Restos de Colecção: O Primeiro e Último Submarino

20 de setembro de 2011

O Primeiro e Último Submarino

O primeiro submarino adquirido pela Marinha de Guerra portuguesa foi o NRP “Espadarte” em 15 de Abril de 1913 e o último, até hoje, foi o NRP “Arpão” em 28 de Abril de 2011.

As primeiras experiências submarinas na Península Ibérica tiveram lugar no rio Tejo, em 1538, quando se experimentou uma espécie de câmara em forma de sino para alojar mergulhadores. Poucas décadas mais tarde em 1580, mergulhadores portugueses atacaram por debaixo da água uma frota espanhola fundeada em Lisboa.

Mais tarde, em 1889, o 1º Tenente João Augusto Fontes Pereira de Mello concebeu um submersível para a Armada portuguesa de 39 metros de comprimento e capaz de uma autonomia à superfície de 2.500 milhas. Este submarino seria movido por baterias de acumuladores, em imersão, e por um motor de petróleo em superfície. Chegou a construir um pré-protótipo sem motorização que mostrou capacidade para submergir e voltar à superfície. Nessa época, os submersíveis navegavam quase sempre à superfície, só submergindo para o ataque. Mesmo à superfície eram de detecção muito difícil e apresentavam um alvo diminuto para as peças dos navios de superfície.

O submarino "Fontes" acabou por nunca se tornar uma realidade porque as autoridades navais não quiseram arriscar numa construção nacional da qual poderia ter surgido uma indústria e hoje ser Portugal um construtor e exportador de submarinos.

O “NRP Espadarte”, foi o primeiro submarino a entrar ao serviço activo da Marinha Portuguesa. Este submarino do tipo “Laurenti-Fiat”, foi encomendado em 1907, construído nos estaleiros “FIAT-San Giorgio, Muggiano” , em La Spezia - Livorno, Itália, tendo sido entregue no dia 15 de Abril de 1913 e tornando a Marinha Portuguesa uma das primeiras do mundo a ser equipada com este tipo de arma.

                                  Lançamento à água do “Espadarte”, e o responsável pelo projecto engº Orlando

                                  1913 Submarino Espadarte.3

                                    
                                  Pintura in: Revista da Marinha

A viagem desde Spezia até Lisboa foi deveras atribulada. Logo à saída de Spezia o mar bravo fez partir o embolo de ar de lavagem do cilindro nº 2 do motor de estibordo, o que obrigou o “Espadarte" a regressar ao estaleiro. Depois de reparada esta avaria, a 100 milhas do estaleiro o motor de bombordo avariou, pois o desajuste entre o veio do motor com o veio da hélice rebentou com os parafusos. Reparada esta avaria como  era possível rumou até Marselha onde à entrada do porto, a camisa do compressor de baixa pressão rebentou.

                                                                       O comandante saindo da torre

                                                          

Reparada mais esta avaria o "Espadarte" seguiu viagem em 8 de Junho mas não tardou que, no mar alto, se partissem os parafusos do prato da embraiagem do motor de bombordo  e verificando-se também uma rotura no tubo do compressor. Por este motivo teve de arribar ao porto de Barcelona no dia 9  de Julho, demorando-se  ali 11 dias, depois dos quais rumou a Gibraltar. Mas novamente os parafusos se partiram e o "Espadarte" foi forçado a arribar a Valência. Saindo deste porto, verificou-se que rachara a parede interna do cilindro nº 3  do motor de estibordo, o que depois de comunicado o sucedido à empresa construtora esta concordou em ser reparado em Alicante. Feitas as reparações rumou a Gibraltar.

                                                                  Colocação dum torpedo no “Espadarte”

                                      

Durante a viagem de Gibraltar para Lisboa, o "Espadarte" ainda teve de arribar a Lagos, por se verificar uma passagem de ar compressor do motor de estibordo de alta para a baixa pressão. Veio de Lagos para Lisboa só com o  motor de bombordo a funcionar, apesar de ainda ter tido de arribar a Sagres para remediar estas avarias. Finalmente a 5 de Agosto de 1913 o submarino “Espadarte” entra no Tejo, 76 dias depois da sua partida de Spezia …

                                              Chegada a Lisboa, com a nau D. Fernando e Glória ao fundo …

                                      

                                                             … e com a Praça do Comércio ao fundo

                                      

                                        Comandante com a sua tripulação                                 Comandante e sua família

                     

fotos in: Hemeroteca Digital, Arquivo Municipal de Lisboa

Em 1914 é constituída a Escola de Navegação Submarina o que faz dela uma das mais antigas do mundo.

Juntamente os submarinos da Classe Foca, de características semelhantes mas mais aperfeiçoados, adquiridos em 1917, o "Espadarte" formou a 1ª esquadrilha de submarinos da Marinha Portuguesa. Esta esquadrilha serviu durante a 1ª Guerra Mundial sendo desactivada com a entrada ao serviço de novos submarinos em 1934, apesar do "Espadarte" ter sido desarmado ainda antes, em 1928.

Posteriormente veio uma flotilha nos anos trinta de construção britânica, em que o nome "Espadarte" foi novamente atribuído a um dos submarinos da nova “Classe Delfim”, no ano de 1934. Outra, em segunda mão, também britânica, mas quase nova, após a guerra de 1945 e no fim década de sessenta e início da de setenta os actuais três de construção francesa da classe "Daphne". Foram quatro unidades, mas uma foi devolvida à França, por ordem do Conselho da Revolução, e depois vendida ao Paquistão.

Características do NRP “Espadarte”

Comandante: 1º Tenente Joaquim de Almeida Henriques

  • Construção - “Casa Fiat San Giorgio”, em Spezia, Livorno
  • Lançamento à água - 1913
  • Motores: 2 motores Scott-Fiat diesel desenvolvendo 650 cv.  
                   2 motores eléctricos, desenvolvendo 400 cv. (ligados quando imergido) 
  • Deslocamento - 245 t (à superfície) e  300 t (em imersão)
  • Comprimento - 45 m
  • Velocidade - 14 nós (à superfície) e  8 nós (em imersão)
  • Autonomia - 1500 milhas
  • Tripulação - 19 oficiais, sargentos e praças
  • Armamento - 4 Torpedos lançados por 2 tubos
  • Antena de telegrafia sem fios de alcance de 30 milhas

O último submarino adquirido pela Marinha de Guerra portuguesa, depois do NRP “Tridente” entregue a 8 de Setembro de 2010, da mesma classe, foi o NRP “Arpão”, entregue em 28 de Abril de 2011, pela empresa alemã Ferrostaal,  tendo entrado em Lisboa a 11 de Maio de 2011.

                                                    “Arpão”, na carreira pronto para ser lançado à água

                                     

O projecto do Tridente / U-214 resulta da fusão das características oceânicas dos U-209 mais antigos, com um casco mais resistente com as características hidrodinâmicas, sistemas mais modernos de propulsão e electrónica derivados do modelo de submarino alemão U-212. Por sua vez, o U-212, de que deriva o U-214 no que respeita a sistemas, linhas exteriores e electrónica, foi desenhado para a marinha alemã, que opera essencialmente no mar do norte e no mar báltico, por isso, não tem nem a mesma autonomia, nem a mesma capacidade de mergulho, nem pode disparar mísseis dos seus tubos.

                                    

Os Tridente / U-214 serão os primeiros submarinos de origem alemã na marinha portuguesa, por onde já passaram submarinos Italianos, Ingleses e Franceses.

Do ponto de vista estratégico, o U-214 será uma considerável mais-valia na garantia de defesa das águas portuguesas e na garantia igualmente importante do direito de ligação marítima entre o continente e os arquipélagos da Madeira e dos Açores. A existência destes submarinos, pode parecer insignificante. No entanto as suas características "Stealth" que o transformam numa arma quase virtualmente invisível, tornam-no numa arma a temer, por quem quer que seja, que durante o seu tempo de vida útil, possa negar a Portugal o seu direito de navegação nas águas do oceano Atlântico.

                                                    Chegada do “Arpão” à Base Naval do “Arsenal do Alfeite

                                       

                                                                              Lançadores de torpedos

                                       

                                                            Duas perspectivas da Escotilha (exterior e interior)

                                         

                     Motor eléctrico, ao fundo,  que é a o principal propulsor, tendo como auxiliares outros dois a diesel

                                      
                                                   fotos in: Estação Cronographica

Características do NRP “Arpão”

Comandante: Capitão-tenente Nuno Baptista Pereira

  • Construção - Howaldtsweke Deutsche Werft GmbH (HDW), Grupo Ferrostaal
  • Deslocamento - 1 842 t (à superfície) e  2 020 t (em imersão)
  • Comprimento - 68 m
  • Propulsão - 2 geradores AIP Siemens Sinavy (BZM-120) com 240 kW
                        2 motores diesel MTU 16V396 TB-94 com 6,24 MW
                        1 motor eléctrico Siemens Permasyn com 2,85 MW
                        1 eixo
  • Velocidade - 12 nós (à superfície) e  20 nós (em imersão)
  • Autonomia - 11 000 milhas náuticas
  • Profundidade - 350 m
  • Armamento -  Sistema de lançamento U209214TT 6 x Boeing Harpoon UGM 84 (Anti-navio)  
                           Torpedos - 12 x ALENIA-Marconi IF-21 Blackshark - sistema de lançamento: lançadores U209214TT
  • Sistemas Electrónicos - Sistema de gestão de dados de combate Atlas Elektronik ISUS 90
                                            Radar de navegação Kelvin Hughes KH-1007 (F) 
                                            Atlas Elektronik GmbH ISUS 90 (Sistema de gestão de dados combate)
  • Tripulação - 33 (7 oficiais, 10 sargentos e 16 praças)

Notar que o U-214 é um submarino híbrido. Assim, a sua potência quando opera apenas com o auxilio do sistema AIP, lhe permite apenas a velocidade de 8 nós (reduzindo para 5 a 6 dias a autonomia) ou de 4 a 5 nós, o que permite ao navio navegar submerso durante muito mais tempo. Ele pode no entanto utilizar a propulsão convencional, dispondo de dois motores com uma potência total de 5.600 cv.

1 comentário:

Carlos Henriques disse...

Mais um excelente artigo, só acrescentava como se via o nome dos submarinos portugueses. Era pela prova dos nove:

se desse 1 seria o Álbacora - S163
2 - seria o Barracuda - S164
3 - seria o Cachalote - S165
4 - seria o Delfim - S166
5 - seria o Espadarte - S167