Estávamos em 1944 e o governo do Dr. Oliveira Salazar aprovava a lei sobre Fomento e Reorganização Industrial. A siderurgia era prioritária. Nos anos seguintes, o presidente do conselho avançou com os estudos para a criação de uma «verdadeira indústria de metalurgia de ferro», e António Champalimaud concorreu - e ganhou - a concessão. Em 31 de Dezembro de 1954 foi constituída a Siderurgia Nacional, e em 1955 o Dr. Oliveira Salazar publicou um alvará em que dá à empresa o exclusivo do fabrico de gusa, aço e laminados, pelo prazo de dez anos.
A sua criação integrou-se numa linha política de realização de grandes empreendimentos económicos, e correspondeu a uma notável mobilização nacional de recursos financeiros, bem como a um projecto de aquisição de competência e autonomia tecnológica, que seria coroado de êxito (em três anos, todo o controlo da produção passou a ser garantido por técnicos e operários nacionais).
Panorâmica geral da “Siderurgia Nacional”
Serviços administrativos Oficinas gerais
De acordo com o programa inicial, o projecto a empreender pela “Siderurgia Nacional” tinha duas fases de execução. A primeira envolvia a construção, em Leixões, de um forno de redução eléctrica com uma produção anual de 30 mil toneladas e, no Seixal, de uma aciaria e laminagem para o fabrico de 80 mil toneladas de perfis a partir de gusa produzida no forno eléctrico e da recuperação de sucatas. A segunda fase, planeada para arrancar depois de 1958, dividia-se em duas etapas e envolvia a instalação na região do Seixal de um alto forno a coque para a produção de 200 mil toneladas de gusa e, em Leixões, de dois fornos Krupp-Renn com capacidade de 120 mil toneladas.
Siderurgia integrada - Fluxo de produção
A primeira fase da “Siderurgia Nacional” no Seixal foi inaugurada pelo Presidente da República Almirante Américo Tomás em 24 de Agosto de 1961 depois das obras terem sido iniciadas em 1958. Na inauguração o Ministro da Economia Ferreira Dias no seu discurso de inauguração proferiu a célebre frase «País sem siderurgia, não é um país, é uma horta». No mesmo discurso diria ainda:
«os últimos 10 anos trouxeram-me alegrias profissionais que os primeiros 50 anos de vida me negaram, porque os passei, quanto a esse sector, numa apagada e vil tristeza (...). Mas depois que entrou a ordem na vida portuguesa e depois que os espíritos se afizeram à ideia de pensar nos factos económicos ligados à produção, tenho tido uma série numerosa de dias felizes, embora insuficientes para minha satisfação; mas nestes há 3 que sobrelevam os outros, porque neles se fizeram inaugurações de obras-tipo pelas quais lutei até ao último reduto da minha fé e que excitaram a minha imaginação desde o tempo longínquo de estudante: a central do Castelo do Bode, 1.ª obra da rede eléctrica primária, em 1951; a electrificação dos caminhos-de-ferro, em 1957; a siderurgia, em 1961.» in: Ordem dos Engenheiros
Inauguração
António de Sommer Champalimaud, presidente do concelho de administração da “Siderurgia Nacional”, seria nesta cerimónia agraciado com a grã-cruz da ordem do Mérito Agrícola e Industrial.
António Champalimaud Condecoração a António Champalimaud
Aproveitando uma área natural junto do estuário do Tejo, importante via de circulação, onde se localizavam antigos moinhos de maré, a implantação da Siderurgia Nacional, em 1961, converteu e transformou este local num sítio de excelência industrial, que à época simbolizava a modernidade e progresso nacional, correspondendo a um modelo de auto-suficiência de produção de um bem que era sinónimo de riqueza – o aço – alimentando um conjunto de indústrias ou empresas contemporâneas como: caminhos-de-ferro; construção civil; obras públicas, etc.Tanto para escoar produto acabado como para abastecimento desta unidade fabril foi construído um cais com 250 metros de comprimento apto a receber navios entre 15 e 20 mil toneladas, além de contar também com caminho de ferro.
Cais Linha férrea
Central eléctrica Central de oxigénio
Elemento basilar no processo de fabricação do aço por via integrada, o alto forno organiza o processo siderúrgico a montante (todas as operações para o tratamento das diferentes matérias primas) e a jusante (fabricação dos diferentes produtos – longos, laminagem, etc.), representando simultaneamente o momento da fabricação da gusa e a estrutura mais carismática do recinto produtivo.
Complexo dos altos fornos
© Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de
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O crescimento sustentado da procura interna de produtos siderúrgicos com larga aplicação na construção civil contribuiu para que a empresa, alicerçada no seu exclusivo, registasse desde 1963 constantes aumentos de vendas, ultrapassando a sua capacidade produtiva nominal em 1965.
Controle das ventoinhas e altos fornos
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Torre de arrefecimento
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Sector de coquerificação Fundição
These two images: © Uwe Niggemeier, www.stahlseite.de
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Durante uma das décadas mais prósperas do séc. XX português, de 1964 a 1973, a “Siderurgia Nacional” surge como um factor-chave de todo esse desenvolvimento e como um ponto de referência na capacidade de organização empresarial. Posteriormente, conjunturas internacionais entre as quais se destaca o chamado "primeiro choque petrolífero", em fins de 1973, bem como o reequacionamento da indústria metalúrgica, motivado pela consciência de que as grandes unidades fabris tinham sido criadas dentro de um quadro macro-económico muito diferente do que então se verificava, conjugadas com circunstâncias nacionais específicas (instabilidade política e social, durante os anos imediatamente posteriores à Revolução de 25 de Abril de 1974) culminaram na nacionalização da Siderurgia Nacional em 16 de Abril de 1975, e no seu posterior estatuto de Empresa Pública em 16 de Dezembro de 1976.
Bomba de gás Sector de sinterização
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A alteração das condições políticas, económicas e sociais conduziram à reprivatização da Siderurgia Nacional, processo que se iniciou 20 de Novembro de 1992 e concluído em 31 de Março de 1997.
Sede e escritórios na Rua Braancamp, esquina com a Rua Castilho, em Lisboa
fotos in: Stalseite Industriefotografie, Arquivo Municipal de Lisboa
Mas, como resultado de conjunturas várias, a partir desta altura, a “Siderurgia Nacional” entrou numa fase de recessão que culminou, em Março de 2001, no seu encerramento perdendo a freguesia de Paio Pires, desta forma, uma parte significativa do seu tecido industrial. Dos seus 40 anos de funcionamento permaneceu o vasto sítio industrial, onde o Alto Forno, marca da paisagem de Aldeia de Paio Pires, é identificado não só como símbolo máximo da “Siderurgia Nacional” mas também como elemento representativo do labor e das memórias de milhares de trabalhadores que em meio século protagonizaram o mais denso período de mudança por ventura ali vivido ao longo dos séculos.