Restos de Colecção: agosto 2024

28 de agosto de 2024

Grande Hotel da Batalha

O nome "Grande Hotel da Batalha", teve origem num "Hotel-Batalha" que abriu pela primeira vez, em 27 de Outubro de 1864, na  na esquina da rua do Cimo de Villa com a Calçada da Thereza (actual Rua da Madeira) na Praça da Batalha, 106 a 110 na cidade do Porto. Vinha substituir o "Hotel Estrella do Norte", que ali estava desde 1862 e que se tinha mudado para a Rua de Entre-Paredes, 51 a 63. Três dias depois a 30 de Outubro abriria na Rua do Bonjardim, 130 o "Novo Hotel de Pariz". Já agora, a 6 de Dezembro do mesmo ano era anunciada a abertura de mais dois hotéis: também na Rua do Bonjardim, mas  no nº 75, o "Hotel Bragança" e na Rua do Laranjal, 101 o "Hotel Central". Um bom ano para a abertura de novos hotéis no Porto.


Setembro de 1924


27 de Outubro de 1864

Localização do futuro "Hotel Batalha" e "Grande Hotel Batalha" (dentro da elipse desenhada a vermelho) em planta de 23 de Julho de 1854

Este "Hotel-Batalha", teve curta duração e viria a ser substituído pelo "Hotel Particular", que por sua vez daria origem ao "Hotel Oriental", e que em 1877 já ali estava instalado.

No "Guia do Viajante na Cidade do Porto e seus Arrabaldes" de Alberto Pimentel, de 1877:

«Ha ainda na praça da Batalha os hoteis Oriental, Portuense, Europa e do Sol. Na esquina da rua de Santa Catharina para o largo de Santo Ildefonso achase estabelecido o hotel da Pomba d'ouro. Na rua de Entre-Paredes, perto da Batalha, acham-se os hotéis Bragança e Aurora do Lima, e na proxima rua de S. Lazaro, o hotel America.»

Esta praça , por se encontrar próximo de um terminal ferroviário provisório, na Praça de Almeida Garrett, e que viria a ser oficialmente, como "Estação Central do Porto" ("Estação de São Bento") era, pela sua proximidade, um lugar privilegiado para a instalação de unidades hoteleiras. Pelo que além dos ali já existentes - "Grande Hotel Portuense", e "Hotel Maria" (ex-"Hotel Gibraltar") - em 1907, era inaugurado o « ... o novo e luxuoso Hotel Sul-Americano, estabelecimento que fica a ser, no género, um dos melhores do Porto». Este, propriedade de Álvaro de Azevedo, umas décadas mais tarde, em 1944 seria convertido no famoso "Grande Hotel do Império", por iniciativa do industrial Joaquim Ribeiro de Almeida.



"Hotel Oriental" (ex-"Hotel Particular, ex-Hotel Batalha), depois "Hotel Gibraltar", depois "Hotel Maria", depois "Grande Hotel da Batalha", em anúncio de 1877

Sete anos depois, em 1913 abre o "Grande Hotel da Batalha", aproveitando, com grandes transformações, as instalações onde tinha estado em último o "Hotel Maria", de Manuel Bento Rodrigues que por sua vez tinha substituído o "Hotel Gibraltar" de Manoel Antonio Fernandes. Pela sua funcionalidade e qualidade de serviço passa a evidenciar-se perante os demais.

"Grande Hotel da Batalha" ao fundo à esquerda na foto de 1915


Interiores do "Grande Hotel Batalha" após a sua abertura



4 de Agosto de 1930


1932


10 de Dezembro de 1933


15 de Março de 1934

Lembro que o proprietário do "Hotel Maria", Manuel Bento Rodrigues, em Julho de 1913, solicitava à Câmara do Porto uma série de obras para o acesso ao piso térreo e, em Outubro desse mesmo ano, dava conta à mesma entidade, pela licença de obra nº 1252/1913, de que pretendia construir uma "devanture" (fachada) em ferro, naquele mesmo piso. A "devanture", atrás mencionada, pode ser apreciada na primeira foto deste artigo, e quando os aviadores Brito Paes, Sarmento Beires e Manoel Gouveia, foram homenageados durante uma visita à cidade do Porto, em 20 de Setembro de 1924.

Mas as Finanças sempre à espreita ...


