O primeiro “Casino Estoril”, promovido por Fausto Cardoso de Figueiredo (1880-1950), e projectado pelo arquitecto Raoul Jourde (1889-1959), em estilo Art Déco - o mesmo que tinha projectado o “Estoril Palácio Hotel” inaugurado em 30 de Agosto de 1930 - foi inaugurado em 15 de Agosto de 1931. A sua construção ficou a cargo da firma «Entreprises de Travaux».
A mui discreta entrada do “Casino Estoril”, em 1937
Desde o final do século XIX que os “Estoris” estavam associados à prática do jogo. Em 1899, existiam no Monte Estoril três Casinos - o “Casino do Mont’Estoril”, o “Club Internacional” e o “Grande Casino Internacional” - e, desde 1914, estava em execução o plano da “Sociedade Estoril Plage” para a criação de um novo centro de Turismo, mas cuja conclusão diversas dificuldades de ordem financeira tinham vindo a adiar. Na verdade, do vasto programa de obras anunciado na brochura ilustrada apresentada à Câmara de Deputados mais de dez anos antes, apenas o edifício do “Estabelecimento Termal” estava concluído. As fundações do “Casino Estoril” e do “Estoril Palácio Hotel”, já levantadas, não passavam, nesta altura, de velhas ruínas.
“Club Internacional” “Casino do Mont’Estoril”
Ante-Projecto na revista "A Construção Moderna" de 10 de Janeiro de 1914
Apesar de a inauguração ter acontecido apenas em 1931, a primeira pedra foi lançada em 16 de Janeiro de 1916, com a presença do Presidente da República Dr. Bernardino Machado, apesar de a concessão datar de 1927. Entretanto, Fausto de Figueiredo garantiu a electrificação da linha de caminhos-de-ferro até ao Estoril, onde ambicionava que fosse concluída a viagem do “Sud Express”, que fazia a ligação de comboio de Lisboa a Paris.
Lançamento da primeira pedra em 16 de Janeiro de 1916
Fausto Cardoso de Figueiredo tinha um sonho: tornar o Estoril a Riviera portuguesa, um lugar de culto para o turismo internacional de luxo, atraindo a fina flor mundial. Em 1930, pelas mãos deste empresário é inaugurado o “Estoril Palácio Hotel”, que encerra nas suas paredes importantes capítulos da história portuguesa, mas também mundial. «O Príncipe e a Princesa do Japão encontram-se entre os primeiros hóspedes do Hotel, que durante a sua lua-de-mel ficaram alojados numa das sumptuosas suites». Foi durante a II Guerra Mundial que muitas histórias ficaram contadas no “Estoril Palácio Hotel”, onde algumas famílias reais se instalaram na tentativa de fugir à II Grande Guerra, em que Portugal se assumiu como neutral.
Fausto Cardoso de Figueiredo (1880-1950)
Projecto definitivo para o "Casino Estoril", pelo arquitecto Raoul Jourde
Zona do Estoril antes de ser transformada, com o primeiro “Hotel de Paris” junto à primitiva “Estação do Estoril”
“Casino Estoril” em construção, com os “Estoril Palácio Hotel”, e “Hotel do Parque” à direita na foto
Inaugurado o Hotel de luxo, faltava o Casino que abriria portas um ano mais tarde, tendo o mobiliário sido fornecido pelos “Armazéns Nascimento” da cidade do Porto, a exemplo do que sucedera com o "Estoril Palácio Hotel". Na noite de inauguração a 15 de Agosto de 1931, depois do banquete, lia-se no texto publicado pelo “Diario de Notícias”:
«Tarde, perto da meia-noite, principiou o concerto, na sala de espectaculo. A orquestra era dirigida por Paulo Manso. Erico Braga recitou versos de João Penha e Júlio Dantas. Emília de Oliveira declamou Matos Sequeira. Cantou Manuela Pinto Basto. E a “Companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro” levou à cena a peça “Serão Romântico”, de Baltazar Coelho.
Muita gente, que não cabe na sala de espectaculo, enche os restantes salões do Casino. Anseia-se pelo baile. E o baile principia tarde. Mas dança-se com extraordinária animação. E assim continuará até alta madrugada, que a noite é de festa, uma concorridíssima e brilhante festa de caridade, em que estiveram no Casino Estoril milhares e milhares de pessoas.»
