Restos de Colecção: fevereiro 2023

27 de fevereiro de 2023

Fábricas Vulcano e Collares

Pretendia fazer uma única resenha histórica sobre a empresa "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L.", criada em 1963, a partir da empresa "Alfredo Alves & C.ª (Filhos)" na Amadora. Por sua vez esta fábrica tinha incorporado a empresa "Fábricas Vulcano & Collares" em 1945, e esta resultado da união das duas metalúrgicas "Fábrica Vulcano" e a "Fábrica Collares". Para informar da história da "Cometna" em condições,  num único artigo resultaria longo e fastidioso. A solução foi, dividir a história em duas partes, com títulos diferentes, a serem publicadas em dois meses seguidos.  Assim o artigo intitulado: "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L." será publicado no próximo mês de Março. 

* Fabrica Collares * 

A "Fábrica José Pedro Collares", foi fundada em 1809 por José Pedro Collares, na Rua Augusta, 160 em Lisboa, como serralharia e caldeiraria de cobre, com apenas sete operários. Em 1842, já com mais de trinta operários, e já sob a firma "José Pedro Collares & Filhos" muda as instalações para um estaleiro com frente para o Largo Conde Barão (na zona da Boa-Vista) reunindo oficinas, escritórios, armazéns, loja de vendas e sua habitação, «talvez o maior estabelecimento deste genero no nosso paiz». Este estaleiro tinha sido aforado, por escritura de 15 de Novembro de 1800, pela Direcção do Senado da Câmara Municipal de Lisboa, pela quantia de 100$375 réis, quando era ainda Marinha da Boa-Vista.

Antigo edifício de loja e escritórios da "José Pedro Collares  & Filhos" no Largo do Conde Barão

Em 1845 seu filho, José Pedro Collares Junior, que começou a trabalhar com 10 anos na oficina de seu pai,  aos 25 anos assume a direcção da fábrica.

As outras fábricas, concorrentes e vizinhas, eram muito mais recentes, tendo sido fundada a "Fabrica Vulcano" em 1843 e a "Phenix" em 1844. Mas a própria Collares só na década de 40 do século XIX arrancou para uma fase de crescimento  industrial, coincidindo com a passagem da administração para José Pedro Colares Júnior.

1853

Foi nas fábricas Collares e Phenix que se iniciou, respectivamente em 1842 e 1845, o fabrico de máquinas de vapor em Portugal. 

Em  1845,  José  Pedro  Collares dá  sociedade  aos  seus  dois  filhos  mais  velhos, confiando  a  direcção  do  estabelecimento  ao  filho  mais  velho  e  ao  segundo  a direcção das máquinas a vapor. Para esta sociedade entra, em 1848, o terceiro filho e a firma passa a designar-se como "José Pedro Collares Junior & Irmãos". Em 1851 junta-se ao grupo, o quarto irmão,  António Pedro Collares e a firma passa a denominar-se "José Pedro Collares Junior & Irmãos",empregando 120 operários.

Em  1854  a  fábrica  é destruídapor  um  incêndio,  e  é  reconstruída  dois  anos  mais tarde,  graças  ao  esforço  financeiro  dos  vários  empresários  e  do  apoio  do  governo.

No  início  do  mês  de  Dezembro  de  1856  o  estabelecimento  fabril,  reedificado  no Largo de Conde Barão, abriu as suas portas e foi visitado por inúmerosempresários do ramo ou meros curiosos que ficavam extasiados perante:“o magnifico espectáculo (que era) ver um edifício de três pavimentos, onde em todos parece  estar  o  moto  continuo,  desde  o  tecto  até  ao  chão;  e  os  efeitos  daquele incansável  rodar,  a  aparecerem  completamente,  acabados,  completos,  milagrosos!” 

Em 1849, a "Fábrica Jose Pedro Collares & Filhos" já empregava mais de 60 operários.


