Restos de Colecção: fevereiro 2017

26 de fevereiro de 2017

Exposição da Senhora de Fátima

A “Exposição da Senhora de Fátima” teve lugar no Castelo de São Jorge, em Lisboa, em 1957 por ocasião das comemorações do 40º aniversário das Aparições de Fátima de 1917.

Nove anos de peregrinação pelo Mundo da Nossa Senhora de Fátima

Aspectos gerais da exposição

 

Chaves simbólicas das cidades visitadas e corações de ouro oferecidos à “Senhora Caminheira”

  

Generosidades dos povos à Nossa Senhora de Fátima

Dádivas da cidade de Lourenço Marques e conchas que decoraram as ruas, e andor da Virgem na visita à Ilha de Tahiti

  

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais)

22 de fevereiro de 2017

Sacavém (2)

Já lá vão muitas décadas desde que o “Rio Trancão”, - inicialmente chamado “Rio de Sacavem” - que atravessa a localidade de Sacavém, às “portas” de Lisboa, deixou de ser navegável.

“Rio de Sacavém” numa gravura de 1850

Foi nas margens do “Rio de Sacavém” que se travou o primeiro recontro entre o Rei D. Afonso Henriques e os mouros, em 1147, logo antes da tomada de Lisboa - a chamada Batalha de Sacavém, nas imediações da velha ponte romana.

Foi uma via de comunicação preferencial até ao século XIX, por parte das pessoas da zona saloia a norte de Lisboa, tendo ainda sido um importante porto fluvial no contexto portuário do Tejo ao longo da Idade Média, tendo começado a decair gradualmente a partir do século XVI. Estava então pejado de embarcações que transportavam os produtos hortícolas até Lisboa. Foi também através dessas mesmas embarcações que subiram pelo rio as pedras usadas na construção dos torreões do Convento de Mafra, no tempo do rei D. João V.

Após o violento Terramoto de 1755, que assolou a capital, iniciou-se um lento processo de assoreamento do rio, que tem desde então impedido a sua navegabilidade; até aí, em conjunto com os afluentes, formava um vasto e muito mais largo sistema aquífero, de que a velha ponte romana (no segmento da estrada que ligava Lisboa a Braga), ainda existente no século XVI (e desenhada por Francisco de Holanda), que contava com treze arcos, constituía bem a prova disso mesmo.

Velha ponte romana em Sacavém desenhada por Francisco de Holanda

Fotos da primeira metade do século XX, em que Sacavém ainda tinha o seu “porto” de cargas e descargas servindo, também, as indústrias ali instaladas, caso da Companhia Portuguesa de Trefilaria (2ª foto).

  

  

  

  

Para ler acerca da história de Sacavém consultar o artigo neste blog no seguinte link intitulado: Sacavém (1)

fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital

19 de fevereiro de 2017

Templo Adventista de Lisboa

O “Templo Adventista” de Lisboa -  “Igreja da Missão Portuguesa das Adventistas do Sétimo Dia" - localizado na Rua Joaquim Bonifácio em Lisboa, projectado pelo arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, foi inaugurado em 28 de Novembro de 1924, tendo a festa de inauguração se prolongado durante o fim-de-semana de 28, 29 e 30 de Novembro de 1924, respectivamente Sexta, Sábado e Domingo. Construído com fachada bizantina, chegou a ser candidato ao “Prémio Valmor de Arquitectura”, mas por ser um templo religioso, foi-lhe recusado tal distinção.

Arq. Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957)

Em 1923, o projecto da "Igreja da Missão Portuguesa das Adventistas do Sétimo Dia", é descrito por Pardal Monteiro na memória descritiva da seguinte forma:

«Este edifício compõe-se essencialmente de dois pavimentos. O pavimento térreo compõe-se (...) de salas (...) destinadas a escritórios, livraria, sala de pequenas reuniões e ginástica médica.
O primeiro andar é ocupado por uma grande sala e algumas pequenas dependências. Esta sala é destinada a conferências e o seu piso é levemente inclinado para o extremo posterior a fim de facilitar aos assistentes a vista do que se passa no estrado do topo.
Este andar é subdividido n'um segundo pavimento ocupado por uma pequena galeria de duas bancadas.»

O primeiro contacto da “Igreja Adventista do Sétimo Dia” em Portugal foi através de Clarence Rentfro que, em 1904, pisou em solo português como pioneiro da “Igreja Adventista” em território lusitano, desembarcando do navio “Madalena” no dia 26 de setembro.

Foi com a senhora Lucy Portugal, viúva do actor António Portugal, que o seu trabalho começou a ter êxito. Com efeito, foi na casa desta senhora, localizada à Rua dos Industriais, nº 9, 2º andar, que se realizou a primeira escola sabatina, trata-se de um programa de estudo semanal continuado em que os membros têm oportunidade de estudar um mesmo tema durante a semana e discuti-lo posteriormente no sábado. A partir de 13 de Agosto de 1906, foi alugada uma sala de culto na Rua de S. Bernardo à Estrela, nº 120, 1º andar. No mesmo ano, a 27 de Setembro, chega outra família missionária - os Schwantes, que se radica no Porto.

