão condenada». Anos mais tarde, e antes de 1880, o hotel é adquirido pelo inglês Durand, que o rebaptizou de “Hospedaria Durand”. Recordo que este inglês já possuía o “Hotel Duran” na Rua das Flores em Lisboa. 

Hospedarias em Sintra no “Guia do Viajante em Lisboa, Cintra, Collares, …” em 1880

1888

Esta hospedaria seria adquirida, no final do século XIX, por Miguel Gallway, que amplia o edifício, cedendo uma parcela para a instalação de uma pastelaria. Foi aí que se fabricaram, em 1900, os primeiros pastéis de feijão, apelidados de “Pastéis da Pena” e ao que consta, também as primeiras queijadas. Em 1935 a “Hospedaria Inglesa” seria tomada de trespasse pela checoslovaca Maria Janavcova, tomando o nome para “Estalagem dos Cavaleiros”, em 1949, tendo encerrado em 1962 e durante cerca de três décadas, ficando à beira da ruína.

Pouco antes do seu encerramento, o jornal “Diario de Lisbôa” relatava num artigo de Raúl Rego em 16 de Novembro de 1961:

«O casal Lawrence teve dois filhos. Um deles foi Alice Lawrence Oram, que trabalhou em jornais, correspondente do "Daily Mail" e viveu na Rua da Escola Politécnica, no prédio do relógio, em frente ao palácio ds família Palmela. O outro foi Guilherme Lawrence Oram, administrador de Monserrate, durante anos e que deu grande incremento a Galamares e a toda a baixa que de Sintra leva ao mar.
Os dois mantiveram o hotel dentro das suas tradições até que outras mãos tomaram conta dele. Alguns anos foi um calvário: lá foi instalada uma fábrica de pastéis de Torres. Havia partes da casa alugadas, fogões neste quarto e naquele. Era uma ilha autêntica, verdadeiro formigueiro que, se tinha vida, não tinha aquela dignidade essencial a certas tradições.
Até que por alturas de 1935, o "Lawrence's Hotel" foi comprado por D. Maria Jenovcova que, ao cabo de alguns anos, o transformava, mais uma vez, reintegrando-o no seu espírito. Em 1949 era inaugurada a "Estalagem dos Cavaleiros". Voltava ao primitivo nome e função porque foram os cavaleiros os seus primeiros fregueses. Cavaleiros esses que se apeavam, prendiam a montada á argola e iam dentro encomendar uma peça de lombo assada no espeto e um cangirão de vinho a fumegar.»

 

            

  

Na década de 80 do século XX, o edifício é comprado pelo casal holandês Jan-Willem Bos e Corren Bos, que iniciou o projecto de recuperação da autoria do arquitecto Tiago Bradell , em 1989. A decoração de interiores foi entregue a Maria Aura Troçolo. Para as obras de recuperação foi feita uma pesquisa exaustiva nos arquivos da Câmara Municipal de Sintra. Em 1999 são concluídas as obras de reconstrução e em Maio do mesmo ano reabre ao público com a designação inicial de “Lawrence’s” Hotel.

Localizado a poucos metros do centro da vila de Sintra, o “Lawrence’s” Hotel de 5 estrelas, oferece a seus hóspedes as amenidades modernas de um hotel de luxo. Cada um dos onze quartos e cinco suítes, alguns com lareira, possui uma decoração própria. «Mantendo a filosofia do Lawrence’s Hotel de preservar sua atmosfera romântica, o hóspede encontrará quartos com nomes ao invés de números, chaves no lugar de cartões plásticos e pisos de madeira polida no lugar de carpete.»

 

 

Para finalizar, de referir que a seguir ao “Lawrence’s” Hotel  em antiguidade e também em actividade, se encontram em Lisboa o 2º mais antigo do país, oHotel Duas Nações fundado em 1875, o 3º mais antigo oHotel Borges inaugurado em 1882. As suas histórias poderão ser consultadas neste blog, bastando clicar nos nomes atrás mencionados a dourado.

fotos in: SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, Hemeroteca Digital, Rio das Maçãs, Lawrence’s Hotel

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo regresso!
Forte abraço de um Leitor Atento.

José Leite disse...

Caro Mário Ferreira

Muito grato pelo seu amável comentário.

Abraço
José Leite