Restos de Colecção: Hotel Polana em Lourenço Marques

24 de fevereiro de 2012

Hotel Polana em Lourenço Marques

O grande dinamizador da construção do grande “Hotel Polana” na cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo), em Moçambique foi Coronel Alexandre Lopes Galvão que em certa altura escreveu::

«Chegado a Lourenço Marques em 1917,  observei que ainda não tínhamos um hotel apto a receber personalidades importantes que nos visitavam. Na altura, Adriano Maia informou-me que seus amigos do Transvaal estavam dispostos a construir um grande hotel em Lourenço Marques. Eu levei o assunto ao conhecimento do governador-geral General Massano de Amorim, que concordou e autorizou-me a negociar. Em suma, se Lourenço Marques ganhou um belo hotel, inaugurado em 1922, a cidade a mim me deve».

Praia de Polana e seu Salão de chá, em 1917

Em Outubro de 1918, foi aberto um concurso pela “Delagoa Bay Lands Syndicate” , para a construção do “Hotel Polana”, ao qual concorreram sete firmas construtoras, das quais, apenas uma era portuguesa. O projecto desse hotel em estilo «Palace» foi de autoria do famoso arquitecto inglês, Sir Herbert Baker, autor do projecto do majestoso edifício da “Union Buildings”, em Pretória.

“Hotel Polana”

Os planos foram postos em exposição no Conselho de Turismo, e aprovada pelo Governo a construção do novo Hotel na Polana pela “Delagoa Bay Engeneering Works” e dirigida pelo engenheiro Hugh Le May., por ser a proposta mais barata apresentada. Ficou o compromisso que o Hotel seria construído em 19 meses. Os proprietários do hotel instalariam uma central termoeléctrica para fornecimento de luz eléctrica e um frigorífico. Com isto, com mobília, ascensor para a praia da Polana, e direitos, etc., o custo total do Hotel ficou estimado em 200 000 Libras, garantido o Governo à “Delagoa Bay Lands Syndicate” 6% anuais sobre o capital investido durante dez anos, assim como garante algumas concessões.

Exteriores do “Hotel Polana”

 Hotel Polana.17

O “Hotel Polana”, situado na Avenida António Enes e com os seus 142 quartos, inaugurou-se no dia 1 de Julho de 1922, tendo o custo da  construção derrapado atingindo o valor de 300.000 Libras Foi considerado na época uma das construções mais perfeitas e modernas e sem rival nos portos do Sul, havendo muito poucos hotéis na Europa semelhantes.

Ele tinha vida própria para a sua laboração: máquinas geradoras de electricidade e aquecimento, frigorífico, lavandaria eléctrica, fábrica de sodas, telefones e água quente em todos os quartos. E para que nada faltasse, estava programado, para dias mais tarde, um serviço permanente de correios e telégrafos, permitindo assim aos seus visitantes expedir cartas, telegramas, radiogramas e até encomendas postais para todas as terras e navegação.

                                                     Lobby                                                                                     Bar

 

Baile em 1949

Salas de Jantar

 

Em Junho de 1936 o Hotel mudou de mãos pela primeira vez. Tendo a “Delagoa Bay Lands Syndicate” posto o imóvel à venda, a oportunidade foi aproveitada pelo milionário J.W.Schlesinger, que o adquiriu pela importância de 400.000 Libras. Pouco depois a empresa foi registada sob a designação de “Polana Hotel, Lda.”, sociedade com o capital de um milhão de libras.

John Schlesinger convida Armando Matos Ribeiro, com 33 anos de idade e que trabalhava numa companhia de seguros associada ao grupo Schlesinger,  para retornar a Lourenço Marques e gerir o “Hotel Polana”, tendo-o sempre como amigo e em quem confiava totalmente. Eis a razão por que, quando quis vender o “Hotel Polana”, o Sr. Schlesinger imediatamente ofereceu a Matos Ribeiro a oportunidade de criar um grupo de sócios para comprar a sociedade sul-africana “Polana Hotel, Lda.” 

                                           1955                                                                                          1957

1955 Hotel Polana 

Etiqueta de bagagem


 etiqueta in: IÉ-IÉ

Esplanadas

 

Foi durante a gerência de Armando de Matos Ribeiro, entre 1949 e 1963, que se fizeram as maiores modificações na propriedade (novos jardins da piscina após o desabamento da barreira da Polana, em seguida a inserção decaias de banho em todos os quartos, a remodelação das áreas sociais e da esplanada, projeto do Pancho Miranda Guedes). Somente a sala de jantar manteve a traça e a beleza que sempre teve.

