Restos de Colecção: junho 2019

26 de junho de 2019

Cartazes Publicitários (30)

Marcenaria 1º de Dezembro


Companhia Vinicola Portugueza


Caldas Santas de Carvalhelhos


Fiat Portuguesa, S.A.R.L. (1933)



23 de junho de 2019

Cervejaria Solmar

A cervejaria e restaurante "Solmar", propriedade da firma "Grande Cervejaria Solmar, Lda.", foi inaugurado em 12 de Dezembro de 1956, na Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa. Viria a ocupar o espaço do extinto, “Club Arcádia”, um dos famosos Clubs Nocturnos de Lisboa inaugurado em 5 de Fevereiro de 1932 e cuja história pode ser consultada neste blog no seguinte link: "Bar-Dancing Arcádia".



O espaço ocupado Cervejaria "Solmar", no Palácio dos Condes de Povolide (mais tarde Palácio Conde de Burnay), já tinha tido outros inquilinos. A referir ...



"Palace Stand" de automóveis e camions "Chevrolet" da firma "Alexandre de Mendonça Alves, Lda.", a partir de 1929


"Bar-Dancing Arcádia", a partir de 5 de Fevereiro de 1932


Os irmãos galegos António e Manuel Paramés, deram início a este empreendimento em 1954, ao encomendarem aos arquitectos Luís Bevilacqua (1913-1986), Francisco Botelho de Sousa (1916-2010) e Luís Curado do gabinete do professor Pedro Jorge Pinto (1900-1983), o projecto de arquitectura da que viria a ser a maior e melhor marisqueira do país.                                                           


Inauguração




Para alcançar esse objectivo, os seus proprietários construíram um viveiro de marisco no Guincho,  podendo assim controlar a qualidade e quantidade de muito do marisco a servir neste estabelecimento.

Sendo o primeiro restaurante de Lisboa a ser considerado de «utilidade turística», a sua decoração ficou a cargo de José Espinho (1915-1973) e o seu mobiliário fornecido pela já desaparecida e prestigiada empresa "Móveis Olaio".



A seguir publico o guache original do painel cerâmico do pintor Jorge Pinto, criado para a cervejaria "Solmar", executado em 1956, e gentilmente cedido por José Augusto Antunes, a quem, mais uma vez, agradeço a sua gentileza.





No dia da inauguração podia-se ler num artigo do "Diário de Lisboa":

«O amplo salão restaurante "Solmar", que dispõe de uma grande galeria e tem ao centro, além de uma interessante fonte luminosa, um aquário, tem a fazer de fundo e valorizá-lo um admirável painel - da fauna marítima - em cerâmica esmaltada, género inglês, da autoria do artista Jorge Pinto».

«A convite dos proprietários do novo restaurante, o sr. Carlos Alberto Pereira da Rosa, que representava seu pai, sr. João Pereira da Rosa, cortou a fita simbólica.
Durante o magnífico lanche, fornecido aos convidados, foram distribuídos pela sra. D. Rosa Ferreira Cabral, proprietária da "Casa Copélia", lindas rosas, cravos e orquídeas ás numerosas senhoras convidadas».






«Com inspiração em temas do mar, a cervejaria caracteriza-se pelo exagero na utilização de diversos materiais, policromias, texturas, jogos de luz que atinge níveis quase lúcidos; na composição de painéis de azulejo, planos de pastilha colorida, galerias suspensas, aquários, um repuxo; e mobiliário, que permitiram criar um cenário imaginário e cinematográfico, apresentando-se como um dos grandes exemplos de um Projeto Total (Gesamtkunstwerk). O restaurante é dividido em três zonas - restaurante propriamente dito, cervejaria e café. A grande sala do restaurante é dominada por um grande painel de azulejos da autoria do pintor professor Pedro Jorge Pinto e por mobiliário moderno, com linhas retas e um espectro policromático, ao gosto da década de 50. Ao centro existe um pequeno lago com um repuxo e um aquário com a forma de um paralelepípedo, o qual articula as três zonas independentes, cuja construção foi feita sob a consulta do conservador do Aquário Vasco da Gama, Sr. Fernando Mendes. Este primeiro piso tem em grande parte um amplo pé direito, correspondente a dois pavimentos, pois só numa zona é coberto com um segundo piso (mezzanine), prolongamento do restaurante e cuja comunicação é feita por uma ampla escada de grande efeito decorativo. Por baixo deste segundo piso concebeu-se o bar da cervejaria, que possui um amplo balcão com bancos altos. As paredes são revestidas, parte em mármore, parte em granito polido, de um modo geral, havendo zonas em que foram empregues outros materiais, como pedra rústica e estuque pintado. As colunas são revestidas a mosaico cerâmico 1x1. O pavimento caracteriza-se por um jogo de materiais e cores compostos por mármores em faixas de duas cores e outras a lajedo rustico. Também a iluminação foi concebida de um modo cuidado, tendo-se optado por lâmpadas incandescentes adossadas ou suspensas do teto e por tubos fluorescentes colocados em sancas. A área da cafetaria, ligada por uma ampla porta envidraçada, é independente mas anexa ao restaurante. Um átrio antecede a entrada para a cervejaria, permitindo uma área de transição entre o espaço público e o seu interior, criando simultaneamente um lugar de abrigo e de estar.» in: "Património Cultural, Direcção-Geral do Património Cultural".