Artigo na revista “Illustração Portugueza” de 15 de Abril de 1907

A igreja começara entretanto a sua expansão. Em 1906, Ernesto Schwantes iniciara a sua actividade no Porto. Em 1910, chegava a Portugal o pastor Paul Meyer. Clarence Rentfro substituíra um ano antes Ernesto Schwantes, então regressado ao Brasil, na região do Porto. As cidades de Portalegre, Tomar e Coimbra conheciam a mensagem adventista.

A actual “Igreja Central da União Adventista do Sétimo Dia”, compreende um amplo salão de reuniões, e instalações anexas, onde funcionam os serviços da Congregação Residente e da União propriamente dita.

 

Em Portugal, a primeira emissão radiofónica com uma mensagem Adventista, foi transmitida a 25 de Fevereiro de 1931 pelo então pastor António Dias Gomes, que emitiu uma conferência. O tema dessa conferência foi a “Reforma do Calendário”, um tema de actualidade para a época em que se debatia a vantagem de substituir a tradicional semana de 7 dias por uma semana de dez dias. O pastor António Dias Gomes demonstrou na sua mensagem, os inconvenientes dessa alteração. Desde essa altura houve mais algumas emissões de rádio mas sempre de forma esporádica. Assim em 1946 os jovens da  “Igreja Central da União Adventista do Sétimo Dia” pela mão de José Graça participaram em duas emissões da “Rádio Peninsular” onde deram duas sessões de música coral religiosa. Oito anos mais tarde, em 7 de Abril de 1954 iniciaram-se na mesma emissora, “Rádio Peninsular”, emissões de 15 minutos intituladas “Saúde e Lar” que se efectuavam às quartas-feiras à noite.

Em 28 de Novembro de 2013 tiveram lugar as comemorações da inauguração do templo da “Igreja da Missão Portuguesa das Adventistas do Sétimo Dia" , na Rua Joaquim Bonifácio, em Lisboa

fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital, Urbanus Detalhes, Lisboa

16 de fevereiro de 2017

Funeral da Rainha D. Amélia

No dia 25 de Outubro de 1951, D. Amélia de Orleães e Bragança, - ex- Rainha D. Amélia e de seu nome completo Maria Amélia Luísa Helena de Bourbon-Orleães - faleceu em sua residência em Le Chesnay, Versailles, França  aos oitenta e seis anos, devido a um fatal ataque de uremia. O corpo de D. Amélia foi então trasladado para Portugal pelo Aviso de 1ª classe “Bartolomeu Dias”, para Lisboa para junto do marido e dos filhos, no “Panteão Real da Dinastia de Bragança”, na “Igreja de São Vicente de Fora”. Foi  cumprido o seu último desejo à hora de sua morte.

Algumas das últimas palavras de D. Amélia terão sido: «Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal» e depois «Levem-me para Portugal, adormeço em França mas é em Portugal que quero dormir para sempre». O funeral teve honras de Estado e foi visto por grande parte do povo de Lisboa.

Início do cortejo fúnebre na Praça do Comércio

Cortejo fúnebre descendo a Rua Voz do Operário

 

Após a implantação República em Portugal, em 5 de Outubro de 1910, a Rainha D. Amélia seguiu o caminho do exílio com o resto da família real portuguesa, embarcando no iate real “Amelia” na Ericeira rumo a Londres. Depois do casamento de D. Manuel II, com Augusta Vitória de Hohenzollern-Sigmaringen, a rainha passou a residir em Château de Bellevue, perto de Versalhes, em França. Em 1932, o D. Manuel II morreu inesperadamente em Twickenham, no mesmo subúrbio londrino onde sua mãe havia nascido.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo do Doutor Oliveira Salazar ofereceu-lhe asilo político em Portugal, mas D. Amélia permaneceu em França, com imunidade diplomática portuguesa. Após o fim da guerra, regressou a Portugal, em 8 de Junho de 1945 numa emocionante jornada, visitando o Dispensário de Alcântara” fundado por si em 1893 iniciando deste modo a luta anti-tuberculosa promovida por si, o “Panteão Real da Dinastia de Bragança” na “Igreja de São Vicente de Fora”, o Santuário de Fátima e todos os lugares que lhe estavam ligados, com exceção de Vila Viçosa, apesar da grande afeição que sentia por esta vila alentejana.

