Em 19 de Abril de 2011, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa comemorará 100 anos.
Desde a sua criação e até 1985, ano em que ocorreu a transferência para as novas instalações do Campo Grande, a Faculdade de Ciências esteve sediada no edifício que anteriormente acolhia a Escola Politécnica e, antes desta, desde o início do século XVII, outras instituições culturais e científicas de grande relevo. Para além desta tradição comum, a Faculdade de Ciências assume a herança histórico-cultural e científica das suas antecessoras:
O Noviciado da Cotovia (1619-1759)
A Companhia de Jesus que estava instalada no Convento de Santo Antão-o-Novo (actual Hospital de São José) preparou-se para os desafios provocados pelos descobrimentos portugueses que tinham aberto novos desafios e novos espaços geográficos, investindo numa formação cuidada, incluindo noções mais ligadas às ciências: Astronomia, Matemática, Botânica e Zoologia, além das tradicionais Humanidades. Com o avanço rápido da comunidade lisboeta e ao sentirem falta de instalações, por isso, solicitaram ajuda ao Rei que os tinha em muito apreço; foi-lhes destinada a Ermida de S. Roque. Continuando a crescer, foi preciso pensar em novas instalações: o Alto da Cotovia foi o sítio escolhido para localizar a Casa Professa (Noviciado), numa propriedade de Fernão Telles de Menezes e sua esposa. D. Maria de Noronha.
Esta Casa do Noviciado foi concluída em 1616 pelo arquitecto Baltazar Álvares, entrou em funcionamento em 1619. Aqui se formaram quase todos os jesuítas desta Província até à sua expulsão em 1759. Depois da expulsão, o Marquês de Pombal aproveitou o local para o Colégio dos Nobres em 1761.
Com dois andares, a estrutura consistia numa igreja ao centro (hoje recepção e entrada dos Museus, note-se a forma em cruz do espaço e sinais visíveis dos nichos para imagens religiosas) , com claustros e dependências laterais. Com o Terramoto, vários incêndios e obras, variadas foram as alterações feitas pelos sucessivos inquilinos: Colégio dos Nobres, Escola Politécnica e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Mas, mesmo assim e apesar de tudo, sempre permaneceram marcas da matriz original.
O Real Colégio dos Nobres (1761-1837)
Em 1761 é criado o Colégio dos Nobres de Lisboa, onde Pombal visava o ensino não somente tradicional, mas agora com influência da ilustração e da ciência da época.
Praticamente com a mesma aparência do “Noviciado da Cotovia” Livro dos Provimentos
fotos in: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
O Colégio dos Nobres destinava-se a preparar os jovens oriundos das famílias da alta aristocracia, que soubessem ler e tivessem idade compreendida entre os 7 e os 13 anos à data de ingresso. Com a criação do Real Colégio dos Nobres procurava-se formar os jovens nobres, tornando-os úteis para a administração e actividades produtivas, propiciando-lhes, para além da tradicional formação nas humanidades clássicas, uma sólida formação científica e literária que lhes permitisse o acesso à Universidade de Coimbra.
Esta opção pela inclusão das ciências exactas foi uma assinalável novidade para a época, incluindo-se no currículo ministrada a Matemática e a Física incluindo no ensino uma componente experimental relevante, algo incomum no sistema educativo português até aos nossos dias.
O objetivo era proporcionar aos filhos da nobreza as habilidades profissionais necessárias para o governo ou para o serviço militar.
A Escola Politécnica (1837-1911)
Para colmatar a ausência de ensino superior na capital, no séc.XIX, foram criadas a Régia Escola de Cirurgia, a Academia de Belas Artes e a Escola Politécnica.
A Escola Politécnica foi criada, em 1837 no reinado de D. Maria II, ao tempo da Revolução Setembrista, quando vigorava transitoriamente a Constituição de 1822. Transformada em Faculdade de Ciências, em 1911, permaneceu um espaço desta instituição, até 1985.
Escola Politécnica vista dos jardins, em 1891
No início do século XX
O liberal visconde de Sá da Bandeira foi a figura principal na criação desta nova Escola, pois sentira a falta de um ensino técnico-científico, aquando da sua passagem pela titularidade da pasta do Ministério da Marinha (1832-1833). Surgiu, pois, e em primeira instância, para colmatar necessidades de formação técnica e científica nos Ministérios da Guerra e da Marinha; contemplou, porém, um curso mais abrangente, chamado Curso Geral (técnico-científico) com várias disciplinas para servir a sociedade nas Obras Públicas e Minas, Transportes e Comunicações. Tal como aconteceu com a extinção dos Jesuítas, o Real Colégio dos Nobres herdou os bens da Companhia. Com a extinção do Real Colégio, as instalações, mobílias e equipamentos ficaram para ela. No sentido de servir a adaptação às novas funções, foi necessário criar novos equipamentos: Observatório Astronómico, Gabinete de Física, Laboratório de Química, Gabinete de História Natural, Jardim Botânico, Biblioteca e Observatório Meteorológico.