Postal publicitário de 1956


Anúncio em 1966


                             
  Facturas gentilmente cedidas por Carlos Caria

Tendo chegado a comemorar o cinquentenário da sua existência, a "Solmar" manteve até ao seu encerramento definitivo em Janeiro de 2016,  praticamente intacta a decoração interior original de 1956.



 




Entretanto, já neste ano, a 9 de Abril de 2019, a cervejaria "Solmar" seria reconhecida como monumento de interesse público por despacho da Secretaria de Estado da Cultura, cujo processo tinha sido iniciado em 25 de Fevereiro de 2016, depois de o mesmo ter sido proposto por cidadãos em 2012. De acordo com a portaria publicada em "Diário da República", publicada na data atrás referida, ficaria assim concluído o procedimento de classificação patrimonial, que, além do espaço, incluiu também todo o seu mobiliário e decoração.

Folheto promocional




Fotos do exterior antes do seu encerramento





fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)

19 de junho de 2019

York House Hotel

O actual “York House Lisboa Hotel” tem origem na hospedaria da colónia inglesa “York House”, fundada por um par de senhoras inglesas, - uma delas de seu nome Mrs. King - no ano de 1880, na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa.

Nota: a primeira foto será depois de 1908, já que à esquerda, na mesma, se avista o “Casino de Santos - Animatographo” que teve o seu auge nesse ano e seguinte.

A referida hospedaria, viria a ocupar o rés-do-chão e o 1º piso do edifício do Convento Mariano fundado, em 1581, pelo padre napolitano Frei Ambrosio Mariano e mais sete frades, e projectado por Filippo Terzi tendo sido a primeira fundação da Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal. Abolidas as ordens monásticas, em 1834, os bens do convento passam para a Fazenda Nacional, tendo a condessa de Murça, acolhido 33 religiosos e obtido do Estado a cedência de parte da Igreja para capela do seu palácio que lhe ficava contíguo.

Em 1835, o imóvel é requisitado para aí se instalar o 17º Batalhão da Guarda Nacional e no ano seguinte, foi igualmente  requisitado, desta vez para a Pagadoria Militar e Repartição do Comissariado em 1836. Neste mesmo ano, parte da cerca seria alugada, e depois comprada, pela "Companhia Fabril da Loiça". No ano seguinte, e à imagem do inspirador “Conservatoire des Arts et Métiers de Paris”, em 18 de Novembro de 1836 aí foi criado o “Conservatório de Artes e Ofícios de Lisboa”, que se queria, como se lê no artigo 1º do decreto fundador, como «um deposito geral de maquinas, modelos, utensílios, desenhos, descripções, e livros relativos ás diferentes Artes, e Officios». Razões diversas deram ao “Conservatório de Artes e Ofícios de Lisboa” uma penosa existência nesse local até à sua extinção por decreto em 1852.


O Convento, depois de, ainda, ter servido como hospital militar aquando da epidemia de febre amarela entre 1856 e 1857, viria a ser vendido em hasta pública em 1872, e adquirido pela congregação inglesa da igreja presbiteriana escocesa "Free Church of Scotland". Com o edifício bastante degradado, a igreja servia de oficina a um fabricante de velas para navios e a área conventual de tipografia e depósito de Bíblias de uma sociedade protestante inglesa.


Passado que estava um ano sobre a compra do Convento, duas senhoras inglesas, oriundas da região de Yorkshire demonstraram desejo de alugar a área que habitava o pastor, o 1º andar. Realizado o aluguer e adaptado o espaço, nascia uma hospedaria/pensão designada por “York House

“York House” no “Spain and Portugal Handbook for Travellers” de 1908


Para se ter uma ideia da oferta lisboeta em termos de hospedarias e hotéis entre 1845 e 1875, aqui ficam excertos de listas indicadas em publicações da época. Lembro que o termo hotel não tinha o mesmo significado, em termos de dimensão, dos actuais. A maioria não ocupava mais que um piso dum edifício, quanto muito dois - como este “York House” - e em termos de comodidades eram equivalentes a pensões modestas dos anos 60 a 80 do século XX.

Hospedarias no “Guia dos Viajantes em Lisboa” de 1845


Oferta de estabelecimentos hoteleiros (principais) no “A Guide to Lisboa and Mafra” em 1874


Os dois hotéis pertencentes a famílias inglesas em Lisboa em 1875


Em 1898, o conjunto é comprado pela “Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica”, onde, actualmente, desenvolve um conjunto de actividades, sendo a mais importante a celebração eucarística dominical.

A “York House”, apesar de modesta era praticamente utilizada em exclusivo por ingleses que viviam temporariamente em Portugal, não aparecendo nas listas dos hotéis e hospedarias nos almanaques portugueses, nem sequer em anúncios publicitários nos jornais portugueses da época. No entanto, a partir do início do século XX começou a ser mencionada em listas de guias turísticos ingleses.