Anúncio da inauguração, no jornal "Diario de Lisbôa" de 15 de Agosto de 1931
20 de Fevereiro de 1933
A propósito da abertura do “Casino Estoril” a revista “Ilustração” escrevia:
«Agora para quem vive em Lisboa, torna-se facílimo ir ao estrangeiro, ou, pelo menos, ter a ilusão de que mudou o ambiente. Basta tomar o combóio eléctrico do Estoril e desembarcar nesta praia moderna, civilizada, com o seu parque, o seu Palace monumental, á la page, a sua piscina, os seus bars, os seus “pijamas”, a sua vida internacional, movimentada, brilhante, bem diferente da vida tranquila e neurasténica de Lisboa ...
O novo Casino, inaugurado há pouco tempo, veio completar êsse ambiente. É um edifício sumptuoso, decorado com um bom gôsto europeu e um sentido moderno até agora desconhecido em Portugal.»
Além do Jogo, o “Casino Estoril” assegurava chás dançantes, concertos, sessões de cinema e festas cíclicas associadas ao final do ano (ceias de Natal e bailes cotillon no reveillon) e Carnaval.
Hall de entrada do "Casino Estoril"
Este espaço acolheria, a 13 de Setembro, a “Eleição da Rainha das Costureiras de Portugal”, iniciativa do “Diario de Lisbôa” e, no mesmo mês, os delegados do “Congresso da Crítica”. Em Setembro de 1932, teria lugar o “1º Salão do Estoril” graças a Augusto Pina e à “Sociedade Nacional de Belas Artes”: Entre telas e esculturas, contavam-se criadores como Carlos Reis, Roque Gameiro, Dórdio Gomes, Jorge Barradas, Carlos Bonvalot e Fred Kradolfer. Ciente do sucesso do “Casino Estoril”, a direcção criaria um dancing no terraço, o que atrairia clientes nas noites de Verão.
Publicidade no jornal “Diario de Lisbôa” em 20 de Agosto de 1931
1934
23 de Dezembro de 1934
A nível musical, a oferta ao frequentador do espaço polivalente em causa era igualmente variado, como se depreende: apresentação de músicos americanos de Jazz como Willie Lewis; concertos ao jantar tocados pela orquestra do Maestro Fabre; concertos do trio Paulo Manso; actuações de tenores como o russo Constantin Sadko e barítonos como o brasileiro Paulo Amorim; «Trio Beethoven» apresentado pelo Professor Viana da Mota.
O “Casino Estoril “ manteve-se sob concessão da família Figueiredo até aos anos 50 do século XX. O Governo do Dr. António de Oliveira Salazar lançou, em 1958, um concurso para renovação da concessão do Casino. Nas condições para a atribuição de nova licença valorizava-se a construção de um novo hotel de cinco estrelas e de um novo casino. A família Figueiredo, através da sua "Estoril-Plage" achou que a concessão não lhe ia escapar, até porque já tinha o “Palácio Hotel”. E nem concorreu. Perdeu ...
O concurso de concessão de exploração do jogo é ganho pela "Estoril-Sol" de José Teodoro dos Santos (1906-1971), o empresário que construiu um império a partir do negócio das malas. O projecto pensado por Fausto de Figueiredo, deu lugar, a um majestoso edifício em 1968, que viria a relançar o "Casino Estoril" como local de referência cultural à época. Fausto de Figueiredo já não viveu para presenciar esse momento. Morreu em 1950 na moradia “Pinho Manso”, no Estoril.
A "Estoril-Sol, S.A.R.L.”, de Teodoro dos Santos, tinha sido criada por Teodoro dos Santos para a exploração do jogo, tomou conta do "velho" Casino a 1 de Julho de 1958, mas o novo "Casino Estoril" só viria a ser inaugurado 10 anos depois. O “Hotel Estoril-Sol”, propriedade da mesma empresa, abriria primeiro em Cascais, a 15 de Janeiro de 1965 .
