A empresa produtora e distribuidora de filmes “Filmes Castello Lopes”, foi fundada por José Martins Castello Lopes, em 1916 como “Castello Lopes, Lda.” e continuada por seus filhos José Manuel Castello Lopes e o fotógrafo Gerard Castello Lopes.
José Martins Castello Lopes (1880-?)
A história da distribuidora “Filmes Castello Lopes”, tem início quando, José Martins Castello Lopes viu no espaço do, então, “Teatro da Rua dos Condes” - convertido com insucesso, em cinema pela mão da “Empreza Salão Olympia” em 30 de Janeiro de 1915 - uma oportunidade a aproveitar. E, a 5 de Fevereiro de 1916, deu início à exploração do espaço pela empresa recém criada “Castello Lopes, Limitada.” passando, desde então, a utilizar a designação oficial de “Cinema Condes”, tendo mandado pendurar sobre o ferro forjado das varandas dos primeiro andar dois letreiros com a nova designação.
Antigo “Teatro da Rua dos Condes” (novo), já convertido definitivamente em Cinema
Para ilustrar este artigo, e para ser o mais fiel possível, socorri-me de uma entrevista efectuada por João Bénard da Costa e José Manuel Costa, - ambos seriam Diretores da “Cinemateca Portuguesa” - aos irmãos José Manuel e Gerard Castello Lopes, para o catálogo “70 anos de Filmes Castello Lopes”, editado pela “Cinemateca” em 1986, e da qual reproduzo alguns excertos.
O fundador da “Filmes Castello Lopes”, José Martins Castello Lopes «era guarda-livros e foi por via da contabilidade que ele se começou a interessar pelo negócio do cinema. (…) segundo palavras de seu filho Gerard que continua …
«É fundamental notar que durante toda a sua vida o meu pai foi essencialmente um exibidor. Alguém que gostava de descobrir e preencher as necessidades do público. Ia diariamente às salas e deixava-se ficar tempos infinitos a «sentir» o público, a perceber as suas reacções. Esse foi um dos aspectos mais curiosos da sua personalidade e foi uma das coisas que aprendi com ele. Saber sentir o público, aquilo a que eu chamo «cheirar» o público. O que me aconteceu durante anos: passar as portas de acesso e de imediato, pelo ar que vem lá de dentro, saber que afluência de público tem a sala.»
1923
1925
A “Castello Lopes, Lda.”, mudaria de designação, para “Filmes Castello Lopes, S.A.”, em 1934, e que se tornaria definitivo.
Segundo afirma João Bénard da Costa, José Castello Lopes terá sido accionista da “Tobis Portuguesa” referindo, a propósito: «Numa entrevista refere-se a sua participação na produção, afirmando-se que ele era um dos principais accionistas da Tobis, em 1939. Cito: «Quem conheça toda a contribuição prestada por V. Exa. ao cinema nacional, contribuição monetária para a realização dos primeiros filmes e para a organização da Tobis Portuguesa da qual é ainda hoje um dos maiores accionistas...»
1932 1934
1941
Quanto ao início da actividade de José Manuel Castello Lopes, filho do fundador José Martins Castello-Lopes, este recorda:
«Em 1955 e sempre em grandes disputas com o meu pai. Comecei no Condes, para saber como funcionava um cinema. Com excepção da cabine de projecção, corri tudo, porque realmente a minha paixão era o «show business»! A primeira coisa importante que aprendi foi que o nosso gosto tem muitas vezes pouco a ver com o gosto do público. As cenas que, em certos filmes, eu teria vontade de suprimir, por parecerem ridículas, acabavam por ser as que mais gargalhadas despertavam e as que com mais entusiasmo eram recebidas.
Há várias formas de se estudar o gosto do público. Uma delas é passar, como eu passei, muitas sessões, de costas viradas para o écran, a olhar as pessoas. Conhecia bem os filmes, evidentemente, e sabia a que fases é que estavam a reagir. Descobre-se, afinal, que o gosto do público tem facetas muito nítidas. Se um filme não agrada até aos 15 ou 20 minutos, está duma maneira geral morto. E esse o tempo que o público dá a um filme para mostrar o que vale. Raramente um filme chega a salvar-se se os primeiros 20 minutos não valerem. Depois de uma má primeira parte, e ainda por cima com o intervalo, há um fenómeno de rejeição que pode ser inconsciente.»
O emblema da águia, adoptado pela empresa - águia talvez porque «o Virgílio Costa, que era o gerente do Condes, fosse militar, a águia tinha, na altura, uma conotação de importância» - foi introduzido em 1940, quando era distribuidor da americana “Columbia Pictures”, com a mesma música actual depois de «retrabalhada».
