Restos de Colecção: Teatro Avenida em Coimbra

16 de novembro de 2017

Teatro Avenida em Coimbra

O “Teatro-Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, após 5 de Outubro de 1910 renomeado de “Teatro Avenida”, na Avenida Sá da Bandeira em Coimbra, propriedade de António Jacob Junior, Moraes Silvano e Mendes d'Abreu, foi projectado pelo arquitecto Hans Dickel, e inaugurado em 20 de Janeiro de 1892.

“Teatro-Circo do Principe Real D. Luiz Filipe” a seguir à sua inauguração

Enquadramento do “Teatro Avenida” na Avenida Sá da Bandeira

A sua construção, em terrenos cedidos pela Câmara Municipal de Coimbra, teve início em 1891 e nela trabalharam cerca de 100 operários. Dos estuques encarregou-se Francisco António Meira. As grades dos camarotes, as colunas que os sustentam e as cadeiras para a prateia foram fundidas na oficina de Manuel José da Costa Soares.

Este Teatro, oferecia: 28 camarotes de uma só ordem, 8 frisas, 28 lugares de balcão, 450 cadeiras e 450 lugares de geral.

«Para qualquer companhia é o theatro alugado por 80$000 réis. O actual emprezario, que procura sempre variar os espectaculos com peças escolhidas das melhores companhias e que é fiel cumpridor dos seus deveres, é o sr. Manoel Francisco Esteves. Tem o theatro orchestra e banda, sob a direcção do habil e intelligente professor Dias Costa. É esta casa de espectaculos muito elegante e tem commodidades. Na epocha propria é muito frequentado pelos academicos.» in: “Diccionario do Theatro Portuguez” - Sousa Bastos - 1908

A sala de espectáculos, com um «pano de boca» pintado por mestre António Augusto Gonçalves, tinha capacidade para 1.700 espectadores e o seu custo ultrapassou os 20 000$000 réis. Podiam lá realizar-se espetáculos equestres, de declamação e canto. Embora os espaços de recepção e hall de entrada fossem construídos em alvenaria de pedra, o espaço central e cúpula tinham estrutura metálica, vinda de um Teatro mais antigo, o "Teatro-Circo Do Arnado".

 

A inauguração do, então, “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, contou com a atuação de uma «companhia equestre, gymnástica, acrobática, cómica e mimíca, do Real Coilyseo , de Lisboa, de que é director o sr. D. Henrique Diaz»

« (...) Ao longo dos anos passaram pelo Avenida e lá atuaram muitas e famosas companhias, mas o velho teatro também teve papel de relevo na vida académica. No entanto, logo em 1894, se verificou uma tentativa de mudança de donos, que não sabemos se realmente veio a concretizar-se e em 1902 o Sr. António Jacob Júnior passou a ser o novo proprietário do imóvel, embora se falasse no surgimento de uma empresa que passaria a explorá-lo.» Anacleto, R. O fim do Teatro Avenida?, In Domingo, Coimbra.

Projeccionista do “Teatro Circo do Principe Real D. Luiz Filipe”, em 1902

Cédula de 10 centavos do “Teatro Avenida”

“Teatro Avenida” em 1962

 

                                             1959                                                                                           1964

  

14 de Fevereiro de 1964

                     

Nos finais dos anos 80 do século XX,  o “Teatro Avenida” é demolido e foi construído um edifício que albergou o Centro Comercial “Galerias Avenida”.

O espaço que tinha sido preservado do antigo “Teatro Avenida”, inserido no edifício do Centro Comercial, abriria em 12 de Novembro de 2010 com cara e nome novos, o “Theatrix”, um espaço nocturno e sala de espectáculos, vocacionada sobretudo para a música, com concertos e sessões de DJ, stand-up comedy, novo circo, dança e também cinema. Viria a encerrar, creio que em 2014.

“Theatrix”

fotos in: Opsis, Tuna Académica da Universidade de Coimbra, Guitarra de Coimbra

9 comentários:

APS disse...

Lembro-me bem dele, dos inícios dos anos 60, onde vi bons filmes e Ciclos de Teatro promovidos pela Associação Académica de Coimbra...
Grato por mais esta sua interessante evocação!

José Leite disse...

Caro APS

Eu é que agradeço a amabilidade do seu comentário.

Cumprimentos

Unknown disse...

Lamentávelmente transformado em coisa nenhuma de utilidade, zero destinada ao abandono para encher os bolsos de uns eoutros

Anónimo disse...

Enquanto estudante universitário, morei num prédio do outro lado da Avenida Sá da Bandeira, praticamente em frente do "Avenida", de 1966 a 1968.
No dia da Queima das Fitas em que pus "Grelo", tirei uma foto, que ainda conservo, à porta do Bar do "Avenida" (era a que se vê do lado direito da Entrada Principal), erguendo uma taça de "branco", que naquele dia era grátis para os grelados...

