O "Hotel da Granja", ou também denominado "Grande Hotel", foi inaugurado em 1876, pelo seu promotor Henrique Burnay (1838-1909), na Praia da Granja no limite das freguesias de S. Félix da Marinha e Arcozello no concelho de Vila Nova de Gaia, numa época em que a Praia da Granja estava no auge da sua popularidade. Durante algumas décadas foi chamado, também, de "Grande Hotel". O empreendimento surgiu em resposta à crescente procura por alojamentos de luxo na área, especialmente por parte da elite lisboeta e portuense, que se deslocava para a Granja para veranear.
"Hotel da Granja"
A construção do hotel acompanhou o desenvolvimento das infraestruturas da região, como a linha de comboio do Norte, que parava na Granja e que facilitava o acesso à praia. Durante algum tempo Espinho ficou apenas a ver passar os comboios, pois o mais perto que paravam era na Praia da Granja, que à época era «a praia chic das elites portuguesas».
Primitiva estação de comboios da Granja em postal de 1911
«A praia da Granja, a mais graciosa e asseada das estações balneares portuguesas a praia por excelência elegante, nasceu após a passagem da linha férrea pelo sítio. Diz-nos a quimica, que o diamante é um carvão; a Granja, uma jóia, tem, pois, essa mesma origem. Saiu do fumo negro da locomotiva, graças ao empenho do alchimista Fructuoso Ayres...». José Frutuoso Aires de Gouveia Osório, médico e politico português nascido no Porto, da qual foi Presidente da Câmara (1886-1887), adquire a quinta aos frades, passando a ser um couto privado deste ilustre portuense, sendo baptizada com o nome de "Quinta da Granja" ou "Quinta dos Ayres" .
Ramalho Ortigão no seu livro "As Praias de Portugal" publicado em 1876 ...
Uma companhia estabeleceu ahi um hotel regularmente servido com quartos pelo preço de 1$200 reis, comprehendido o serviço.
O club, para o qual està sendo concluido um edificio especial com um salao para trezentas pessoas, restaurante, cocheiras, etc., acha-se estabelecido em uma casa provisoria e e muito concorrido. N'elle se dançou em muitas noites durante a temporada passada, fizeram-se concertos, e no dia em que ali passamos planeava-se a representação de um proverbio de Musset, uma sessão de quadros vivos extrahidos de illustrações de Gustave Doré, e um passeio a luz dos archotes na floresta.»
E no seu livro "As Farpas" publicado em 1887, num capítulo dedicado à Granja ...
Le tout Paris consta, como se sabe, de uma pequena roda de pessoas, que vão a toda a parte onde a gente se diverte, mas que não sómente não são Paris inteiro, mas quasi que nem sequer são Paris. (…)
É aos cavalheiros com essa benefica orientação de gôsto, que eu principalmente recommendo a praia da Granja como um perpetuo e inexhaurivel mananciai de satisfação e de jubilo. Porque, depois de Cascaes, a Granja é a mais aristocratica das praias do littoral portuguez. Espinho sabe isto, e não o leva a bem.»
1913
Em 1909 o "Hotel da Granja" era gerido por Frederico Bramão, aparecendo em 1913 já como proprietário. Já em 28 de Fevereiro de 1914, o novo proprietário deste hotel, era Francisco dos Santos Silva, que submete a apreciação camarária o pedido de licenciamento para ampliação do mesmo em 1 piso, o que viria a ser deferido.
Na madrugada de 26 de setembro de 1926, o "Hotel da Granja" sofre um incêndio no último piso, que destruiu uma parte significativa do edifício. A sua origem não foi completamente clara, mas rapidamente se alastrou, causando danos irreparáveis à estrutura do hotel, que já enfrentava problemas de manutenção.
Após o incêndio e encerramento do hotel, estala uma polémica no jornal "O Comércio do Porto" em 1927, e no espaço reservado às cartas dos leitores, e que envolvia esta estância balnear. No dia 27 de Setembro, alguém que se assina Felix de Arcozello responde à leitora D. Tareca que dias antes publicara uma carta em que afirmava «a Granja está moribunda». Indignado, Felix de Arcozello, afirmava que a «Granja mantém ainda as suas tradições de elegância» e adianta que a praia «voltará a ser a Granja antiga, pacata e aristocrática», logo que seja construído um novo hotel. Felix sugere que D. Tareca tem uma identidade duvidosa e acusa-a de torcer por Vila do Conde, fruto da rivalidade que existia entre praias vizinhas do Porto.
Entretanto o "Hotel da Granja" é adquirido pela "Companhia Hoteleira da Granja" da qual era gerente o Dr. António Vasco Rebelo Valente. Em 1 de Março de 1928, é apresentado, pela empresa proprietária, o pedido de licenciamento para a reconstrução do piso ardido (terceiro), reparação das restantes áreas afectadas e reforma e melhoramentos nos restantes pisos e instalações do hotel, sob o projecto do arquitecto Joaquim Coelho de Freitas, cuja memória descritiva (parte) passo a transcrever:
A maneirda a construir-se sera toda feita de madeira de pinho, forradas exteriormente a telha portugueza, sendo a caixilharia exterior de madeira brasileira.
Os travejamentos e madeiramento da armação serão em pinho nacional com as secções de 0,22×0,08.
A cobertura sera feita com telha tipo Marselha. »
Com o passar dos anos, especialmente a partir da segunda metade século XX, o "Hotel da Granja" começou a perder o seu esplendor, à medida que outros destinos turísticos surgiam e os hábitos de veraneio mudavam. O aumento da oferta hoteleira e o desenvolvimento urbano afastaram gradualmente o foco da Praia da Granja como destino de luxo. O hotel acabou por fechar, entrando em estado de abandono por várias décadas.
O edifício do antigo "Hotel da Granja" foi completamente restaurado em 2006 que, apesar de manter a traça original, foi transformado num edifício habitacional, conforme fotos seguintes.
fotos in: Hemeroteca Digital de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Delcampe.net, Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner, Clube Amigos da Granja, mcf.a&a
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