No roteiro "Hotéis e Pensões de Portugal" de 1939 era anunciado o "Grande Hotel da Batalha" como:

«Um dos mais bem situados do Pôrto. Completamente modernizado. Novas instalações. Quartos simples e de luxo, todos com aquecimento. Água corrente quente e fria. Ascensor e telefones nos quartos. Confôrto e comodidade. Classificado de 2ª classe, tinha 59 quartos, com diárias desde 31$00 a 80$00.


1941

Cinco anos mais tarde, em 7 de Dezembro de 1944 o "Grande Hotel da Batalha" era vendido pela proprietária "Sociedade Exploradora do Grande Hotel da Batalha do Porto", aos donos do "Hotel Alliança", os irmãos Antônio e Jose Abrantes Jorge, localizado na Rua Sampaio Bruno, no Porto. De referir que António Abrantes Jorge, industrial da hotelaria, tinha sido representante do sector - "União dos Grémios da Indústria Hoteleira e Similares do Norte" - à Câmara Corporativa e vereador substituto na Câmara Municipal do Porto. Seria, ainda, quem incentivou o seu genro, António Augusto Passos, a comprar o icónico restaurante, na Rua do Bonjardim, "A Regaleira", ali fundado em 1934 por Heitor Pereira Pinto e Arnaldo Ruivo da Fonseca. No ano seguinte deram início a  grandes obras de ampliação e modernização.






"Grande Hotel da Batalha" ao fundo, atrás do eléctrico (prédio de esquina), nos anos 40 dos século XX

Após dadas como concluídas estas obras o jornal "Diário de Lisboa" de 6 de Novembro de 1955 noticiava:

«A sua criação data de há muito, de algumas décadas atras. Os anos decorreram e, ao mesmo tempo, não se fez, como era aconselhável, uma obra de atualização. O hotel
foi envelhecendo ... / Até que em 1945 tomaram a sua direcção dois homens de iniciativa, dispostos a todos os sacrifícios para fazerem «daquilo» um novo hotel, um hotel de acordo com as necessidades do progresso. Esses homens são os irmãos srs. Antônio e Jose Abrantes Jorge.
Era preciso fazer muitas obras? Tornava-se necessário deitar abaixo meio hotel? Para eles não havia obstáculos. Chamaram um arquitecto novo, que se revelara já um artista de vastos conhecimentos e de sólida preparação técnica - o arquitecto Alfredo Ângelo de Magalhães deram-lhe conta do seu sonho. A ele competia tornar o sonho em realidade. O projecto foi elaborado e não tardou que se ouvisse por ali o martelar dos pedreiros ...
Passaram-se anos. Os trabalhos, por vezes morosos, dada a necessidade de não se fechar o hotel a clientela, pois os próprios interesses da cidade não o consentiam, foram decorrendo no ritmo previsto. E o Grande Hotel da Batalha ia-se renovando pouco.
Hoje, que as obras, terminaram; ele ali está - legitimo orgulho dos homens, que, com a sua admirável visão, tornaram possível os importantes e decisivos melhoramentos, e orgulho também da própria capital do Norte, que sabe bem como são necessários os bons hotéis ao desenvolvimento turístico de uma cidade como a sua, onde, infelizmente, não abundam os estabelecimentos do gênero que possam com verdade ser classificados de modelares. O Grande Hotel da Batalha - vamos mesmo mais longe- deveria ate vir a ser considerado de «utilidade turística», tal a função que ele, desempenha nesse sector da vida nacional.
De entre os melhoramentos introduzidos no hotel nos últimos anos - destacamos uma nova sala de jantar (na verdade um salão, cheio de luz, de decoração sóbria mas agradável, de onde, através de amplas e rasgadas janelas, se pode apreciar uma boa parte da cidade, vendo-se, na sua majestática beleza, a Torre dos Clérigos); a remodelação completa dos quartos (que foram dotados de moderno mobiliário e que dispõem, em grande parte, de casa de banho privativa); a instalação de um bar (com ótimas poltronas, que convidam ao repouso); uma nova cozinha (que o hospede poderá visitar em qualquer momento, na certeza de que ficara sempre bem impressionado, tal a higiene que ali encontrara e a perfeição do serviço que verificara); um «hall» (onde tudo se conjuga para conquistar o agrado de quem põe o pé pela primeira vez no hotel, tantas são as notas de bom gosto e ate de boa arte); etc., etc. »







