Restos de Colecção: junho 2025

29 de junho de 2025

União Metalurgica

Uma breve referência à "União Metalurgica" da firma "Leiria, & C.ª ", com estabelecimento comercial na esquina da Avenida Almirante Reis, 10-D com a Travessa Cidadão João Gonçalves (troço da Rua  Anthero de Quental, comprendido entre a Rua dos Anjos e a Avenida Almirante Reis), em Lisboa. Fundada em 1912, comercializava artigos para canalização de água, gaz e esgotos, banheiras, lavatórios, e artigos eléctricos. Além disso tinha oficina de dourador, niquelador, oxidagem, fundição e torneiro «em todos os géneros de metaes».




1913


Localização da "União Metalurgica" na Av. Almirante Reis no início do século XX (dentro do rectângulo encarnado)

Em 1915, já girava sob a firma "Leiria, Branco & C.ª " e tinha as suas oficinas instaladas nas antigas oficinas da firma "Lopes de Oliveira & Marcellino", na mui próxima Rua do Benformoso, 294.  Apesar de muito vasculhar, não encontrei mais informação e documentação, acerca deste estabelecimento, que aqui disponibilizo.



Antigas oficinas da "União Metalurgica" na Rua do Benformoso (dentro do rectângulo a vermelho)


Antigo proprietário das oficinas anteriores, em 1913

Estas mesmas oficinas na Rua do Benformoso, 292-294 viriam a mudar, mais uma vez, de proprietários, desta vez a firma "Nacional Metalúrgica, Lda.". O que me leva a pensar que a "União Metalúrgica", ou mudou de instalações ou, ou foi adquirida por outra, ou terá sido dissolvida antes de 1922. Digo eu ... Mas como não encontrei mais nenhuma referência a esta firma ...


Maio de 1922


Outro concorrente, bem próximo, e também em 1913


Antigo estabelecimento da "União Metalúrgica", em Agosto de 2024 (via Google Maps)

fotos in:  Biblioteca Nacional DigitalArquivo Municipal de Lisboa

22 de junho de 2025

Loja da América

A "Loja da America" e sua filial "Camisaria Americana", propriedade de Arthur d'Oliveira Souza, terão aberto pela primeira vez as suas portas por volta de 1872. A "Loja da America", que se dedicou à venda de "roupa branca" e enxovais, como panos, algodões, toalhas, guardanapos, lenços, camisas, peitilhos, punhos camisolas interiores, ceroulas, etc., foi das lojas mais famosas e conhecidas da Baixa lisboeta.



Na foto anterior, e à direita na mesma, podemos avistar o famoso "Café Montanha" que tinha aberto as suas portas, pela primeira vez, em 15 de Fevereiro de 1865, e cuja história poderá consultar neste blog, no seguinte link: "Café Montanha".

1 de Dezembro de 1872

Em 15 de Setembro de 1872 o jornal "A Vanguarda" fazia notar:  «Chamâmos a attenção dos nossos leitores, para um annuncio que vae hoje na secção competente, feiro pelo proprietaria dos acreditados estabelecimentos de pannos brancos, conhecidos pela denominação de Loja da America e Camisaria Americana.». Era o primeiro anúncio publicitário da "Loja da America"


15 de Setembro de 1872


14 de Setembro de 1873


2 de Janeiro de 1887

No jornal "A Capital", de 29 de Junho de 1916, podia-se ler:

«A Loja da America é a casa que melhor se especialisou em artigos de rouparia. Occupa os nos. 206 e 208 da rua do Ouro e os nos. 92, 94 e 96 da rua da Assumpção. Os seus enxovaes adquiriram, do ha muito, a mais justa fama. São realmente, verdadeiros modelos de bom gosto, e impõem-se pelo seu acabamento primoroso e pela sua inexcedivel qualidade. Os seus modelos de Paris, Berlim e Londres são sempre dos melhores. Os seus artigos de camisaria são finissimos e de uma inegualavel perfeição.»

Em 1916 a "Loja da America" era propriedade da firma "Artur de Oliveira & Mendes".