Contava-se naquele tempo, que numa Queima das Fitas anterior, com o Teatro a abarrotar de espectadores, um estudante já bastante "bebido", que se encontrava no primeiro Balcão, se debruçou no varandim e gritou para baixo, em altos berros:

Atenção Plateia... eu VOU VOMITAR!
Imaginam o reboliço que isso gerou na Plateia, mas foi só o susto...

Outros tempos!

Lá assisti a diversos espectáculos e muitos ainda não esqueci, como por exemplo o "Diário de um louco" de Nicolau Gogol, pelo genial Jacinto Ramos e também à maior ovação que presenciei na minha vida: cerca de 15 minutos de palmas ao Zeca Afonso e músicos acompanhantes.

Recordações!

Obrigado Sr. José Leite por nos oferecer mais este brinde.
Fico triste e lamento saber que já não existe esta sala por onde passava toda a Universidade de Coimbra.

Meus cumprimentos

Manuel A.

Anónimo disse...

Sr. José Leite

Com o entusiasmo de recordar o acima exposto, esqueci de referir que no seu texto há uma pequena contradição:

Se a última peça de teatro que passou no "Avenida", pela Cª Teatro Meridional, se estreou em 20 de Outubro de 2001, então a demolição não podia ter ocorrido em finais dos anos 70 do Séc. XX, como refere.

Meus cumprimentos
Manuel A.

José Leite disse...

Caro Manuel A.

Após ter verificado a abase de dados do Instituto Camões, confirmo que a última peça exibida, foi a referida .
O que se passa é que terá sido exibida no espaço preservado do antigo teatro, inserido no Centro Comercial.
A referir as seguintes peças exibidas no novo espaço:

1992 A arte da comédia Companhia Teatral do Chiado
22/10/1992 O triunfo do amor A Escola da Noite
4/11/1992 La tentation de Saint Antoine [teatro de objectos] Coq à l'âne, Matapeste
1993 Amanhã O Bando
15/3/1993 Sopa e coisas selvagens Teatro de Animação - Os Papa-Léguas
26/3/1993 Ki fatxiamu noi kui Teatro Meridional
19/4/1993 Mozart e Salieri Companhia de Teatro de Almada
26/5/1993 O retrato de Dorian Gray Cia. Internacional de Teatro Arte Livre
4/6/1993 Amor, vem Mutumbela Gogo
3/7/1993 Mandrágora A Escola da Noite
10/1993 Mandrágora A Escola da Noite
8/12/1993 Comédia sobre a divisa da cidade de Coimbra A Escola da Noite
11/3/1994 Um processo CITAC - Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra
2/11/1994 Ñaque ou sobre piolhos e actores Teatro Meridional
27/5/1995 João Palmieri Grupo de Teatro de Letras
31/5/1995 Nem toda a pena é leve Teatro da Academia
20/10/2001 Delírios dell'Arte (versão Pantalone) Teatro Meridional

Os meus cumprimentos
José Leite

Bingre disse...

Bom dia!
Desculpem a minha intromissão mas gostaria de, em relação à demolição do Teatro, dizer que este nunca poderá ter sido demolido nos finais dos anos 70. Acontece que fui várias vezes às sessões organizadas pela Associação de Estudantes da Escola Secundária de José Falcão enquanto frequentei esta escola, até 1983. O que aqui poderá estar a induzir em erro é que o centro comercial foi construído em 2 fases distintas:
Na primeira, o centro foi construído na sua parte mais alta, isto é, a partir da Rua Antero de Quental. Só depois desta construção estar concluída é que se procedeu à segunda fase que foi então a construção da parte inferior, a partir da Avenida Sá da Bandeira e aí sim, cometeram a atrocidade de demolir o Teatro Avenida. Juntaram as duas "metades" ao nível do 4º andar, se a memória não me falha, onde existe um corredor mais profundo. Anexo uma ligação para o Google Maps para as pessoas que não conhecem poderem ter a noção das ruas mencionadas.
https://goo.gl/maps/Ert6BpHqqUz
Obrigado pela atenção e cumprimentos,
Jaime Bingre Amaral

José Leite disse...

Caro Jaime Amaral

Grato pelo esclarecimento e correcção.

Como não estou em Portugal, de momento, farei a devida correcção quando regressar no mês que vem.

Os meus cumprimentos
José Leite

Paulo Tavares disse...

O Teatro Avenida começou o fim em 1986. quando numa sessão (em que eu estava ) caiu o palco e a tela durante o filme . Tenho a certeza porque eu estava no balcão com a minha ex mulher grávida do meu primeiro filho e tive que sair de lá com ela ao colo. Não me lembro se terá logo encerrado mas foi decididamente o fim . Curiosamente o filme que estava a passar chamava-se FX Efeitos Mortais . Logo não foi de certeza demolido nos anos 70 . Queira corrigir a informação . Paulo Tavares