O "Hotel da Peninsula" abriu pela primeira vez em 24 de Outubro de 1844, no palácio do industrial José Ferreira Pinto Basto - fundador da "Vista Alegre", em 1824 - no ,então , Largo das Duas Egrejas no Chiado, em Lisboa.
José Ferreira Pinto Basto (1774-1839)
Acerca do passado deste Palácio, conhecido pelo "Palácio dos srs. Ferreiras Pintos", "Palácio dos srs. Pintos Bastos" ou simplesmente "Palacio do Loreto", passo a transcrever uma passagem da revista "Olissipo" de Julho de 1957:
«A sua origem, posterior a 1830, deve-se ao abastado negociante e industrial José Ferreira Pinto Basto (1774-1839), que mandou levantar o airoso edifício sobre os antigos alicerces dum casarão que aí existia desde 1791, pertencente a outro rico negociante, de nome Francisco Higino Dias Pereira (director da "Companhia de Seguros Commercio de Lisboa" fundada em 18 de Março de 1874), em cujo primeiro andar residiu até 1801, data do seu falecimento. As duas ruas que ladeiam o Palácio, primitivamente chamadas do Tesouro Velho e do Oiteiro, dão hoje pelos nomes de António Maria Cardoso e Paiva de Andrada. Nos seus jardins situou-se o palácio de Pedro Álvares Cabral de Lacerda e suas dependências, e no mesmo lugar, em 1820 ou 1822, Pinto Basto estabeleceu um pequeno laboratório químico, tendente ao descobrimento de barros com os requisitos necessartos para fabricar porcelana. Só em 1824, depois de porfiados esforços, fundou a Fábrica de Vista Alegre. (...)
O Hotel da Península (1844-1848), bateu os dois outros hotéis que se lhe seguiram, em notoriedade e luxo. Dizia-se que «estava convertido na mais bela hospedaria de Lisboa. Logo após a inauguração, a 24 de Outubro, deu hospedagem ao enviado do Sultão de Constantinopla, Fuad Effendi, que três dias depois foi apresentado a Suas Majestades e a 24 do mês seguinte foi recebido pelo Duque de Palmela, no Paço do Lumiar, que lhe ofereceu um almoço-dançante, com jogo de xadrez.».
Era a seguinte a lista de alguns Hospedarias/Hotéis em Lisboa, em 1845, segundo o "Guia do Viajante em Lisboa e suas Vizinhanças"
1845
Por curiosidade, e no mesmo ano, regras a observar pelo estrangeiro ao chegar a Portugal ...
1845
Na sequência do baile referido no anúncio anterior, o "Diario do Govêrno" de 3 de Abril seguinte, publicou a «Relação das pessoas que acceitaram convites para o Baile que teve logar no Hotel da Peninsula, ao Loreto, a favor deste estabelecimento, na noite de 20 de Fevereiro último», - com um «Producto liquido a favor do Asylo de 455$918 réis» - e concluiu com a seguinte mensagem:
«Esta Commissão Administrativa por certo faltaria ao seu mais sagrado dever, se deixasse de testemunhar neste logar os seus muito excessivos louvores e agradecimentos a SS. MM. pelo valioso donativo com que se dignaram contribuir para este fim tão justo.
Cumprindo-lhe ao mesmo tempo agradecer infinitamente, não só a todas as pessoas que tão louvavelmente concorreram para o bom resultado deste baile, e com especialidade aquellas que se dignaram de a auxiliar na laboriosa tarefa da distribuição dos bilhetes, mas igualmente ao Illmo. Sr. Jorge Whals, pela maneira tão generosa e distincta com que se prestou a franquear a casa da sua residencia no mencionado Hotel, para se dar o mesmo Baile.
Finalmente a Commissão entendeu que nenhuma outra applicação poderia dar ao producto liquido do referido Baile, que podesse merecer mais a approvação geral, do que ser votado em globo para a compra de roupas, e mais arranjos necessários para as duas novas camaratas, que se deverão abrir nos próximos annos de Sua Magestade a Rainha, elevando-se então o numero dos asylados a seu cargo de 510, que existe, ao de 600 de ambos os sexos, devendo-se por esta occasião remover para este pio Estabelecimento, de accordo com o Ex.mº Governador Civil, o maior numero que seja possível dos mendigos mais salientes, que costumam esmollar pelas ruas e sitios mais públicos desta Córte, e que se tornam mais recommendaveis pelo seu estado de cegueira e disformidades, convindo por isso muito que sejam afastados das vistas do publico.»
Um hóspede ilustre (mais um ...) para o "Hotel da Peninsula":
Entretanto era fundada a "Assemblea da Peninsula" a funcionar nas instalações do "Hotel da Peninsula"
«A Assembleia da Península, também chamada Sociedade da Península, fundou-se em 1848 e deixou dela os ecos mais brilhantles e altissonantes do tempo. Ficaram célebres os seus bailes e , que no decorrer do século passado rivalizaram com as melhores diversões desse género, em que chamava parte a primeira sociedade, que muito dlistinguiu o Club Lisbonense, a Assembleia Portuguesa, a Assembleia Lisbonense e a Real Academia Melpemonense.
