Restos de Colecção: Club Lisbonense

18 de maio de 2025

Club Lisbonense

O "Club Lisbonense", também conhecido por "Club do Carmo" foi inicialmente fundado numas instalações provisórias no "Palácio do Manteigueiro", na rua da Horta Secca esquina da rua da Emenda, por volta de 1834. Mais tarde viria a instalar-se no "Palácio Alverca" no Largo do Carmo, em Lisboa. Por ali esteve até á sua dissolução cerca de 1879. Entretanto, no "Palácio do Manteigueiro" continuaria a funcionar a "Assemblea Lisbonense".

«Na rua da Horta Secca, esquina da rua da Emenda, onde esteve ha talvez 50 annos o Club Lisbonense, reunião dos nossos principaes aristocratas, deputados, e banqueiros; ali se effeituaram brilhantes concertos e bailes; o Club Lisbonense mudou depois para o largo do Carmo, no palacio onde actualmente existe o Lyceu; o referido palacio pertenceu mais tarde ao visconde de Condeixa, que depois o vendeu a uma senhora brazileira, viuva; esta senhora passou a segundas nupcias com o sr. Joaquim Ferreira Gonçalves» in: "Portugal: Diccionario Historico, Chorographico, Heraldico, Biographico, Bibliographico, Numismatico e Artistico", de Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues em 1904.

O "Club Lisbonense" teve como seu primeiro Presidente o Duque de Palmella, D. Pedro de Souza Holstein, e como vice-presidente Francisco Antonio Campos que era Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Palacio Alverca no Largo do Carmo, onde funcionou o "Club Lisbonense"


7 de Maio de 1834


14 de Junho de 1834


1 de Fevereiro de 1836


2 de Abril de 1836

Acerca do "Palácio Alverca", publico um excerto do texto in: "Inventario de Lisboa"  de Norberto de Araújo - Fascículo 7 (CML 1950):

«No século passado já o palácio andava abandonado pelos Valadares, e convertido em prédio de rendimento, sem beleza alguma interior, pois o incêndio de 1798 tudo consumira. Logo a seguir ao sinistro esteve ali instalada uma fábrica de arame (1798-1817). Ocupou-o, em 1819 a famosa «Assembleia Lisbonense», clube de recreio de alta distinção, cujas deslumbrantes festas deram brado, e às quais chegou a assistir a familia real, dando o Rei D. João VI beija-mão. A «Assembleia» deixou o palácio em 1829, mas logo em 1835 o proprietário, que era então o 1.° Marquês de Torres Novas, alugou o andar nobre ao Clube Lisbonense, tambem muito afamado, e a cujas festas vinham por vezes D. Maria II, seu marido e filhos; o clube acabou em 1880. O andar nobre, logo em 1881, passou a ser sede da Direcção-Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis, que ali se manteve até 1887» 



O que terá sido o salão de bailes principal do "Club Lisbonense" (em foto de 2014)


"Carta de Convite"

Por outro lado, Julio Castilho no seu livro "Lisboa Antiga", publicado em 1902, referia o "Club do Carmo" no seguinte excerto:

«O citado Andrilliat, e o seu successor desde 1842, o celebre Godefroy, representavam e representam as mais deliciosas phantasias no córte, na tintura, no encaracolado dos cabellos. Quantos triumphos não prepararam elles ás grandes elegantes em noite de baile no paço de Belém, em noite de representação na Thalia, em noite de baile nas Laranjeiras, no Marquez de Vianna, no Club do Carmo, ou aqui no Lumiar, em casa do Duque de Palmella!»


27 de Janeiro de 1844


No "Guia de viajantes em Lisboa e suas visinhanças",  de 1845


13 de Junho de 1846


12 de Abril de 1852


1854


25 de Dezembro de 1868

Em 18 de Janeiro de 1866 o jornal "O Commercio" do Porto, noticiava:

«A sociedade do club lisbonense deu hontem nas suas bellas e espacosas sallas o seu terceiro baile. Nao foi grandemente concorrido, porque só se contavam alli 140 senhoras. Tambem, por estar a corte de lucto não assistiu El-rei o snr. Fernando, que costuma sempre honrar aquellas festas com a sua presença. Com tudo o baile esteve animado, e notavam-se muitas damas formosas, affaveis, e gentis e muitos toilettes de aprimorado gosto.
E' esta a epocha d'alvoroco no mundo elegante. Hontem ostentou as suas gallas nos salões do club, no dia 23 será nos dos snrs. Ferreira e Almeida e brevemente nos do snr. visconde d'Almeida, que dá um baile de costumes, para o qual se estão preparando obras de muita elegancia e primor.»


7 de Janeiro de 1870


No "A guide to Lisbon and its environs, including Cintra and Mafra ...", de 1874

Entretanto em 1876 é registado um óbito no "Club Lisbonense". A propósito e no livro "Portugal Antigo e Moderno" de Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal pode-se ler:

«3º Visconde e 3º Barão de Rio-Sêcco - com honras de grandeza - Joaquim José de Azevedo, nascido a 30 de setembro de 1822, e feito visconde em 14 de maio de 1861.
Morreu repentinamente, estando no Cub Lisbonense, em 3 de agosto de 1876, de uma congestão cerebral.
Tinha casado, em 7 de junho de 1852, com a sr.ª D. Maria Gertrudes Machado, filha dos primeiros viscondes de Benagazil, que ainda vive. Deixou descendencia.»

Existe muito poucas referências históricas a este "Club Lisbonense", que como referi no início viria a dissolver-se em cerca de 1879, ano em que se realizou a sua última assembleia geral a 30 de Janeiro de 1879, conforme anuncio que publico de seguida. 

29 de Janeiro de 1879

Neste "Palácio Valadares" viria a instalar-se o "Lyceu Nacional de Lisboa". A este seguiu-se-lhe o "Liceu Nacional do Carmo" no início do século XX, sucedendo-lhe de 1911 a 1933 o "Liceu Feminino D. Maria Amália Vaz de Carvalho". De 1941 a 1996 ali funcionou a "Escola Secundária Veiga Beirão" à qual sucedeu a "Escola EB 2/3 Fernão Lopes" até 2004. 

Outro "Club Lisbonense","Foot-Ball Club Lisbonense", viria a fundar-se em 1892, pelos três irmãos Pinto Basto e mais alguns amigos e ex-alunos do "Colegio Lisbonense", mas este de foot-ball, que seria o primeiro de Lisboa e que funcionou no Estádio Pinto Basto. Seria dissolvido em 1902 e abriria caminho para a criação do "Club Internacional de Foot-Ball" (CIF) em 8 de Dezembro de 1902. 

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, Ruas de Lisboa com Alguma História

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