Restos de Colecção: Hotel Condestável

15 de julho de 2018

Hotel Condestável

O “Hotel Condestável”, localizado na Travessa do Salitre, em Lisboa, e propriedade de Arménio Fernandes, natural de Arganil, foi inaugurado em 28 de Abril de 1954. O projecto foi da responsabilidade do arquitecto Lucínio Guia da Cruz (1914-1999), apostado em promover de forma inovadora a modernidade e o bem estar dos clientes.

Este Hotel estava situado numa zona privilegiada de Lisboa, no que a turistas nacionais e estrangeiros dizia respeito, frequentadores tanto do “Parque Mayer”, ali mesmo ao lado, como das casas de espectáculos existentes na Praça da Alegria e Avenida da Liberdade, teatros, cinemas, casa de fado, night-clubs, etc. À época da sua inauguração, o director do hotel era António dos Santos Barra, o porteiro sr. Gordinho, e o despenseiro sr. Fernando e que morava ao lado.

“Hotel Condestável” e o famoso Bar-Restaurante “Galo” com o “Café Lisboa” à esquerda na foto

O “Hotel Condestável” começou por ser constituído por apenas um edifício, ao que se juntou outro construído poucos anos mais tarde, por demolição do prédio adjacente a sul, e permitindo a disponibilidade de 100 quartos, «todos com casa de banho, aquecimento, telefone e rádio», e, por último, outro a norte do edifício inicial, e já com todos os seus quartos com ar condicionado e televisão.

Local onde viria a ser construído o “Hotel Condestável”

 

Já construído, e em fase de acabamentos na foto da esquerda e já inaugurado na foto da direita

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“Auto-Parque do Hotel Condestável” com frente para a Avenida da Liberdade

Além das visitas à capital para compras e lazer, havia quem ficasse hospedado no hotel por questões de trabalho: «os grandes industriais do norte ficavam longas temporadas em Lisboa para tratar de negócios. Na altura, fazer uma viagem Porto/Lisboa demorava imenso tempo, não é como agora. Por isso, as pessoas vinham e ficavam hospedadas vários dias», relatava, em 2004, João Fevereiro, o então director comercial e funcionário da casa há mais de quarenta anos. E acrescentava: «antigamente, havia pessoas que ficavam aqui durante meses e que acabavam por adoptar os funcionários como sua família. Por exemplo, os escritores que queriam privacidade ou os juízes que eram mudados de comarca ficavam nos hotéis». João Fevereiro também chegou ao ”Hotel Condestável” em 1966, mas o mais antigo funcionário era Manuel Barros Rodrigues, que em 1 de Maio de 2004 comemorou o seu 45º aniversário como empregado hoteleiro, onde começou a trabalhar como mandarete.

Postal promocional

 

Quanto à cozinha do Hotel, esteve durante muitos anos entregue a Manuel Dias Francisco, também um dos mais antigos funcionários do hotel, apesar de ter trabalhado sempre nos bastidores, na "brigada da cozinha". De calças às riscas brancas e pretas, avental branco e chapéu alto, o chefe Dias Francisco recordava, em 2004,  as mudanças verificadas nos hábitos alimentares e de confecção nas últimas quatro décadas: «As coisas na cozinha também mudaram muito. Antes, as vitelas chegavam aqui inteiras e nós é que tínhamos de as tratar. Havia um responsável para lavar os tachos e amanhar o peixe, um que estava só responsável pela carne. A brigada da cozinha era composta por 10 a 12 empregados, hoje são cinco ou seis, também já vem tudo preparado»

Em tom de remate, Manuel Barros relatava, em 2004: «Na altura em que o hotel foi inaugurado havia 23 hotéis em Lisboa. Hoje existem quase 115. As coisas mudaram muito, algumas funções desapareceram, o tipo de exigência é diferente e os próprios clientes mudaram».

1963

Etiqueta de bagagem

Sessenta e quatro anos passados, o actual “Hotel Lisboa Plaza”, de 4 estrelas, mantem-se propriedade da mesma família e inserido no grupo “Heritage Lisbon Hotels”. Com sua fachada sóbria e depurada ao estilo internacional, e os espaços envolventes plenos de charme e comodidade, graças à recente decoração clássica idealizada por decoradora Graça Viterbo, e com os seus 120 quartos, mantém o glamour e o ar acolhedor de outros tempos, apesar de, actualmente, a maioria dos seus clientes serem ilustres desconhecidos que ficam apenas alguns dias.

 

 

Bibliografia: “Os "glamourosos" 50 anos do Hotel Lisboa Plaza”. Artigo de Sílvia Maia no jornal “Público”, em 28 de Abril de 2004.

fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa

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