“York House” no “Spain and Portugal Handbook for Travellers” de 1913



Pátio interior no início do século XX

F

Em 1910, com o ambiente complicado gerado pela revolução do 5 de Outubro para a implantação da República, as senhoras inglesas decidem trespassar a hospedaria a outras duas senhoras de francesas e de apelido Chiron. 

A pensão de terceira categoria “York House”, permaneceria na posse destas, até ser de novo trespassada, em 1931, a um casal de origem francesa e judaica de apelido Goldstein, por 220.000$00. Será este casal que dará início a uma nova era nesta pensão, com sucessivas obras de remodelações  e melhoramentos, destacando as de 1934 e 1959.

Nesta altura, davam vida a este estabelecimento hoteleiro seis pensionistas alojados com pouco conforto, carentes de água corrente, sem aquecimento, mobiliário impróprio, paredes forradas a papel antigo, chão de oleado e com lâmpadas que simplesmente penduradas no tecto ofereciam uma iluminação deficiente. O restante equipamento industrial encontrava-se em idênticas condições: as roupas achavam-se já gastas; o trem de cozinha era praticamente inexistente; um único açucareiro adoçava o café de todos os pensionistas ...

Exemplo de quarto de hotel no início do século XX



A pensão era constituída por um r/c no qual existia uma cozinha com fogão de lenha, uma casa de jantar, um escritório, uma sala, uma casa de banho e dezasseis quartos. Existia ainda a própria residência dos proprietários constituída por três divisões com casa de banho. No primeiro andar encontravam-se dez quartos e uma sala-de-banho.

Factura de 16 de Outubro de 1939


Todavia Madame Goldstein empreendeu obra e lançou-se no repto de tomar condignas e habitáveis os vinte e seis quartos componentes da pensão. Cautelosamente, já que os meios eram limitados e o peso do trespasse considerável, foi dado o primeiro passo e assiste-se à limpeza e ao efectivo mobilar dos quartos da pensão. São também arranjadas as casas-de-banho para as quais são adquiridas banheiras. São ainda substituídas loiças e roupas e o trem de cozinha.

A “York House”, viria a destacar-se pelo seu charme discreto, pelo pátio interior coberto de hera, e pelos quartos e salas assinados por Lucien Donnat (1920-2013) - sobrinho dos Goldstein, os proprietários - decorador de gosto requintado, cenógrafo e figurinista do “Teatro Nacional D. Maria II”, e que montaria o seu atelier no refeitório do antigo Convento, em 1942. Madame Goldstein, viria a arrendar, em 1964, o edifício que confinava com o pátio do lado poente, e que, entretanto, tinha ficado devoluto.

“York House “ no jornal “Herald Tribune International” de 1 de Dezembro de 1969


Em 1965 a “York House” era constituída por: quarenta e seis quartos, dos quais trinta e seis tinham casa-de-banho; as duas casas-de-banho em cada andar; uma sala-de-jantar em duplex; três salas; uma cozinha e serviços e ainda dez quartos para empregadas com duas casas-de-banho. Apesar de todas as obras que se foram efectuando, existiu sempre o cuidado de deixar visível e aproveitar tanto quanto possível o estilo monasterial.

Entretanto entre 1966 e 1967 surge, a possibilidade da “York House” expandir-se, ao surgir a possibilidade de arrendar o prédio na Rua das Janelas Verdes, nº 47. Feitos os contactos necessários foi possível concretizar o negócio, abalançando-se, então a “York House” em obra de certo vulto, a qual se materializou na reconstrução total do prédio. Ficaram apenas as paredes exteriores tendo sido todo o restante adaptado à exploração hoteleira. Estas obras prolongaram-se até ao ano de 1969 e daí resultaram mais doze quartos de nível superior, equipados com banho, bar, salas e respectivos apoios logísticos. No termo da década de sessenta a “York House” dispunha de cinquenta e oito quartos dos quais quarenta e oito com casa de banho, e um conjunto de instalações e serviços que, se poderiam classificar de hoteleiros.

Nos finais dos anos 60 do século XX o cineaste Luís Galvão Teles montaria um estúdio na igreja contígua ao “York House”.

O “York House”, viria a ser adquirido em 1983, por José Teodoro Teles, filho de Teodoro dos Santos e administrador da “Sociedade Estoril-Sol, S.A.R.L.”, proprietária do “Hotel Estoril-Sol”, em Cascais.


“York House” nos anos 80 do século XX








Etiqueta de bagagem


Em 2003, tem início um novo projecto de redecoração do “York House Hotel”, da responsabilidade da arquitecta Filipa Lacerda adaptando-a aos novos tempos.

"York House Hotel Lisboa", actualmente de 4 estrelas









O "York House Hotel Lisboa" de 4 estrelas foi renovado em 2014, oferecendo 32 quartos (24 standard e 8 deluxe), bar, restaurante, salas de reunião, centro de negócios, etc.

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Delcampe.net, York House Hotel Lisboa