Artigo sobre a "Fabrica Collares"

Em Setembro de 1849 acontece a primeira greve em Portugal, e em Lisboa, envolvendo quatro fábricas. Os operários das fábricas Collares, Phenix, Vulcano e João Bachelay, todas elas situadas na zona industrial localizada entre o Tejo, a Rua da Boa-Vista e o Largo do Conde Barão, fizeram greve em luta contra … o serão. Naqueles tempos, o horário de trabalho compreendia um serão no Outono e Inverno, quando os dias eram mais curtos. Os operários exigiam trabalhar apenas de sol a sol, todo ano, sem diminuição de salário pelo facto de não trabalharem ao serão. Ter-se-ão verificado anteriores conflitos laborais mas a primeira greve, tecnicamente merecedora desse nome, foi esta de 1849.


Em 31 de Dezembro de 1851 a firma "Fábrica José Pedro Collares & Filhos" é dissolvida:

«E tendo os outros tres socios, e mais seu Irmão Antonio Pedro Collares, tambem abaixo assignado, por Escriptura publica comprado a seu antigo socio, e Pae, todo o seu Estabelecimento fabril, reorganizaram entre si uma nova Sociedade, para principiar na data de hoje, a qual prosseguindo com o mesmo ramo de commercio, girará debaixo da firma de - José Pedro Collares Junior & Irmãos. (...)
O Escriptorio da nova Sociedade continua a ser no mesmo Estabelecimento do Largo do Conde Barão nº 3 A, e bem assim a Loja da rua Augusta nº 160, a fazer parte do mesmo. (...) - José Pedro Collares, José Pedro Collares Junior, João Pedro Collares, Thomaz Pedro Collares, Antonio Pedro Collares» in: Revista Universal Lisbonense 


No jornal "O Commercio do Porto" em 1857

Em  1854  a  fábrica "José Pedro Collares Junior & Irmãos", que já contava com 140 operários é destruída por  um  incêndio,  mas  seria  reconstruída  dois  anos  mais tarde,  graças  ao  esforço  financeiro  dos  vários  empresários  e  do  apoio  do  governo.

No  início  do  mês  de  Dezembro  de  1856  o  estabelecimento  fabril,  reedificado  no Largo de Conde Barão, abriu as suas portas e foi visitado por inúmeros empresários do ramo ou meros curiosos que ficavam extasiados perante «o magnifico espectáculo (que era) ver um edifício de três pavimentos, onde em todos parece  estar  o  moto  continuo,  desde  o  tecto  até  ao  chão;  e  os  efeitos  daquele incansável  rodar,  a  aparecerem  completamente,  acabados,  completos,  milagrosos!» 

Em 1863 cerca de 230, em 1881 perto de 250 operários e aprendizes, sempre sob a gerência de José Pedro Collares Junior, que dizia-se o iniciador em Portugal da indústria de construção de máquinas. Nas oficinas da Boa-Vista fabricavam-se muitas outras obras em ferro fundido e forjado, cobre e outros metais, tais como máquinas de destilação, tornos para tornear metais e madeiras, prensas, calandras, rodas hidráulicas, bombas de rega e incêndio, moinhos e máquinas diversas para a agricultura, charruas e  ferramentas, grades para habitações e jardins, fogões de cozinha e de sala, camas, tubos de chumbo condutores de gás, etc. A grande maioria destes produtos eram fabricados por encomenda. As fábricas Collares e Phenix (e talvez a Vulcano) dispunham já em 1849 de máquinas de vapor que moviam diferentes máquinas de trabalhar os metais.

Em  1858,  João  Pedro Collares  e  António  Pedro Collares  desligam-se  amigavelmente  da  Sociedade, que ficou  a  pertencer  apenas  aos  dois outros irmãos. No  ano seguinte,  venderam  a fábrica  à "Companhia  Perseverança", que fora fundada e organizada por José Pedro Collares, recebendo o valor da venda em acções da companhia, e transforma-se em sociedade anónima de responsabilidade limitada. Em 1870, esta Companhia que já alcançara uma prosperidade evidente, pedia a patente de invenção para todas as prensas que, em breve se tornariam muito conhecidas em todo o país.


Em 1881, a empresa, agora com 240 operários, atravessou uma crise por ter investido dinheiro na compra de matéria‑prima para a produção de tubos destinados à iluminação a gás de Lisboa, projecto que foi  abandonado. O Governo tinha decidido autorizar a "Companhia Lisbonense de Illuminação a Gaz" (fundada em 1943) a importar, livre de direitos, tudo o que necessitasse. Disso mesmo se queixou José Pedro Colares Júnior, referindo que o percalço quase custara a vida da empresa.