O novo “Casino Estoril’”, projectado pelos arquitectos Filipe Nobre de Figueiredo (1913-1990) e José Almeida Segurado (1913-1988) foi inaugurado em 28 de Março de 1968, e contou com a presença do Presidente da República Almirante Américo Thomaz, Teodoro dos Santos, Dr. Manuel Teles e Jorge Teodoro dos Santos administradores da "Estoril-Sol, S.A.R.L.”, além de outras individualidades do Estado e da vida civil.
Fotos dos exteriores a cores
Como já foi referido anteriormente, o novo "Casino Estoril" foi projectado pelos arquitectos Filipe Nobre de Figueiredo (1913-1990) e José Almeida Segurado (1913-1988). O projecto de decoração de interiores ficou a cargo de Daciano da Costa (1930-2005) e do designer José Espinho (“Móveis Olaio”), tendo este último desenhado todo o mobiliário. A sua decoração interior foi enriquecida com peças escultóricas de Lagoa Henriques, Jorge Vieira e António Henriques, e com três tapeçarias de Querubim Lapa, Maria Keil e e Fred Kradolfer. No exterior da entrada, um painel escultórico de Querubim Lapa, cuja foto já acima publicada.
Fotos do Salão Restaurante
A seguir fotos dos salões de jogo
A seguir, fotos do Cinema-Teatro do “Casino Estoril” projectado e decorado por Daciano da Costa
Brochuras seguintes de 1968 e de 1973
Stanley Ho, empresário macaense ligado ao jogo, tomou, entretanto, conta da “Estoril-Sol, S.A.R.L.” e ganhou nova concessão em 1985 por 20 anos, prazo que viria a ser prorrogado em 2001 por mais 15. Foi aí que a família Figueiredo tentou reivindicar o que outrora fora seu, contestando essa extensão da licença sem concurso público. Nada feito. Além de ficar com o Casino por mais 15 anos, Stanley Ho garantiu a exploração do “Casino de Lisboa”, inaugurado em 19 de Abril de 2006, no “Parque das Nações”.
O “Casino Estoril” é actualmente o maior e mais antigo casino da Europa. Conta com 2 bares de apoio directo aos jogos (‘Bar BlackJack’ e ‘Bar Play Garden’) e ainda o ‘D Lounge’, uma área ampla onde pode ouvir música pela banda residente ou mediante os convidados especiais, etc.
Em termos de restaurantes a oferta é grande e variada. Tem ao seu dispor o magnífico "Salão Preto e Prata", onde o requinte é a palavra predominante. Também o restaurante "Estoril Mandarim", um dos melhores restaurantes de comida cantonesa do Mundo, onde a carta conta com mais de 119 especialidades da região de Kuong Tong. Outros dois dignos de registo: "Zeno Lounge" e "Bistrô".
O "Casino Estoril" apresenta um dos maiores leques de oferta em entretenimento e espectáculo. O "Loung D", o "Auditório" para reuniões empresariais e afins, o "Salão Preto e Prata" que alberga grandes espectáculos de music-hall, variedades e teatro, e o "D Lounge" apresenta música e grandes bandas que actuam perto dos fãs. Destaque-se ainda a discoteca "Jézebel", um espaço jovem e requintado, com música para aquelas noites mais longas ... E no campo das artes e exposições, a "Galeria de Arte".
Discoteca "Jézebel"
Quanto aos jogos "de fortuna ou azar", o “Casino Estoril” oferece cerca de 1.000 "Slot Machines" de última geração, onde poderá tentar a sua sorte com apostas mínimas a partir de um cêntimo. Em termos de jogos de mesa, o Casino coloca à disposição do jogador um leque bem recheado com todos os favoritos presentes: Poker, Roleta, Blackjack, Caribbean Stud Poker, Ponto e Banca, Banca Francesa.
"Jackpot"
Em 2016, O “Casino Estoril” comemorou os seus 85 anos, com uma exposição no seu Hall e a edição de um livro intitulado “1931 - 2016 85 Anos Casino Estoril”. A direcção da organização da exposição, "Estoril Sol GPS," teve a gentileza de me enviar um exemplar deste livro. Com os meus renovados agradecimentos, aqui fica a sua capa. Esperamos pelo seu centésimo aniversário ...