Ao fundo "Grande Hotel da Batalha" e à direita "Grande Hotel do Império"


No final da década de 90 do século XX a cadeia "Mercure" adquire o "Grande Hotel da Batalha". Promovem, em 2003, uma ampla renovação e o «novo» hotel "Mercure Porto Batalha" passa a dispor de um edifício principal de 6 andares com 149 quartos, dos quais 9 suites. À sua espera, um pomposo hall de entrada com uma recepção em funcionamento durante 24 h. As comodidades incluíam cofre, elevador, bengaleiro, café e um bar. O hotel colocava igualmente à disposição uma sala de conferências, acesso à internet e um restaurante climatizado à la carte.


Em Maio de 2008 o "Mercure Porto Batalha" passou a designar-se "Mercure Porto Centro". A empresa explicou esta alteração no seguinte comunicado:

«Com esta alteração, a cadeia Mercure procura optimizar a real localização do hotel, associando directamente o seu nome a uma zona turisticamente relevante como é o centro da cidade do Porto.
A mudança de nome servirá também para simplificar a identificação desta unidade em mapas ou na internet entre os potenciais visitantes que pretendam alojamento central", acrescenta ainda a cadeia hoteleira pertencente ao grupo Accor. O Mercure Porto Batalha, futuro Mercure Porto Centro, dispõe de 140 quartos e nove suites.»

Actualmente, a sua designação deste hotel de 4 estrelas é: "Mercure Porto Centro Santa Catarina". Que nome mais complicado. ...







25 de agosto de 2024

"Jardim de Lisboa" de J. Peixinho & C.ª

Tudo começou, em 1893, num vão de escada na Rua Nova do Carmo, 32, em Lisboa. A nova loja de flores e plantas naturais "Jardim de Lisboa", pertença da firma "Jose Gonçalves Peixinho & Paes", foi inaugurada a 9 de Abril de 1898, na Rua Nova do Carmo, 49 em Lisboa. A firma era formada por Jose Gonçalves Peixinho e seu sócio de apelido Paes. O nome "Jardim de Lisboa" viria a ser apresentado a registo, por "J. Peixinho & C.ª", com sede na Rua Nova do Carmo, em Lisboa, em 3 de Fevereiro de 1899. Pedido que foi registado com o nº 434 pelo "Diário do Governo" de 7 de Fevereiro de 1899.

"Jardim de Lisboa" na Rua Nova do Carmo

20 de Janeiro de 1894

José Gonçalves Peixinho iniciou a sua vida profissional como bandarilheiro, tendo tomado alternativa na Praça da Cruz Quebrada, em Agosto de 1893, em tarde de benefício que fez com Silvestre Calabaça. 

«(…) D'uma colhida que recebeu na praça de Santarem, resultou ficar 3 anos impossibilitado de trabalhar. (…)
Por occasiao da colhida a que nos referimos, Gonçalves Peixinho teve ensejo de avaliar a protecção que lhe dispensavam os srs. D. Luiz do Rego e o Conde da Folgosa. Estes cavalheiros, tomando em consideração o desastre que elle recebera auxiliaram-o na abertura do estabelecimento de florista, de que Gongalves Peixinho é proprietário na rua Nova do Carmo, n.º 32, um estabelecimento muitíssimo procurado pelo nosso mundo artistico que avalia, como deve, o bom gosto que elle tem na ornamentacão de corbeilles, coroas, etc.
Gonçalves Peixinho trabalha na praça da Cruz Quebrada, no dia 13 do corrente. Que mais uma vez receba do publico as palmas de que é digno, é o que sinceramente lhe desejamos.» in: jornal "Folha de Lisboa", de 10 de Junho de 1894.

No dia da inauguração da nova loja, 9 de Abril de 1898, o jornal "Diário Illustrado", noticiava:

«O Peixinho Florista
Sem duvida alguma, o sympathico Goncalves Peixinho é hoje o primeiro florista da capital: o que mais vende, o que melhor sortimento possue em novidades, e aquelle que, pelo razoavel dos preços, não pretende que Lisboa se pareca com Madrid, Paris e Londres.
Começou modestamente, em uma escada, na rua do Carmo, mas a freguezia alargou-se-lhe tanto, firmaram-se-lhe tão solidamente os seus creditos, que teve de estabelecer loja bonita, alegre, elegante, como convem a moldura em que se enquadrem flores.
O novo estabelecimento é tambem na rua do Carmo, n.° 49, e inaugura se hoje pelas 4 horas da tarde, e agradecemos lhe o convite que nos enviou para essa festa.»