Stand da "Companhia Perseverança" na "Exposição Industrial de Lisboa" em Junho de 1888

Em 4 de Novembro de 1889, Frederico Collares, - filho de Thomaz Collares e sobrinho de José Pedro Collares Junior - alegando ser possuidor da totalidade das acções da "Companhia Perseverança", pediu a sua extinção, tendo-lhe sido concedida. Em resultado disso, é constituída a firma "Frederico Collares & C.ª" cujos sócios são Frederico Collares e João Collares Pereira.


Tabuleta da "Frederico Collares & C.ª" (à direita na foto)

Em 13 de Dezembro de 1890, João Collares Pereira efetiva promessa de venda da "Fabrica Collares" ao Dr. Custodio Moniz Galvão, que em 29 de Março de 1900 constitui, com Augusto José Xavier, a firma "Moniz Galvão & C.ª". Esta empresa manter-se-ia em funcionamento até à sua união com a "Fabrica Vulcano", em 1915.

10 de Maio de 1896


"Fabricas Vulcano e Collares" na capa da revista "Industria Portuguesa" da AIP

As oficinas são transferidas para o Boqueirão  do  Duro,  ao  mesmo  tempo  que  são  introduzidas  algumas  inovações: a fábrica é electrificada e a soldadura passa a ser a electricidade e a autogéneo. O número total de operários era cerca de 200, tendo, diminuído um pouco em relação a 1890.

* Fábrica Vulcano *

A "Fabrica Vulcano - Fundição de Ferro e Serralharia", foi fundada em 1843, por Jacinto Dias Damásio, no Boqueirão do Duro (ao Conde Barão), na zona da Boa-Vista em Lisboa, e actuava nos mesmos segmentos de mercado da "Fábrica José Pedro Collares & Filhos", sendo sua vizinha. 

A "Fabrica Vulcano" foi estabelecida nos terrenos do Estaleiro do Boqueirão do Duro, comprado em 1837 por António Lamas, ao conselheiro Miguel José Martins Dantas, que o venderia a António Rodrigues Tarujo.


Instalações da "Fabrica Vulcano"


O sucesso desta unidade fabril motiva Henry Peters a comprar a "Fábrica Vulcano" em 1851, com a intenção de aumentar as instalações da sua "Phenix" instalada na Travessa Nova do Cais do Tojo, para o Boqueirão do Duro. Mas ... paralelamente à compra das instalações, José Pedro Collares Junior compra toda a maquinaria impedindo, desse modo o funcionamento da fábrica, o que obrigará Peters a cessar a actividade da mesma, durante os seis anos seguintes. Em 1857, após reequipar a "Fabrica Vulcano" com nova maquinaria, volta a funcionar e em poucos anos já contava com 66 operários.

Henry Peters morre em 1899 e a "Fabrica Vulcano" passa a designar-se "Fábrica Vulcano - Viuva Peters & Filhos", passando a ser explorada pela sociedade de investidores industrias "Carlos Alves & C.ª, Lda." ao qual se junta Carlos Alfredo da Silva em 1905, que viria a assumir a sua propriedade, individualmente, em 1908. 

1885

Em 13 de Abril de 1904, Carlos Alfredo da Silva adquire a "Fábrica Collares" à firma "Moniz Galvão & C.ª", e de seguida promove a fusão das fábricas Collares e Vulcano, - "Fábricas Vulcano e Collares" - dando origem a uma das maiores metalúrgicas lisboetas e do país. Um ano depois, o empresário faleceu, e em 4 de Dezembro de 1916, é criada uma sociedade por quotas com objectivo de continuar a sua actividade: "Carlos Alfredo da Silva, Lda - Fábricas Vulcano e Collares". Apesar da sua morte e devido à I Grande Guerra Mundial (1914-1918) e o consequente aumento significativo de encomendas, a fábrica prospera e, em 1917, já empregava 538 operários.