Visita de D. Amélia a um infantário junto do “Dispensário de Alcântara”, em 1945

Visita ao “Panteão Real da Dinastia de Bragança” na “Igreja de São Vicente de Fora”, em 19 de Maio de 1945

 

O funeral de D. Amélia, no dia 29 de Novembro de 1951, teve início na “Estação do Sul e Sueste” terminando o cortejo fúnebre na Igreja de São Vicente de Fora, onde os seus restos mortais foram depositados no “Panteão Real da Dinastia de Bragança”, junto de seu marido, Rei D. Carlos I, e seus filhos Rei D. Manuel II e Infante D. Luís Filipe.

Urna a bordo do “Bartolomeu Dias” e respectivo desembarque, na “Estação do Sul e Sueste”

 

A propósito deste acontecimento a "Revista Municipal" escreveu:

«O Sr. Presidente da Câmara, Tenente-Coronel Álvaro Salvação Barreto declarou associar-se, também, aos sentimentos expressos pelos diversos vereadores, com o  que está certo de interpretar o sentir da vereação e da população de Lisboa que nunca deu ao atentado de 1 de Fevereiro de 1908 foros de acontecimento nacional, dignificante, sob qualquer aspecto porque esse acto pudesse ser visto - e isto mais uma vez o povo da capital acaba de confirmar. De facto, o regicídio, no qual a Senhora D. Amélia colhera a palma do martírio que a acompanhou até á morte, não se harmoniza com a tradicional maneira de sentir a Nação. Conforme acentuaram os vereadores que se lhe referiram, nunca a rainha deixou de ser portuguesa e de se lembrar, com carinho, da terra onde sofreu a maior das dores humanas, onde foi crucificada.»

E o jornal “Diario de Lisbôa”

«Ao dealbar do dia, quando a cidade amanheceu com milhares de bandeiras a meia adriça, deu-se o encontro, nas águas do cabo da Roca, entre o aviso "Bartolomeu Dias" que trazia a urna da última rainha de Portugal, e os contratorpedeiros "Lima e "Dão", enviados para lhe dar escolta até ao Tejo. Foi este o primeiro episódio oficial depois da entrada do "Bartolomeu Dias" em águas portuguesas.»

Às cerimónias do funeral desde o desembarque da urna - acompanhada desde Brest pelo Visconde d'Asseca e Júlio da Costa Pinto - na “Estação do Sul e Sueste, até à “Igreja de São Vicente de Fora”, estiveram presentes: Presidente da República, General Craveiro Lopes, Presidente do Conselho Doutor Oliveira Salazar, o Ministro da Marinha Contra-Almirante Américo Thomaz, Presidente da Câmara de Lisboa, tenente-coronel Salvação Barreto, Governador civil de Lisboa, Dr. Mário Madeira, o Arcebispo de Metilene D. Manuel Trindado Salgueiro, e o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira, entre outras inúmeras individualidades.

 

 

Quanto a figuras monárquicas, estiveram presentes a Infanta D. Filipa de Bragança, que representava a “Casa de Bragança”, os Condes de Paris, o Rei Carol da Roménia e Princesa Helena, a Princesa D. Teresa de Orleães e Bragança, da casa imperial do Brasil, os arquiduques da Áustria, e várias princesas e príncipes de Thurn e Taxis, aparentados com a “Casa de Bragança”.

O funeral de seu marido Rei D. Carlos I e de seu filho o Príncipe Real D. Luís Filipe, tinha-se realizado em 8 de Fevereiro de 1908.

Funeral do Rei D. Carlos I e de seu filho o Príncipe Real D. Luís Filipe, em 8 de Fevereiro de 1908

 

Primitivo “Panteão Nacional” na “Igreja de São Vicente de Fora” antes de 1932

        

Entretanto, entre 1932 a 1934 o Panteão recebeu obras de transformação e colocação de mausoléus, não estando essas obras concluídas quando em 2 de Agosto de 1932 foi transladado de Inglaterra para a “Igreja de São Vicente de Fora” o corpo de D. Manuel II, último Rei de Portugal, que só entrou no Panteão a 15 de Junho de 1933.

Funeral de D. Manuel II em 2 de Agosto de 1932

 

«Embora francesa de origem, tornou-se portuguesa pela afeição à sua Pátria adoptiva, que a ela se prendeu com todos os afectos. Era esta afeição que lhe aprimorava a alma e o coração. Ficou gravada em pedra, no seu túmulo, em letras gravadas a ouro:

AQUI DESCANSA EM DEUS
DONA AMÉLIA DE ORLEÃES E BRAGANÇA
RAINHA NO TRONO, NA CARIDADE E NA DOR.

«Legenda simples mas expressiva e altamente honrosa para a memória de tão ilustre, excelsa e venerada Rainha.» in: “Diario de Lisboa”

Mausoléu de D. Amélia de Orleães e Bragança

       Mausoléus do Rei D. Carlos I e do Infante D. Luís Filipe                            Mausoléu do Rei D. Manuel II

 

Fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian