A "Tabacaria Estrella Polar", propriedade do "Godinho dos bigodes", terá aberto as suas portas na última década do século XIX, na Rua Garrett, 37-39 esquina com a Rua Ivens, ao Chiado, em Lisboa.
1902
Fevereiro de 1894
1895
1895
1896
Era um espaço de tertúlia, onde se privilegiava uma boa e animada conversa. Dois andares acima da tabacaria funcionava o "Real Clube Tauromáquico Português", fundado em 23 de Fevereiro de 1892, e que a par do "Turf Club" ditava a moda no que diz respeito a cavalos e a touros.
A "Tabacaria Estrella Polar" fazia "paredes meias", na Rua Garrett, com a "Barbearia Costa", que tinha sido fundada em em 1761 (!), por Octavio Seabra da Costa, - que por sua vez a seu lado tinha como vizinha, e centenária "Joalharia Eloy de Jesus", encerrada em Janeiro de 2012. Em 1963 estes dois estabelecimentos encerram definitivamente e são trespassados para negócios bem diferentes.
1913
A propósito do encerramento destes dois estabelecimentos da Rua Garrett, o jornal "Diario de Lisbôa" escrevia, em 3 de Abril de 1963:
«Agora são mais dois estabelecimentos da historia do Chiado que vão desaparecer. Um tem mais de duzentos anos; outro conservava ainda o sabor romantico do fim do século passado - a Barbearia Costa e a Tabacaria Estrela Polar, sacrificadas também ao progresso da actividade comercial que procura na velha artéria uma localização mais propícia para o seu desenvolvimento.
A Barbearia Costa fecha ao cabo de 202 anos e vai dar lugar a uma sapataria. Foram os herdeiros de Octávio Seabra da Costa que, em Dezembro passado, fecharam o negócio de trespasse - ao que se diz por 750 contos.»
«O outro estabelecimento que desaparece, paredes meias com a barbearia centenária, é a Estrela Polar. No tempo da monarquia, quando o seu proprietário - o Godinho dos bigodes, ainda era vivo, exibia orgulhosamente na montra as insígnias reais, com a menção de "fornecedor da casa real". Era dali que seguiam para o Paço os famosos charutos de D. Carlos.
(...) Os aristocratas que frequentavam o Clube Tauromáquico desciam á rua para cavaquear, á porta da tabacaria, com os políticos informados ou os diplomatas de passagem por Lisboa, que ali traziam sempre alguma novidade fresquinha. Luís Crespo, o filho de Maria Amália e de Gonçalves Crespo era um dos "habitués".
(...) O comandante Fernando Branco, que foi ministro dos Estrangeiros, estava todas as tardes á porta, sempre arrumado, numa elegancia proverbial, em que se distinguiam os seus impecaveis colarinhos de goma muito altos.
A "Tabacaria Estrella Polar", já propriedade de João de Deus Malheiro, em 1963 ...
(,,,) O Estrela Polar ainda não fechou, mas não tardará a encerrar também as suas portas, para dar lugar a um estabelecimento de lotarias. Claro que não há dados exactos sobre o montante do negócio - o que só interessa como simples curiosidade - mas fala-se em 1200 contos. Terá sido esta uma transacção auspiciosa, para a vida do local.
O actual proprietário de Estrela Polar só terá razões para acreditar no futuro da nova casa que ali vai desenvolver a sua próspera actividade - e os futuros fregueses do estabelecimento só poderão desejar que, se foi boa sorte a do antigo dono da tabacaria, seja também uma sorte boa que lhe esteja reservada nos seus futuros contactos com a casa.»
Curiosamente, a nova sucursal da "Casa da Sorte", - projectada pelo arquitecto Conceição Silva e com revestimento cerâmico de Querubim Lapa - seria inaugurada, exactamente oito meses mais tarde após este artigo, nas antigas instalações da "Tabacaria Estrella Polar", em 3 de Dezembro de 1963. A "Barbearia Costa" daria lugar à sapataria "Hélio", que ainda hoje existe.
Encerraria, definitivamente no Verão de 2014. Hoje pode-se encontrar nestas instalações a pastelaria "Alcôa" - uma pastelaria de doces conventuais. A loja vizinha "Gardenia", na Rua Ivens, foi, outrora, a "Sapataria São Carlos".
"Pastelaria Alcôa"