A “Companhia de Seguros Marítimos Tagus”, foi fundada em 20 de Setembro de 1877, com um capital social de 200 contos de réis, em consequência da assembleia geral constituinte, realizada para o efeito a 18 de Setembro do mesmo ano, a qual conferiu plenos poderes ao accionista António Gomes da Silva para a outorga da escritura.
Esta sociedade anónima adoptou para sua denominação a palavra latina “tagus”, que significa Tejo, e para seu emblema «uma chapa encarnada, representando um quadrilongo, guarnecida de um friso preto, tendo ao centro uma elipse formada por um friso dourado com fundo preto, e dentro dela a palavra TAGUS, em caracteres dourados. Contornando a elipse, na sua parte superior, tem a seguinte designação: COMPANHIA DE SEGUROS e, por baixo, em linha recta, 1877 - Lisboa».
Chapa e emblemas de radiador gentilmente cedidos por Carlos Caria
A designação inicial de “Companhia de Seguros Marítimos Tagus” estava intimamente ligada ao seu principal negócio: seguros de embarcações que navegavam no Tejo e as fazendas transportadas neste rio ou fora dele. Certamente, os comerciantes que fundaram a “Tagus” , acreditavam, na altura, que os seguros fluviais eram um ramo aliciante. Nessa altura, «o Tejo e os seus afluentes do curso final eram a mais importante via de propagação da influência de Lisboa para o interior; as comunicações por terra eram então demoradas, difíceis e perigosas e muitas vezes exigiam o recurso a trajectos marítimos e fluviais. Belém e Pedrouços estavam ligados ao centro da cidade por carreiras de barcos.»
A “Tagus” começou a funcionar com um funcionário, admitido em Outubro de 1877, a que se seguiu em Setembro de 1878 o segundo e, em Fevereiro de 1879, o terceiro, cujas remunerações mensais eram de 18$000, 15$000 e 6$000 réis, respectivamente.
A sua sede foi temporariamente instalada no escritório de um dos seus directores, na Rua do Jardim do Tabaco, em Lisboa. Em 29 de Setembro de 1880 mudar-se-ia para um andar alugado na Rua da Alfândega, 160, instalações estas que já ofereciam melhores condições, nomeadamente para a realizações de assembleias gerais, funcionamento normal dos serviços e atendimento a clientes.
29 de Setembro de 1880 Instalações na Rua da Alfândega
O primeiro sinistro da “Tagus” ocorreu no rio Tejo com a fragata “S. Vicente”, a 1 de Dezembro de 1877 pelas 2 horas da tarde quando esta navegava carregada de carvão e «acontece que no mar de Cacilhas lhe veio uma grande refrega de vento que logo partio a vella grande». Segundo a peritagem, o custo do sinistro era de 6$340 réis, compreendendo o conserto da vela grande, 10 metros de fazenda, cabo de linho e fio de vela. O sinistro foi pago e reparado antes do fim do mês.
Em 1879, a “Tagus” tinha já 64 agentes espalhados pelo país de Norte a Sul , e em 1880 esse número subia a 75 estando, igualmente, representada em Cabo Verde. Em 1882, já dispunha de agências nos Açores, na Madeira e «em todos os principais portos das províncias ultramarinas da Africa Occidental».e, mais tarde em Moçambique. Em 1879 tinha já registado um movimento significativo, com a emissão de 2.196 apólices de seguros marítimos e 1.332 apólices de seguros terrestres.
É em 1882 que se registam os primeiros prejuízos da “Tagus” e desentendimentos internos, que acabariam por abalar a imagem da Companhia e conduzir à substituição completa de todo o pessoal de escritório e externo.
Em 1904, a “Companhia de Seguros Tagus” adquire o prédio onde anteriormente estivera instalada a “Companhia da Águas de Lisboa”, na Rua d’El-Rey, mais tarde Rua do Commercio, onde passa a ocupar os números 48 a 64.
1908
Em 1912 a “Companhia de Seguros Tagus”, abriria 35 novas agências e outras 30 em 1914. Criou instalações no Porto e em Braga, de seguida e já no final de 1960, em quase todos os distritos. De referir que em 1977, na véspera da sua extinção, a “Tagus” dispunha de escritórios regionais e delegações em 14 distritos ou concelhos.
1914
Apólice de “Seguro Terrestre”, em 1935
No ano de 1938, a “Tagus”, já com os ramos “Automóveis” e “Acidentes de Trabalho”, processou 5.983.027$15 de prémios. Em 1944, explorava os ramos “Automóveis e Responsabilidade Civil", “Fogo”, “Marítimo”, “Transportes”, “Vida” e “Diversos” (quebra de vidros, furto e roubo e greves e tumultos). Em 1946 participa na fundação da “Companhia de Seguros Angolana”.
Em 1975 e na sequência da nacionalização dos Seguros a 15 de Março de 1975, a “Companhia de Seguros Tagus” torna-se numa Empresa Pública - E.P.. Segundo a resolução nº 199/78 do Conselho de Ministros, a “Tagus” viria a ser incorporada no grupo formado pelas companhias “Douro” (1925-1979), “Ourique” (1947-1979), “Argus” (1907-1979), e “Mutual do Norte” (1913-1979). Esta determinação, com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 1980, estabeleceu, como produto da fusão destas companhias a criação da empresa pública “Aliança Seguradora” (1980-1995).
A 5 de Janeiro de 1995, quinze anos depois da extinção da prestigiada “Tagus”, «é autorizada a constituição da sociedade anónima de seguros denominada “Companhia de Seguros Tagus - Seguros de Assistência, S.A.” .»
Bibliografia: Dicionário de História Empresarial Portuguesa - Séculos XIX e XX - Volume II - Seguradoras. Coordenação de Miguel Figueira de Faria e José Amado Mendes - Imprensa Nacional Casa da Moeda
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Hemeroteca Digital, Delcampe.net