18 de Abril de 1897

20 de Março de 1903


1900


1 de Janeiro de 1905


1910

Quanto à sua filial, a "Camisaria Americana" que estava estabelecida nos nos. 234-236 no mesmo quarteirão da Rua Áurea, viria a encerrar definitivamente no final da década de 10 do século XX, por volta de 1918. O proprietário do edifício, o "Banco do Minho" tinha vendido o edifício à firma "Barros & Santos", que procedeu à transformação radical do interior e fachada do mesmo, sob projecto do jovem arquitecto Carlos Chambers Ramos (1897-1969). Obra que tiveam início em 1921. cerca da "Barros & Santos" consultar neste blog o seguinte link: Casa "Barros & Santos".

Quanto à "Loja da America" esta terá encerrado em definitivo no final dos anos 50 do século XX. Em 10 de Outubro de 1951 a "Loja da América, Lda." ainda requereu à CML autorização para obras na sua loja. Por outo lado publico uma foto nocturna da Rua do Ouro onde se avista o néon da  "Loja da América".


"Loja da América" dentro do rectângulo desenhado

O seu espaço foi ocupado primeiramente pela loja de pronto-a-vestir "New York", tendo-lhe seguido a "Zeva", da cadeia de lojas "Zeva Boutiques" e que ainda hoje lá permanece.

fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaBiblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Mário Novais), Arquivo Municipal de Lisboa,

15 de junho de 2025

Sapataria Salgado

A "Sapataria Salgado" também denominada por, "Sapataria João Salgado d'Oliveira" , foi fundada em 1866 na Rua dos Fanqueiros, 72 a 76 esquina com a Rua dos Retrozeiros, 15 a 19, em Lisboa. Em 1905, João Salgado d' Oliveira adquire a "Sapataria das Nações" sita nos números 27 e 29 da mesma Rua dos Retrozeiros.

29 de Agosto de 1901


1 de Janeiro de 1903


1905

Em 1906 estas duas sapatarias eram trespassadas e, o proprietário de então João Salgado d'Oliveira, toma de trespasse a "Sapataria Rosado & Commandita", de João Rosado, instalada (pelo menos desde 1903) na, então, Rua de Santo Antão nos 62 e 64. 



20 de Março de 1903


1905


1906


"Sapataria Salgado" de João Salgado d'Oliveira no nº 62


Localização da "Sapataria Salgado", na Rua de Santo Antão (dentro da área delimitada a vermelho)

Em início de 1919, a "Sapataria Salgado d'Oliveira" é ampliada ao vizinho nº 60, ficando a ocupar os nos 60, 62 e 64 da já Rua Eugénio dos Santos (após implantação da República).


27 de Janeiro de 1919


5 de Maio de 1919

14 de Julho de 1919

Esta sapataria terá encerrado, definitivamente, por volta de 1925. A última referência publicitária a este estabelecimento foi no Natal de 1927, no jornal "Diario de Lisbôa" de 24 de Dezembro, cujo anúncio publicitário publico de seguida.

24 de Dezembro de 1927


Antiga "Sapataria Salgado" daria lugar a dois estabelecimentos. Foto de 1969


Os números 60, 62 e 64 (ex-"Sapataria Salgado") em Setembro de 2024

1 de junho de 2025

Café "Monte Carlo"

O café-restaurante "Monte Carlo", propriedade da firma "A Cafeeira Lda." - originária na "Casa Chineza" fundada em 1866 -, foi inaugurado em 1955 na Av. Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. O pedido para as obras de remodelação do espaço para o "Monte Carlo" tinha sido submetido à CML em Março de 1953. Veio substituir a "Pastelaria Fradique" aberta em 1947.


Antes do "Monte Carlo" a "Pastelaria Fradique", e o espaço do futuro café-restaurante "Monumental" 

24 de Dezembro de 1955

Contudo o alvará nº7/1956 do "Monte Carlo" só seria emitido em 7 de Janeiro de 1956: «Licença para exercer o comércio de venda de vinhos e seus derivados, engarrafados, por medida e a copo, no seu estabelecimento de café, restaurante e cervejaria, sito na Avenida Fontes Pereira de Melo, nºs 41-C e 41-D em Lisboa.».

Com uma área total de 767 m2, estava dividido em zonas distintas: o r/c destinava-se a pastelaria, que servia cafés e bolos variados para serem «tomados rapidamente e em pé»; a casa de chá (restaurante) que servia o famoso «Bife à Monte Carlo», o café, o snack-bar (espaço ocupado por bilhares até 1979), a barbearia e a tabacaria; a cave estava reservada aos serviços e armazéns.