1904


1909

1910

Em 1920 , a "Empresa Industrial Portuguesa", a "Companhia Alliança - Fundição de Massarellos" (fundada no Porto, em 1851) e a "Carlos Alfredo da Silva, Lda. - Fábricas Vulcano & Collares", eram as três maiores empresas metalomecânicas de Portugal, sendo as suas actividades industriais classificadas como: serralharia mecânica, caldeiraria e fundição.


"Fabricas Vulcano e Collares" na capa da revista "Industria Portuguesa" da AIP


1915


1888

* Fábricas Vulcano e Collares *

Segundo uma reportagem da revista "Indústria Portuguesa", da "Associação Industrial Portuguesa", a empresa "Fábricas Vulcano & Collares", entre 1928 e 1929, tinha capacidade para produzir «material agrícola (…) trabalhos de caldeiraria de cobre e de ferro (…) trabalhos de forja; fundição de ferro, aço (a cadinho) e metais (…)»

A mesma revista caracterizava a área da fábrica em cerca de 8 mil metros quadrados, com edifícios dois e três andares, localizada no Boqueirão do Duro, com frente para a rua 24 de Julho e salão de vendas e escritórios, de frente para o Largo do Conde Barão.


Edifícios das "Fábricas Vulcano e Collares" (dento da área desenhada)


1908


Complexo das "Fábricas Vulcano e Collares" (na cor castanha), já em fase de abandono

A "Carlos Alfredo da Silva, Lda. - Fábricas Vulcano & Collares", funcionou nesse local até 1942, ano em que é comprada por Henrique de Araújo Sommer (1886-1944) - fundador da "Companhia de Cimentos de Leiria" em 1920 - que começa, gradualmente, a mudar as instalações para a Amadora. As antigas instalações, que ocupavam um quarteirão, viriam a ser vendidas à firma "Manuel Duarte Leão & C.ª ".


Henrique Araújo Sommer (1886-1944)


1931

Como presidente do Conselho de Administração da "Fábricas Vulcano e Colares" esteve José Maria Àlvares, que também seria Presidente da "AIP - Associação Industrial Portuguesa" entre 1924 e 1940.


José Maria Álvares (1875-1940)

Quando em 1944 a fábrica já labora na Amadora em pleno, falece Henrique Sommer. Por não ter filhos, a divisão da sua herança daria origem a um longo e mediático processo judicial, conhecido pelo caso "Herança Sommer", que se arrastou por dez anos. Daí resultaram dois factos: António Champalimaud, seu sobrinho, herdou o quarteirão norte da Boavista onde se encontravam as antigas instalações da fábrica; e a incorporação da "Fábrica Vulcano & Collares", em 1945, pela firma metalúrgica "Alfredo, Alves & C.ª (Filhos)" - antiga Alfredo Alves (Filhos), fundada em 1898.


1958




Este quarteirão norte viria a ser arrendado à "Sorel, Lda.", - concessionária dos automóveis e camions da "General Motors Overseas Corporation" - que aí inauguraria, em 6 de Maio de 1947, as suas oficinas. No mesmo ano o quarteirão norte é comprado pelo "Banco Espírito Santo & Comercial de Lisboa", que viria a ser utilizado para oficina de automóveis, supermercado, ginásio e pequenos negócios.


Acerca da "Sorel, Limitada" consultar neste blog "Sorel"

Em 1963, a empresa "Alfredo, Alves & C.ª (Filhos)" é transformada na "Cometna - Companhia Metalúrgica Nacional, S.A.R.L.", cuja história será publicada no próximo mês.

Bibliografia e algumas fotos: 

- "Repensar a 'Fábrica' Proposta de Reconversão para a Antiga Fábrica Vulcano e Collares na Boavista" - Projecto Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura da Arquitecta Ana Cordeiro Leal - Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa - Dezembro de 2016

- "Grandes Empresas Industriais de um País Pequeno: Portugal da Década de 1880 Á 1ª Guerra Mundial" - Dissertação apresentada para a otenção do grau de Doutor em História Económica e Social de Pedro José Marto Neves - Universidade Técnica de Lisboa - ISEG - Janeiro de 2007

Arqueologia em Portugal - "A Ferro e Fogo - A Fundição Vulcano & Collares, Lisboa" - 2017

