Restos de Colecção: setembro 2012

30 de setembro de 2012

Estabelecimentos Comerciais de Lisboa (10)

                                           Livraria e Papelaria "Verol & Cª.", na Rua Augusta

                          Casa Verol & Cª. (Rua Augusta)

                                    Camisaria e Gravataria "Maison de Blanc", na Rua do Ouro

                          

                                                        "Loja das Meias" na Rua Augusta

                          

                                                                   "Casa das Tesouras"

                          
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian

28 de setembro de 2012

José Maria da Fonseca

José Maria da Fonseca nascido no Dão, em Vilar de Seco a 31 de Maio de 1804, descobriu durante os seus tempos de estudante universitário uma apetência para a área comercial. Em 1834 José Maria da Fonseca iria deixar-se seduzir pelos encantos de uma propriedade na península de Setúbal, mais concretamente em Vila Nogueira de Azeitão. Os terrenos tinham sido dados como garantia de dívida ao "Contrato dos Tabacos", uma empresa de vários nomes conhecidos de Lisboa em que se incluía o pai José António da Fonseca, um comerciante do Cais do Sodré. Foi na execução dessa dívida que José Maria visitou a propriedade, acabando por a retirar do monopólio dos tabacos.

                                                                 José Maria da Fonseca (1804-1884)

                                                                    

Era o início da reviravolta na vida da família. Já em Azeitão, José Maria da Fonseca lança-se na produção vinícola, fundando uma empresa com o  seu nome a "José Maria da Fonseca" em 1834. Começou logo a deixar marca no momento em que a sua formação em Matemática o alertou para a organização das vinhas, que passou a plantar com mais espaço entre as fileiras, para permitir que a terra passasse a ser lavrada com mulas e permitir permitir uma melhor exposição solar. Os animais haviam de substituir o homem de enchada na mão em 1840, e a ideia foi reconhecida por um produtor de Bordéus (região vinícola francesa), que falava em «revolução nos campos».

                                              Instalações da  "José Maria da Fonseca, Sucessores" em 1900

                                       

                                       

Numa época em que o vinho se vendia maioritariamente a granel, o empresário decidiu exportá-lo em garrafas para garantir a sua genuinidade e qualidade. Com o crescimento do negócio, as garrafas tornaram-se cada vez mais atractivas e personalizadas. Como resultado, para além do aumento das vendas e da expansão das exportações, veio o reconhecimento da modernidade, asseio e eficiência «das instalações vinárias do senhor Fonseca», pelos especialistas e pela opinião pública. De tal forma que, em 1857, o Rei D. Pedro V lhe confere a Ordem de Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito.

A ideia de começar a exportar em garrafas agitou o sector dos vinhos em Portugal que, até então, apenas vendia vinho a granel para o estrangeiro. O sucesso da estratégia foi rotundo. As vendas dispararam. Já José Maria da Fonseca tinha lançado novas castas e dado grande visibilidade aos seus vinhos, através da criação de marcas específicas - "Moscatel de Setúbal" em 1849, "Periquita" em 1850 e o "Palmela Superior" em 1866 - e aplicação de rótulos.

                        Interiores dos armazéns e engararfamento da "José Maria da Fonseca, Sucessores" em 1900

         

                                       

         

                                 Garrafas originais de "Moscatel de Setúbal" de 1900 e "Setúbal Superior" de 1918

          

A promoção dos produtos passava a conhecer uma nova etapa, até que 1884 assinala a aposta no mercado brasileiro, obrigando à aquisição de novas vinhas em Portugal não só na região de Azeitão, como a "Quinta de Camarate", como noutras regiões como as vinhas da empresa "Viúva de José Gomes da Silva & Filhos, Lda" de Colares -Sintra.

O negócio e marcas da firma "Viúva José Gomes da Silva & Filhos, Lda", viriam a ser adquiridos em 1920 pela "Companhia de Vinhos e Azeites de Portugal S.A.R.L.", na pessoa de António Soares Franco Júnior, administrador da firma "José Maria da Fonseca Sucessores Lda," sociedade para a qual todo o património passou em 1926.