O "Monte Carlo" fazia parte de um núcleo importante dos cafés da Avenida Fontes Pereira de Melo, junto ao Saldanha: "Monte Carlo" no 49-C, o "Monumental", mesmo ao lado no 51-B, "A Paulistana" (propriedade do dono de "A Brazileira"), do outro lado da Avenida no 52-A. De referir que, o "Monte Carlo" tinha uma belíssima (e das melhores) tabacaria, onde se vendia, antes de 25 de Abril de 1974, a revista "Playboy", discretamente ... a par de outras similares, apesar de proibidas. "A Paulistana" tinha sido inaugurada em 2 de Junho de 1930, no edifício nº 52 no outro lado da avenida, por Adriano Teles, dono de "A Brazileirado Chiado.


"A Paulistana" no edifício na esquina da Avenida Fontes Pereira de Melo com a Rua Engº Vieira da Silva



29 de Novembro de 1956

«O Monte Carlo, ali onde agora é a Zara, no lado direito da Fontes Pereira de Melo, de quem começa a descer do Saldanha para o Marquês, era a catedral dos cafés de Lisboa. O resto era paisagem, até o Monumental mesmo ao lado. Ia lá toda a gente, cabiam lá todos: escritores e jornalistas, actores e cantores, gente do regime e da oposição, excêntricos e malucos, trabalhadores e calaceteiros, donjuans e maricagem, solitários e tribos em peso, e os clientes anónimos, quotidianos, sem história.

À entrada, à direita, era a fornecidíssima tabacaria, responsável por metade da minha educação na banda desenhada e graças à qual tomei pela primeira vez contacto com as grandes revistas estrangeiras, e com a L'Automobile (por causa da Fórmula 1) e o Times Literary Supplement (por causa dos livros). O porteiro fardado (sim, tinha porteiro) dava-nos entrada. Ao lado esquerdo, havia o balcão dos bolos, da pastelaria e da bica em pé, e logo a seguir o restaurante com as grades, que foi o primeiro em Lisboa (em Portugal?) a servir comida indiana. Atracção principal: o Bife à Monte Carlo, vinham pessoas de fora para o comer ("prato, molho, fatia grossa de pão de forma tostada, o bife, uma fatia de fiambre e um ovo estrelado a rematar. (...)


30 de Dezembro de 1957


2 de Fevereiro de 1958

A casa era funda, as mesas iam até quase perder de vista, desembocando na grande sala do bilhar, xadrez, damas e cavalos (ainda alguém joga disto?), e no barbeiro, onde aos domingos se juntavam grupos para ouvir os relatos de futebol. (...)

A catedral dos cafés de Lisboa passou à história e a cidade, cada vez mais desmemoriada, já se esqueceu do que perdeu. Sempre que passo pelo sítio, parece que tenho um torno a apertar-me o coração. Como diria o Totò, porca miseria!.» in: crónica de Eurico Barros, no jornal "Diário de Notícias".


"Monte Carlo" e "Monumental" , vizinhos


Proprietária do "Monte Carlo" em calendário de 1987


Em 1943 «Nenhum lar da Russia, por mais modesto que seja, deixa de ter sempre á mão o Wodka»

Depois de encerrado definitivamente o "Monte Carlo", a "Zara Portugal - Confecções, Lda." adquire o espaço e dá entrada na CML, em 6 de Outubro de 1992, do projecto de alterações para o licenciamento das obras de remodelação. A licença de utilização comercial seria atribuída em 18 de Março de 1994.


Quanto à "Caféeira, S.A." viria a incorporar a "Unicer-Cafés S.A." e a "Rui Rodrigues Neto, Lda.", ambas de Leça do Balio, resultando na sua fusão em 2005.

Actualmente è a "NewCoffee - Indústria Torrefatora de Cafés, S.A." : «Especialista no desenvolvimento e comercialização de lotes de café de elevada qualidade, consolidou a sua posição através de uma estratégia de aquisição de marcas: Sanzala em dezembro de 2007, Caffècel em junho de 2008, direitos de comercialização exclusiva da marca Lavazza para o canal HoReCa em novembro de 2008, Bogani e A Caféeira em outubro de 2009 e Novo Dia em abril de 2016.»  in: site "NewCoffee"