- "A Produção de Mobiliário Urbano de Fundição em Portugal: 1850 a 1920 - Tese para grau de Doutora - Sílvia Barradas - Universidade de Barcelona (Julho de 2015)

fotos in:  Hemeroteca Digital de LisboaBiblioteca Nacional DigitalArquivo Municipal de LisboaBiblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian

12 de fevereiro de 2023

Hotel Ofir

O "Hotel Ofir", projectado pelo arquitecto portuense Alfredo Ângelo Coelho de Magalhães (1919-1988) e propriedade da "Sociedade de Ofir e Fão", foi inaugurado em 26 de Junho de 1948, na Praia de Fão, junto à foz do Rio Cávado, no concelho de Esposende.



Edifícios do "Hotel Ofir" e do "Restaurante Ofir"

Já em 1945, a "Sociedade Engenheiros Reunidos Lda", do Porto, por influência do seu principal sócio, Raul Sousa Martins, idealizando a criação de uma estância de lazer e repouso na Praia de Fão - sendo proprietária da maioria dos terrenos - tinha aberto o "Restaurante Ofir" projectado pelo arquitecto Alfredo de Magalhães. Além de restaurante e bar, o edifício, de um único piso e águas furtadas, oferecia meia dúzia de quartos para alugar a banhistas. Seria este arquitecto o responsável da construção de diversas moradias construídas pela Sociedade nesta zona, entre 1945 e 1948.



"Restaurante Ofir". Exteriores e interiores


A propósito da inauguração da zona turística e do "Hotel de Ofir", o "Diario de Lisbôa" noticiava:

«(...) Num voo magnifico que foi realmente um aperitivo simpático, deslocaram-se da capital os srs. comandante Nuno de Brion, representando o chefe do Estado; dr. Manuel da Fonseca, secretário do presidente do Conselho; engenheiro Duarte Ferreira, da C.G.D.; Ernesto Coelho, da Casa de Bragança, que representava o sr. dr. António Luis Gomes; dr. Felner da Costa, director da E.N.; e representantes da Imprensa de Lisboa, convidados para assistir à inauguração oficial da zona turísitica.
Recebidos no aeroporto do Norte pelos srs. dr Antão dos Santos e Cunha, governador civil do Porto; major Nery Teixeira, chefe do distrito de Braga; e pelos srs. Raul de Sousa Martins e Artur Beires, em nome da Sociedade de Ofir  e Fão, os visitantes dirigiram-se depois em automóveis para Fão. (...)
Após a refeição (no "Restaurante Ofir"), efectuou-se uma visita ao novo hotel da estância, que constitui uma magnífica realização arquitectónica, num conjunto, que ocupa uma superficie de terreno coberta de pinhal com cerca de dois milhões de metros quadrados, cujo projecto se deve ao jovem arquitecto portuenese Alfredo Anjos de Magalhães. O edificio, de linhas modernas, é constituido por sete pavimentos que englobam salas de estar e de jogos, bar-restaurante, terraços de onde se disfrutam vistas maravilhosas, tornando tudo um conjunto agardavel de civilização e bom gosto. (...)»


"Hotel Ofir" em construção


"Hotel Ofir" em fase de acabamentos

O "Hotel Ofir", como já foi referido seria inaugurado em 26 de Junho de 1948, obra do mesmo arquitecto, aqui com a colaboração de José Porto (1883-1965) e do engenheiro civil José Pinto de Sá. De referir, que chegou a ser feito um ante-projecto, por este arquitecto, para uma pousada a ser implantada a nascente do restaurante, junto à avenida, mas a ideia foi abandonada em detrimento da construção de um hotel no seu lugar.

«O conjunto bloco dos quartos e o do Hall e Salas de Estar resulta, inclusivamente, da adaptação directa do ante-projecto da Pousada, em que a implantação inicial sofre uma rotação de 90º para criar uma frente contínua para a avenida, orientando-se, agora, os quartos a sul e a galeria de distribuição a norte (e não nascente-poente), e o corpo dos quartos aumenta de cerca para cinco pisos, aproveitando-se a cobertura como “amplo solarium, com paredes de protecção dos ventos dominantes e placa de defesa do sol” . Associado ao elemento de distribuição vertical, que faz a articulação entre estes dois volumes, é, ainda, criado um miradouro “que domina todo o conjunto da Praia de Ofir, foz do Cávado, Montes circunvizinhos, Sta. Luzia (Viana do Castelo), Barca do Lago, panorama de uma beleza surpreendente”.


