Restos de Colecção: Cine-Teatro de Gaia

16 de fevereiro de 2025

Cine-Teatro de Gaia

O "Cine-Teatro de Gaia" foi inaugurado em 28 de Dezembro de 1946, na Avenida da Republica, em Vila Nova de Gaia, tendo sido seu fundador Alberto Ferraz Carneiro, sócio gerente da "Sociedade do Cine-Parque da Avenida, Lda.". Em 20 de Fevereiro de 1945, tinha solicitado Câmara Municipal de Gaia a sua construção num terreno pertença da referida sociedade.



25 de Dezembro de 1946


27 de Dezembro de 1946

28 de Dezembro de 1946

O projecto de arquitectura foi entregue ao atelier "Gomes, Nogueira & C.ª, Lda." e obra de engenharia ficou a cargo do gabinete "Engenheiros Afonso Proença". A obra de carpintaria ficou a cargo de José Gomes da Silva, a de serralharia a Manuel Triaes, e os azulejos e mosaicos foram fornecidos pela "Fabrica de Cerâmica do Carvalhido".



Esta luxuosa sala de espectáculos tinha uma área coberta de 1 380 metros quadrados, equipada com aquecimento central e dotada de um equipamento de projecção da marca "Aga - Baltic", à data, de última geração. A sua lotação era de 1 090 lugares, podendo estendê-la até aos 1 200. Possuía um salão de festas, três bares, servindo a plateia, balcão e geral. Na sua construção foram gastos 6.800 contos (seis milhões e oitocentos mil escudos), que na actual moeda seriam: 33.858,00 €.



No mesmo terreno, já em 12 de Abril de 1924 era passado o alvará de exploração e funcionamento do "Teatro Cine-Parque d'Avenida", propriedade de Alvaro Alves de Carvalho, e edificado no gaveto da Avenida da República e da Rua do Parque da Avenida. Refira-se que Álvaro Carvalho era proprietário de uma quinta que confrontava as ruas Joaquim Nicolau de Almeida e Parque da República e, ainda, a Avenida da República. Em 10 de Outubro de 1933, a "Inspecção Geral dos Espectaculos" proibia o funcionamento desta sala de espectáculos, até nova vistoria. Álvaro A. Carvalho acaba então por vender o terreno em que se encontrava o “Teatro Cine-Parque d'Avenida” (que viria a ser demolido) a Alberto Ferraz Carneiro, para ali construir o "Cine-Teatro de Gaia", e lotear a restante área da quinta.

Em 27 de Dezembro de 1946 o jornal "O Comercio do Porto" acerca do "Cine-Teatro de Gaia" escrevia:

«E' amanha, 28, que Vila Nova de Gaia veste as suas melhores galas para solenisar o grande acontecimento, da inauguração do seu Cine--Teatro, situado na linda Avenida e que a vontade forte e o espirito desempoeirado de Alberto Ferraz Carneiro fez erguer, para engrandecimento do populoso concelho de Gaia.
Fizemos uma visita a este esplendido edificio e ficamos maravilhados com o que vimos.
Um edificio optimo em qualquer parte, de linhas arquitectónicas modernas e elegantes e com todos os requisitos duma casa de espectáculos, para servir a todos os géneros.
A' entrada, um vestibulo amplo, ladeado por duas bem lançadas escadas que dão acesso à galeria e geral, logo a seguir um lindo «hall». duma decoração em creme e ouro, com ricos lustres, emprestam ao ambiente o ar de entrada de palácio rico.
Corredores largos, cujas paredes emolduradas por bem dispostas montras, tem um aspecto de maravilha, com luz e conforto, só igualável nos grandes teatros, das grandes capitais.
Por duas escadas laterais, que partem do rico «hall», vamos dar ao balcão, lugar de honra da casa, onde vemos cómodas e confortáveis cadeiras, todas estofadas. Também neste andar, vemos largos corredores, montras, bar, «toilettes» e um rico salão de festas, duma grandesa e graciosidade que bem se aliam ao conjunto do magnifico edificio.
Entramos na sala e não escondemos a nossa admiração, pela forma como estão dispostos e divididos aqueles 1.200 lugares. Uma plateia com perfeita visibilidade, de confortáveis cadeiras, iluminada esplendidamente com um bem delineado candeeiro, com uma profusão de lampadas e que ocupa quase todo tecto.
A decoração de materiais modernos e côres discretas, num conjunto de superior beleza, tornam a sala dum agradável e duma comodidade a que estamos pouco habituados.
Não foi esquecido, pelo conhecimento do seu proprietário, o palco, que esta munido dum urdimento moderno e com uma teia que corresponde às exigências cénicas que modernamente se apresentam.
Os planos do palco, estão estudados convenientemente, a instalação eléctrica para todos os efeitos que requerem as mais complicadas montagens, os camarins de artistas e de conjuntos com instalações de água quente e fria «chauffage» e gabinete médico, dizem-nos que Alberto Ferraz Carneiro viu e estudou tudo, antes de meter ombros a tão grande empreendimento, que em tanto contribui para o engrandecimento de Vila Nova de Gaia, em favor de um Portugal melhor. Uma instalação magnifica de cabines cinematográficas, com uma aparelhagem do que há de mais moderno em transmissão de som, de alta fidelidade e uma excelente instalação de aquecimento, completam as modernas instalações do Cine-Teatro. (...) »