9 de Abril de 1898

Por outro lado, em 14 de Abril de 1898  o jornal "Folha de Lisboa", noticiava igualmente:

«O nosso amigo e acreditado florista sr. Gonçalves Peixinho, inaugurou na rua Nova do Carmo, 49, um novo estabelecimento, de sociedade com o sr. Paes.
Bem digna é a nova casa do titulo que a designa e deve chamar a attenção da Lisboa elegante, porque o sr. Peixinho é realmente especialista no genero do seu commercio.
Não ha quem apresente em Lisboa mais frescas e formosas flôres, não há quem mostre mais gosto para fazer um «bouquet» ou adornar uma «corbeille» e por isso o «Jardim de
Lisboa» ha de em breve tornar-se um estabelecimento de primeira ordem.
Ao nosso bom amigo desejamos largas prosperidades.
Agradecemos a amabilidade do convite para a inauguração da casa.»


1 de Janeiro de 1901

O mesmo jornal, em tom de publicidade, a 1 de Janeiro de 1901 escrevia:

«Infelizmente não é o tempo proprio para flôres, mas o nosso amigo Peixinho, proprietario do Jardim de Lisboa, na rua do Carmo, tem taes artes que apresenta durante o tempo, mesmo n'este em que os prados se despem das suas galas, as flôres mais mimosas e captivantes.
Houtem visitámos este estabelecimento, e, com franqueza, ficámos pasmados perante as collecções de flôres que ali se expõem á venda.
Se este florista faz milagres, é que nós não sabemos, mas o que podemos affirmar, sem receio de desmentido, é que n'este estabelecimento se confeccionam ramos de flôres,
bouquets, corbeiles, corôas, tudo, emfim, por preços relativamente baratos e com fôres naturaes.
Uma vez que é este o tempo de se offerecer um ramo de flôres, aconselhamos a todos que procurem o Jardim de Lisboa, na rua do Carmo, e ali encontrarão, a par da desmedida attenção do conhecido Peixinho, o util aliado ao agradável.»


1 de Janeiro de 1902


1910

Em 1911 o "Jardim de Lisboa" abre a sua loja na Rua Garrett 66-68, onde tinha funcionado o "Grande Bazar Suisso" dos irmãos Barella, desde 1866 até 1910. A loja inicial na Rua Nova do Carmo ficava como filial. Contudo, esta nova loja não ficaria por lá muito tempo já que Jose Peixinho, incompatibilizou-se com o seu sócio capitalista, um médico homeopático e saiu da sociedade, abrindo, em 4 de Julho de 1913 uma loja no outro lado da Rua Garrett no nº 61, ao lado da loja "Ramos & Silva, Lda.", a que chamou de "Às Flôres do Chiado"

Loja na Rua Garrett 66-68

Em Julho de 1912 o "Jardim de Lisboa" faria uma parceria com a "Nutricia de Lisboa" com esta a instalar uma filial nas instalações da primeira, na Rua Garrett 66-68

1911


4 de Julho de 1913


Loja "Ás Flôres do Chiado", dentro do rectângulo desenhado, ao lado da casa "Ramos & Silva, Lda."


1915

Contudo, esta nova loja não ficaria por lá muito tempo já que Jose Peixinho, incompatibilizou-se com o seu sócio capitalista, um médico homeopático e saiu da sociedade, abrindo, em 4 de Julho de 1913 uma loja no outro lado da Rua Garrett no nº 61, ao lado da loja "Ramos & Silva, Lda.", a que chamou de "Ás Flores do Chiado". Quanto à loja "Jardim do Chiado",  encerraria pouco tempo de pois e daria lugar a outra loja do mesmo ramo pertença da firma "Lopes, Limitada".


Ex-"Jardim de Lisboa" e já a loja de flores e plantas "Lopes, Limitada"

Esta loja , ainda em 2023 funcionava como florista sob o nome de "Pequeno Jardim" - Carlos A. dos Santos ...


fotos in: Hemeroteca Digital de LisboaArquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional Digital