                                             "Viúva de José Gomes da Silva & Filhos, Lda", em Colares

              

Após a morte de José Maria da Fonseca, em 1884, a empresa muda de designação para "José Maria da Fonseca, Sucessores, Lda.", e ficaram estavam à frente dos destinos desta empresa José Augusto de Paiva, sobrinho do fundador e José António Fernandes, antigo empregado da "José Maria da Fonseca".

                                             José Augusto Paiva                                        José António Fernandes

                                                           

                                 

         "Moscatel - Setúbal Roxo"                                      Vinho Periquita                                       "Palmela Superior"

      

«A casa fundada por José Maria da Fonseca e tão honradamente continuada por aquelles que lhe succederam é a demonstração cabal do valor, da lisura, da inicitaiva intelligente e da vontade superiormente orientada.» in: Revista Portugal-Brasil

A partir de 1917, é reforçada a presença no Brasil, tendo a empresa chegado a abrir um escritório de representação no Rio de Janeiro, em 1920, para apoiar a rede de agentes que cobriam o país. As exportações para este país ascendiam às cem mil caixas de vinho, entre "Moscatel de Setúbal" e "Colares" de Viúva Gomes.

                                                      Rótulo                                                                  Anúncio em 1933

                         

Associado ao nome da "José Maria da Fonseca, Sucessores" está a história do «Torna Viagem». Os comandantes dos navios que faziam viagens de longo curso até ao Brasil e Oriente nem sempre conseguiam comercializar todos os cascos de "Moscatel de Setúbal" e, por isso, eram devolvidos ao produtor. Ao serem provados verificava-se que os vinhos estavam bastante melhores do que antes de embarcar. A passagem pelos trópicos e a dupla travessia da linha do Equador pareciam amaciar e melhorar a qualidade do "Moscatel de Setúbal".

Com a Grande Depressão de 1929 instalada, e a revolução de Getúlio Vargas em1930, o mercado brasileiro foi altamente afectado e devido à forte dependência da "José Maria da Fonseca, Sucessores" deste mercado, viu-se obrigado e vender algum do seu património como foi o caso da firma "Viúva de José Gomes da Silva & Filhos, Lda", vendida em 1931 à empresa "Vitor Guedes & Companhia, Sociedade Comercial".

                                   

                                 

 

 

A esta crise sucedeu um ciclo de recuperação financeira, alicerçado no vinho rosé, que perdurou até meados 1980, pela mão de António Porto Soares Franco, filho de António Soares Franco Júnior, enólogo diplomado em França e criador dos vinhos rosé "Faísca" em 1937, que conquistaram o mercado interno, e o "Lancers" em 1944, que foi um sucesso no Estados Unidos onde nos anos 60 do século XX chegaram a ser vendidas 1 milhão de caixas deste vinho.

             

                                                                                 Anúncios em 1931

                     

A introdução do primeiro vinho branco de grande sucesso no mercado nacional surge em 1945 com a marca "BSE - Branco Seco Especial". Em 1959 é lançada a marca "Terras Altas" com vinhos da região demarcada do Dão.

Em 1962 é criada a empresa de distribuição "Sileno", que mais tarde em 1970 juntamente com a americana "Heublein" cria numa joint-venture para a produção do vinho "Lancers", e é fundada a "J.M. da Fonseca Internacional Vinhos" com as suas instalações também em Azeitão. Esta empresa viria a ser vendida "Heublein" em 1985.

                                                                 "J.M. da Fonseca Internacional Vinhos"

                               

                                               150 anos da "José Maria da Fonseca, Sucessores", em 1984

                                

175 anos depois de José Maria da Fonseca ter iniciado um negócio de que vai na 6ª geração, o descendente, António Soares Franco, que desde 1986 assume a presidência da empresa percorre os corredores do museu, radicado numa casa apalaçada em plena vila de Azeitão, onde estão guardadas as histórias seculares, para mostrar o legado e garantir que não há tempo para parar. Refere-se à investigação feita no laboratório, à experimentação de novos produtos, à conquista de novos mercados. Lá fora e cá dentro.

                                 

       

«O que foi feito no passado tem muito que ver com aquilo que a empresa é hoje. Também lançámos novos vinhos, novas castas, inovámos no moscatel, com aguardente vinda de França que lhe deu um perfil totalmente diferente. E foi uma pedrada no charco naquilo que eram os moscatéis e até os vinhos portugueses dessa altura», recorda António Soares Franco, colocando a ressaca do 25 de Abril de 1974 entre os maiores amargos de boca da empresa.