E, em 5 de Janeiro de 1947, o mesmo "O Comercio do Porto" escrevia de novo, enunciando outras informações:

«A localização foi criteriosamente escolhida, de maneira a tornar-se, desde já, tão acessível como é de desejar e chamar a si, no futuro, ainda maiores vantagens. Para os 130 mil habitantes de Vila Nova de Gaia, o Cine-Teatro está em situação de corresponder, de oferecer aquele ambiente de atracção e conforto, que hoje distingue os mais importantes teatros. Os capitais investidos nesta obra merecem compensação e certos estamos de que esta não faltará, em justificada prova de apreço a quem sou e emprega-los, de ânimo generoso e bem intencionado.
A linha do edifício - airoso e amplo-é encantadoramente simples, obediente a novas directrizes, que lhe dão graciosidade e desafogo. E se, exteriormente, o aspecto atrai, interiormente nada lhe falta para categoizá-lo. Proporções amplas, extensos e espaçosos corredores, em três pavimentos, três cómodos «bars», salões de restaurante e café, 25 montras, largas e bem iluminadas, para exposições, num pormenor interessantíssimo, tudo isto forma admirável conjunto. O público usufrui a regalia de lugares convidativos, com absoluta visão; as condicões de acústica são excelentes e a aparelhagem cinematográfica, adquirida na Suécia, é composta por duas moderníssimas máquinas de projecção, últimos modelos, para corrente de alta tensão. Nitidez total, óptima regulação de som - nada falta. Na parte referente aos artistas, em espectáculos de teatro - para os quais tudo foi previsto, em todas as modalidades, o palco tem 10 metros de fundo e 16 de boca - há uma dezena de camarins e dois quartos de banho completos. O corpo coral tem reservada ampla e iluminada quadra. Há, ainda, um posto médico, completo. A luz, no «hall», é fluorescente, e na sala de espectáculos, foi hàbilmente distribuída, em profusão. Paredes artisticamente decoradas, sobressaindo alguns motivos valiosos e um «panneaux» alegórico, de amplas dimensões. E, a completar, a instalação de aquecimento, distribuída por todo o edifício.
Como dados técnicos, diremos que o «écran», com 6 metros de alto e 7 de largo, é todo perfurado - uma novidade no nosso Pais, que protege a vista do espectador e permite maior e melhor sonoridade, além de total nitidez das imagens. Outro pormenor : os números e letras das cadeiras vão ser iluminados, o que facilitará, sensivelmente, a arrumação do publico. Com uma programação notável, que inclui filmes de escolha, a época afirma-se triunfal, em indispensável complemento desta importantíssima obra.
E' assim, numa descrição giobal, o Cine-Teatro de Gaia, moderna casa de espectáculos, que foi estudada e construída para corresponder a todas as exigências. (...)»


5 de Janeiro de 1947

 

Frente e verso do programa





5 de Março de 1947


Frente e verso do programa





Bilhete de 1972

O "Cine-Teatro de Gaia" viria a exibir o seu último filme "A Revolta dos Apaches" em Outubro de 1981, vindo a encerrar no final desse ano.


3 de Outubro de 1981

E no seu lugar, actualmente ...


Sem comentários: