Restos de Colecção: Cristo Rei

7 de novembro de 2014

Cristo Rei

O “Santuário Nacional de Cristo Rei”, ou simplesmente “Cristo Rei”, santuário e monumento religioso dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, localizado na freguesia do Pragal, no concelho de Almada, foi inaugurado em 17 de Maio de 1959.

Situa-se a uma altitude de 113 metros acima do nível do Tejo, sendo constituído por um pórtico, projectado pelo arquitecto António Lino (1914-1961) sobrinho do arquitecto Raúl Lino. Com 75 metros de altura, é encimado pela estátua do Redentor de braços abertos voltado para a cidade de Lisboa, com 28 metros de altura, da autoria do escultor Francisco Franco de Sousa (1885-1955). O pedestal, incluindo o pórtico, eleva-se a 82 metros de altura.

“Cristo Rei” em 1959

Vista do Tejo e da cidade de Lisboa a partir do “Cristo Rei” em 1962

A ideia da construção do monumento ao “Cristo Rei” surgiu em 1934, aquando de uma visita ao Brasil do então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira. Ao passar pelo Rio de Janeiro, viu a imponente imagem de “Cristo Redentor do Corcovado” e «logo no seu coração nasceu o desejo de construir semelhante obra em frente a Lisboa». Em 1936, a ideia de construir o Monumento a Cristo Rei foi transmitida ao “Apostolado de Oração”, que a acolheu entusiasticamente. Para ser considerado “Monumento Nacional”, este precisava de aprovação e cooperação de todos os Bispos Portugueses. Tal sensibilização aos Bispos é conseguida, sendo proclamada oficialmente na Pastoral Colectiva da Quaresma de 1937.

Cerca de um ano após o final da II Guerra Mundial, em 18 de Janeiro de 1946, na Pastoral Colectiva, o Episcopado português para além de fazer referência ao III Centenário da Coroação de Nossa Senhora da Conceição como “Padroeira de Portugal”, declarou formalmente ter feito a promessa de erguer o monumento ao “Cristo Rei” e, a partir daí, deu-se início uma campanha de angariação de fundos, campanha essa que se chamou “Pedras Pequeninas”  tendo-se estendido desde 1939 até 1958. Esta campanha viria a angariar até final de 1951 a quantia de: 2.927.218$00.

A cerimónia do lançamento da “primeira pedra” do monumento ao “Cristo Rei” teve lugar em 18 de Dezembro de 1949. Pouco mais de dois anos depois, em Janeiro de 1952 são adjudicadas as obras da construção dos alicerces à “Empresa de Obras Públicas e Cimento Armado” (OPCA), por 3.020 contos (3.020.000$00) e  iniciam-se os trabalhos das fundações. A obra foi realizada através de um sistema de cofragem especial, ou seja, os chamados moldes viajantes, em que o andaime era a própria estrutura, recebendo o betão, nos quais se via  crescer o pedestal da imagem de “Cristo Rei”, camada após camada.

Cerimónia do lançamento da “primeira pedra” em 18 de Dezembro de 1949

Fases de construção

 

         

 

Em 11 de Agosto de 1950, o escultor Francisco Franco comprometeu-se a ter pronto, no prazo de seis meses, o modelo da futura estátua, de um metro de altura; feito e aprovado este, faria um outro modelo de quatro metros de altura, o qual, depois de aprovado, seria o definitivo. A imagem do “Cristo Rei”, foi construída na própria estrutura, utilizando-se para o efeito moldes de gesso, preparados previamente a partir da maqueta. No total utilizaram-se cerca de 40 mil toneladas de betão. Depois de construído, foi esculpido à mão num trabalho de minúcia, desenvolvido a mais de cem metros do chão.

  

 

Lista dos intervenientes neste Monumento desde a sua construção:

Arquitectos: António Lino (1938); Empreiteiros: “Casa Teixeira Duarte & C.ª” (1950); “Rocha & Renda” (1957-1958); “Sociedade de Obras Públicas e Cimento Armado – OPCA” (1952).
Engenheiros: António Fernandes de Barros (1957-1958); Ernest Fleury (1950); Francisco de Mello e Castro (1946-1959); Francisco Lino Netto (1950-1959); João Manuel Castelo Branco Vieira (1950-1959); José Sidónio Brazão Farinha (1950-1959); José Máximo de Castro Nery (1950-1959).
Escultor: Francisco Franco (1946-1959).
Mestre: Leopoldo de Almeida (1950).
Empresas fornecedoras: “Altamira” (1958-1959); “G. Perez Ldª” (1957-1958); “Philips Portuguesa, S.A.R.L.” (1950-1959); “Sotécnica - Sociedade Eletrotécnica, Ldª”  (1950-1959).

Em 16 de Maio teria lugar a festa da inauguração no Estádio do Futebol Club “Os Belenenses”. A seguir 3 páginas do artigo publicado pela revista “ECOS” propriedade do “Externato Marista de Lisboa”, e respectivo bilhete de entrada. Documentos estes, gentilmente cedidos por Carlos Caria, a quem, mais uma vez, agradeço.

 Revista.2

Finalmente a 17 de Maio de 1959 (Dia de Pentecostes) perante a imagem de “Nossa Senhora de Fátima”, com a participação de todo o Episcopado Português, os Cardeais do Rio de Janeiro e de Lourenço Marques (Maputo), o Presidente da República Almirante Américo Tomaz, o Presidente do Conselho Doutor Oliveira Salazar e demais individualidades, inaugurou-se o Monumento. à cerimónia assistiram cerca de 300 mil pessoas. O Papa João XXIII fez-se presente por rádio-mensagem. Na ocasião, o Cardeal Gonçalves Cerejeira afirmava: «Este será sempre um sinal de Gratidão Nacional pelo dom da Paz».

Imagens da inauguração em 17 de Maio de 1959

Doutor Oliveira Salazar na tribuna de honra e o Almirante Américo Thomaz em oração

 

Mensagem do Papa João XXIII:

«É com o maior jubilo para o Nosso coração de pai comum, que aproveitamos a oportunidade da solene inauguração do Monumento Nacional a Cristo-Rei, para manifestarmos ao povo português todo o nosso afecto e benevolência.
Quando da nossa ida a Fátima, tivemos o prazer de apreciar e admirar o monumento, que se estava construindo, e que hoje é inaugurado perante todo o Episcopado português, de aquém e Além-mar e os representantes do Episcopado brasileiro.
Tal Monumento quer atestar o amor e reconhecimento de toda a Nação a Cristo-Rei, ao mesmo tempo que é o cumprimento de um voto solene  pela Pátria e pela Igreja, em boa hora feito, quando Portugal corria o risco iminente de ser arrastado para a guerra.
Bem haja, pois, o Episcopado português por tão nobre iniciativa, e bem hajam a comissão nacional e todos, ricos e pobres, pequenos e grandes, por terem contribuído, com os seu sacrifícios e orações, para a construção do Monumento, tornando assim possível este dia de Acção de Graças nacional.
Pedindo a Deus que continue a derramar sobre Portugal inteiro a abundancia das Suas graças e favores, concedemos a todo o querido povo português, hoje espiritualmente reunido, com as suas supremas autoridades, em volta do Episcopado e do Clero, a Nossa especial e larga benção apostólica.»

Três postais de 1959, ano da inauguração

     

Entretanto do “Diario de Lisbôa” , no mesmo dia, escrevia:

«A inauguração do monumento a Cristo-Rei, em Almada, que esta tarde se verificou, com a assistência do Chefe do Estado, de quase todo o Governo, dos dois cardeais portugueses, de um brasileiro e de um arménio, de todo o nosso Episcopado, de alguns bispos estrangeiros e de muitas dezenas de milhares de pessoas, transcendeu o limite de um acto religioso.»

Procissão da Nossa Senhora entre desde a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Cacilhas, até ao “Cristo Rei”

 

Imagens da missa campal presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira

 

 

No final da cerimónia a Procissão Fluvial com a Nossa Senhora de Fátima a bordo dum “cacilheiro”

 

Em 1984, por altura da celebração do 25º Aniversário do “Santuário Nacional de Cristo Rei”, foi aprovado um Plano Geral de Ordenamento para os terrenos do Santuário, da autoria dos arquitectos Luiz Cunha e Domingos Ávila Gomes. Desse projecto foi construído o “Edifício de Acolhimento do Santuário”, onde funcionam a Reitoria e Serviços Administrativos, tendo ainda uma Capela, Salas de Reuniões e galerias para exposições.


bilhete gentilmente cedido por Carlos Caria
 
Em Junho de 1999 o Santuário passou para a tutela da Diocese de Setúbal. A prioridade imediata foi dada ao restauro do Monumento. Com o apoio técnico da “Universidade Nova de Lisboa” - Faculdade de Ciências e Tecnologia. As obras começaram em Maio de 2001, tendo o Monumento sido reaberto solenemente dia 1 de Fevereiro de 2002. Confirmando o seu cariz de Santuário Nacional, foi decidido pela Conferência Episcopal Portuguesa que os ofertórios de todo o País no dia 23 de Novembro de 2003 revertessem para ajuda do pagamento das obras de restauro.

Imagens actuais do “Santuário Nacional de Cristo Rei”

 

            Capela de Nossa Senhora da Paz                                                Capela dos Confidentes

 

Loja de recordações

“Casa de acolhimento”

Vista a partir do “Cristo Rei” para Sul

Vista nocturna onde estão incluídos três dos «ex-libris» de Lisboa

Vista Nocturna

A 17 de Maio de 2009, inserido nas comemorações do Cinquentenário da inauguração do “Santuário Nacional de Cristo Rei”, a imagem de Nossa Senhora de Fátima presente na “Capelinha das Aparições” em Fátima tornou a estar presente no local . O Papa Bento XVI, associou-se a esta celebração enviando o seu Legado Pontifício, o cardeal Dom José Saraiva Martins, e leu uma mensagem no Angelus do dia 17 de Maio. Foi assinada a geminação entre o “Santuário Nacional de Cristo Rei” de Portugal e o “Santuário de Cristo Redentor” no Rio de Janeiro.

Cerimónias da comemoração do Cinquentenário do do “Santuário Nacional de Cristo Rei” em 17 de Maio de 2009

Repetição dos rituais religiosos praticados 50 anos antes: A Procissão entre Cacilhas e o “Cristo Rei” e a Procissão Fluvial

 

Bibliografia: site Santuário Nacional de Cristo Rei

Fotos in:  Santuário Nacional de Cristo Rei, Arquivo Municipal de LisboaBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)

10 comentários:

Carlos Caria disse...

Excelente trabalho amigo.
Gostei muito desta compilação histórica.
Abraço amizade.

José Leite disse...

Caro Carlos Caria

Muito grato pelas suas amáveis palavras em relação a este artigo.

Abraço

José Leite

Ivete Ferreira disse...

Ao ler o seu excelente post sobre a inauguração do monumento ao Cristo Rei, veio-me a memória a minha modesta participação nesse dia. Juntamente com as minhas colegas de turma fiz parte do grupo das alunas que "escreveram " a palavra Portugal. Tínhamos um vestido amarelo que se realçava do verde do relvado. Foi uma experiência unica e irrepetivel. Muito obrigada por este reviver daquele dia.

Ivete Ferreira

Unknown disse...


Foi com muita atenção que vi a sua reportagem. Ainda bem que o fez, é uma recordação cara a todos que têm Fé, para mim foi comovedor...

Sabe como cheguei ao seu trabalho?
Estou a fazer uma tese, em História da Arte e precisei de chegar a este monumento para análise comparativa.

PARABÉNS.
Maria Luísa (Porto)

José Leite disse...

D. Maria Coelho

Muito grato pela amabilidade do seu comentário.

Sempre que sei que o meu trabalho «serve para alguma coisa» fico feliz.

Os meus cumprimentos e felicidades para a sua Tese.

José Leite

albertosi disse...

A segunda foto no início, datada de 1962, peca talvez por 10 anos de atraso. O aglomerado de prédios altos situados na "Quinta da Horta", local onde nasci em 1950,não existia em 1962.
Os prédios mais à direita ocupam o desaparecido "Beco das Pimentas", local de onde saí precisamente em 1962 para se dar início à demolição das casas existentes e construção dos referidos prédios de apartamentos.

José Leite disse...

A título da foto é referente à foto seguinte e não à que refere.

De qualquer modo os meus agardecimentos

Os meus cumprimentos

Luís Santiago disse...

Muito boa tarde,

estou a fazer um trabalho de investigação referente ao ano de 1959, ano em que nasci.
Esta investigação é diariamente publicada num blogue que alimento referindo os acontecimentos do dia há sessenta anos.
Neste sentido venho perguntar se poderei usar algumas das suas imagens aqui publicadas, não olvidando obviamente a origem?
Se tal me for permitido agradeço que me envie um mail com o seu consentimento para o seguinte endereço: josedaxa@sapo.pt.
Grato e com os melhores cumprimentos,
Luis Santiago

Carlos Maia disse...

Muito obrigado pelo relato e por manter a nossa grandeza que é Portugal e todos os seus feitos! Viva a nossa pátria amada! Melhores cumprimentos.

José Leite disse...

Caro Carlos Maia

Eu é que agradeço a generosidade das suas palavras.

Os meus cumprimentos

José Leite