Em 1963 John Schlesinger oferece a Armando Matos Ribeiro a opção de compra de todas as acções da “Polana Hotel Ltd.” e assim ficou definida a nova etapa do Hotel, tendo como accionistas Armando de Matos Ribeiro (como Sócio e Director), Jack Hoffmann, Anselmo Sousa Pinto e Manuel Aroso. A gestão do Hotel foi entregue à “South Africa Karos Company”.

É já com os novos accionistas que se concebe e executam as obras do novo hotel, o “Polana Mar”, integrado na encosta com um projecto do arquitecto José Herédia.

Piscinas do “Hotel Polana”

 

Com a Independência de Moçambique, após 1975, o Hotel entrou em declínio, por falta de clientes e pela degradação consequência da óbvia falta de pessoal e respectiva manutenção, permanecendo durante 20 anos praticamente abandonado.

Desde 1972 o “Hotel Polana” era explorado sob a forma de leasing pela “Southern Sun”, situação essa em que o hotel se encontrava em 1976 aquando da legislação contra os arrendamentos de propriedades. Na impossibilidade legal de quebrar o dito leasing com a “Southern Sun”, ambos o “Hotel Polana” e o “Polana Mar” reverteram para a posse do governo de Moçambique sem qualquer contrapartida para os sócios.

 Vista da praia de Polana e baía de Lourenço Marques a partir do “Hotel Polana”

Em 1994, um grupo Sul-Africano adquire o Hotel, remontando às suas origens de fundação, e com as melhoras que já sinalizava Moçambique, deu continuidade ao seu estatuto de um dos melhores hotéis de cinco estrelas do continente africano. Desde o hall, revestido a mármore, aos jardins generosos em estrelícias e coqueiros, nada é deixado ao acaso neste escaninho luxuoso, que se preparava para nova reestruturação. Curiosamente, não era apenas procurado por viajantes exigentes, mas também pelos próprios habitantes de Maputo (ex-Lourenço Marques), devido à cozinha requintada e à pastelaria – o chá com scones e o cozido ao domingo são dois clássicos –, à piscina que era a mais cobiçada de Maputo,  e o seu ginásio.  

Após um investimento de 25 milhões de dólares, pela nova proprietário do hotel a “Aga Khan Foundation for Economic Development” (AKFED),  e 21 meses de obras profundas, reabriu em 28 de Setembro de 2010 a «grande dama de áfrica»,de 5 estrelas e  com a nova designação “Serena Polana Hotel”. A gestão desta unidade hoteleira ficou a cargo do “Serena Group”, líder nas cadeias hoteleiras da África oriental.

“Serena Polana Hotel”

 

fotos in: Memória de África, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Hemeroteca Digital

4 comentários:

João Celorico disse...

Curiosa a última foto (a preto e branco) onde se pode ver a zona de praia (quadrado) delimitada por uma rede destinada a evitar os tubarões. Era a zona de segurança tendo, lá no meio, uma prancha de saltos. Suponho que era isso a Praia da Polana e de que, nos anos 60,ainda se viam alguns vestígios. Nestes anos 60, as pessoas já tinham descoberto o imenso areal da Costa do Sol e já não tinham receio de tubarões. Acresce que a qualidade da água, nessa zona da Polana, também deixava muito a desejar.
Velhos e belos tempos!

Bem haja por estas recordações,

João Celorico

José Leite disse...

Caro João Celorico

Grato pelo seu esclarecedor comentário

Cumprimentos

José Leite disse...

D. Lucília Vieira

Todo o texto reproduzido no artigo em questão foi uma composição de várias informações que fui colhendo em alguns sites/blogues.

Se eles foram reproduções do livro em questão desconheço, pois não indicavam certamente a fonte.

Os meus cumprimentos

J.Leite

Juanna disse...

Lembro-me bem de ir ao Polana quando estava semi-abandonado, dormi lá umas noites tinha eu uns 4 ou 5 anos, ou seja, em 1984. Estava mal mas ainda dava, as piscinas vazias e com a tinta rachada, a relva do tamanho de uma criança, quase não havia pessoal, etc. Voltei lá já adulta, há 10 anos atrás e foi uma alegria ser aquilo tudo arranjado. E o elevador...inesquecível. De filme!