Laboratório de Química Mineral, em 1891 (3 fotos seguintes)
Anfiteatro da aula de Química, em 1891
Anfiteatro da aula de Química, no início do século XX
Sala de reuniões
Lembre-se que desde cedo e ainda como Colégio dos Nobres, o edifício sofrera remodelações, quer para o adaptar aos novos serviços, quer pelo facto de ter sofrido sérios danos provocados pelo Terramoto de 1755, pelo que teve de ser reconstruído com a participação do arquitecto Carlos Mardel. Já com a função de abrigar a "Escola Polythecnica", sofreu um violento incêndio em 1843. O restauro durou até 1878 sendo, desta feita, o arquitecto Pierre-Joseph Pésarat foi o responsável pela actual marca arquitectónica, cuja entrada principal revela uma traça neoclássica. Com uma nova revolução, a Republicana de 1910, e uma nova Reforma do Ensino, foi institucionalizada a Faculdade de Ciências de Lisboa, em 1911, permanecendo aqui até 1985 e, também aqui, tendo sofrido um terrível incêndio.
O Observatório da Escola Politécnica foi pensado no âmbito da investigação e formação, de acordo com as ideias do liberal marquês, na altura visconde, de Sá da Bandeira, figura principal na criação da Escola Politécnica, que sentira a falta de um ensino técnico-científico em 1832-1833, aquando da sua passagem como titular da pasta do Ministério da Guerra e Marinha.
Observatório, em 1891
Observatório Astronómico, no início do século XX
Consta que as torres do edifício da Politécnica revelam indícios de terem servido para observações astronómicas e astrofísicas por parte dos jesuítas, e depois a torre sul pela Academia da Marinha. Em seguida, e segundo fontes documentais, o primeiro edifício construído expressamente para as observações teve de ser demolido por não apresentar condições de funcionalidade e estabilidade. Daí um novo desde os finais do século XIX, mas que foi muito prejudicado, na sua funcionalidade, pelos efeitos da abertura do túnel do Rossio A existência de um outro Observatório na Tapada da Ajuda, terá contribuído para o desinteresse do funcionamento do Observatório da Politécnica cujo edifício está, há muitos anos, em mau estado de conservação
Na Escola Politécnica foi criado o Jardim Botânico, que começou a ser plantado em 1873 e foi inaugurado em 1878.
Jardim Botânico e Observatório Meteorológico
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian
Integrado no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, tem raízes históricas, pois desde o século XVIII que no local havia um Horto Botânico pertencente ao Noviciado dos Jesuítas. Assim, este equipamento veio dar razão e enlevo à tradição do Monte Olivete, também designado por Alto da Cotovia ou Sétima Colina de Lisboa. O Conde de Ficalho e Andrade Corvo, ambos professores, foram os seus principais impulsionadores, sendo a sua acção integrada em programas de ensino e de investigação da Escola Politecnica.
A enorme diversidade de plantas recolhidas pelos seus primeiros jardineiros, o alemão E. Goeze e o francês J. Daveau, provenientes dos quatro cantos do mundo em que havia territórios sob soberania portuguesa, patenteava a importância da potência colonial que Portugal então representava, mas que na Europa não passava de uma nação pequena e marginal.
A finalidade foi deste Jardim Botânico foi, e é, servir para o estudo e conhecimento dos recursos naturais e o lazer das populações. No início, deu prioridade à incorporação de espécimes provenientes das províncias ultramarinas. Mas foram igualmente introduzidos espécimes da Austrália, Nova Zelândia, China, Japão e América do Sul, como que procurando uma representação de espécimes dos quatro cantos do mundo, por onde Portugal passara nas façanhas dos Descobrimentos.
No século XX, já existiam em Lisboa instituições de ensino superior que foram convertidas em faculdades, como a Escola Médico-Cirúrgica, que deu lugar à Faculdade de Medicina, a Faculdade de Farmácia, a Escola Politécnica precursora da Faculdade de Ciências, e o Curso Superior de Letras que se tornou na Faculdade de Letras. Além destas três, foi criada a Faculdade de Ciências Económicas e Políticas que, em 1913, foi convertida em Faculdade de Direito.
Em 1985, um Decreto-Lei determinou a entrega das instalações ao Museu de Ciência da Universidade de Lisboa e ao Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa.Neste edifício da rua da Escola Politécnica, funcionam actualmente:
Museu Nacional de História Natural
Museu Mineralógico e Geológico
Museu Zoológico e Antropológico-Museu Bocage
Museu Laboratório e Jardim Botânico
Museu de Ciência
Actualmente, e desde 1985, a Faculdade de Ciências está instalada no Campus da Universidade de Lisboa, no Campo Grande. A FCUL dispõe de oito edifícios e integra também o Instituto de Oceanografia, o Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica e o Instituto de Ciência Aplicada e Tecnológica.
Cada um destes oito edifícios é composto por quatro, cinco ou seis pisos, onde estão instalados diversos gabinetes, salas de aulas, associações, departamentos, etc.
A estruturação da Faculdade em nove departamentos que conduziram o ensino e a investigação em diversos domínios foram: biologia vegetal, educação, estatística e investigação operacional, física, geologia, informática, matemática, química e bioquímica, biologia animal.
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