                                

        

                                 

A crise económica que varreu Portugal não deixou margem à família que, em 1985, se viu forçada a vender os 51% que detinha da empresa a um sócio americano. Os juros estavam a 35% e eram pagos à cabeça, condenando qualquer negócio. A venda da quota da família permitiu reduzir a dívida à banca e fazer frente a outras. O negócio prosseguiu, com a compra e reequipamento de adegas. Ganhou-se novo fôlego que permitiu nova incursão no mercado.

A família comprou outras instalações e em 1996 teve uma proposta de compra do grupo britânico "IDV - International Distillers & Vintners Limited ", que detinha as instalações da "José Maria da Fonseca". António Soares Franco (presidente) e seu irmão Domingos Soares Franco (vice-presidente), não hesitaram. Recuperaram a empresa, transformando a "José Maria da Fonseca, Sucessores, Vinhos, S.A." num autêntico império vinícola que hoje regista um volume de negócios de 24 milhões de euros, exportando 75% da sua produção para mais de 50 países, empregando 120 pessoas e de onde saem 33 marcas de vinhos dos seus 683 ha de vinhas.

         

        

fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca Nacional de Portugal, José Maria da Fonseca

26 de setembro de 2012

Palace Club

No Palácio do Marquês da Foz, na Praça dos Restauradores, abre em 1908 o luxuoso “Club dos Restauradores” mais conhecido por “Maxim's” : «Tem sala de baile com máquina de som e transformador próprio para efeitos luminosos, salas de jogo com roleta, salas de fumo e um restaurante que serve ceias até de madrugada».

Em 1918 é inaugurado o “Majestic Club”, o primeiro casino da capital, na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa

Em Junho de 1918 é inaugurado em Lisboa, na Rua Eugénio dos Santos, 89 «um Club moderno «chic», grandioso pela sua sumptuosidade, distincto pela selecção da sua concorrencia, onde a vida do mundanismo perpassasse como volatil perfume de aroma enebriante». Assim nasceu o "Palace Club".

                                                                                     "Palace Club"

                                                                

Neste Club nem toda a gente era aceite como sócio, nem entrava quem queria. Era um Club onde uma «grand tenue» tinha lugar marcado. Uso de traje de gala era obrigatório.

«O seu hall, onde se admiram modelações de artístico valor, com a majestosa escadaria ao fundo; a sua elegante sala de leitura em estilo holandez, onde a par de uma invejavel comodidade para o corpo, se pode entreter regaladamente o espírito na leitura de todo os jornaes mundiais e de livros dos principaes da literatura; a sua confortavel e sobria sala de bilhar, com uma saleta anexa para jogos de vaza; o sumptuoso salão de restaurante; as salas de fumo e de conversa, simples mas de bom gosto, e tudo o mais que constitue uma apreciavel comodidade, como o vestiario, a barbearia, o engraxador, a tabacaria, enfim, todos os detalhes d'essa preciosa instalação desde o toucador das senhoras em rigoroso estylo Luiz XV até o elegante salão da Direcção, guarnecido de custosa mobilia D. João V.». in Revista do Turismo

                                        Hall de entrada                                                                 Sala de leitura

         

                                                                                Sala de Bilhar e jogos

                                

                                                                                 Salão restaurante

                                 

                                Barbearia                                                                          Toilette

         

Jantar no "Palace Club" era uma das experiências mais agradáveis em Lisboa. Além do requintado serviço de mesa, um sexteto musical acompanhava a refeição e por ocasião das ceias, tinham lugar concertos musicais, pela orquestra Tzigane "H'ezcans. «E, com franqueza, comer-se com musica é, actualmente senão o maior, talvez o melhor prazer da vida».

                                              

fotos in: Hemeroteca Digital, Ephemera

O "Palace Club" encerrou em 1920. A propriedade, a partir dessa altura, passou para a "Associação Comercial de Lisboa" cuja fundação remonta a 12 de Junho de 1834. O edifício passou a designar-se Palácio do Comércio e a Associação instalou-se lá em 1922.

                                                                      Associação Comercial de Lisboa