«Dançou-se muito no prédio da família Pinto Basto», como no-lo afirmou o nosso Júlio de Castilho, pois a Assembleia da Península atraiu às suas salas «Lisboa inteira».
Do que era a vida da sociedade e ao que obrigavam as desenfreadas lutas políticas.» in: "Olissipo" de Julho de 1957
Para termos uma ideia do vestuário feminino e masculino, utilizado nos eventos e bailes no "Hotel da Peninsula" em 1844, e recorrendo à revista "O Correio das Damas" ...
Modelos femininos de 31 de Outubro e 31 de Dezembro de 1844
Modelos masculinos de 31 de Outubro e 31 de Dezembro de 1844
Já em 20 de Janeiro de 1848, a "Revista Universal Lisbonense", noticiava:
«O luxo é hoje o mais avultado recurso do pobre. Este ponto não é para duas linhas, talvez que mais detidamente o tractaremos. Lembrou-nos ao termos que fallar do que torna mais agradavel um inverno passado em Lisboa.
Os bailes começam de um modo brilhante. Domingo começaram as recepções da Corte. A primeira esteve concorrida e animada.
Ao Baile esplendido do Sr. Márquez de Vianna seguiu-se o de Hotel da Peninsula.
Este baile foi realisação de um pensamento, que ha muito andava na mente de alguns cavalheiros da sociedade mais escolhida. Queriam reunir-se dando um baile. Assim o fizeram. A reunião foi como se esperava, concorreram pessoas dos diversos partidos politicos, e não faltou quem observasse no meio de uma das salas dous generaes, que se abracavam e que ainda ha pouco, por desgraça desta malfadada terra, desembainharam a espada um contra o outro no campo de guerra das nossas tristes dissencões.»
Em 1845, eram as seguintes, e mais importantes, "Associações de Reunião e Passatempo", em Lisboa:
1845
O "Hotel da Peninsula" encerrou definitivamente em 1848 mas a "Assemblea da Peninsula" continuou a funcionar, sem local fixo para os seus eventos.
29 de Dezembro de 1848
17 de Fevereiro de 1851
Entretanto em Fevereiro de 1851 na "Revista Universal Lisbonense" podia ser lido o seguinte anúncio:
«Baile da Peninsula - Foi um baile de subscripção e improvisado, que houve na quarta-feira na casa dos srs. Pintos Bastos, ao Loreto, onde esteve o hotel, dito da Peninsula.
Já não é a Peninsula d'outros tempos. Neste baile não houve nada de notavel, que mereça ser lançado na acta.»
A "Assembleia da Peninsula" ia desaparecer nesse ano, mas já outro Club estava na forja ...
Março de 1851
E no entretanto ... em Março de 1851, "Concerto vocal e instrumental» Na mesma página do anúncio anterior, e acerca do encerramento do café "Marrare do Polimento", instalado um pouco mais abaixo na Rua das Portas de Santa Catharina, e igualmente no mês de Março de 1851, ...
«Dizem que o «Club da Peninsula» alem de muitos outros improvements que vai introduzir nos diversos ramos da administração janotal, tem a peito estabelecer um café sumptuoso, que sera o forum nocturno, e a praça do commercio ordinaria destes negociantes de ociosidade, que se chamam janotas, e tambem dos que o não são. A séde do imperio muda-se de Roma para Bysancio. Dizem que o novo imperador será o Matta, que desta vez mata de de certo o Marrare.»
Com o encerramento do "Hotel da Peninsula" em 1848, seguiu-se-lhe em 1850 o "Hotel de Italia", que pertencente a Barradim, «dava uns finíssimos jantares de peixe às sextas-feiras, e tinha o melhor cognac conhecido em Lisboa». Já em 1850 ocupava o rico imóvel, onde se realizou o banquete oferecido a Constantino, rei dos floristas, a primeira vez que esse notável artista voltou a Portugal, tendo presidido Almeida Garrett.. Por lá ficou até cerca de 1865.
"Hotel de Italia", no "Guia do Viajante em Lisboa e Arredores" de 1863
A partir de 12 de Janeiro de 1867, o palácio teria como novo inquilino o Ministério do Reino, data em que um incêndio destruiu as suas repartições situadas no extremo oriental do Terreiro do Paço. Seguiu-se-lhe, cerca de 1873 o "Grande Hotel du Matta", do formidável cozinheiro João da Matta, que o professor Mello Breyner apelidou de «príncipe dos cozinheiros portugueses». Terá ficado no palácio do Loreto até 1877.
Gravura de 23 de Outubro de 1874
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, DIGIGOV, Arquivo Municipal de Lisboa