Homenagem a José Martins Castello Lopes (4º sentado a contar da direita para a esquerda), no Cinema “Condes”
José Manuel Castello Lopes recorda o início da sua actividade com o seu irmão Gerard:
«No fim dos anos cinquenta o meu irmão e eu demos, de facto, a volta à organização. Começámos pelo cinema. Equipámo-lo com cinemascope. Deitar abaixo tudo o que havia de concepção de teatro no Condes, de modo a só haver lugares de frente, para que o écran pudesse ir de parede a parede. Eram coisas muito caras e o meu pai não sabia se valia a pena. Alteramos a política de compras, diversificando, fazendo uma penetração mais agressiva no mercado. 1964 foi um ano muito importante para nós, porque passámos a distribuir a Metro-Goldwyn-Mayer, que se separou da Fox e passou para os nossos escritórios.
A Fox fechou em 1972 e passou a ser distribuída por nós. Em 69 fechou a Paramount e a Universal era já distribuída pela Lusomundo. A Paramount fechou e juntou-se à Universal na Lusomundo, formando a CIC. A RKO desapareceu. A Warner juntou-se à Columbia nos anos 70 e em vários países do mundo têm escritórios em comum. Uniram-se por uma questão de economia e são os únicos que mantêm escritório independente em Portugal.
Em 1967 o Condes fecha para obras no Verão, e instala-se, depois de grandes transformações no seu interior, o sistema de projecção de 70 mm e do som estereofónico. A mais moderna aparelhagem da Philips.
Uma semana depois de abrir, durante a noite, o recheio arde completamente! Presumiu-se como causa do acidente uma ponta de cigarro...
E todo o mundo se atirou com unhas e dentes à tarefa de reabrir o Condes... em 38 dias! Um enorme cartaz na fachada indicava dia a dia quantos dias faltavam para abrir... Uma nova forma de suspense para um público que apostava na data da reabertura.
E em 1968 o Condes apresenta pela primeira vez em Portugal “E Tudo o Vento Levou” na sua versão de 70 mm. Um momento muito alto na história deste cinema.»
Sala do “Condes” após o incêncio
Quanto ao aparecimento de novas salas de cinema a partir de 1940 José Manuel Castello Lopes recordava nesta entrevista:
«Houve um novo ressurgimento que não mais parou. Inauguramos o Londres em 1971, já estávamos a programar o Rivoli no Porto e a partir de 1980 fizemos uma expansão para sectores importantes da província como Setúbal, Cascais, Viseu, etc. Pensamos continuar uma política de salas a abrir nos lugares mais credenciados, com características modernas e com um conforto que seja atraente para o público.
Sabe que até há poucos anos funcionava uma Comissão Reguladora de Construção de cinemas que vetava as novas construções mediante critérios algumas vezes incompreensíveis. Não autorizava a construção de salas em edifícios com outros fins, o que significava que se tinha de construir um prédio inteiro.
Por isso é que se construiu o Monumental, o Império, o S. Jorge e o Condes (na reconstrução de 51). Era antieconómico fazer cinemas em Portugal. A legislação era anti-económica e anti-cinema. Apesar dos filmes já não arderem.»
Irmãos Gerard e José Manuel Castello Lopes
Lembro que, José Manuel Castello Lopes, além de trer sido fundador do Cinema “Londres”, chegou a ser co-produtor de um filme que se tornaria um clássico da nossa cinematografia, “O Fado, História de uma Cantadeira”, realizado em 1947 por Perdigão Queiroga, com Amália Rodrigues, Virgílio Teixeira e Vasco Santana no elenco.
Depois de Gerard Castello Lopes (1925-2011), foi José Manuel Castello Lopes (1931-2017) a deixar-nos.
Acerca desta personagem incontornável na história do Cinema em Portugal, pode-se ler no site oficial da “Cinemateca Portuguesa” o seguinte:
«José Manuel Castello Lopes foi um dos mais importantes Distribuidores e Exibidores de cinema em Portugal, deixando marca decisiva na cultura cinematográfica do país. A sua influência nesta cultura exerceu-se ainda de outra maneira, uma vez que foi também um dos que mais cedo compreendeu a responsabilidade da indústria distribuidora na própria salvaguarda do património, lutando contra a destruição de cópias após a exploração comercial das mesmas, e, sempre que lhe foi possível, obtendo o acordo dos Produtores para o depósito de pelo menos uma cópia de cada título na Cinemateca.»
Quanto à “Filmes Castello Lopes”, viria a ser criada a “Socorama - Castello Lopes Cinemas, S.A.”. Entretanto, entre Janeiro e Fevereiro de 2013 fechou todas as suas salas de cinema, primeiro por não chegar a acordo para a continuidade da exploração dos espaços com a Sonae, onde tinha 49 salas, e posteriormente por falta de recursos e por dívidas que levaram a requerer a insolvência a 12 de Fevereiro de 2013. Actualmente, a “Castello Lopes Cinemas, S.A.” reabriu algumas das suas antigas salas de cinema.
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian (Estúdio Horácio Novais), Hemeroteca Municipal de Lisboa, Cinemateca Portuguesa