Recepção e Sala de estar


Quarto duplo


Sala de jogos e lazer


Bar


Sala de refeições

A partir da esplanada de entrada faz-se o acesso ao terceiro bloco, de um único piso, onde se concentram os serviços do Hotel e alguns espaços de apoio aos clientes, como barbearia e cabeleireiro de senhoras, rematado, a nascente, por amplo salão de festas, de dois andares, com funcionamento independente do Hotel e que aproveita, também aqui, a cobertura deste corpo como terraço de estar.

A capacidade de alojamento aumenta, assim, para trinta e cinco quartos, sete por piso, todos com casa-de-banho privativa, apesar de se manter a decisão de não incluir Sala de Jantar no corpo principal do Hotel, recorrendo-se à presença do Bar-Restaurante Ofir e do Salão de Festas para garantir esse serviço.» (1)

Em 1962, a "Sofir - Sociedade de Turismo de Ofir, S.A.R.L.", compra o "Restaurante Ofir" e o "Hotel Ofir" à "Caixa Nacional de Crédito". O primeiro resultado desta aquisição foi a ampliação do Hotel, em 1966, com mais um bloco de quartos e outros serviços, e a construção de uma piscina.


Ampliação do Hotel em fase de acabamentos


O novo edifício da ampliação e piscinas, já concluídos

No jornal "Espozendense", de 3 de Fevereiro de 1962, podia-se ler o seguinte acerca desta aquisição:

«O hotel e restaurante de Ofir, na orla da margem esquerda do Cávado foram adquiridos à Caixa Nacional de Crédito pela Sofir, ou sociedade de Turismo de Ofir, constituída com essa mesma finalidade. Haviam sido construídos em 1948. Em obras se gastaram mais de 3000 contos, quando haviam sido calculadas em 1300 para obter as vantagens da utilidade turística. Justa portanto foi a declaração do despacho que, compreende as necessidades dessa região, paredes meias com Esposende. Na altura em que se encaram a sério as possibilidades de aproveitamento do factor turismo para a nossa balanca económica, há que escolher os locais convenientes e aproveitá-los convenientemente. Poucos serão melhores do que Ofir.»

No início de 1970, nova ampliação do Hotel é promovida, com a construcção de novo edifíco de quartos, que seria inaugurado em 16 de Julho de 1970. O hotel passava à categoria de 1ª classe, com 242 quartos, com casa de banho, varanda, telefone e rádio e a oferecer  os seguintes equipamentos: piscinas, boite, courts de ténis, campo de mini-golfe, barcos a motor, bilhares e ping-pong.


Novo edifício da ampliação, à esquerda em ambas as fotos

Entretanto, a "Sofir - Sociedade de Turismo de Ofir, S.A.R.L.", entra "em desgraça" e a sociedade "Sopete Hotéis, S.A.", adquire no início dos anos 80 do século XX o "Hotel Ofir". Muda de designação para "SopeteOfir Hotel"


No jornal "Novo Fangueiro", em 10 de Maio de 1994

Em 1997, o grupo "Axis, Hotéis & Golfe" compra o "Hotel Ofir", de 4 estrelas e com 191 quartos. Em 2007 o hotel muda de designação, para "Axis Ofir". Actualmente "Axis Ofir Beach Resort Hotel", na Avenida Raúl Sousa Martins, fundador do hotel e dinamizador da zona turística Ofir e Fão.






(1) - Foi consultada Dissertação de Doutoramento, de Susana Luísa Mexia Lobo, "Arquitectura e Turismo - Planos e Projectos, as Cenografias do Lazer na Costa Portuguesa da 1ª República à Democracia" - Agosto de 2012 - Universidade de Coimbra.

fotos in: Aqualibri - Biblioteca Digital do CávadoAxis Ofir Beach Resort Hotel